quinta-feira, 23 de julho de 2009

Quando ler é sorver

Quando um livro é soberbo é quase impossível falar a respeito dele para quem quer que seja. Às vezes, chego a pensar que o melhor é calar. Viver o prazer de ter lido aquela obra, solitariamente, e guardar tão somente a experiência da leitura. Afinal, inúmeras vezes vivi desse modo essa mesma experiência.
No entanto, por ora, a generosidade é meu melhor estímulo para as relações humanas, então, quero compartilhar experiências do gênero. Afinal, não seria bom que outros pudessem também sorver dessa leitura, e com ela conhecer o sabor do livro?
Pois bem, estou a falar de Vinhos no Mar Azul, Viagens enogastronômicas, de José Guilherme R. Ferreira. Cheguei ao livro por recomendação de uma amiga que conhece o jornalista e tem um exemplar autografado, que me emprestou. Nós sempre estamos trocando livros: ela é outra que adora devorá-los. :-D
Por que esse livro é precioso?
De início porque seu autor, embora seja um conneceur, não partilha do estereótipo daqueles especialistas que quando falam de vinhos são, em geral, pernósticos. Assim, se o livro é soberbo não o é no sentido de arrogância ou presunção de seu autor, mas no fato de que resultou no relato de experiências, em torno da bebida, que têm uma aura muito distinta, pois, logo notamos, ele está a falar de algo que, sim, é grandioso, maravilhoso: outros sentidos abarcados pelo adjetivo soberbo.
Tanto aprendemos sobre os vinhos, simplesmente lendo esse livro!
Saberemos, por exemplo, dos diversos lugares da aldeia global onde são cultivadas as diferentes cepas, que resultam num número variado de vinhos e que só tende a crescer. Além disso, ficamos sabendo acerca do amálgama cultural em que as garrafas da bebida costumam como que estar mergulhadas, em tão variada geografia e distintos palcos culturais.
Graças ao livro conheceremos inúmeras personagens, todas importantes para o mundo das vinículas e o das taças plenas da bebida: muitas serão reais, ou seja, outros conneceurs, pessoas que estudam, pesquisam, escrevem, falam e publicam a respeito do precioso néctar. Haverá ainda aquelas que cultivam as plantações ao redor do mundo e cuidam do preparo da bebida, dentre essas seus verdadeiros defensores e que advogam pela nobre causa da enocultura. Ouviremos falar de personagens históricas que foram inspiradas pelo vinho ou das que, extraídas do universo literário, foram fruto de inspiração, também graças ao vinho, pois nasceram do hábito salutar de sorver a bebida, de escritores, músicos, pintores, poetas, cineastas, em variadas épocas e circunstâncias.
Talvez eu não tenha aprendido tanto assim acerca dos nomes dos diferentes vinhos e da variedade de culturas do vinho ao redor do mundo, ou seja, no sentido de que não poderia guardá-los, principiante que sou, mas compreendi a riqueza desse universo, o que sempre nos desperta o desejo de fruição desse tipo de prazer.
Algo bastante interessante para os internautas é que o autor preocupou-se em trazer ao final de cada crônica o endereço de sites da web relacionados ao tema ali decantado.
Ao final desse post concluo, como já previa, que não é possível apenas falar sobre esse livro. O melhor será, como eu dizia no começo, que o leitor possa sorver a leitura do mesmo e depois compartilhá-lo, como se faz no universo das Confrarias, como o fez minha amiga.
Sim que ele leia o livro e, de preferência, na companhia da melhor garrafa de vinho. Logo na introdução do livro o leitor saberá qual deve ser essa garrafa.

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