quinta-feira, 9 de julho de 2009

A conversa sedutora de Jeanne Moreau


Hoje é feriado em São Paulo. Um bom motivo para só se fazer o que é bom de se fazer, em casa. Assim, posso dizer como foi bom ver Jeanne Moreau em um filme. Acabei de assistir ao filme A noiva estava de preto, de François Truffaut. Espero um dia poder ler o livro homônimo de Cornell Woorich. Truffaut também assinou o roteiro e que conta a história de uma viúva, cujo marido foi assassinado ao sair da igreja, logo após a celebração do casamento. Ela decidiu que iria matar todos os responsáveis pela morte dele. A maneira como isso se dá nos prende totalmente à trama. Moreau está incrivelmente charmosa vestindo aqueles modelos Pierre Cardin, que foi seu marido e que assina o figurino. Um amigo contou-me que isso foi um problema nos bastidores da filmagem porque Moreau teve um caso com Truffaut durante as gravações e Cardin, enfim, estava por ali.... Fofoca antiga à parte, além do charme absoluto da atriz, do toque hitchcockiano que Truffaut deu às cenas todas, o que mais me seduziu foram mesmo os diálogos.
E que diálogos!

Um exemplo, de quando a personagem está saindo de um teatro com o segundo homem que pretende assassinar, vejam só o que eles conversam:

- Você me deve uma explicação.
- Devo?
- Sim, e para começar, como me conhece?
- Você é muito curioso.
- Meu nome é Coral, Robert Coral.
Sou o homem para quem você queria enviar o ingresso?
- Sim, Robert Coral.
Se fosse tudo um engano ficaria desapontado?
- Sim, não, acho que não... Pelo menos nos conhecemos.
Estou feliz mesmo que não tivesse sido para mim.
Se você dissesse que não voltaria a me ver de novo eu ficaria perdido.
- Não lamenta ter vindo, não?
Então, está feliz?
- Mais do que feliz, estou extasiado.
Mas não posso parar de pensar...
- Sim, eu sei.
É difícil não pensar.
- Então, por que não me fala?
- É meu segredo.
- Seu nome pelo menos.
- Digo depois.
- Quando?
- Ainda não sei.
Na próxima semana talvez.
- Por que não pode ser amanhã?
- Amanhã.
- Maravilhoso! Onde?
- Onde? Na sua casa?
- Minha casa? Mas eu não me atreveria a propor isso.
- Bem, atreva-se.
- Quer vir amanhã a minha casa?
- Com prazer.
- Vai me contar tudo?
- Sim, eu direi... Quando, onde, porque e como.
E agora, adeus, e até amanhã.
- Eu levo você para casa.
- Não, você precisa ir.
Até amanhã, às 9.
- Não sei o que dizer.
Eu apenas...
- Então, não diga nada. Adeus.
- Adeus.

Como disse, esta conversa se dá enquanto caminham na saída do teatro e como é possível perceber eles estão extremamente sedudores, embora ambos com diferentes propósitos.

Fico a me perguntar se não é sempre assim, quando as pessoas acabam de se conhecer...

7 comentários:

  1. Nossa, mas que delícia de feriado então foi esse seu! Filme ótimo, né?

    E na verdade (ai, que chata!), o marido/estilista era o Pierre Cardin, e não rolou mal estar entre ele e o Truffaut (que eu saiba!). O Truffaut tinha realmente sido apaixonado pela Jeanne Moreau, e tiveram um romancinho enqto filmavam Jules e Jim. Depois, nas filmagens da Noiva, ela separada do Cardin, e ele da mulher (não que seu casamento o impedisse de alguma coisa) o amorzinho deve ter voltado a brotar! Os desentendimentos que houve foram entre Truffaut e o diretor de fotografia, a ponto de o Truffaut ter tido dificuldade em continuar dirigindo o filme. E um dos motivos das rusgas, foi o fato de todos os vestidos da Jeanne (criados por Cardin), serem pretos, num filme colorido.

    Também acho ela belíssima, até hoje! Mas o Truffaut não ficou satisfeito com o resultado (fotográfico) do filme, e achou que não fez jus à beleza da sua musa.

    E esse diálogo, que ótimo! Olha esse (que ele usou duas vezes - no final da Sereia do Mississipi e no final de O Último Metrô), adoro:

    - O amor dói?
    - Sim, o amor dói. Você é tão linda que olhar pra você é um sofrimento.
    - Ontem você disse que era uma alegria.
    - É uma alegria e um sofrimento.

    ResponderExcluir
  2. Kika,
    É verdade! Eu queria escrever Pierre Cardin, juro! Foi o que meu amigo me disse! Seria engraçado o Calvin Klein ter sido casado com a Jeanne... (Ele já estava casado com outra: a Jayne Centre, em 1967, o ano do filme)
    Vou corrigir, lógico. rsrsrs
    Agora vamos combinar que o Truffaut não entendeu a viagem do cara: os vestidos ficaram ótimos, ou só pretos ou apenas brancos ou misturando o PB como aquele que ela veste no atelier do pintor, que eu achei o máximo e é justamente um com as duas cores.
    Eu até entrei na viagem de que essas cores eram propositais e que a personagem mostrava, pelo vestuário, ora a dor da viuva (de negro), ora a noiva (de branco), mas, então, como uma promessa falhada... (enfim, as leituras possiveis que a gente vai fazendo enquanto observa as imagens do filme)Sobre o mal estar pode ser que não tenha rolado mesmo, mas é o meu amigo quis apimentar a situação, eu acho...rsrs
    E, sim!, esse diálogo que vc mencionou é muito lindo também.

    ResponderExcluir
  3. não, mas acho que quem tinha problema com o figurino era o diretor de fotografia... agora não sei, não me lembro, teria que fuçar na biografia dele, que não tá aqui. (E não é toda hora que tenho paciência de ficar fuçando tudo no google! É que filme e música é basicamente tudo que eu retenho, e Truffaut então, nem se fala... Ok? "santa google", ave...) o fato é que... essa dos vestidos foi só uma das questões entre eles. E se vc reparar bem, ela tá meio envelhecida, se comparar com Jules e Jim... Não foi pelos vestidos que o Truffaut ficou frustrado, mas pela beleza dela em si, independente/e do figurino....

    ai, mas que chata eu tô, nesse ir e vir, desculpa, parei!

    ResponderExcluir
  4. Ah, sim eu percebi que ela estava "meio envelhecida"... Agora o incrível é ela estar até hoje - em que é uma senhôra - absolutamente encantadora.
    O importante é que nós amamos Jeanne Moreau:
    "Au son de banjos je l’ai reconnue.
    Ce curiex sourire qui m’avait tant plu
    Sa voix si fatale, son beau visage pâle
    M’émurent plus que jamais."

    ResponderExcluir
  5. ela é linda...

    e que bonito isso! parece bonito, pelo pouco que consigo deduzir! (um dia hei de aprender!)

    bisou..

    ResponderExcluir
  6. Sim, não só quando acabamos de conhecer alguém, mas mantemos isso, uma certa sedução, nem todos sabem explora-la, mas ela existe, e é delicioso aprender a lidar com isso de uma forma não vulgar...

    Adorei a frase

    - Bem, atreva-se.
    Um atreva-se sem ponto de exclamação. Simplesmente deliciosa narrativa...

    ResponderExcluir
  7. Olyvia,
    Eu comprei o DVD. Posso emprestá-lo.
    Vc vai adorar o filme!

    ResponderExcluir