segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sócrates by Rosselini

Ontem, assisti a um filme do diretor italiano Roberto Rosselini. O filme Sócrates (1971) é uma cinebiografia do filósofo grego. Inicialmente, foi estranhíssimo ver os personagens gregos falando italiano. :p Mas isso é tolice de minha parte: se eles tivessem que falar grego teria que ser o grego antigo (que não pode ser falado, imagino...) De qualquer modo, a produção procurou reproduzir, à sua maneira, a época em que Sócrates viveu e o resultado é bastante peculiar e mesmo bonito, visualmente. Atenas e sua Acrópole, com o Partenon e a estátua da deusa Pallas Athena protegendo a cidade do alto, enfim, está tudo lá.
O filme mostra o final da vida de Sócrates. Logo no início, a cidade está tomada pelo poder dos 30 tiranos, os Espartanos.
Uma cena bastante impressionante é quando vemos um grande número de cidadãos atenienses crucificados por esse regime.Estou falando disso, porque foi um aspecto que particularmente chamou-me a atenção, os espartanos tiranos condenavam à morte seus inimigos dessa maneira, ao que tudo indica: caso a pesquisa para a realização do filme tenha acertado nesse dado em particular.
Depois, os Atenienses retomam o poder e reestabelecem sua democracia. Acompanhamos, então, a escolha de seus dirigentes e o processo que os inimigos de Sócrates iniciam para a sua condenação. Segundo eles, Sócrates não crê nos deuses de Atenas, renega-os e ainda é uma má influência para a juventude ateniense.
Antes e mesmo depois desse momento, Sócrates passeia com seus discípulos pela cidade, colinas, montes. É quando seus diálogos ocorrem, com base nos escritos de Platão. Tudo é muito resumido: o filme, nesse sentido, não substituiria jamais os escritos, mas o ator Jean Sylvère, o Sócrates, é prodigioso, em convencimento.
Mesmo que esse filme pertença a um momento na obra de Rosselini em que ele passou a produzir filmes educativos para a televisão e não mais aquele cinema que o consagrou (Roma, Cidade Aberta, Viagem na Itália etc.), o filme, para mim, foi muito atrativo: ver o Sócrates, ali encarnado, foi uma experiência delicada e reveladora.
Um outro comentário e talvez demasiado: sempre achei Sócrates meio que o Cristo da Grécia (se é que se pode dizer uma heresia dessas para qualquer das duas culturas em questão, a grega e a cristã). Digo isso, tão somente, porque ambos são exemplos de virtudes nas searas onde surgem e são ambos perseguidos e condenados à morte, injustamente. As semelhanças, se é que há tais, param por aí. Enquanto o calvário de Cristo em direção à morte é aquele horror, proporcionado por romanos e judeus, a morte de Sócrates, embora injusta, é absolutamente civilizada - a democracia grega até quando erra é sofisticada... rsrsrs - isso porque os gregos sugerem um veneno, a cicuta, e se ele fica preso é tão somente porque todos aguardam que se cumpra um ritual coletivo de purificação da cidade, quando depois ele terá que tomar a bebida. Sócrates é uma pessoa tão sábia, elegante, generosa e confiante que agrada aos guardas que o vigiam e a todos emociona com a coragem e a altivez com que encara sua sentença, até o fim.
Se eu tivesse alunos eu iria sugerir a eles que assistissem ao filme! ;-D

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Jeff Koons






Jeff Koons vive e trabalha em New York.
Seus trabalhos têm sido exibidos em importantes museus: Museum of Modern Art (New York), Whitney Museum of American Art (New York), Guggenheim Museum (New York), The National Gallery (Washington), Hirshhorn Museum (Washington), San Francisco Museum of Modern Art (San Francisco), The Eli Broad Family Foundation (Santa Monica), Tate Gallery (London), Stedelijk Museum (Amsterdam), Tokyo Metropolitan Museum (Tokyo).
Eu não o conhecia! ;- (
Acho, até mesmo, que ele nunca andou por aqui.
No entanto, ele é bastante conhecido pelo mundo afora, principalmente devidos às suas esculturas, como esse imenso Puppy que foi exibido em frente ao Rockefeller Center (entre outros lugares) e que está instalado, permanentemente, no Guggenheim Bilbao; e também essas outras que remetem a conhecidos balões e que estiveram, por exemplo, no teto do Metropolitan Museum, em New York, no ano passado.
Eu considerei o seu trabalho provocativo, sobretudo por se apropriar do imaginário essencialmente pop e, assim, deslocar certos elementos do kitsch e, como tantos outros já fizeram, sugerir insights, objetos de reflexão, e mesmo o despertar de nossa emoção. A característica que me chama mais a atenção no seu trabalho é que ele proporciona diversão. \o/
Visitar o seu site, por exemplo, é um deleite. Ali, seus projetos são divididos em diversas "categorias" e ficamos conhecendo-lhes os títulos, por sinal, bastante sugestivos.
http://www.jeffkoons.com/







quinta-feira, 27 de agosto de 2009

imagens humanas






Ontem, passei na Caixa Cultural (aqui na Sé Square) para ver o que estava acontecendo... Então, vi essa exposição do fotógrafo brasileiro João Roberto Ripper. Ele é daqueles fotógrafos que documentam a humanidade no contexto em que ela é mais pungente: no sofrimento decorrente da injustiça social.
Então, quando dei dois passos para dentro da exposição cai no abismo da condição humana no Brasil e em prantos. A minha sorte é que eu estava sozinho dentro do recinto: pude chorar de soluçar.
Acho que não preciso dizer mais nada como testemunho. ;-)
Então, vou reproduzir um trecho do texto de apresentação da exposição, escrito por seu curador, Dante Gastaldoni:

De certo modo, o despojamento deste fotógrafo e seu desapego para consigo mesmo fazem com que sua exuberante - e malcuidada - produção não seja tão conhecida do grande público, daí a pertinência da presente exposição que, por obra do destino, ganha forma justamente quando a Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 60 anos. A mostra Imagens Humanas exibe 70 ampliações em preto-e-branco, pinçadas de um minucioso garimpo nos 140 mil negativos do acervo de Ripper e divididas em quatro módulos temáticos, cujas fronteiras são muito tênues: Amor, Dor, Resistência e Liberdade. Assim, os temas mais recorrentes de sua obra (índios, carvoeiros, trabalho escravo etc.) reaparecem aqui e ali emoldurados pelos sentimentos dominantes que transbordam das fotos e parecem guiar João Roberto Ripper em sua busca por um mundo socialmente mais justo. Como pano de fundo, foi montado um grande painel composto por 110 pequenos retratos, que instigam o público a se aproximar para ver de perto. São indivíduos de diversas idades e etnias que nos olham de frente, cúmplices do fotógrafo que prioriza as objetivas de curta distância focal e se obriga a estar sempre próximo das pessoas que fotografa.
Visitação: de 16 de agosto a 27 de setembro.
terça a domingo, das 9 às 21h.
entrada franca
Debate com o artista:
09 de setembro, às 19 h.
Visitas monitoradas para grupos: (11) 3321-4400






quarta-feira, 26 de agosto de 2009

As cartas de Frei Betto


Quando a ditadura militar comandava o Brasil eu era criança. Na verdade, nasci em plena ditadura, vejam que coisa horrível para um ser humano e brasileiro. Fui crescendo e, já adolescente, sempre me senti mais à vontade com gente que não gostava dos militares do que com aqueles que defendiam o tal regime. Depois, veio o período da abertura e da Campanha das Diretas: sim, eu estava lá na Praça da Sé, nas históricas manifestações que reivindicavam a democracia.
O tempo passou e, hoje, as novas gerações veem tudo isso como uma passagem da história do Brasil já distante, longínqua mesmo, e da qual pouco se conhece, a não ser através da letra morta dos livros didáticos de história. Eu, embora não tenha sido jovem ou adulto nos anos de verdadeiro horror do regime, quando adolescente, já sabia do sofrimento que gente boníssima passou ou ainda passava, por se opor ao regime. Daí que, quando, recentemente ganhei o livro Cartas da prisão - 1969-1973, de Frei Betto, fiquei com pouca coragem de começar a leitura. Pensei: vai ser triste, sofrido, não será agora. E, assim, o livro ficou uns dois meses no silêncio da estante. Ontem, eu precisava ler alguma coisa (graças!) e iniciei a leitura dessas cartas que, segundo Alceu Amoroso Lima, representam um dos mais altos documentos de autenticidade humana e de beleza literária que jamais se escreveram no Brasil. Estou muito no começo, mas já posso concordar com Tristão de Athayde, sim são de uma autenticidade, humanidade e beleza como poucas vezes pude encontrar em escritos de brasileiros. Todas as cartas são assim mesmo.
Deixo aqui uma amostra do grau de espiritualidade e pureza desse grande escritor, pois mesmo estando preso e sofrendo as provações todas de quem está nessa condição, ele conseguiu, por exemplo, escrever para uma criança e com toda a delicadeza: única exigência de uma missiva para tal destinatário. É o que podemos testemunhar lendo essas duas cartas que ele escreveu para o seu irmão caçula, o Tunico (Antônio Carlos Vieira Christo Filho): como inferimos do teor das cartas, uma criança à época.
Tunico,
Gostei muito de sua carta, do desenho que fez do cometa, dos ovos de Páscoa. Vejo que vai bem nos estudos. Não tive, como você, a oportunidade de ver o cometa: naquela noite, me levantei às 4 horas para vê-lo, mas o céu estava encoberto, sem uma estrela. Um dia o cometa voltará e vamos vê-lo juntos. Agora passou rápido, Deus mandou-o só dar uma olhada para ver como estamos. O cometa veio de madrugada, quando todos estavam deitados, e fiscalizou a Terra. Não viu guerra, nem fome, nem desastre, nem briga, nada que há de ruim, porque todos dormiam quietinhos. Viu apenas os olhos das crianças que acordaram de noite para olhá-lo. E os olhos das crianças estavam cheios de luz e alegria. Aí o cometa foi girando, girando, passou pelos Estados Unidos, pelo México, pelo Brasil, pela Europa, pelo Japão (viu os olhinhos apertados dos japonezinhos), e depois voltou para junto de Deus. E ao chegar no céu não encontrou Deus. Soube que Deus havia ido morar no coração das crianças e dos pobres. Então o cometa mandou um recado a Deus, dizendo que tudo na Terra estava bem, todos se comportavam direitinho. Deus ficou satisfeito e disse ao cometa que ele podia descansar até o outro ano, quando voltaria à Terra. Aproveitando as férias, o cometa foi passear em Marte.
Feliz Páscoa para você. O menino Jesus mora em seu coração. Um abração de tamanduá.
Tunico,
Fiquei feliz em receber sua carta. Você escreve muito bem e com ótima letra. Faça sempre ditado e cópia.
Conhece a estória do rei que fez um concurso para saber quem era capaz de descrever, com menos letras possíveis, as maravilhas do Universo? Muitos concorreram. Um sábio escreveu um livro sobre a natureza: o mar, as pedras, a terra, o ar, o fogo, as plantas, os bichos, o ser humano. Outro descreveu as sete maravilhas do mundo: a muralha da China, o templo de Diana em Éfeso, as pirâmides do Egito etc.
Cada sábio escreveu sobre o que mais admirava. O rei, ao final do concurso, recebeu pilhas e pilhas de papéis, contendo as inúmeras descrições. Leu uma por uma, para escolher a melhor. No meio de toda aquela papelada, encontrou um papelzinho, onde estava escrito: ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ. Viu que, com as 26 letras do alfabeto, todas as maravilhas do Universo podem ser descritas em muitas línguas, formas e estilos. Viu também que, se essas letras não existissem, muitos não poderiam se comunicar por escrito com os semelhantes. Chamou o sábio que escrevera o alfabeto e deu a ele o prêmio do concurso. A mão da princesa, sua filha. Os dois casaram e viveram felizes para sempre.
Um abraço tamandualesco.
Penso que esse é o testemunho de um verdadeiro educador, em sua lição de amor. ;-D

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Grupo Madalena


Outro dia, eu estava assistindo ao programa Sr. Brasil, na TV Cultura. Quem apresenta o programa é o Rolando Boldrin, aquela simpatia de pessoa e o programa, como sempre, estava uma delícia. Nesse dia, o apresentador recebia um grupo de jovens que são da Vila Madalena, um bairro muito charmoso e simpático aqui de Sampa. Era o Grupo Madalena, formado por Lívia Bertini (voz), Guilherme Borges (Violão 7 cordas e Voz), Dudu Lellis (cavaquinho), Fabi Cantamessa (percussão), André Cantamessa (percussão) e Cacá Zulino (percussão).
No site do grupo, eles informam que Fabi e Borges é que lançaram a semente para que o grupo nascesse, em 2005, desejosos de reunir as grandes pérolas da música brasileira e, sobretudo, para manter acesa a chama de poetas do samba esquecidos hoje em dia.
A mim, o que pareceu-me ainda mais interessante, do que o bom gosto musical do grupo, as excelentes vozes e a sonoridade agradável e contagiante que eles produzem, foi o histórico do primeiro CD que lançaram. Trata-se também do primeiro CD de samba neutro em carbono do Brasil! \o/
O CD intitula-se "Grupo Madalena" e todas as emissões de gases estufa geradas nas etapas de gravação, masterização, industrialização e distribuição do 1º lote produzido foram totalmente compensadas por meio do programa Evento Neutro.
Assim, a emissão de 3,4 toneladas de CO2, originadas pelo consumo de energia elétrica e equipamentos de ar-condicionado nos estúdios, translados dos integrantes da banda e convidados durante as gravações, frete dos produtos e também decorrentes do processo de fabricação dos CDs, foram integralmente compensadas por meio do projeto FLORESTECA. Quando, então, serão plantadas 461 árvores ao longo de um ano, o equivalente a 2.786 m² de floresta.
Isso tudo parece demasiado singelo, eu sei. Mas não é dessas singelezas que o nosso mundo precisa afinal?

Quem quiser saber onde conferir o som dessa galera ao vivo, ou como comprar o CD, é só visitar o site: http://www.grupomadalena.com/

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Christian Lacroix costumier




Ontem, estive na abertura dessa exposição. Achei emocionante, delirante, impressionante e quantos mais adjetivos, com ou sem o sufixo ante, eu pudesse enumerar.
O encantador nesse trabalho é que fica comprovado que Lacroix é um estilista muito apaixonado pelo teatro, pelo espetáculo, pela arte que acontece no palco e os figurinos todos convocam o público a comungar com a magia que por certo cada espetáculo, para os quais os figurinos foram criados, convocavam e o mais interessante é que mesmo agora, em que tais peças também pertencem ao universo do museu, elas, ainda assim, permanecem com a mesma aura de vida recriada para o palco, a aura da mise-en-scène. C'est vraiment incroyable!
A mostra tem curadoria de Delphine Pinasa e reúne aproximadamente 100 figurinos e 80 desenhos originais, criados pelo estilista francês e que já percorreram os principais teatros mundiais, vestindo atores e atrizes em produções de ballet, peças de teatro e óperas.
Estão expostos, também, croquis, extratos de vídeos, entre outros.
Data: de 24/08 a 1/11/2009 Local: Museu de Arte Brasileira da FAAP Endereço: Rua Alagoas, 903 – Higienópolis Informações: (11) 3662-7198 De terças a sextas: das 10h às 20h. Sábados, domingos e feriados: das 13h às 17h. Entrada Franca.
Mais informações: http://www.faap.br/

sábado, 22 de agosto de 2009

Elsa Mora




Eu gostei tanto dessa garota, do seu trabalho, mas sobretudo do modo como ela fala de si e, por isso, fiz uma adaptação para o português de tudo o que ela escreveu sobre si mesma, lá no seu blog.
Elsa Mora é também conhecida como Elsita. Ela é uma artista multimídia que vive em Los Angeles, Califórnia, com o marido Bill que é produtor de cinema e suas três crianças, uma delas é autista.
Ela tem 38 anos, mas diz aparentar 37. ;-D Nasceu em Cuba, de uma família pobre, mas, segundo ela, somente no sentido material da palavra. Desde criança, sua vida foi sempre muito rica de experiência devidos às pessoas fascinantes que conheceu, a começar por sua mãe, que, embora não tenha tido uma educação formal, aprendeu uma série de coisas que não se aprende na escola e tais lições foram passadas de mãe para filha.
Elsita deixou sua casa aos 15 anos para estudar fora, e graduou-se em uma Escola de Arte, em 1990. Ela diz que, como todo mundo, tinha a ilusão de ser uma artista famosa, por esse tempo. De uns tempos para cá diz apenas estar decidida a fazer coisas que expressem quem ela é, como vê o mundo e, também, que o que ela deseja é apenas ser feliz porque a vida é muito curta.
Quando tinha 19 anos, chegou a dar aula de arte, por dois anos, para pré-adolescentes, o que foi uma experiência excelente, mas precisou deixar o trabalho para por algum foco em si mesma. Também trabalhou em uma galeria, mas, então, não tinha tempo para se dedicar à sua própria arte, o que só podia fazer durante as noites. Quando se mudou para Havana, casou-se e depois divorciou-se, mas não se arrependeu dessa experiência, inclusive tem muito a agradecer a esse primeiro marido.
Em 2001, após o divórcio encontrou Bill, em Havana, e depois foram para Los Angeles onde vivem com as duas crianças do casal e um enteado. Descobriu, em 2007, que o filho Diego era autista, quando ele tinha apenas 2 anos e dois meses. Ela o considera um professor da família. Ama seu marido, que é um excelente produtor em Hollywood.
Atualmente, de seu estúdio, ela envia seu trabalho para galerias e museus de todo o mundo. Tem participado de mostras individuais e em grupo. Segundo Mora, seu trabalho é sobre a natureza humana, sobre o modo como somos e a maneira como interagimos com o outro, conosco e com o restante do mundo. Ela gosta de trabalhar com diferentes materiais: cerâmica, desenho, fotografia, instalação, ilustração e, desde de 2008, descobriu a magia do papercutting (que é essa técnica de criar desenhos com recortes). A artista tem um blog todo dedicado ao papercutting e diz estar fascinada por essa arte.
Em 2007, abriu sua loja on-line, a Etsy, e que está amando. É o seu "negocinho", o pequeno planeta de Elsita onde ela diz ser a Presidente, a Assistente e a "Carteira" (Post Office Girl). Segundo ela, através desse trabalho você pode reinventar a si mesma e, por isso, Elsita recomenda esse exercício.
Não deixem de ver o restante da sua obra. É incrível! http://elsita.typepad.com/about.html>

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Hope

A juventude é bonita não só pelo vigor de seus corpos jovens, ou pela delicadeza que reside em cada rosto jovem, mas pela alegria que comumente estampa esses mesmos rostos.
É isso, juventude combina mesmo é com alegria e uma certa dose de irresponsabilidade, sobretudo quando ela é resultante de uma natural propensão à irreverência.
Eu, que já pertenço ao grupo dos de meia idade, continuo simpatizando com os jovens, sobretudo quando noto neles inteligência aliada à rebeldia.
Penso que a intolerância que muitos adultos manifestam em relação ao comportamento jovem deve-se ao pecado capital da inveja: pois se perderam a juventude há muito e tudo ficou para trás!
O que é ainda mais bonito na juventude é a propensão a gargalhar pelos motivos os mais desconhecidos, bem entendido, por aqueles que não participam da turma.
É claro que a juventude também é frágil, como um novo ser que é, posto que acabou de deixar a infância. É que o temor permanece: o que fazer a respeito da incógnita de um futuro em um planeta que nada promete, em termos de humanidade? A juventude, temos que nos lembrar, é recém-chegada nessa terra, excessivamente explorada por tantas gerações anteriores, e ela só traz nas mãos a esperança: único item indispensável na bagagem do recém-chegado a essas paragens, se ele é humano e mortal.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Graham Rawle





Ontem, eu estava lendo a TPM de uma amiga. TPM é aquela revista ótima feita por um grupo de jornalistas admiráveis (para quem não conhece, ela é a versão feminina da TRIP). Então, fiquei conhecendo um artista que desde já considero genial. Trata-se do inglês (mais um! Vide Política, de Adam Trirlwell e She is a likeable person): Graham Rawle. Ele é um escritor mas, sobretudo, um artista que trabalha com colagem e incorpora nos seus trabalhos ilustrações, design, fotografia e instalações. Ele produziu uma série de trabalhos que apareceram no Weekend Guardian, por 15 anos, chamada Lost Consonants. Também produziu trabalhos para o The Observer e para a The Sunday Telegraph Magazine e, mais recentemente, produz uma série chamada Bright Ideas para o The Times.
Seus livros, dizem, são também o máximo: The Wonder Book of Fun, Lying Doggo, Diary of an Amateur Photographer e também uma adaptação de O Mágico de Oz.
Contudo, o mais aclamado pela crítica foi o Woman’s World, um romance que ele escreveu utilizando recortes de revistas femininas das décadas de 50 e 60. Ele o chamou "a graphic novel" isso, tão somente, porque ele realmente recortou e colou todas as frases que compõem o romance, extraindo-as dessas revistas. E, com isso, criou uma história que ao que tudo indica é interessantíssima: Trata-se da história de um travesti que deseja ser uma mulher comum, como aquelas leitoras das tais revistas de época. It is Amazing! ;-D
Importante: Nós todos teremos que ler esse livro no original, não poderá haver tradução porque as páginas dos livros trazem a história mas também o visual poderosíssimo, semanticamente falando.
Além da entrevista na TPM (que você pode ler nesse link: http://revistatpm.uol.com.br/revista/78/bazar/tarefa-de-casa.html), também encontrei uma entrevista do moço em um blog muito simpático chamado SpaceTMLab. As perguntas dos rapazes do blog são bastante inteligentes e as respostas ainda melhores. Uma última pergunta que eles fazem ao artista é a seguinte:
Seu trabalho é feito com uma quantidade considerável de partes de bonecas. O que elas têm que lhe atraí tanto?
Na resposta, ele diz que tem uma tendência a buscar seu material em bonecas quebradas, usadas etc. para obter as partes que ele precisa e construir suas personagens e que ele sempre gostou de bonecas, desde criança, mas que sempre esteve mais interessado em despi-las do que em vesti-las e que se sente particularmente atraído por aquelas que são bonitas. É o caso da que ele utilizou para a personagem Dorothy de O Mágico de Oz (vide a imagem acima). Ele acha que ela tem um rostinho adorável. Disse também que continua trabalhando com essa boneca porque eles têm uma espécie de relacionamento muito especial. (Entre parênteses ele comenta que provavelmente - por dizer essas coisas - está fazendo uma imagem muito repugnante e esquisita de si mesmo para as pessoas. ;-D)
Quer ler o restante da entrevista, no original e não nessa minha versão brasileira sofrível? Então, vá lá:
www.spacetmlab.blogspot.com/2008/12/interview-spa...
He is so likeable!
And... he has got a blog:
http://www.grahamrawle.blogspot.com/


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Seja um Pollock você também!

Eu já falei aqui do Jackson Pollock - Nice to meet you: Jackson Pollock
Hoje, uma amiga, que também é fã do pintor americano, mandou-me um link de um site que é uma graça! Um site absolutamente divertido. A proposta é que você mesmo faça a sua obra a la Pollock!

Quando você entra no site, ao movimentar o mouse você irá iniciar o seu desenho, automaticamente, e a cada clique você obtém uma nova cor.

Achei divertido e extremamente relaxante.

Divirta-se você também:

terça-feira, 18 de agosto de 2009

At Work

Em toda profissão haverá os ossos do ofício, o prato de sal, o salve-se quem puder. Sim, não há jeito com isso. Mesmo que a pessoa ame o que faz, tenha prazer em fazê-lo, ou seja, que seja a felizarda e que possa dizer Eu amo o meu trabalho (o que, aliás, para a imensa maioria não é o caso :p).
Eu, de verdade, amo o meu trabalho atual, como amei tantos outros...
Mas é que no meu caso, trata-se de uma tarefa singela, a minha. Ou seja, a de revisão de textos. Digo singela, assim como poderia dizer marginal. E por que escolho tais qualificativos? Para citar entre os inúmeros, apenas dois motivos para tais possíveis nuances do trabalho do revisor: todo aquele que precisa de meus préstimos valoriza o meu trabalho tão somente no tempo efêmero da sua necessidade. E ainda: a tarefa de alquimia, à qual me lanço para que o texto transfigurado surja, ocorre num lugar secreto, de coxia, de bastidor das letras e quando o texto volta para o seu palco (para os holofotes também temporários de sua nova assunção) não se fala mais naquela tarefa ou no tarefeiro que lhe permitiu a configuração textual final: a de texto publicável/publicado.
Assim, o revisor é um profissional que carece de status, rsrsrs
Isso, sinceramente, no meu momento pessoal, também acho que é um bom motivo para eu gostar de atuar como um revisor: é que tenho pânico de Paparazzi!
Um excelente motivo para eu gostar de fazer revisão? Estou o tempo todo aprendendo, estudando, correndo em busca do socorro dos dicionários e gramáticas. Além disso, ser revisor é também uma lição de humildade diante do tempo, posto que a tarefa como que infinita de alterar um texto tem, por sua vez, de ter um fim. Então, é preciso aceitar o momento deadline e dizer: Está bom. (Mesmo que ainda não esteja de todo... ;-D)
Ah, uma outra profissão que eu também gostaria de ter: a de guia turístico nas ilhas da Polinésia Francesa. Quais serão os ossos desse ofício?
E você, quais são os ossos do seu ofício?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Leda Catunda




Lembro-me da primeira vez que vi um trabalho de Leda Catunda. Foi em uma Bienal, no Ibirapuera, e estávamos na década de 80. Fiquei encantado! A Leda é uma artista da chamada geração de 80. A mim, caríssima, porque seu trabalho emociona o meu ser e também talvez porque a década de 80 foi a da minha adolescência e eu, então adolescente, fiquei embasbacado com aqueles tecidos todos que desciam do alto como cachoeiras carregando peixes traslúcidos, feitos de outros tantos tecidos finíssimos. Acho seu trabalho inesquecível e vejo que ele se liga, ao menos em relação ao que pude acompanhar naquela década, a uma atividade artística em que se criava uma narrativa bastante eloquente, por meio da profusão de imagens que evocava. Depois, na década de 90, será possível notar que o orgânico e o geométrico surgirão com força no seu trabalho.
Pois bem, quem já conhece e curte como eu, ou mesmo quem nunca conheceu, ambos grupos terão oportunidade de ver cerca de 70 obras que montam um grande panorama de sua carreira e que estão na mostra que a Estação Pinacoteca abriu no último sábado, 15 de agosto.
Quem for à Estação poderá conhecer também o trabalho do português José Pedro Croft, mas desse eu não posso falar porque não conheço. Sei tão somente que são 33 gravuras de metal imensas: a produção recente do artista. A ver.

Estação Pinacoteca Lgo. General Osório, 66 - São Paulo - Tel. 11 3337 0185
www.pinacoteca.org.br




sábado, 15 de agosto de 2009

O tempo e a paciência


As circunstâncias do meu convívio exigiram que eu exercitasse a virtude da paciência esta semana. Tenho para mim que a vivi como aos seres humanos sói viver suas virtudes, assim como seus vícios: com o seu quinhão de alegria e de dor.
Sobretudo a paciência é uma virtude difícil de ser conquistada, porque sua expressão mais comum se liga ao tempo, ou seja, somos impacientes quando não esperamos o tempo necessário para que cada coisa tome o seu lugar devido, quando nos desesperamos somos impacientes.
Quando meu pai estava muito doente, tomado pela dor e sofrimento ele se desesperava e se asperejava, ou seja, era violento. Nesses momentos, eu, enfermeiro principiante, sempre pensava que aos doentes de leito de hospital se chamam pacientes porque é essa a virtude última e única que se pede a quem sofre nessa condição. Mas então, é que, sim, a coisa toda é dificílima. Aos moribundos, no entanto, é preciso dar consolo, e, por essa razão, desejamos que os médicos, enfermeiros e parentes sejam, por sua vez, pacientes com o paciente.

Mas o que dizer da paciência necessária com aqueles que nos aborrecem?

Acredito que um bom combustível para se ter paciência com esse aborrecido é ter a profunda certeza de nossa própria inocência, ou seja, não tomar para si toda a culpa que o jogo das relações bem ou mal nos impõe. É também necessário ausentar-se em espírito quando ouvir uma calúnia, o que corresponde a viver a prece, dirigida ao além do além do além, em que tão somente se solicita: “Fecha meus ouvidos a toda calúnia/Guarda minha língua de toda maldade.” E, por ainda não pertencermos à categoria dos Santos, dar também umas boas risadas durante a situação vexatória.
Na verdade, estou a contar esse episódio banal e cotidiano apenas como pretexto, pois o que tal situação lembrou-me foi de uma crônica linda de José Saramago e que nos fala com todo o poder de sua literatura premiadíssima justamente acerca da relação entre o tempo e a paciência.

Acho que todo o mundo deveria conhecer esse texto:

O Tempo e a Paciência - José Saramago

Se alguém me perguntar o que é o tempo, declaro logo a minha ignorância: não sei. Agora mesmo ouço o bater do relógio de pêndulo, e a resposta parece estar ali. Mas não é verdade. Quando a corda se lhe acabar, o maquinismo fica no tempo e não o mede: sofre-o. E se o espelho me mostra que não sou já quem era há um ano, nem isso me dirá o que o tempo é. Só o que o tempo faz.
Que me sejam perdoadas estas falsas profundezas. Nada em mim se dispunha a coxear atrás do Einstein se não fosse aquela notícia de França: no rio Saône toda a fauna se extinguiu por acção de produtos tóxicos acidentalmente derramados nele, e cinco anos serão necessários para que essa fauna se reconstitua. O mesmo tempo que envelhece, gasta, destrói e mata (boas noites, espelho), vai purificar as águas, povoá-las pouco a pouco de criaturas, até que cinco anos passados o rio ressuscite da fossa comum dos rios mortos, para glória e triunfo da vida. (E depois casaram, e tiveram muitos afluentes.)
Não iria longe esta crónica se não fosse a providência dos cronistas, a qual é (aqui o confesso) a associação de ideias. Vai levando o rio Saône a sua corrente envenenada, e é neste momento que uma gota de água se me desenha na memória, como uma enorme pérola suspensa, que devagar vai engrossando e tarda tanto a cair, e não cai enquanto a olho fascinado. Rodeia-me um fantástico amontoado de rochas. Estou no interior do mundo, cercado de estalactites, de brancas toalhas de pedra, de formações calcárias que têm a aparência de animais, de cabeças humanas, de secretos órgãos do corpo - mergulhado numa luz que do verde ao amarelo se degrada infinitamente.
A gota de água recebe a luz de um foco lateral e é transparente como o ar, ali suspensa sobre uma forma redonda que lembra um bolbo vegetal. Cairá não sei quando, da altura de seis centímetros, e vai escorregar na superfície lisa, deixando uma infinitesimal película calcária que tornará mais breve a próxima queda. E porque nós parámos a olhar a gota de água, o guarda de Aracena disse: "Daqui a duzentos anos as duas pedras estarão juntas."
É esta a paciência do tempo. Na gruta imensa, o tempo está aproximando duas pedras insignificantes e promete a silenciosa união para daqui a duzentos anos. À hora a que escrevo, pela noite adentro, a caverna está decerto em escuridão profunda. Ouve-se o pingar das águas soltas sobre os lagos sem peixes - enquanto em silêncio a montanha verte a gota vagarosa da promessa.
A paciência do tempo. Duzentos anos a fabricar pedra, a construir uma pequena coluna, um mísero toco em que ninguém reparará depois. Duzentos anos de trabalho monótono e aplicado, indiferente às maravilhas que cobrem as paredes altíssimas da gruta e fazem rebentar flores de pedra do chão. Duzentos anos assim, só porque assim tem de ser.
Falo do tempo e de pedras e, contudo, é em homens que penso. Porque são eles a verdadeira matéria do tempo, a pedra de cima e a pedra de baixo, a gota de água que é sangue e é também suor. Porque são eles a paciente coragem, e a longa espera, e o esforço sem limites, a dor aceita e recusada - duzentos anos, se assim tiver de ser.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A message for you




Guy Bourdin (Lê-se Gee) é um fotógrafo francês, famoso no mundo todo e cuja obra é imensa.
Eu obtive algumas informações sobre o fotógrafo no blog Café pour deux, esse é um blog escrito em português e francês, por um simpático francês chamado Flow e que vive em São Paulo. Ele nos diz que o objetivo do seu blog é simples: falar de tudo que ele gosta. Eu achei que ele tem bom gosto. Vá lá: www.blig.ig.com.br/cafepourdeux.
Então, segundo Flow, o Bourdin nunca gostou de divulgar seus trabalhos fora da mídia, o meio para o qual eles foram feitos. Por exemplo, ele considerava que se era para uma revista (em algum outro lugar eu li que ele fotografou durante anos para a Vogue francesa) não era para ser exposto em galeria. Bourdin (1928-1991) também queria que todos os negativos das fotos que ele tirou fossem queimados após sua morte. (Tudo indica que isso não aconteceu, graças!) A verdade é que várias de suas fotos são até hoje pouco conhecidas, ou mesmo desconhecidas. O fato é que ele foi um fotógrafo de moda que ultrapassou, por sua criatividade, esse status e seu trabalho é pura arte. Como é possível observar, as roupas das modelos é o que menos importa nas fotos! ;-D
Pois bem, a galeria Wapping Project, em Londres, montou uma exposição chamada Unseen Guy Bourdin, em colaboração com a casa de leilão Phillips de Pury. Foram expostas 32 imagens inéditas, na capital inglesa, em julho passado.
Agora essa exposição acontece em São Paulo! \o/
Aqui ela é chamada A Message for you.
Hoje é a abertura. A partir de amanhã, é só passar no Museu Brasileiro de Escultura (MuBE), que fica na Av. Europa, ao lado do MIS, e ver de perto. Eu quero ir.






quinta-feira, 13 de agosto de 2009

As Musas de Mia Couto





Como já disse aqui, estou lendo Antes de nascer o mundo. Nesse momento, estou quase terminando o Livro dois: A Visita. Essa parte do romance está sendo ainda mais determinante, do meu ponto de vista, uma vez que é toda ela tomada pela visita de uma personagem feminina. Trata-se de uma portuguesa, que chegou naquelas paragens da África em busca do marido que a abandonara. Na passagem em que o menino protagonista da história lê escondido seus papéis, ele encontra, por exemplo, esse trecho do diário da personagem:

E escrevo como as aves redigem o seu voo: sem papel, sem caligrafia, apenas com luz e saudade. Palavras que, sendo minhas, não moraram nunca em mim. Escrevo sem ter nada que dizer. Porque não sei o que te dizer do que fomos. E nada tenho para te dizer do que seremos. Porque sou como os habitantes de Jerusalém. Não tenho saudade, não tenho memória: meu ventre nunca gerou vida, meu sangue não se abriu em outro corpo. É assim que envelheço: evaporada em mim, véu esquecido num banco de igreja.

Um outro aspecto bem interessante da presença feminina no romance está no fato de que para cada capítulo e também antes de cada livro, Mia Couto seleciona suas epígrafes. Há apenas dois casos em que as epígrafes são vozes masculinas, por exemplo, a que antecipa todos os livros, a epígrafe do romance, é de Herman Hesse e a que antecipa o Livro dois, de autoria de Jean Baudrillard e que é belíssima: Aquilo que chamam "morrer" não é senão acabar de viver e o que chamam "nascer" é começar a morrer. E aquilo que chamam "viver" é morrer vivendo. Não esperamos pela morte: vivemos com ela perpetuamente.
Todas as demais são trechos de poemas de três mulheres poetas da Língua Portuguesa: as brasileiras Adélia Prado (1935) e Hilda Hilst (1930-2004) e a portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) e, ainda, uma única de Alejandra Pizarnik (1936-1972), poeta argentina. Elas antecipam cada capítulo como musas inspiradoras, ao menos foi como a mim pareceu. Selecionei algumas dessas perólas do longo colar dessas epígrafes e que atravessa o livro. Que sirvam de aperitivo para a leitura do romance, uma vez que uma epígrafe está sempre em diálogo profundo com o texto, que por sua vez antecede:
Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobro
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?
Adélia Prado

Yo me levanté de mi cadáver, yo fui en
busca de quien soy: Peregrina de mí, he
ido hacia la que duerme en un país al
viento.
Alejandra Pizarnik

Não me procures ali
onde os vivos visitam
os chamados mortos.
Procura-me dentro das grandes águas.
Nas praças num fogo coração,
entre cavalos, cães,
nos arrozais, no arroio,
ou junto aos pássaros
ou espelhada num outro alguém,
subindo um duro caminho.
Pedra, semente, sal passos da vida.
Procura-me ali.
Viva.
Hilda Hilst
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi viver em pleno vento
Sophia de Mello Breyner Andresen




quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Matisse Hoje



Eu fiquei imensamente feliz quando, na década de 90, pude ver as obras de Rodin, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Foi uma grande e importante exposição aquela. Naquele tempo, eu dava aulas para um grupo lindo e imenso de meninas (havia também alguns poucos meninos), que faziam o Ensino Médio, o Curso de Magistério, no extinto Projeto CEFAM (Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério) do Governo do Estado de São Paulo. Portanto, era uma escola pública e que ficava no Itaim Bibi. (um tempo depois, aquela escola foi demolida para a ampliação da Av. Faria Lima. :p) Foi um momento bastante importante para mim, o dessa experiência de levar tais alunos para a Pinacoteca, a fim de vermos a exposição de Rodin.
A verdade é que sinto saudades desse momento mágico de levar alunos para um Museu, acredito que ele é sempre profícuo no que concerne à arte-educação. É importante frequentar museus, sim. Isso sempre me aconteceu, quando eu próprio era criança e depois, já adulto, atuando como professor e, portanto, possibilitando o mesmo às demais gerações. Tanto falamos das obras desses geniais artistas, que, assim sendo, o momento de estar diante de um original de um grande pintor ou escultor é impar para os alunos. Sobretudo, porque esses originais, em geral, estão sempre expostos em museus, aos quais não conseguimos jamais chegar, ou mesmo em coleções particulares, ou seja, protegidos pelas redomas de seus colecionadores.
Na minha honesta e modestíssima opinião, essas exposições deveriam ocorrer mais vezes. Na verdade, deveriam ocorrer o tempo todo, em todos os lugares. As obras desses artistas deveriam estar em constante movimento itinerante, em uma verdadeira marcha de quadros e esculturas e desenhos e instalações de arte lembrando às crianças, aos jovens, adultos e idosos, enfim, a todas as gerações, o que importa lembrar: que a vida é criação.
Dispersei-me um tanto, mas o que de fato queria dizer aqui é que estou novamente tomado de contentamento. Agora é a vez de Matisse, que eu idolatro desde há muito, ser visto na mesma Pinacoteca, em São Paulo.
Vejam a introdução do release que me encaminharam:
A Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta, pela primeira vez no Brasil, exposição individual de Henri Matisse (Le Cateau-Cambrésis, França, 1869 – Nice, França, 1954), um dos mais destacados artistas do século XX. A mostra exibe cerca de 80 obras que integram importantes coleções públicas e privadas, da França e do Brasil. Entre elas o Musée National d’Art Moderne – Centre Pompidou (Paris), a Biblioteca Nacional da França e o Musée Matisse (Le Cateau-Cambrésis - França). Além das obras de Matisse, a exposição será acompanhada por trabalhos de cinco artistas da cena francesa contemporânea que dialogam com a obra do artista. Com curadoria de Emilie Ovaere, curadora adjunta do Musée Matisse, e assistência de Regina Teixeira de Barros, do corpo técnico da Pinacoteca do Estado. Esta exposição faz parte das comemorações do Ano da França no Brasil, organizado, no Brasil, pelo Comissariado Geral Brasileiro, e pelos Ministérios da Cultura e das Relações Exteriores. Na França, pelo Comissariado Geral Francês, pelos Ministérios das Relações Exteriores e Européias e da Cultura e da Comunicação, e por CulturesFrance. Exposição realizada com o apoio excepcional da Biblioteca Nacional da França.
Abertura dia 05 de setembro, sábado, a partir das 11h.
Em cartaz até 01 de novembro de 2009.
Penso que essa exposição vá render outros posts ainda. Eu não consigo não me emocionar com esse artista. Importante: precisaremos também ficar atentos para os franceses contemporâneos que dialogam com Matisse, ou seja, Cécile Bart, Christophe Cuzin, Frédérique Lucien, Pierre Mabille e Philippe Richard. Estarão todos participando da exposição aussi.