quinta-feira, 30 de julho de 2009

Karim Rashid em São Paulo


Tudo o que Karim Rashid faz é bonito de se ver.
É o caso, por exemplo, desses tapetes, todos com edição limitada de apenas 30 exemplares, segundo seu site: www.karimrashid.com
Ele é um verdadeiro papa do design contemporâneo e internacional. Sim, creio mesmo que ele é a estrela maior, entre todas as estrelas nesse métier. Pois bem, fiquei sabendo que ele estará em São Paulo, quando dará uma palestra, no dia 03 de agosto, na Escola São Paulo, com renda revertida ao Instituto Escola São Paulo, e também participará da abertura de uma exposição de seus trabalhos, na Galeria Luiza Strina.
Para a palestra de apenas meia hora :p as vagas foram esgotadas quase que imediatamente após o anúncio do evento. O tema da palestra será o diálogo entre design, arte e arquitetura.
Mas, ainda hoje, o site da escola dizia:
3 de agosto 2ª feira
18h
1 palestra
R$35 - INSCRIÇÕES ABERTAS PARA TRANSMISSÃO AO VIVO NO TELÃO.
Na galeria, as atrações serão 11 telas assinadas pelo designer egípcio, além de 20 croquis de seus trabalhos (feitos entre 1991 e 2009) e 17 esculturas.
Estou mais interessado nessa segunda opção, pois penso que de um artista é melhor ver o trabalho. Ouví-lo falar ao vivo, pessoalmente ou pelo telão, por apenas 30 minutos: parece-me tudo tão parco! Embora sua figura já evoca uma performance, não é mesmo?
Escola São Paulo - Rua Augusta, 2239, tel. 11 3081 0364, Cerqueira César, São Paulo - SP
Galeria Luiza Strina - Rua Oscar Freire 502, Cerqueira César, tel. 11 3088 2471, São Paulo - SP





quarta-feira, 29 de julho de 2009

I Love Kids' Playgrounds/Spaces







Na newsletter que recebi dos responsáveis pelo site The Cool Hunter , eles diziam que gastamos (falavam da realidade do hemisfério norte, of course) milhões, anualmente, com os "playgrounds de adultos" (estádios, salas de concerto, bares e restaurantes) e, por fim, perguntavam: Por que não oferecermos também o melhor para nossas crianças? Esses são alguns exemplos de iniciativas nessa direção. Lá há muito mais, veja em Kids: http://www.thecoolhunter.net/
Eu, que adoro playgrounds em geral, achei uma delícia de olhar.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Henri Matisse

Acerca de um ano, o Eduardo Garofalo, do blog Coletivo 308, postou o que ele chamou de um "Belo texto do Henri Matisse".
Ele tem toda a razão, uma vez que, logo no começo do texto, Matisse irá nos dizer:
O desenho é a possessão. A cada linha deve corresponder outra linha que faça um contrapeso, da mesma forma que se abraça, que se possui com dois braços. A vontade de possessão é mais ou menos forte segundo cada ser; há quem deseja frouxamente.
E ainda mais:
Criar é próprio do artista; onde não há criação, a arte não existe. Mas seria enganoso atribuir este poder criador a um dom inato. Em matéria de arte, o criador autêntico não é apenas um ser dotado; é um homem que soube ordenar para sua finalidade todo um facho de atividades cujo resultado é a obra de arte. É assim que para o artista, a criação começa na visão. Ver, isso já é uma operação criadora, que exige esforço. Tudo o que vemos na vida diária sofre mais ou menos a deformação produzida pelos hábitos adquiridos, e o fato é talvez mais sensível numa época como a nossa, onde o cinema, a publicidade e as revistas nos impõem cotidianamente um fluxo de imagens prontas que são um pouco, na ordem da visão, o que é o preconceito na ordem da inteligência.
Fiquei muito satisfeito de ter a certeza de que além de apreciar as obras, eu comungo plenamente com as ideias de Matisse.
Para ilustrar esse post, trouxe O Abraço, de Henri Matisse, que como pode se ver tem duas peculiaridades: é um Matisse PB e é também très érotique.
Para ler o texto na íntegra:

domingo, 26 de julho de 2009

No words

As intermitências da vida e a intermissão suprema a todos solicitam. Elas irão sempre paralisar a cada um, a cada vez. De repente, o ser é alçado a uma experiência de segundo grau assustadora. Isso rompe com o cotidiano, que parecia tão sedimentado, acomodado, tão certo!
Lembro-me, quando criança, da sensação primeira que senti ao pisar nas areias de uma praia, continuamente banhada pelo salgado mar. Após o movimento da maré, praia adentro, resulta uma superfície lisa, espelhada, graças ao movimento seguinte da onda, em direção ao grande fosso: que no fundo é o mar, não fora o que o preenche, suas águas. Ao caminhar nesse piso, molhado e uniforme, meu passo desenha uma pegada, que, no entanto, se desvanece, assim que o contorno é preenchido de mais areia e umidade.
Entendo que somos isso também: um lampejo da vida, uma marca anônima, de uma única pegada, que, em sua materialidade fugaz, tão logo se desvanece. Basta o movimento contínuo de uma maré e somos arrebatados, devolvendo toda a matéria, que servira para o nosso desenho, ao conjunto indistinto da Natureza.
E a Natureza, ela é uma Senhora silenciosa, quando se trata do Mistério do Espírito.

sábado, 25 de julho de 2009

A frustração de Carlos Saura

Carlos Saura (de camisa azul e câmera fotográfica). Foto by Bernardo Pérez.

Ontem, eu estava andando na chuva, protegido por um guarda-chuva e também por um casaco: os termômetros marcavam 13º, em São Paulo. Entrei na banca de jornais, pois pretendia aguardar o destempero dos céus passar. Foi quando vi em um jornal uma chamada pequena:

Carlos Saura por bulerías
El cineasta ultima el espectáculo 'Flamenco hoy' y vuelve al género de sus amores.

Notei que estava lendo o jornal espanhol El País. Imediatamente, fui tomado pela comoção de uma lembrança carinhosa: a de quanto aprecio Carlos Saura e sua obra. O que conheço dela, afinal é imensa: ele filma desde a década de 50!
Mas quanta alegria, emoção e momentos de pura exaltação do espírito devo a esse diretor, simplesmente porque vi nas telas:

Ana y los lobos (1972).
Cría cuervos (1975) - Prêmio Especial do Juri, no Festival de Cannes.
Mamá cumple cien años (1979) - indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Bodas de sangre (1981).
Carmen (1983); indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Prêmio do Jurado no Festival de Cannes.
El amor brujo (1986).
¡Ay, Carmela! (1990); vencedor de 13 Prêmios Goya.
Sevillanas (1991).
Flamenco (1995).

Como é possível perceber, não vi nada do que ele produziu na duas décadas anteriores e tenho inúmeras lacunas, afinal, só pude ver o que chegou ao Brasil nesse período. Também não vi nada do que ele tem produzido nessa década atual, por exemplo, e não é pouco, sei de ao menos uns cinco títulos. De qualquer modo, esse cineasta é incansável.
Agora ele está dirigindo esse espetáculo, Flamenco Hoy, que estreia em agosto, em Madri. Eu li a matéria do El País, embora não tenha comprado o jornal. ;p Li na edição on-line. Alí, Gregorio Belinchón escreve:

En mitad del ardoroso julio madrileño, en una de las salas de los Teatros del Canal de la Comunidad de Madrid, Saura, infatigable a sus 77 años, va encajando con pasión de furibundo flamenco y precisión de relojero los ingredientes de Flamenco hoy. Asiste casi todas las mañanas a los ensayos, y allí habla con López Linares de las luces y con Laura Martínez de la escenografía. Los dos han trabajado ya con el aragonés - quién iba a decir que uno de Huesca iba a hacer tanto por el flamenco y el baile moderno español con filmes como Bodas de sangre, Carmen, El amor brujo, Sevillanas, Flamenco o Iberia-, y le entienden perfectamente.

Outra passagem da excelente matéria e que achei belíssima, é quando, entrevistado, Saura nos diz:

"Desde joven me atrajo el flamenco. Incluso en algún momento quise ser bailaor... Soy un fracasado, porque la profesora, que era una vieja gitana maravillosa, me dijo: 'Mira, Saura, mejor dedícate a otra cosa'. Por eso hago películas, para curar mi frustración. Esa frustración me ha dado mucho juego en la carrera; pero me gustaría cantar, bailar o tocar la guitarra. En fin, ya es tarde".

Assim, descubro que sou grato a essa vieja gitana maravillosa e ao bailaor frustrado, certamente.

A matéria é excelente, muitíssimo bem escrita e o espanhol, convenhamos, é ao menos uma língua bastante legível para nosotros que hablamos portunhol. :p

Lá no site de El País você irá ver um vídeo com o ensaio desse espetáculo. Imperdível!
Va lá: http://www.elpais.com/articulo/revista/agosto/Carlos/Saura/bulerias/elpeputec/20090724elpepirdv_1/Tes

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Château Mouton Rothschild e sua galeria de arte



Há uma verdadeira galeria de arte nos rótulos das garrafas de vinho do Château Mouton Rothschild. Eu descobri essa informação lendo o livro do qual lhes falei em Quando ler é sorver. O jornalista José Guilherme R. Ferreira conta-nos que a ideia foi do barão Philippe de Rothschild (1902-1988), que, em 1945, encomendou ao ilustrador Philippe Jullian um "V" da vitória dos aliados na II Grande Guerra. Desde então, todos os anos, um grande artista ilustra os rótulos dos vinhos do Château. Os rótulos que ilustram esse post foram trazidos da galeria virtual TheArtistLabels.com. Esse belíssimo, de 1970, é de Marc Chagall. O de 1971, conta José Guilherme, trata-se de uma composição de Kandinsky cedida pela viúva do pintor. Em 1975, foi a vez de Andy Wahrol emprestar seu talento ao vinho de prestígio. Esse, de 1988, eu trouxe para cá tão somente porque tenho predileção por Keith Haring. ;-D
Já esse último, de 1993, o autor de Vinhos no Mar Azul, viagens enogastronômicas conta que tal rótulo causou polêmica. Por exemplo, foi proibido de desembarcar nos EUA, senhoras respeitáveis da costa leste teriam interpretado a menina nua de Balthus como pornografia infantil. Então, os empregados da baronesa perguntaram-lhe: Como faremos para substituir Balthus? A resposta da Baronesa e que eu achei ótima: Não substitua Balthus. Apenas tire-o.
Eu não disse para vocês que a gente ouvia histórias maravilhosas lendo o livro?
Que ver toda a galeria? Os rótulos todos do Château?
Va lá: http://www.theartistlabels.com/




quinta-feira, 23 de julho de 2009

Quando ler é sorver

Quando um livro é soberbo é quase impossível falar a respeito dele para quem quer que seja. Às vezes, chego a pensar que o melhor é calar. Viver o prazer de ter lido aquela obra, solitariamente, e guardar tão somente a experiência da leitura. Afinal, inúmeras vezes vivi desse modo essa mesma experiência.
No entanto, por ora, a generosidade é meu melhor estímulo para as relações humanas, então, quero compartilhar experiências do gênero. Afinal, não seria bom que outros pudessem também sorver dessa leitura, e com ela conhecer o sabor do livro?
Pois bem, estou a falar de Vinhos no Mar Azul, Viagens enogastronômicas, de José Guilherme R. Ferreira. Cheguei ao livro por recomendação de uma amiga que conhece o jornalista e tem um exemplar autografado, que me emprestou. Nós sempre estamos trocando livros: ela é outra que adora devorá-los. :-D
Por que esse livro é precioso?
De início porque seu autor, embora seja um conneceur, não partilha do estereótipo daqueles especialistas que quando falam de vinhos são, em geral, pernósticos. Assim, se o livro é soberbo não o é no sentido de arrogância ou presunção de seu autor, mas no fato de que resultou no relato de experiências, em torno da bebida, que têm uma aura muito distinta, pois, logo notamos, ele está a falar de algo que, sim, é grandioso, maravilhoso: outros sentidos abarcados pelo adjetivo soberbo.
Tanto aprendemos sobre os vinhos, simplesmente lendo esse livro!
Saberemos, por exemplo, dos diversos lugares da aldeia global onde são cultivadas as diferentes cepas, que resultam num número variado de vinhos e que só tende a crescer. Além disso, ficamos sabendo acerca do amálgama cultural em que as garrafas da bebida costumam como que estar mergulhadas, em tão variada geografia e distintos palcos culturais.
Graças ao livro conheceremos inúmeras personagens, todas importantes para o mundo das vinículas e o das taças plenas da bebida: muitas serão reais, ou seja, outros conneceurs, pessoas que estudam, pesquisam, escrevem, falam e publicam a respeito do precioso néctar. Haverá ainda aquelas que cultivam as plantações ao redor do mundo e cuidam do preparo da bebida, dentre essas seus verdadeiros defensores e que advogam pela nobre causa da enocultura. Ouviremos falar de personagens históricas que foram inspiradas pelo vinho ou das que, extraídas do universo literário, foram fruto de inspiração, também graças ao vinho, pois nasceram do hábito salutar de sorver a bebida, de escritores, músicos, pintores, poetas, cineastas, em variadas épocas e circunstâncias.
Talvez eu não tenha aprendido tanto assim acerca dos nomes dos diferentes vinhos e da variedade de culturas do vinho ao redor do mundo, ou seja, no sentido de que não poderia guardá-los, principiante que sou, mas compreendi a riqueza desse universo, o que sempre nos desperta o desejo de fruição desse tipo de prazer.
Algo bastante interessante para os internautas é que o autor preocupou-se em trazer ao final de cada crônica o endereço de sites da web relacionados ao tema ali decantado.
Ao final desse post concluo, como já previa, que não é possível apenas falar sobre esse livro. O melhor será, como eu dizia no começo, que o leitor possa sorver a leitura do mesmo e depois compartilhá-lo, como se faz no universo das Confrarias, como o fez minha amiga.
Sim que ele leia o livro e, de preferência, na companhia da melhor garrafa de vinho. Logo na introdução do livro o leitor saberá qual deve ser essa garrafa.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Rubem Grilo



Rubem Grilo – Xilográfico (1985 a 2009). Trata-se de uma mostra dos trabalhos de um dos principais expoentes da gravura no país. Sua obra é tão querida e conceituada que ele já participou de inúmeras mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior, além de duas Bienais de São Paulo. Ele é simplesmente considerado um dos mais importantes xilogravadores brasileiros vivos.
Eu soube que essa mostra já esteve em Brasília e no Rio de Janeiro.
Agora, ela integra a 41a edição do Festival de Inverno da UFMG, em Diamantina. Esse festival parece ser bem interessante porque ele já tem um longo histórico. O tema desse ano é Traduções, o que se pretende é montar um painel da multiplicidade de perspectivas, formas e linguagens da arte contemporânea.
Se fosse possível que qualquer um de nós migrássemos para esse tipo de evento, ocorresse ele onde fosse e em qualquer tempo, a vida seria puro prazer. ;-D
Como não é o caso, Mineiros de plantão prestigiem o filho de sua terra! O Festival já começou e acontece até 30 de julho, agitando, com certeza, aquela cidade. Já a Mostra dos trabalhos desse simpático e talentoso mineiro, Rubem Grilo, fica aberta à visitação de 22 a 29, das 12h às 17h30, na Casa de Chica da Silva.
Um ótimo lugar para hospedar um artista cuja obra é densa, dramática, filosófica, política e, sobretudo, poética.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Argentina Hoy: mais um destaque


Leandro Erlich, o rapaz acima, é argentino e mora em Nova York. Trata-se de mais um artista cujo trabalho pode ser apreciado na mostra Argentina Hoy, em cartaz no CCBB. (Conoces a Flavia Da Rin?) Uma amiga disse-me que quando viu sua instalação que trouxeram para essa exposição, havia um grupo de crianças, escolares, sendo guiados por uma instrutora da exposição. As crianças adoraram! Eu também achei absolutamente divertida, minha amiga idem.

O trabalho desse artista nos propõe uma situação de absurdo a partir da nossa própria observação do real. Vemos algo bastante real, verdadeiro, a partir do que consideramos assim, porque confiamos em nossa capacidade de percepção visual. Isso tudo em um primeiro momento, mas a medida em que me desloco pelo espaço, observando o mesmo objeto, sob outro ângulo, noto que tudo era ilusório e sou arremessado em direção ao absurdo e cômico. Ledo engano dos sentidos provocado pela obra ;-D
É também o que acontece nessa outra instalação, de que trouxe a imagem, e que se chama Swimming Pool. Quando o visitante está no primeiro piso, ele vê uma piscina cheia, a escadinha, a água, enfim uma piscina completa e, no fundo da piscina, pessoas vestidas e agindo normalmente: paradas, caminhando, aliás, como se não estivessem debaixo d’água! Ao descer para o piso inferior ele é agora parte daquele cenário e simplesmente vê que se trata de uma piscina vazia. Uma imensa peça de acrílico cobre a piscina e suporta uma determina quantidade de água, criando a ilusão que tivemos no primeiro piso.
Leandro Erlich nos faz pensar, ao desorientar nossos sentidos e, sendo assim, também nos diverte.
A instalação que se encontra em Sampa é uma surpresa, certamente. Vocês não querem ver?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

As Matryoshka Dolls e a Arquitetura








Aconteceu-me uma coisa típica de quando se navega nos mares da Web. Ou ao menos possível, graças.

Hoje, eu estava pensando o quanto aprecio as Matryoshka dolls que são aquelas bonequinhas russas, brinquedo tradicional daquele país. Trata-se de uma série de bonecas e que são guardadas, uma dentro da outra: da maior, sempre exterior, até a menor, a única que não é oca.
Então, fiquei procurando imagens da bonecas, no São Google, porque pretendia falar do fascínio que sempre tive por elas e porque acho que são mesmo uma metáfora perfeita do nosso ser interior: penso que trazemos dentro de nós todas as nossas idades, desde a atual, essa de que se reveste minha aparência e minha persona e que busco expor. No entanto, habitam dentro de mim um outro, anterior, e, ainda, um anterior e anterior... até mesmo o bebê que eu fora continua aí ou lá: quando cessa a possibilidade de memória ou de lembrança do ser que se fora, anteriormente.

Estava nessa pesquisa, web adentro, quando me deparo com esse projeto magnífico de arquitetos alemães, FNP architekten, (quem souber alemão pode visitar o site deles
http://www.fnp-architekten.de/projekte/projekte01.html e mesmo que, como eu, não saiba, saiba que os projetos são lindos de se ver. ;D)

Esse projeto, cujas imagens trouxe para cá, procurou converter uma ruína quase destruída, datada de 1768, em uma "Matryoshka dolls house". Uma estrutura pré-fabricada, com as aberturas respectivas para portas e janelas daquela ruína, foi colocada diretamente dentro das paredes da velha casa, mas sem destruí-las. Depois, foi só acrescentar um teto para a estrutura. Et voilà, temos uma casa nova, absolutamente charmosa e que respeita um princípio muito em voga entre alguns arquitetos contemporâneos: o de remodelar espaços com intervenções mínimas.

Essas informações eu não poderia obter no site citado, mas descobri noutro, em que se falava da exposição que ocorreu no ano passado, REACTIVATE!! Espacios remodelados e intervenciones mínimas , no Espai d' Art Contemporani de Castelló, na Provincia de Castelló, que fica a uma hora de Valência, na Espanha.
É também muito bom conhecer o site dessa instituição: http://www.eacc.es/

Queria falar da Matryoshka dolls e, por fim, falei acerca de um projeto arquitetônico concebido por seres humanos excelentes. Que bom que esse mundo contém, como parte de si (como acontece com a boneca) uma gente boa como essa! ;-D

domingo, 19 de julho de 2009

Os mineiros que estão dançando, divertindo e emocionando nossas crianças






Ontem, uma amiga querida disse-me que precisava ir ver um espetáculo infantil de dança no CCBB. A minha amiga é jornalista e estaria trabalhando: o espetáculo era uma pauta para o caderno de cultura do jornal onde trabalha. Convidou-me, pois era o tipo de expediente que ela adora fazer comigo, ou seja, pura diversão.

Eu topei, tive a intuição de que seria uma coisa boa de se ver. Chegando ao Centro Cultural, as crianças já estavam curtindo a instalação de Flavia Da Rin. (vide Conoces a Flavia Da Rin?) É verdade! O trabalho dela também tem um apelo infantil, inegável. ;D

Entramos no teatro. Tratava-se do espetáculo De Esconder para Lembrar, que tem a direção geral de Marisa Monadjemi, a direção coreográfica de Denise Stutz e cenário e figurino criados pelo artista plástico e ilustrador Marcelo Xavier.

No palco, um grande mural com desenhos infantis ao fundo e um arara com roupas e apetrechos, além de inúmeros coloridos guarda-chuvas abertos no céu do palco. Durante o espetáculo, temos a impressão de que as personagens são crianças que estão se apropriando do guarda-roupa dos adultos para contar histórias e fazer suas brincadeiras.

De fato, a coisa toda é muito divertida, pois as personagens são dinâmicas até não poder mais, com seus trava-línguas, suas cantigas de roda e, claro, a dança, em que os movimentos jocosos faziam as crianças gargalharem (e a mim também!). As sensações que o espetáculo desperta são auxiliadas sempre por um ritmo musical diferente, que surge e transforma o palco. O espetáculo sugere ainda temas como o medo de escuro, de assombrações e as proibições que os adultos impõem às crianças. Tudo começa com uma brincadeira de esconde-esconde. E aí já sabemos que vai dar certo até o fim, porque os bailarinos/atores ganham as crianças de antemão: 1,2,3,15... Posso ir? Nãaao! 150, 235, 521... Posso ir? Póooode!

Há uma cena em que a personagem/menina está contando um episódio corriqueiro de seu mundo infantil e, então, ela vai chamando pessoas para compor o cenário da história ou ser as personagens. Notei que ela chamou apenas uma criança (que seria a serpente atrás da moita) e todos os demais eram adultos e que estavam também na platéia.
Pareceu-me que a mensagem subliminar era evidente: pais, tios, avós, brinquem mais com suas crianças. As crianças propriamente ditas: filhos, sobrinhos, netos e, é claro, a sua própria criança interior.

A lição que me ficou: essa nossa criança não morre nunca, desde que saibamos a essência de esconder para lembrar.

A Meia Ponta Cia de Dança tem nesse espetáculo sua nona montagem. Trata-se de um grupo mineiro, de Belo Horizonte, e que também acaba de receber o 6º Prêmio Usiminas/Sinparc nas categorias de ‘melhor bailarina’ e ‘melhor trilha sonora para espetáculos de dança’.

As apresentações são gratuitas no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, que pretende incentivar a prática da dança e ensinar novas brincadeiras para as crianças, mas eu vi o espetáculo fazendo muito mais do que isso. Ele emociona adultos e crianças. Esses mineiros são de uma delicadeza irreprochável!

As apresentações têm classificação livre e acontecem aos sábados e domingo, às 15h, até 9 de agosto. E os ingressos podem ser retirados no local a partir das 10h do dia do espetáculo.

Mais informações:
Centro Cultural Banco do Brasil – São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro
Próximo às estações Sé e São Bento do Metrô
(11) 3113-3651 / 3113-3652
www.bb.com.br/cultura

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Após a leitura de um romance


peça publicitária da livraria Anagram Bookshop, em Praga, que Julia www.juliarodrigues.com enviou para o Alessandro Martins do blog www.livroseafins.com.br

Terminar a leitura de um romance de que se gostou do começo ao fim. A sensação é boa. Há aí um sentimento de dever cumprido. Era a leitura também uma tarefa. Não como as outras. Tarefa desnecessária, inútil mesmo, sobretudo sob o ponto de vista da praticidade e da emergência do trabalho produtivo que, para alguns, é o que se faz a troco de dinheiro. Não. Ninguém paga a mim um salário para que eu leia um romance. E, ainda assim, eu leio um romance. Nele encontro os meus iguais, encarnados nas personagens cujo espiríto que lhes é próprio está nas Letras. É o alcançável através de um jogo discursivo, engendrado por meio de uma narração, em que é fundamentalmente importante o papel do narrador.
Daí esse sentimento que tenho e do qual ainda não falei, o de que a tarefa que o romance me impôs, como leitor, ao se impor a mim, como objeto de leitura, era uma tarefa de cunho espiritual. Sim. Meu ser elevou-se em direção ao desconhecido daquela proposição e que veio de um Outro (o do autor e do meu próprio).
Também havia uma fusão de gêneros: uma História antiga e renovada, um Pensamento esboçado, o seu pouco (ou muito?) de Filosofia, e ainda um tanto de psicologia aplicada, penso que algo até mesmo muito próximo do que o exercício psicanalítico pode ser.
O que, possivelmente, acontece é que o romance desperta o meu Cinema interior. Um sonhar acordado, a experimentação do que é puro Devaneio.
Se essa experiência não for suficiente, há ainda uma utilidade suplementar na leitura de um romance: auxilia-nos na busca do que ouso chamar Sabedoria.

The Frida Kahlo’s murder sad: "Build It And They Will (Probably) Muse"







Talvez seja um traço que trago da minha infância, mas adoro cores em profusão. Penso que foi, também por essa razão, que fiquei tão atraído pelo trabalho de Flavia Da Rin ( vide post Conoces a Flavia Da Rin?)
Hoje, um outro trabalho que me tomou, tive oportunidade de conhecer pela web.
Pude trazer-lhe as imagens de um blog que, por sua vez, deverá ser visitado com frequência pelos amantes da arte. Trata-se do blog I Shot Frida Kahlo. Seu idealizador, Lucio Crispino (Melbourne - AU), em cada post, presenteia seus visitantes com imagens de obras de arte diversas. Tais imagens dialogam com os títulos que ele dá aos posts e também, após a legenda para as imagens - em que ele nomeia o autor da obra e o título da mesma - ele costuma por uma citação de um outro artista ou escritor, poeta etc, que também dialoga com aquele título e a própria obra selecionada.
Você pode ficar horas deliciando-se com as imagens, os títulos e as citações, em suas conexões. Um trabalho muito sensível, inteligente, original.

Importante: O título do post e que emcimava as imagens que trouxe para cá é Reprise #3: Build It And They Will (Probably) Muse. Ele foi postado em 27 de Maio desse ano. A obra: trata-se de uma instalação de Nike Savvas - Atomic: full of love, full of wonder, 2005.
A citação: 'Nothing exists until or unless it is observed. An artist is making something exist by observing it. And his hope for other people is that they will also make it exist by observing it. I call it "creative observation". Creative viewing.' William S. Burroughs

(Wikipédia informa: William Seward Burroughs II (5 de fevereiro de 1914 – 2 de agosto de 1997) foi um escritor, pintor e crítico social nascido nos Estados Unidos da América. A sua obra mais conhecida é Almoço Nu (Naked Lunch) seguida de Junkie. Grande parte de sua obra, de atmosfera fantástica e grotesca, tem caráter autobiográfico. Apesar de fazer parte da chamada geração beat, seus livros têm pouco em comum com o restante desses autores, já que a linguagem utilizada provém de fluxos de consciência durante o uso de alucinógenos. Homossexual depois da morte acidental da esposa causada por um disparo com arma de fogo. Foi um dos pioneiros da literatura experimental, tanto no universo léxico escatológico, urbano, comum e absurdo como no consumo de drogas para produção subjetiva de textos.)

Vá lá: www.ishotfridakahlo.blogspot.com

Conoces a Flavia Da Rin?






Está em cartaz, no CCBB, a exposição "Argentina Hoy" e que apresenta, agora em São Paulo (até agosto) e depois no Rio, um panorama da arte contemporânea dos criadores argentinos por meio das obras de 33 artistas. A mostra está distribuída por todos os andares do belíssimo edifício.

Uma característica dessa exposição é a forte presença da figuração, uma vertente que, parece, é o forte das criações nas artes plásticas em todo o mundo. É essa marca, a figurativa, que reúne os trabalhos da mostra.

Eu tinha pouco tempo, então, dei apenas uma passadinha (na minha hora de almoço), quando vi alguns trabalhos. Dos que vi, hoje, o que mais me chamou a atenção foi a instalação imensa, no saguão, de um trabalho fotográfico de Flavia Da Rin. Essa última imagem circular é um fragmento do que pode ser visto na presente exposição, e que ressalta o imaginário: sua inspiração parece ser a que vem dos contos de fadas.

Eu não resisti e trouxe essas outras imagens todas (de outros trabalhos seus) porque achei uma delícia de olhar. ;-D

terça-feira, 14 de julho de 2009

Cotidiano


O cotidiano atormenta porque é nele que a vida acontece nas minúcias do que é preciso fazer. Também por isso levantamos ao despertar do relógio, esteja chovendo ou não. Nele, haverá o ritual da ida ao trabalho, e, morando em São Paulo, o trabalho dessa ida, que pode, por si só, ser exaustivo.
No cotidiano, encontramos as pessoas de todos os dias, desde o hall do edifício em que se trabalha: às quais é bom que se diga "Bom-dia!", sorrindo.
No cotidiano, as tarefas que circulam habitualmente e a repetição das piadas dos que preferem repeti-las todos os dias.
Nele, há também a hora do almoço: esse pequeno hábito burguês.
Ainda no cotidiano, o inesperado das surpresas boas ou ruins e que rompem com a rotina, pois despertam o espanto trágico ou feliz. É quando, então, impõe-se a lembrança de que estamos vivos.
É quando magnífica aparece aquela que nem parecia fazer parte do pobre cotidiano: a vida, ela mesma!

The Pilobolus's Shadows



Vá, por favor, até www.metacafe.com/watch/2048357/pilobolus/
Não foi possível trazer o vídeo para cá :p
De qualquer modo, não deixe de ver nesse site um vídeo promocional do Pilobolus: trata-se de uma pequena amostra do espetáculo Dog-ID que acabou de estrear em Nova York.
Beautiful! Beautiful! Beautiful!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ná Ozzetti e a transcendência

Além de autores, autoras, escritores de um modo geral, atores e atrizes, realizateurs, eu costumo ter saudades doidas ou doídas de cantores e cantoras que aprecio. Foi o que ocorreu hoje comigo. No mundo da musicalidade brasileira uma cantora pela qual eu tenho a maior estima, quero-lhe tão bem como se a conhecesse pessoalmente e ela fosse uma grande amiga minha, é Ná Ozzetti. É que quando ouvimos uma voz há muito tempo, essa voz mesma é querida.
Ná sempre cantou o que quis, do modo que quis cantar e sua carreira é absolutamente independente.
Seu despertar musical iniciou-se ainda na infância, ela diz que imitava as grandes cantoras de então (e de sempre): Elis e Bethânia.
Pensei nela esses dias porque embora ela tenha um ethos paulistano por excelência sempre percorreu o Brasil cantando. Quando vivi em Brasília, lembro-me de que Ná Ozetti sempre estava por lá, assim como o Itamar Assumpção. E era quando, então, eu podia matar as saudades do mundo de São Paulo, com esses meus queridos conterrâneos.
Hoje li uma longa entrevista que ela concedeu o ano passado para um site que é um primor, quando o assunto é música brasileira de valor incontestável.
Na entrevista, falou-se de tudo: ela estava entre amigos.
Ná está morando no meio do mato, num sítio em Jundiaí, bem pertinho de São Paulo.
Lá tem seus cachorros, os gatos da vizinhança, e seu jardim.
Lá compõe, elabora os projetos que dão continuidade à sua profícua carreira musical.
Um trecho que achei muito significativo e com o qual me identifiquei:

Tacioli - Ná, como você lida com o fim das coisas?
Ná - O fim? Depende do que, né? [risos] Tem coisas que dou graças a Deus que terminam, tem coisas que são muito dolorosas, depende do quê...
Tacioli - Fim da vida.
Ná - Não gosto nem de pensar nesse assunto. Mas é engraçado... A coisa que tinha mais medo de enfrentar na vida, já enfrentei. Agora tenho outros medos. Sempre achei que não ia suportar perder meu pai. E quando isso aconteceu foi de uma forma que entendi, de verdade, que era uma coisa natural. A gente sabe que é o fim, mas o difícil é você viver o momento. E vivi essa passagem de uma forma muito serena. É claro que dói, é muito difícil, mas foi de uma forma muito mais serena do que imaginava. Então acho que as coisas tem o seu momento e elas acabam mesmo, qualquer coisa, até um trabalho. Nunca tenho pena de terminar um trabalho. Quando tô sentindo que ele já deu, já sinto vontade de ir pra uma linha nova, de experimentar algo totalmente novo. Então, acho que lido assim.
Tacioli - E espiritualidade, tem isso?
Ná - Sou super espiritualizada. Não sou espírita, também não lido com religiões, nenhuma. Acho que fecha demais. Tanto que não sou praticante de religião nenhuma. De nascimento sou católica e sou religiosa. Rezo. Eu me sinto muito melhor nos dias que rezo. No dia que não rezo parece que algo faltou. Então, tenho muita necessidade dessa prática religiosa, mas de uma forma que, pra mim, é um mistério. Simplesmente rezo e não fico pensando o que vai acontecer comigo depois que morrer. Mas sei que a minha essência, de alguma forma, vai ficar. E dos que se vão, dos que partiram até hoje, não sei, algo continua.
Max - No mínimo em que fica.
Ná - Pois é, mas acho que cada ser é muito complexo, muito poderoso pra virar nada, pó. Isso pra mim, né? Acho que não justifica a vida.
Almeida - Mas qual é essa continuidade?
Ná - Isso pra mim é um mistério. Não sei e não tenho curiosidade de saber. Porque já li livro kardecista e não me identifiquei. Não tô falando mal de nada, estou falando de uma coisa pessoal, de identificação mesmo. Com qualquer religião. Já frequentei budismo, que é uma religião em voga no mundo. Tem algumas coisas do budismo que me identifico demais, mas algumas coisas sempre caem naquela coisa do dogma. Então prefiro não seguir religião nenhuma. Agora tenho me identificado muito com a ioga. Na ioga, a gente tem uma prática de meditação e os próprios asanas são... como fala, eles dizem essa concentração faz com que você, sei lá... Vocês querem ir por esse caminho? [risos]
Almeida - Sim.
Ná - Tem uma coisa que acho muito interessante e que meu professor de ioga fala porque a gente fica muito na mente... O que é a meditação? O que é a oração? É abandonar sua mente um pouco, sair dessa coisa racional e entrar numa outra frequência. É você permitir isso. Acho que a natureza vibra, são frequências, então acho que a oração é você se conectar com a natureza, com o cosmos, que é um mistério também. O que existe além da Terra? É muito grande isso tudo, sabe? Acredito em Deus, acredito nessa grandeza toda. Então sinto que a minha necessidade de oração é uma necessidade de conexão diária, como um alimento. É como se estivesse presa a um cordão umbilical com algo que rege tudo isso. E a oração é uma forma... Alguém criou essa oração, que é um mantra, que seja, que é uma forma de estabelecer essa conexão.(...)


Eu gosto de gente que fala acerca dessa temática, exatamente dessa maneira. ;-D

Para terminar:
A entrevista na íntegra pode ser lida no site http://www.gafieiras.org.br/

É imensa. Fica melhor, se você estiver ouvindo um dos discos da cantora, como eu fiz. No meu caso, a trilha foi Estopim e Love Rita Lee.
Já essa foto que postei foi clicada por Gal Oppido para o segundo álbum de carreira da cantora, , de 1994. Eu sempre achei uma foto linda. Não parece um camafeu?

domingo, 12 de julho de 2009

Cuide de você


Ontem fui ao Sesc Pompeia ver a exposição Cuide de Você, de Sophie Calle.
Fiquei tão contente da famosa exposição, após ter passado por Paris, Nova York, Veneza e Canadá, ter chegado a São Paulo, finally.
O mote da exposição, como já tive oportunidade de dizer por aqui (Cuide-se bem com Sophie Calle), foi uma carta (ontem descobri que foi um e-mail!) que Sophie recebeu de um ex-namorado, o escritor Grégoire Bouillier, rompendo o relacionamento (a gente recebe a cópia do texto do e-mail, traduzido, logo no início da exposição). Sophie, então, convidou 107 mulheres, famosas e anônimas, amigas ou estranhas, para analisar, interpretar e, assim, “responder” à mensagem daquele texto, e também de seus subtextos.
O rol de mulheres é o máximo: inclui a mãe da artista, a compositora Laurie Anderson, a DJ Miss Kittin, as atrizes Jeanne Moreau, Victoria Abril e Maria de Medeiros e várias profissionais: linguista, revisora, sexóloga, juíza, delegada, taróloga, antropóloga, designer, assistente social, criminologista, clarividente etc. É engraçadinho o vídeo da papagaio fêmea repetindo Prenez soin de vous...
Eu senti uma certa generosidade no evento. Generosidade da artista ao se expor, afinal ela levou o que também costumamos chamar “um pé na bunda”. Há também a generosidade de todas as mulheres que participam com sua solidariedade, formando um painel de análises que realmente disseca aquele e-mail do rapaz, e com isso temos um panorama riquíssimo de respostas, algumas técnicas, outras mais acadêmicas, muitas performáticas. No fundo, todas emocionais.
O vídeo com a Jeanne Moreau é uma sensação. Também gostei muito de uma garotinha de 10 ou 12 anos, que ao ler o e-mail concluiu que aquele homem é triste. Ela foi a mais delicada e eu acho que ela tem toda a razão!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Política, de Adam Trirlwell


Depois de ter lido Aldous Huxley, comecei a leitura de um romance contemporâneo. Eu sou uma pessoa que tenho compulsão à leitura. Não consigo ficar sem ler. E, muitas vezes, leio o que me cai nas mãos. Tenho tido a sorte, é bem verdade, de só cair em minhas mãos o que vale a leitura. O título da obra que agora leio é Política. No entanto, o título é irônico, trata-se na verdade de uma comédia sobre o sexo. Seu autor é esse rapaz fotogênico que se chama Adam Trirlwell. Esse é o seu primeiro romance e que ele lançou em 2003, ocasião em que entrou para a lista dos 20 melhores jovens romancistas ingleses da revista Granta (uma publicação de prestígio que foi fundada em 1889, por estudantes da Cambridge University, e que até hoje, ao que tudo indica, é uma publicação respeitada pelos leitores do Reino Unido). Também ouvi dizer que essa indicação para a tal lista causou uma certa controvérsia, mas penso que deve ter sido pela temática do livro e pelo modo, quase que displicente, do narrador envolver-se na trama que está a tecer em torno do casal delicioso do romance: Moshe, um jovem ator, e sua namorada Nana, uma estudante de história da arquitetura, e que resolvem trazer uma amiga bissexual para a cama. Eu ainda não cheguei a esse ponto da narrativa, mas já sei que isso vai acontecer.
O meu desejo de falar do romance nesse post está relacionado a uma passagem que a mim, leitor compulsivo, pareceu exemplar. O narrador primeiro descreveu uma relação sexual apenas entre os dois, em que Moshe estava fazendo um tipo dominador (porque essa era a fantasia do casal naquele momento) mas que ao final, constatou-se, Moshe ficou em dúvida a respeito do sucesso de sua performance. E, então, o narrador nos diz:
Vou detalhar um pouco o problema de Moshe. É um problema universal. É a insegurança universal de não ser universal. [Então, ele cita Stendhal que tem uma teoria de por que gostamos de ler. A seguir ele irá explicar a citação que fez de Stendhal]
Deixe-me explicar. Assim como você não sabe qual é a aparência de seu estômago, não sabe também qual é a aparência dos seus próprios sentimentos. Não sabe qual é a aparência do estômago por causa da pele. Não sabe qual é a aparência dos sentimentos por causa da vaidade e de outras ilusões. Para superar o problema da pele, temos os livros didáticos de anatomia. Para superar o problema da vaidade e de outras ilusões, temos os romances.
Compare isso com a preocupação ampliada de Moshe enquanto está deitado nas costas de Nana. A preocupação era que todos faziam sexo melhor do que ele. Ele tinha despeito. Agora, para curar o despeito, uma pessoa deve comparar honesta e calmamente a si mesma com outras pessoas. Ao fazer a comparação, constata que todos, em algum momento, são igualmente inábeis. Apenas uns poucos escolhidos são bem sucedidos no sexo anal todas as vezes. Assim se recupera uma noção de proporção.
Moshe precisava de um romance. (Precisava deste romance.) Moshe sofria da falta de romance. Este romance é um grande ato de miniaturização. Tudo está do tamanho certo. Se tivesse lido esse romance, acho que então Moshe teria sido feliz.

Estou conhecendo jovens ingleses so likeables !

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A conversa sedutora de Jeanne Moreau


Hoje é feriado em São Paulo. Um bom motivo para só se fazer o que é bom de se fazer, em casa. Assim, posso dizer como foi bom ver Jeanne Moreau em um filme. Acabei de assistir ao filme A noiva estava de preto, de François Truffaut. Espero um dia poder ler o livro homônimo de Cornell Woorich. Truffaut também assinou o roteiro e que conta a história de uma viúva, cujo marido foi assassinado ao sair da igreja, logo após a celebração do casamento. Ela decidiu que iria matar todos os responsáveis pela morte dele. A maneira como isso se dá nos prende totalmente à trama. Moreau está incrivelmente charmosa vestindo aqueles modelos Pierre Cardin, que foi seu marido e que assina o figurino. Um amigo contou-me que isso foi um problema nos bastidores da filmagem porque Moreau teve um caso com Truffaut durante as gravações e Cardin, enfim, estava por ali.... Fofoca antiga à parte, além do charme absoluto da atriz, do toque hitchcockiano que Truffaut deu às cenas todas, o que mais me seduziu foram mesmo os diálogos.
E que diálogos!

Um exemplo, de quando a personagem está saindo de um teatro com o segundo homem que pretende assassinar, vejam só o que eles conversam:

- Você me deve uma explicação.
- Devo?
- Sim, e para começar, como me conhece?
- Você é muito curioso.
- Meu nome é Coral, Robert Coral.
Sou o homem para quem você queria enviar o ingresso?
- Sim, Robert Coral.
Se fosse tudo um engano ficaria desapontado?
- Sim, não, acho que não... Pelo menos nos conhecemos.
Estou feliz mesmo que não tivesse sido para mim.
Se você dissesse que não voltaria a me ver de novo eu ficaria perdido.
- Não lamenta ter vindo, não?
Então, está feliz?
- Mais do que feliz, estou extasiado.
Mas não posso parar de pensar...
- Sim, eu sei.
É difícil não pensar.
- Então, por que não me fala?
- É meu segredo.
- Seu nome pelo menos.
- Digo depois.
- Quando?
- Ainda não sei.
Na próxima semana talvez.
- Por que não pode ser amanhã?
- Amanhã.
- Maravilhoso! Onde?
- Onde? Na sua casa?
- Minha casa? Mas eu não me atreveria a propor isso.
- Bem, atreva-se.
- Quer vir amanhã a minha casa?
- Com prazer.
- Vai me contar tudo?
- Sim, eu direi... Quando, onde, porque e como.
E agora, adeus, e até amanhã.
- Eu levo você para casa.
- Não, você precisa ir.
Até amanhã, às 9.
- Não sei o que dizer.
Eu apenas...
- Então, não diga nada. Adeus.
- Adeus.

Como disse, esta conversa se dá enquanto caminham na saída do teatro e como é possível perceber eles estão extremamente sedudores, embora ambos com diferentes propósitos.

Fico a me perguntar se não é sempre assim, quando as pessoas acabam de se conhecer...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

She is a likeable person



O Slowdabf do blog http://www.tododiaumtextonovo.blogspot.com/ escreveu um post inspirado na campanha ateísta nos ônibus da Inglaterra. É interessante ler o que ele tem a dizer sobre isso. Eu, de minha parte, também tenho algo a dizer. Em janeiro, quando foi noticiada a campanha eu achei a frase, que passou a circular naqueles tradicionais ônibus ingleses, simplesmente ótima: There’s probably no God. Now stop worrying and enjoy your life. O que eu não sabia e o Slowdabf acabou por fornecer a informação é que Ariane Sherine foi quem teve a idéia de fazer a campanha.
São Google levou-me até o site da moça: http://www.arianesherine.com/
Assim sendo, descobri que ela escreve comédias para a tv inglesa e é jornalista. Ela é a criadora da campanha ateísta nos ônibus que se iniciou em Janeiro desse ano no Reino Unido e agora corre o mundo, em cerca de 12 países. Ela tem apenas 29 anos e vive em Londres.
O próprio slowdabf chamou a atenção para o provavelmente da frase do anúncio. Isso, sem dúvida, foi muito simpático por parte desses ateus de plantão. Mas o que me pareceu ainda melhor é a própria atitude, a iniciativa em si mesma e que, Sherine nos conta, surgiu quando ela viu um outro anúncio nos ônibus vermelhos de Londres e que trazia uma citação bíblica e o endereço de um site. Quando ela visitou o site, leu a mensagem de que os ateus iriam queimar no fogo do inferno (:-p). Então, ela escreveu um artigo no jornal solicitando que todos os ateus enviassem 5 libras para que ela pudesse responder àquele anúncio, colocando nos ônibus aquela frase.
Sherine também tem um blog e suas postagens tem aquela acidez do humor britânico que eu adoro!
Num post de outro dia, intitulado The Peril of Cheryl, ela nos conta que estava sentada num Café Gay quando uma mulher gritou: Você é a cara de Cheryl Cole!
(Wikipédia informa: Cheryl Cole (30 de Junho de 1983), também conhecida como Cheryl Tweedy, é uma das integrantes do grupo musical de grande sucesso na Inglaterra Girls Aloud. É Mulher do futebolista inglês Ashley Cole. Recentemente participou de um vídeo musical do cantor will i am da banda black eyed peas. O clipe se chama Heartbraker onde ela canta e dança break.)
E, então, Sherine continua seu texto dizendo :
Agora, temos 6 possibilidades aqui:
a) Ela não sabe como é Cheryl Cole
b) Ela estava falando sobre uma outra Cheryl Cole
c) Ela precisa fazer uma excursão à Vision Express [é o nome de uma loja de lentes de contato : D]
d) Ela é uma mentirosa crônica [ no sentido de que sofre de uma patologia, uma compulsão a mentir]
e) Ela estava querendo me fazer feliz
f) Ela não tem um bom senso de comparação e realmente ela pensa que eu pareço-me com Cheryl Cole
Não vou contar o restante porque acho que é muito mais gostoso ler o próprio post de Sherine, o que sugiro que façam se puderem. Eu tive um verdadeiro acesso de riso como há muito eu não tinha.
Os crentes de plantão não sabem o que perdem quando condenam os ateus ao inferno, talvez eles estejam tão somente se autocondenando ao privarem-se de boas companhias como a que representa Ariane Sherine. Oh my God como é que pode? Sou da opinião que ser ecumênico implica em uma universalidade tão irrestrita a ponto também de poder ouvir os ateus.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Aldous Huxley


Estou lendo um livro de Aldous Huxley. Curiosamente comecei a leitura da obra desse autor por um livro que não é o mais conhecido ou famoso. Em geral, quando ouvímos falar em Huxley os títulos que nos sugerem são O admirável mundo novo ou As portas da percepção, seus clássicos, sobretudo em popularidade.
Eu estou lendo A eminência Parda e estou impressionado. Trata-se de um Estudo sobre Religião e Política. Sim é um livro difícil e, sobretudo, porque a figura central desse romance/ensaio histórico é um frade, François Leclerc du Tremblay, o Padré José de Paris, a própria Eminência Parda. Huxley o escolhe como figura central porque ele foi colaborador do Cardeal Richelieu durante a Guerra dos Trinta Anos.
Devo fazer um parênteses e dizer que o período histórico está agradando esse leitor também porque as personagens todas, bem ou mal, já são nossas velhas conhecidas, Maria de Médicis, o Luís XIII, o próprio Cardeal Richelieu, católicos de um lado, protestantes de outro, enfim, fico lendo o livro e as imagens das personagens que me vêm à cabeça aparecem nas figuras dos atores do filme A Rainha Margot (aquele do diretor Patrice Chéreau, com a belíssima Isabele Adjani). Isso é meio estranho, mas paciência. Creio que bem ou mal, tal interferência não prejudica em demasia as inferências que tenho de fazer. Sim, Husley não está defendendo sua tese assim tão assertivamente, ele, muito elegantemente, deixa por conta do leitor a maior parte do trabalho de análise, uma vez que suas pistas e afirmações, embora contundentes, são como uma aula e procuram sobretudo guiar o leitor em meio ao problema ali colocado, compõem um guia para a longa estrada da história.
Vejam só o que ele diz, logo no começo do livro, sobre a personagem que dá nome ao romance:

A sua vida - duplamente instrutiva por abranger os campos da religião e da política - é do maior interesse por constituir o mais estranho dos enigmas psicológicos - o enigma de um homem apaixonadamente ligado ao conhecimento de Deus, familiarizado com as mais altas formas da gnose cristã, que experimentou pelo menos os estágios preliminares da união mística mas que, ao mesmo tempo, viu-se envolvido nas intrigas da corte e da diplomacia internacional, ocupou-se com propaganda política e que de todo coração se dedicou a um esquema cujos resultados em mortes, miséria e degeneração moral podem ser vistos amplamente por toda a Europa do século dezessete, e cujas posteriores conseqüências o mundo sofreu até hoje.

É importante lembrar que ele está escrevendo em 1941, em plena II Guerra. Ele diz que a estrada que os pés calosos e desnudos do Frei palmilharam e que conduzia à Roma de Urbano VII, no século XVII, era a mesma que serviu aos acontecimentos de agosto de 1914 e de setembro de 1939.
Um livro fortíssimo e, como todo clássico, também atual, sobretudo se pensarmos que a religião e a política continuam irmanadas nesse século XXI, como continuarão sempre, e nessa aliança, tantas vezes fatal, continuam ambas a urdir os mesmos tristes horrores de sempre.