quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Happy New Year!

Conheça o trabalho de Lisa Rodden.

Quero encerrar o ano por aqui, desejando a todos esta capacidade de desenvolver uma paciente e delicada e atenta ação pessoal e que resulta em beleza, ou seja, tal qual nesse trabalho lindíssimo de papercutting!

Assim sendo, happy new year!








sábado, 22 de dezembro de 2012

L'ange qui rit


Os anjos são mesmo seres verdadeiros e que expressam a Verdade.

É claro que quando penso em Verdade, ao menos em relação aos seres angelicais, considero que talvez possamos entendê-la tal como ouvi uma sua possível descrição ainda nessa manhã, quando o músico e ator Arrigo Barnabé – ele tem um programa admirável na rádio Cultura FM, o Supertônica –, citando Novalis, transmitiu sua mensagem de fim de ano aos ouvintes:

A poesia é o autêntico real absoluto, quanto mais poético mais verdadeiro.

Por conta disso, mesmo que os antigos tenham criado toda uma iconografia em torno dessa personagem celestial, na qual podemos ver anjos de espada em punho, alguns mais severos e outros de semblantes mais ou menos graves ou basicamente piedosos, ainda assim, gosto de pensar na companhia amiga, por exemplo, do meu anjo da guarda, em que ele se apresenta a mim de um modo muito particular,como também desejo manter meu relacionamento com esse celestial amigo.

Assim sendo, imagino meu anjo da guarda – e se eu tivesse a capacidade mística de vê-lo tenho certeza que seria assim mesmo que eu o veria – com o semblante semelhante ao daquele que se encontra no pórtico da Catedral de Notre-Dame de Reims: um anjo que sorri!

É por isso que, parafraseando o belo axioma do poeta e filósofo alemão, eu então diria que os anjos são verdadeiros, porque são seres plenos de poesia.

E, como a tradição cristã nos diz que o anjo da guarda é aquele designado para nos acompanhar em todos os momentos da nossa existência neste planeta, é compreensível que ele seja alguém que naturalmente possa sorrir e, sendo assim, os motivos de seu riso serão os mais variados.

Rêves de couleurs (2011), de Michel Quesne e Hélène Richard da Société Skerto
projeção que ocorreu durante as festividades em torno do aniversário de 800 anos da Catedral. 
A projeção buscou restaurar por minutos, as cores vivas e alegres que a Catedral e suas estátuas 
possuíam na Idade Média e que desapareceram em consequência da ação do tempo e da poluição.
Ele poderá, por exemplo, demonstrar por esse riso a natureza benévola do amigo que compreende minha pequenez e os desajustes a que estou sujeito, encontrando-me onde ainda estou, nessa situação particular de um distanciamento exato e único, esse exatamente que demarca meu lugar em relação ao Altíssimo.

Mas, o riso do meu anjo também poderá ainda ser de alegria, pois ao me ver assim tão humílimo, por minha própria condição, ainda assim percebe que, de quando em quando, demonstro amor e carinho aos outros seres da criação.

É quando, por fim, sorri de satisfação, ao notar que vou avançando em direção a essa liberdade a que somente alçam aqueles dessa própria natureza angelical.

Seres que por possuírem asas não reclamam de distâncias e se sentem satisfeitos na sua missão de proclamarem a Verdade do amor divino, sendo expressão absoluta de poesia.




quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Abilities

by William Morris

Eu estou fortalecendo em mim o desenvolvimento, ainda que lenta e gradualmente, de algumas capacidades:

A capacidade de não se desesperar.

Embora o desespero tenha sempre sido espetacular, na vida real ele é patético e triste. Irmão gêmeo da desrazão, enfraquece qualquer desesperado, expondo-o ao torvelinho das circunstâncias demolidoras.

A capacidade de não alimentar raiva.

Embora a raiva possa acontecer com muita facilidade, sua expressão também é tola, e ainda nos coloca imediatamente frágeis diante do objeto da própria raiva, seja esse último uma porta ou uma pessoa.

A capacidade de silenciar-se em situações de conflito iminente.

Embora o combate verbal sempre conclame seus públicos, o que as pessoas querem ver é a rinha de galos e, nesse tipo de contenda, aqueles que se machucam são e-xa-ta-men-te os galos, levados para a tal rinha pela força de circunstâncias atormentadoras, em que os envolvidos todos estão cegos e emburricados.

A capacidade de fazer uma prece no lugar de alimentar o desespero, a raiva e a bulha.

Aliás, fazer isso mesmo no exato momento em que essas tristes ações seriam convocadas ou quando estariam ali latentes e, portanto, a nossa disposição, pois nesse momento é quando então se faz necessário convocar os anjos e aliados da primeira hora – o que definitivamente será mais vantajoso e benéfico do que alimentar inimizades.

by William Morris
Afinal, só temos antecipadamente uma única informação acerca de um inimigo qualquer: ele sempre irá nos solicitar aquelas mesmas provas de sentimentos espúrios das quais se nutre em relação a nós mesmos e muitas vezes em relação a todos os demais, a começar por si mesmo.

Bem, no que diz respeito a tais sentimentos, podemos simplesmente escolher no fundo do coração não senti-los em relação a ninguém.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Santa Claus is coming

Navegando pela web today, encontrei o site de um grupo liderado por Sean Ryan e Janet Burnett.
Trata-se do Studio 108 - grupo multidisciplinar de design gráfico e que está sediado nas imediações de Bath, uma cidade no cerimonioso condado de Somerset, no Sudoeste da Inglaterra, e que está situado a 97 milhas (156 km) a oeste de Londres e 13 milhas (21 km) a sudeste de Bristol.

O grupo diz ter uma vasta experiência em todas as áreas de comunicação visual, e que esta parceria tem trabalhado com uma grande variedade de empresas e organizações, desde sua formação em 1982.

O que eu mais gostei foram das ilustrações que eles fizeram com o tema natalino para um cliente norte-americano: a Minds Eye USA. Veja se eu não tenho razão em achar lindíssimo o trabalho!

Desde que eu era criança esses temas de ilustrações natalinas do hemisfério norte me encantam. ;-)














terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Quando vamos à Ópera


Hoje fui conferir à última apresentação de uma montagem operística que ficou em cartaz apenas neste final de semana no Teatro Municipal de São Paulo e que teve regência e direção musical de Jamil Maluf, direção cênica de Lívia Sabag, e direção de arte, cenários e figurinos de Fernando Anhê.

A montagem da ópera O rouxinol, de Igor Stravinsky, encerrou assim uma trilogia de inspiração fantástica concebida pelo maestro Jamil Maluf e que, portanto, já encenara outros dois títulos: João e Maria, de Engelbert Humperdinck, em 2002, e, mais recentemente, O Menino e Os Sortilégios, do compositor Maurice Ravel.

Foi encantador ver que nesta O rouxinol foi preservada a versão original em russo, com legendas, para  conservar intacta a riqueza sonora concebida por Stravinsky - segundo o que ouvi o próprio maestro dizer em uma entrevista na rádio cultura. Sabemos que foi Paulo Queiróz, tenor do Coral Lírico Municipal que domina a língua russa, o responsável pelo trabalho de pronúncia com os cantores, assessorado ainda pelos dois solistas russos convidados, a soprano Olga Trifonova e o baixo Denis Sedov, que estreiaram nos palcos brasileiros nessa montagem.

E que montagem magnífica!

Tudo era singelo e grandioso, como aliás é também o próprio conto que deu origem ao libreto. Ele é baseado no conto O rouxinol e o Imperador da China, de Hans Christian Andersen.

Apenas uma história muito profunda poderia conceber que um simples pescador fosse aquele que mais compreendesse o canto do pássaro e que também uma mulher simples - como a cozinheira do Imperador - pudesse apreciar o mesmo canto do rouxinol, um pássaro tímido, noturno e, no entanto, possuidor de um canto mavioso e que jamais se repete.

Enfim, essa mulher é quem pôde encontrar o pássaro na floresta e também é quem ajuda a levá-lo para a apreciação do Imperador.

O rouxinol, então, vive um tempo na corte do Imperador chinês, mas a abandona quando esse último recebe do Imperador do Japão um pássaro mecânico e que canta sempre a mesma cantilena.

Com o tempo, no entanto, o Imperador da China adoece profundamente. O rouxinol volta ao palácio ao saber que seu antigo amo está recebendo a visita da Morte, a qual, aliás, traz consigo um Coro de Espectros. Impressionante a cena em que tal Coro se apresenta ao Imperador como sendo suas ações passadas... a sugerir que os fantasmas - que surgem em tais momentos ao nosso redor - estão sempre ali por conta mesmo dessas ações.

A Morte, no entanto, também se apaixona pelo canto do rouxinol, e o pássaro pode, então, fazer a barganha de continuar cantando se ela devolver tudo o que tirou do Imperador, o qual - depois que a Morte abandona a cena - revigora-se com os primeiros raios de sol.

O rouxinol, por sua vez, já recusara no primeiro contato com o Imperador todos os bens materiais que lhe foram oferecidos, dizendo contentar-se com as lágrimas de emoção que via brotar nos olhos do soberano ao ouvir seu canto. Também agora, reitera essa mesma forma de pagamento: contentar-se-á com essa demonstração de emoção e promete sempre voltar para reiterá-la.

É o Espírito dos Céus o canto do pássaro. É a própria transcendência e que nos liberta da morte.

Enfim, foi uma honra e privilégio estar nessa plateia, também foi uma alegria saber que, na nossa cidade, uma montagem desse nível de elaboração artística pode acontecer e ainda com tantos talentos genuínos envolvidos. Sobretudo também, por ter sido uma rara oportunidade, pois foram apenas três dias de apresentação, totalizando quatro récitas.

Por tudo isso, eu precisava muito compartilhar por aqui essas minhas impressões, diante desse acontecimento bendito.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Da alegria de não precisar ter, pela contemplação de todos os enganos


Houve um tempo em que eu estive desempregado. Posteriormente, voltei a ser empregado de uma grande empresa. Fui admitido em agosto de determinado ano e, quando chegou dezembro, a empresa distribuiu cestas de Natal para seus funcionários, bem como um bônus alimentação, a que carinhosamente os funcionários chamavam vale-peru (o valor que o cartão do benefício continha equivalia praticamente ao valor da ave no mercado, talvez um pouco mais).

Na primeira vez em que isso se deu, lembro-me de uma alegria muito genuína que eu senti quando voltava para casa, carregando a cesta e entregando-a para minha mãe. O evento demonstrava um marco de recomeço de vida: a cesta, então, era o pão bendito, o fruto do suor do trabalho. Sim, tudo isso e um pouco mais.

Depois o tempo passou. Nos anos seguintes, tal cesta natalina virou um hábito comum dentre as rotinas de final de ano: quase que mais um expediente. Oh, vergonha dos mortais! Transformam o que é doçura no pranto em mero hábito na bonança!

Certa feita, a cesta, por algum motivo, mudou, pois a companhia optou por economizar no orçamento destinado para esse fim: os itens que vinham dentro dela tiveram sua qualidade alterada, barateada, embora ela não tenha mudado seu tamanho original. Por conta disso, vários de nós, funcionários, passamos a reclamar da mudança, portanto, já distantes daquele espírito de gratidão por estarmos empregados e recebendo os benefícios comuns a quem  vivencia essa condição.

Em tal ocasião, quando saí na rua carregando a cesta, deparei-me com um morador de rua e, imediatamente, lembrei-me da alegria que eu sentira quando ganhei aquele mimo pela primeira vez e isso também depois de algum tempo de penúria. Claro que então lamentei profundamente ter feito parte do coro dos detratores da cesta. Ao tomar o metrô, vi outros trabalhadores carregando também suas cestas: a maioria delas era ainda menor que a minha própria!

Tais cestas talvez existam para depurar na gente o caráter: você é do tipo que agradece por ter recebido um agrado (qualquer um!) ou o desmerece? Não seriam os ritos do Natal oportunidades para encetar esse tipo de reflexão? Cada gesto natalino – desde o montar a árvore, comprar o brinquedo para a criança, ter um presépio –  esses pequenos sinais solicitam da gente pensar em nosso caráter: uma avaliação da nossa capacidade de agradecer e amar, de sermos mais leves.

Certa feita, li um texto de Cecília Meireles que explicava por que São Francisco de Assis é o criador da representação tradicional do Presépio, com Maria e José cuidando do Menino na manjedoura, na companhia daqueles animaizinhos.

Trata-se de uma crônica publicada originalmente na Revista Rio, em 1946, e que integra o volume 1 da Obra em Prosa da poeta, organizada por Leodegário A. de Azevedo Filho, para a Editora Nova Fronteira. Intitulada Meditação no Presépio, reproduzo aqui tão somente o início e o final da crônica, ambos magistrais:

Quando São Francisco de Assis inventou o primeiro presépio, e falou das coisas do céu numa gruta, dizem que, ao ajoelhar-se, desceu-lhe aos braços estendidos um Menino todo de luz. O Santo Poeta colocara ali apenas umas poucas imagens: as da Sagrada Família, a do irmão jumento e a do irmão boi. O áspero cenário de pedra tinha a nudez franca da pobreza, a rispidez dos desertos do mundo, o recorte bravio dos lugares de sofrimento. Ai, o Menino de luz pode descer, porque ele vinha para ensinar caminhos difíceis, e restituir às coisas naturais da terra o sentido da sua presença na ordem universal.

(...)

E se outro São Francisco se ajoelhar na gruta rústica, o Menino virá todo em luz aos seus braços, porque só o Santo Poeta entendia dessa irmandade geral do céu e da terra, e da graça de todos os despojamentos, e da alegria de não precisar ter, pela contemplação de todos os enganos, e da leveza da vida em expressão absoluta.



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Happy end

And they lived happily ever after

Há um momento em que você modifica um tanto sua maneira de ser. 

Em geral - ao menos com a minha geração foi assim que se deu - isso só acontece lá pelo meio-dia da vida.
Após os 35 anos, quando ocorre como que uma compreensão mais atenta da própria existência e experiência. Isso permite que não haja exatamente martírio, mas algo que suscita aquela clareza de inteligência de que é possível viver qualquer penalidade sem esgares.

Afinal, já lamentamos o suficiente quando pensávamos ser apenas inocentes. Agora, no entanto, também não fazemos da culpa baluarte algum, sequer a lamentamos: buscamos muito dentro de alguma causa a sua consequência natural que é sentida e dispensada. Queremos novas aventuras.

Estou dizendo que isso tudo aconteceu comigo tardiamente, ou no meu próprio tempo de maturidade, mas saibam que conheci alguém que vive isso tudo já na infância. In-crí-vel!

Foi no último sábado, quando tive contato com um garotinho que está vivendo a vida assim mesmo, mas muito antes (ou talvez seja melhor dizer: no tempo certo para ele!)

A verdade é que o menino está sofrendo por viver sem pai nem mãe. Ou melhor, por não tê-los juntos, constituindo a sua família. Assim sendo, nosso amigo mora com o pai que, ao que me pareceu, não dá uma atenção mais detida ao próprio filho, uma vez que esse último é do tipo falante, atualizado, informado e quer expor suas reflexões acerca da própria vida o tempo todo (alguns adultos parecem não ficar à vontade, diante de uma criança com esse perfil, vamos combinar!).

O jovenzinho apenas visita a mãe, mas ela também parece estar em outra. De tudo isso resulta que temos uma criança solitária, pois vive entre duas casas e, assim, nem bem lá nem bem cá, por aí...

E foi então que, do alto de seus nove anos de idade, no último sábado, ele me disse:

- Eu acho a vida uma grande aventura, a gente nunca sabe o que vai acontecer. Parece um filme! E por isso a gente só tem uma certeza, no final, a gente vai ser feliz e vai alcançar aquilo que mais do que tudo a gente quer.

Eu que também sei das aventuras da vida e que, assim como ele, sinto que esse alcance do desejo maior é mesmo coisa muito verdadeira, emendei:

- Eu concordo com você! Acho que você tem toda razão: nós queremos e teremos isso mesmo, um happy end!