sexta-feira, 29 de maio de 2009

Amor ao desenho

Adoro essa personagem de cartoon. Trata-se daquele garotinho genial que tem uma irmã terrível...
Nunca imaginaria, nas vezes em que vi o desenho na tv, que ele quase me faria chorar... pois bem, hoje quase chorei por causa dele! O contexto: é que estou fazendo um curso de treinamento para aprender a utilizar o CorelDRAW que é um programa de desenho vetorial bidimensional para design gráfico desenvolvido pela Corel Corporation, do Canadá.
Faço o Módulo I, então, na primeiras aulas, aprendemos a utilizar as primeiras ferramentas, tudo muito bom, muito bem e muito básico, of course. Consegui desenhar um sapinho com sono, depois o Horácio (personagem do Maurício de Souza, dentro da casca de seu ovo) e até mesmo a personagem Kyle Broflovski do cartoon South Park.
A ferramenta "caneta" do Corel e o Dexter (coitado!) derrubaram-me hoje, mas eu penso que vou recuperar minha alta estima. ;D
Assim, devo tão somente entender que é preciso "treinar" a utilização da coisa toda... Descubro que, ao contrário de todas as escolas que já frequentei, uma escola técnica (e que eu nunca frequentara antes) exige isso: treino da técnica. Portanto, não basta entender os princípios muito bem e teorizar: é preciso fazer a coisa toda acontecer, portanto, o Dexter terá que se materializar na folha, na prancheta do Corel.
Muito provavelmente será preciso ter amor. Esse sentimento, independente da escola que se frequente, será sempre a principal exigência para qualquer coisa que se queira fazer bem!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

É preciso perdoar todos os dias


É preciso perdoar todos os dias, todos os momentos, a todos.
Por exemplo, perdoar as grosserias alheias resulta em um antídoto para o que alimentaria mágoas no próprio coração.
Quando as grosserias são muitas, comumente vindo de algumas pessoas especialmente mal educadas e, infelizmente, com as quais você talvez tenha que conviver, então, esse exercício do perdão tem de ser rotineiro, é verdade. Não importa o quilate de aborrecimento que tais grosserias possam surtir. Embora, muitas vezes, a frase mal lapidada nos atinja tão repentinamente que sintamos esquentar-nos a face. Depois de uma certa idade, dei para demonstrar rubor, vejam só!
Contudo, um rubor de aborrecimento é totalmente diferente do rubor resultante de um chiste, seu próprio. Enquanto esse último é fruto de um dito inconsciente e que desmascara quem o diz, aquele advém de uma má palavra dita pelo outro e, assim sendo, é sempre um rubor de vergonha pelo que ali está acontecendo: Como pode ser isso? Mas, então, o ser humano dispõe da linguagem verbal para fazer dela um uso assim? Assistimos também ao que nos parece uma espécie de injustiça: Ora essa, logo comigo, que sou tão amigo dos elogios gratuitos!
O triste da grosseria é a sua completa falta de generosidade. Aliás, talvez seja um generosidade às avessas: faltando o talento para elogiar sem pudor a quem mereça um elogio assim despudorado, sobra o despudor da má palavra endereçada a qualquer um.
E, convenhamos, ninguém merece ouvir uma palavra mal colocada. Aliás, ninguém merece sequer ser aquele que pronuncia tal palavra.
A razão disso tudo? No fundo, no fundo, não deixa de ser um aborto do bom coração que nasceria também nessa pessoa, não fosse sua carência de amor e o seu excesso de mágoas não elaboradas.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Johnny Alf e o pathos bossanovista


[Esse post é de autoria do meu amigo blogueiro Felipe. Ele é o responsável pelo Blog Jogo de Classe e tem aqui um espaço para falar da sua admiração por Johnny Alf e contar-nos a experiência única que ele viveu em um show recente do cantor e que reuniu toda essa turma boa da foto-montagem (by Ronaldo Santanielli). Carrilho escreve super bem, isso vocês vão ver :D Felipe Carrilho é historiador.]

No recente domingo (24/05) fui à apresentação de Johnny Alf, no Sesc Pinheiros. O intuito do evento era homenagear o músico que acabara de completar 80 anos e, para isso, contava também com a participação de Alaíde Costa e Emílio Santiago.
Negro, filho de uma lavadeira e de um cabo do exército que morreu na Revolução de 1932, Johnny Alf (Alfredo José da Silva) nasceu em 19 de maio de 1929 e foi criado pela família para a qual a sua mãe trabalhava, no Rio de Janeiro. Aos nove anos de idade começou a aprender piano clássico e aos quatorze formou o seu primeiro conjunto, com amigos do bairro de Vila Isabel.
Em 1954, depois de perambular por vários estabelecimentos da noite carioca, Alf foi o pianista da boate do hotel Plaza, na avenida Princesa Isabel, em Copacabana. Lá, tocava suas próprias canções, como "Rapaz de bem", "Céu e mar", "O que é amar", entre outras. Críticos musicais, posteriormente, diriam que tais composições anteciparam muitas das tendências características da Bossa Nova. A leveza, o otimismo e o culto aos prodígios naturais da paisagem carioca comporiam a temática de sua poesia e estariam, pode-se dizer, entre os elementos constitutivos de uma espécie de ethos bossanovista, no sentido antropológico do termo.
Entre o seleto público que o acompanhava nas madrugadas do bar do Plaza, os mais assíduos eram Tom Jobim, João Donato, João Gilberto, Lúcio Alves, Dick Farney, Dolores Duran, Paulo Moura, Baden Powell, Luiz Eça, Carlos Lyra etc. Décadas depois, o escritor Ruy Castro diria acertadamente: "Com tantos talentos jovens reunidos, quase todas as ousadias rítmicas e harmônicas que produziram a Bossa Nova estiveram em laboratório naquelas madrugadas...".
Entretanto, em 1955, Johnny Alf aceitou uma proposta para cantar na noite paulistana e partiu, quatro anos antes do despontar da nova música, com o lançamento de "Chega de Saudade", do magnífico João Gilberto. Com o estouro da Bossa Nova, muitos de seus antigos fans adquiriram notoriedade, na esteira da batida do violão de João Gilberto. O velho mestre ficou, então, esquecido em São Paulo e, com exceção de poucos como Tom Jobim, que o apelidara de Genialf, quase não houve quem fizesse justiça às contribuições do músico precursor.
Mas, voltemos ao espetáculo em questão. Foi uma noite emocionante, em que testemunhamos um Johnny Alf ainda marcado pela árdua batalha que acabara de travar contra um câncer de próstata, mas nem por isso menos genial. A maior parte de suas canções foi interpretada brilhantemente ora por Emílio Santiago, ora por Alaíde Costa, com Alf apenas acompanhando ao piano.
E foi durante o dueto de Alf e Alaíde que pude perceber o conteúdo emblemático daquele encontro. A interpretação emocionada de Alaíde aliada à temática sofrida de algumas letras de Alf, como as de "Estou só" e "Meu sonho", remetiam a um tipo de música estranha às classificações musicais referentes ao movimento "criado" por João Gilberto. Aqueles sons se aproximavam mais dos antigos lamentos do Blues do que dos ideais da classe média branca carioca presentes num produto que, depois do lançamento de "Chega de Saudade", se convencionou chamar de Bossa Nova. Na verdade, ao evidenciar as nuances e contradições presentes em um movimento estético-musical, Alf e Alaíde - ambos negros e de alguma forma marginalizados na história da Bossa Nova - terminaram por traçar um verdadeiro pathos bossanovista. Delicioso, por sinal.

Réquiem, de Hanoch Lenin

Adoro quando coincidências são prenúncio de experiências que enriquecem o espírito e fortalecem uma amizade.
Ontem, pela manhã, comprei um livro de contos de Anton Tchékhov, uma coletânea de contos intitulada A dama do cachorrinho [e outras histórias], da Coleção L&PM Pocket. Pois bem, à noite, encontro um amigo que me informou estar em cartaz o espetáculo Réquiem, escrito pelo dramaturgo israelense Hanoch Lenin, com base em três contos do escritor russo Anton Tchékhov!
O elenco é formado pelos jovens atores, talentosíssimos, segundo a opinião de todos os que assistiram ao espetáculo: André Blumenschein, Chico Carvalho, Dinah Feldman, Fabrício Licursi, Felipe Schermann, Fernanda Viacava e Priscilla Herrerias.
A direção é de Francisco Medeiros.

Achei bárbaro, sobretudo, porque o que ele contava-me do espetáculo teatral, ao qual já assistiu umas três vezes, estava em plena sintonia com a leitura que eu estou fazendo daqueles contos.
Se um texto desse quilate pudesse ter uma "sinopse", creio que poderia ser a seguinte:
A peça é dividida em 15 cenas curtas que contam a desilusão de um marceneiro, que faz caixões, quando já velho depara-se com a solidão. Isso ocorre a partir de uma sucessão de perdas e que foi acumulando ao longo da vida. Sobretudo, a morte da mulher, com quem conviveu por 52 anos e com a qual nunca compartilhara afetos. Assim, desencadeia-se um processo de sensibilização dessa personagem, permitindo-lhe encontros que resultarão no enfrentamento da sua própria morte.

Sergio Roveri, que é jornalista e autor teatral, disse simplesmente o seguinte acerca da peça:
Eu não acho que nada na vida seja obrigatório, mas se for possível abrir uma exceção aqui, eu diria que Réquiem é um espetáculo obrigatório.
Confio em ambos, nele e no meu amigo. Assim, vou aceitar a sugestão. Pretendo assistir ao espetáculo no próximo domingo. Ainda mais que o tempo para ver essa preciosidade é curto: a peça que já esteve em cartaz no Centro Cultural São Paulo, reestreiou em abril no Teatro João Caetano e fica em cartaz até esse domingo, 31 de maio.
Portanto, poderá ser vista na próxima sexta (29), sábado (30), às 21 horas e no domingo (31), às 19 horas.
O espetáculo tem duração de 60 minutos.
O Teatro João Caetano (438 lugares) fica na Rua Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino (próximo à estação Santa Cruz do Metrô). Informações: (11) 5549-1744. A bilheteria abre uma hora antes do espetáculo. Ingresso: R$10,00. ;-D

domingo, 24 de maio de 2009

Sarah precisa voltar para a sua família adotiva

Essa gente lindíssima da foto é uma família que adotou essa criança que aparece nos ombros do rapaz. Eles estavam cuidando, com todo o amor do mundo, da criança, mas a Justiça tomou a menina da família alegando que eles não estavam na fila da adoção... :p
Isso mesmo: depois que os laços afetivos da criança e dos adultos envolvidos já estavam estabelecidos e todos estavam vivendo felizes!
Pois bem, essa criança foi tomada da única família que conheceu desde os primeiros quatro dias de sua vida, agora ela tem cerca de um ano e alguns meses. Todos estão lutando pela volta de Sarah para o seio de sua querida família.
Quem conta essa história tristíssima é o Alessandro Martins, do Blog Livros e Afins.
Eu já assinei a petição on line pela volta de Sarah. Por favor, façam o mesmo. A minha mãe, Dona Durvalina, faz questão de dizer que apoia essa causa.

Leia o blog Volta, Sarah!
Assine a petição para a volta de Sarah a sua família

sábado, 23 de maio de 2009

Nice to meet you: Jackson Pollock




Ontem, eu conversava com um amigo enquanto bebíamos e fumávamos. A certa altura, nossa conversa resvalou no tema da cultura americana, ou seja, a dos Estados Unidos da América. Os americanos podem ter defeitos terríveis, dos quais o mundo já assistiu a demonstração inúmeras vezes, mas eles também são excelentes em muita coisa, basta a gente estar atento e saber selecionar quais são essas coisas.
Esse meu amigo estava a me dizer isso quando, por exemplo, disse-me que gosta muito de alguns pintores americanos. Foi quando lembrei-me de Edward Hopper que é maravilhoso (vide o post A Imagem do Silêncio by Edward Hopper ) e ele falou-me de Jackson Pollock, que eu não conhecia.
Ele disse-me que o interessante do trabalho desse pintor é que ele abandonou os cavaletes e pincéis, e passou a pintar imensas telas no chão, respingando a tinta e desenvolvendo assim o seu expressionismo abstrato. Definitivamente, isso não é nada careta.
Prometi ao meu amigo que iria procurar pelo nome no Google imagens. Encontrei essa foto do pintor em seu atelier de trabalho e também, na Wikipédia, a informação de que a técnica que ele desenvolveu é chamada de dripping (gotejamento) e foi criada por um outro pintor, o alemão Max Ernst. Ainda segundo aquela Wikipédia, Pollock respingava a tinta e os pingos escorriam formando traços harmoniosos que entrelaçavam-se sobre suas imensas telas. Ele pintava com a tela no chão para sentir-se dentro do quadro, partia do zero e do pingo de tinta que deixava cair na tela é que elaborava uma obra de arte. Ele foi o responsável pelo auge da action painting (pintura de ação). Ainda nos informam que havia uma tensão ético-religiosa por ele vivida e que o impeliu aos pintores da Revolução Mexicana e que sua esfera da arte é o inconsciente: seus signos são um prolongamento do seu interior.
Devo também dizer que no blog Um dia perfeito para os peixes banana encontrei essa informação complementar sobre o pintor:
As obras de Pollock caracterizam-se por redes de linhas coloridas entrelaçadas que, pela transparência, desviam a atenção para o fundo do quadro (Catedral, 1974; Ritmo Outonal e Névoa Azul-Lavanda, 1950). Em suas últimas obras, realizadas nos anos de 1950 até sua morte por acidente, aprecia-se certa redução de colorido, o que é interpretado como reflexo de seus problemas psíquicos relacionados com o alcoolismo.
É também de lá que veio a imagem do alto, um dos seus trabalhos, Intitled number 3.


sexta-feira, 22 de maio de 2009

Pilobolus Dance Theatre em seu Splash

Dias 30 e 31 de Maio, na Via Funchal.

Ouvindo Rádio



Uma amiga querida, sabendo que eu estou na casa dos 40, contou-me ter ouvido um Boletim na Band News FM em que o jornalista Salomão Schvartzman noticiava que foi realizado, em Madri, o Primeiro Congresso Internacional da Felicidade.
A verdade é que Schvartzman aproveita o mote dessa notícia e faz uma crônica muito gostosa de ouvir, ainda mais porque ele é daqueles radialistas profissionais, de vozeirão absolutamente agradável.
Eu ouvi.
Ele começa contando que a conclusão daqueles congressistas foi que a felicidade só é alcançada depois dos 40 anos.
Então, o cronista compara a vida que vivemos na juventude, com a que passamos a viver depois dos quarenta e afirma, entre outros ótimos insights, que:
A juventude faz bem prá pele mas nunca salvou ninguém de ser careta. Já a maturidade sim, permite uma certa loucura...
Ele também nos diz que, na juventude, costumamos dizer que a Felicidade não existe, o que existe são momentos felizes, já, na maturidade, podemos inverter o dito: Infelicidade não existe, o que existe são momentos infelizes.
Talvez vocês prefiram ouvir a crônica na íntegra, o que vai lhes tomar apenas alguns minutinhos. Vocês conseguirão ouvi-la acessando o link: http://bandnewsfm.band.com.br/colunista.asp?ID=102

quinta-feira, 21 de maio de 2009

30 Anos de Fotografia


A Caixa Cultural, na Praça da Sé, 111, está toda fotografia. Ontem voltei lá, pois queria rever o trabalho de Daoust (vide o post New York Hotel History. Eu fui.). Foi quando notei que, no saguão, há uma outra exposição e que estava às moscas. De verdade, as pessoas não sabem o que estão perdendo.
São fotos belíssimas!

Trata-se da exposição 30 Anos de Fotografia, para a qual a curadora e pesquisadora Rosely Nakagawa abriu seu acervo particular, tendo selecionado 40 imagens com as quais nos presenteia. Assim, podemos ver trabalhos assinados por fotógrafos como Thomaz Farkas, Cristiano Mascaro, Fernando Lemos, Mario Cravo Neto, João Musa, Luiz Braga entre outros.

Imperdível!
30 Anos de Fotografia. Caixa Cultural. Praça da Sé, 111, Centro. Tel. (011) 3321-4400.
9 h/21 h (fecha na 2.ª-feira). Grátis. Até 26/6.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Livro Armadilha


Ser um leitor voraz pode ser também uma armadilha. Explico. Li um livro cujo tema interessa-me desde a queda das torres gêmeas, naquele fatídico 11 de setembro. Sim, eu preciso, como creio que todo mundo precisa, entender a bad trip dos terroristas. Então, comecei a leitura do livro Sobre o Islã - A afinidade entre Muçulmanos, Judeus e Cristãos e as origens do Terrorismo, de Ali Kamel. Iniciei a leitura do livro sem saber quem era o autor. Também inicialmente, descobri que era um jornalista brasileiro (e sociólogo), filho e neto de sírios e muçulmanos e com avó brasileira e cristã.
É importante que se diga: trata-se de um livro muito bem escrito, com uma pesquisa rica e rigorosa e um argumento, de início, absolutamente sedutor, ao menos para leitores que, como eu, procuram em um texto aprender sobre o diferente e, preferencialmente, procurando a conciliação com esse diferente. Essa é a proposta primeira do texto. Ele procurou falar do Islã pelo prisma de aproximar a cultura muçulmana, essa religião, das suas religiões irmãs, ou seja, o judaismo e o cristianismo.
Em síntese, posso dizer que concordo plenamente com esse autor, quando ele defende que os terroristas não são dignos de serem chamados de fundamentalistas ou literalistas ou, sequer, de fanáticos. Nada disso serve, segundo Kamel, porque Bin Laden e sua turma são mesmo é um bando de totalitários e por essa razão são tão perigosos quanto Hitler o foi. Eles são os totalitários do Islã. Depois daquela demonstração chocante do 11 de setembro, ninguém pode mesmo discordar disso. O que não podemos fazer é achar que todos os muçulmanos são isso (é uma delícia acompanhar, no livro, toda a construção de raciocínio conciliador e de embasamento histórico que nos leva a essa conclusão). Estamos, assim, de pleno acordo.
Aliás, não esqueçamos que nós também temos os nossos católicos e protestantes fanáticos, fundamentalistas. Ainda não tivemos demonstração de totalitários nessa seara (espero que eles não cresçam e apareçam! :-p)
Mas, então, qual é o problema do livro de Kamel? Na minha modesta opinião, foi o fato de ele obrigar-me, com toda a sua verve sedutora, a ler o livro inteiro para, no final, ouvir a defesa da Guerra do Iraque (vejam só!) e, por consequência, do malfazejo Bush. A Parte V do livro, "Algumas perguntas sobre a Guerra do Iraque" é uma leitura totalmente dispensável, embora não invalide todo o percurso argumentativo que se construiu até ali. A impressão que nos fica é a de que tudo de bom que o livro foi até ali (o que antecedeu a essa parte) era tão somente para justificá-la! Mas afinal, quem é esse jornalista? O Google pode nos informar: Ele trabalha há anos para as Organizações Globo - jornal e televisão, e ele também escreveu um livro polêmico em que defende que não há racismo no Brasil (ou nunca houve) e que as cotas para negros nas universidades podem, então, segundo ele, acirrar uma tal questão racial que nunca houve. Penso que isso é tão discutível quando a defesa da Guerra do Iraque, ou seja, a ausência de racismo no Brasil e o papel que as cotas possam ter nessa questão. De qualquer modo, esse livro eu não li! :D

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Brincando de casinha

Essa moça linda da foto, sentada na pia da sua própria casa, é a jornalista Chris Campos, em foto de Guilherme Gomes. Ela é a criadora do site Casa da Chris e autora do livro Casa da Chris, publicado pela Editora Record. Frequentar seu site é uma felicidade para quem tem bom gosto, gosta do universo feminino e de saber novidades que envolvam o prazer da vida dentro de casa.

Ela também está estreiando uma série de vídeos, cujo primeiro episódio já está no ar, lá no seu site. Trata-se da série "Almanaque das festas instantâneas". Serão oito episódios inspirados no livro homônimo, lançado em abril deste ano. Novos episódios serão colocados no ar a cada semana, cada um deles abordando um tema do livro, com muitas dicas para fazer festas ótimas na sua própria casa.

Ou seja, é praticamente brincar de casinha... ;-D

domingo, 17 de maio de 2009

Seminários



A escola, em qualquer momento da vida, será sempre uma experiência inesquecível. Eu estive nela quase toda a minha vida. Recentemente, a ela retornei. Penso que a procuramos porque desejamos dar continuidade também à nossa formação, ou seja, desejamos mais.

Ontem, pude ver dois grupos amigos apresentarem seminários em sala de aula. Um deles falava da obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. Poderia ter sido uma tarefa escolar no sentido chão do que possa isso parecer. Mas uma aluna/leitora, em especial, revelou-nos ser também professora e daquelas que se encantam com a obra de um eminente pedagogo. Sim, nesse momento seu legado reviveu, uma vez que ela, por sua vez, viveu a leitura da obra e dela nos deu notícia impar.

Depois, um outro grupo especial de alunos (falo de alunos de um curso de pós-graduação da PUC, em São Paulo) apresentou-nos sua leitura de Antonio Gramsci. Teórico difícil porque sua obra foi toda escrita no cárcere, mas o que havia de liberdade em seus escritos nos foi apresentado. E isso foi feito no cotejo com uma obra de arte magnífica, o filme Os Companheiros (I compagni Itália/França, 1963), do diretor italiano Mario Monicelli (quem nunca viu ou ouviu falar deve buscar conhecer!) E, então, esses bravos alunos levaram às lágrimas mais de um colega em sala de aula.

A escola pode estar entre muros, mas é lá que alguma coisa surpreendente acontece, sobretudo quando nos redime de toda mágoa e nos ensina: o desejo é de liberdade e esse é um desejo humano e é o melhor que podemos desejar em qualquer circunstância, dentro e fora da escola.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Cuide-se bem com Sophie Calle


Acabei de ser informado que esse ano a Festa Literária Internacional de Paraty (a 7a FLIP) vai ter entre seus destaques, as presenças de Chico Buarque, do britânico Richard Dawkins, do escritor e jornalista americano Gay Talese e da escritora e artista plástica francesa Sophie Calle.

Muito bom saber que ela estará entre nós. O ano passado, ela apresentou o resultado de um trabalho inspirado numa carta que ela recebeu de um namorado terminando o relacionamento. Isso mesmo, ele o fez por carta. Ela pediu a 107 mulheres para lerem a carta e todas essas mulheres, de diversas nacionalidades e profissões variadas, responderam a carta para o cara. A exposição era uma série de vídeos com as respostas dessas mulheres. A exposição ficou na Bibliothèque Nationale e se chamou Prenez soin de vous ou Cuide-se bem, a forma como o namorado terminou a carta.

Vamos combinar que essa é uma maneira ótima de elaborar o luto ou o fim de uma relação.

Eu fiquei sabendo dessa exposição no blog da Maria Lina, historiadora, mineira, parisiense desde 1983 e que tem um blog bastante charmoso chamado Conexão Paris. Quem quiser ver as imagens da exposição e o texto ótimo de Maria Lina, va lá: http://www.conexaoparis.com.br/?s=Sophie+Calle

Sophie Calle vai estar em Parati no dia 4 de julho de 2009 (sábado), às 11h45, com Grégoire Bouillier, em uma mesa chamada "Entre Quatro Paredes".

Mais informações: http://www.flip.org.br/

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Ditado Popular


Estou lendo Mia Couto (vide post anterior Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra) e, durante a leitura, tenho que parar para anotar frases que encontro no romance e que, penso, funcionariam muito bem para além do contexto do romance. Eu, se Deus me desse oportunidade, gostaria de repetí-las com proveito em alguma conversa, estando reunido com gente que pudesse e precisasse ouvir tais ensinamentos. Trata-se de enunciados que são quase que axiomas, sim, lembram aqueles ditados populares que sempre nos ensinam tanto acerca da vida, da existência:


- Não sabia, Tia, que tínhamos assim tanto mulato na família.
- Meu filho, neste mundo todos somos mulatos.

Uma primeira coisa do humano é a inveja.

No charco onde a noite se espelha, o sapo acredita voar entre as estrelas.

Árvore dá sombra, pessoa dá assombro.

Você mente com tanta bondade que até Deus lhe ajuda a pecar.

Quando a terra se converte num altar, a vida se transforma numa reza.

Só sopro em vela que eu mesmo acendi.

Já outro dia, assisti a um episódio sui generis do meu cotidiano:

João abriu o arquivo do computador e ao aparecer a imagem da atriz Angelina Jolie, ele exclamou:
- Nossa, que mulher!
Um outro perguntou:
- Quem é essa?
Pedro respondeu:
- É a Angelina Jolie!
- Eu não conheço.
João novamente:
- Olha a boca dessa mulher!
Pedro:
- Eu acho um pouco exagerada... - Achou melhor não dizer que tinha trauma de gente com boca grande porque alguém assim já o beijara e, na ocasião, ele tivera a sensação de que seria engolido :(
Alguém protestou:
- Mas ela é lindíssima!
Aquele que, inicialmente, dizia não conhecer Angelina Jolie encerrou a conversa:
- Tudo bobagem! Vocês não conhecem o Ditado?
A admiração tirou a roupa e mostrou o corpo mal feito da intimidade.

Não era Mia Couto, mas esse Ditado Popular eu também tinha que anotar ;D

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mademoiselle Nouvelle Vague


13 de maio a 02 de agosto de 2009

No site da cinemateca http://www.cinemateca.com.br/ encontramos a seguinte informação: Durante os próximos meses, a Cinemateca Brasileira presta homenagem aos 50 anos da Nouvelle Vague com a realização de uma retrospectiva inédita que reconstitui o desenvolvimento da vanguarda francesa desde seus primeiros filmes. A mostra retraça o arco histórico para comprovar que a ação da Nouvelle Vague vai muito além da cronologia mencionada nos livros (1959-1962). Composta por 60 títulos e contando com películas raras do acervo da instituição, a retrospectiva exibe não apenas os filmes mais marcantes do movimento, como também trabalhos de diretores fundamentais para sua formação – como Jean Renoir e Jean Vigo – e obras cujos temas e personagens dialogam diretamente com aqueles abordados pelos cineastas da vanguarda

Por ora, eu quero conferir esse primeiro Chabrol, que nunca vi:
Nas garras do vício (Le beau Serge), de Claude Chabrol,
França, 1958, 35mm, pb, 98’ Legendas em português Exibição em 16mm
Jean-Claude Brialy, Gérard Blain, Michèle Méritz, Bernadette Lafont
Primeiro filme de Claude Chabrol, fortemente influenciado pelo cinema de Hitchcock. Jovem retorna à sua cidade natal, no interior da França, depois de doze anos. Ainda que a pequena vila seja quase a mesma, ele não consegue reconhecer seus antigos moradores. Ali, ele dedicará especial atenção a Serge, um amigo de infância, que se tornou um alcóolatra.
qui 14 18h30 sáb 16 21h00 dom 17 18h30

Também quero ver, pela primeira vez, esse Renoir:
Boudu salvo das águas (Boudu sauvé des eaux), de Jean Renoir, França, 1932, 35mm, pb, 85’ Legendas em português Exibição em 16mm
Michel Simon, Marcelle Hainia, Sévérine Lerczinska, Jean Gehret
Boudu, um vagabundo, tenta se suicidar atirando-se às águas do Sena. É salvo por um livreiro que o acolhe em sua própria casa. Longe de se mostrar grato ao gesto do homem, Boudu dedica-se, com furiosa obstinação, a subverter e destruir a ordem burguesa em que passa a viver. Obra-prima de Jean Renoir, com sequências realistas das ruas de Paris.
qui 21 20h30 sáb 23 19h00

E, ainda, desse diretor que eu tenho verdadeira paixão: nunca vi esse
O signo do leão (Le signe du lion), de Eric Rohmer,
França, 1959, 35mm, pb, 103’ Legendas em português
Jess Hahn, Michèle Girardon, Van Doude, Paul Bisci
Estreia de Eric Rohmer na direção de longas-metragens. Músico falido recebe notícia de que sua tia milionária faleceu. Supõe que receberá a herança e, para comemorar, marca uma grande festa com os amigos. No entanto, logo depois, descobre que foi deserdado da família.
qua 20 18h30 sex 22 20h00 dom 24 16h00

terça-feira, 12 de maio de 2009

New York Hotel History. Eu fui.

Conheci a exposição. Que bom que eu falei aqui antes (vide post anterior Natathalie Daoust) e, agora, posso voltar a exortar a todos que também conheçam o trabalho de Nathalie Daoust.
É tudo aquilo que diziam e um pouco mais, ou seja, há coisas que não poderão ser ditas sobre essa experiência. Como dizer que já conhecíamos esse Hotel, se nunca lá estivemos? É um Hotel de puro devaneio esse. É a reunião de muitas histórias juntas.

O trabalho de Daoust acontece em diálogo com todos os demais artistas que transformaram aqueles quartos em pura fantasia e deleite.

Um hotel que não tem nada a ver com o que os cadernos de turismo mundo afora costumam falar sobre hotéis.

Que privilégio deve ser hospedar-se no Carlton Arms Hotel e que privilégio é o de ver essa exposição em São Paulo.

Natathalie Daoust


As fotografias da série New York Hotel History, de Nathalie Daoust, fotógrafa canadense, mostram a experiência da artista quando foi convidada a habitar o espaço de um famoso hotel nova-iorquino, o Carlton Arms Hotel, que é conhecido internacionalmente pelos seus famosos quartos temáticos, ou seja, que têm tido a intervenção de vários artistas. Ela morou no Hotel durante 2 anos e suas fotos trazem imagens dessa lenda nova-iorquina.

O que dizem é que, nas fotos de Daoust, as imagens dos quartos do hotel permitem um amálgama de figuras mergulhadas em um certo onirismo, determinando um lugar em que prepondera a fantasmagoria. O que se promete é que essas fotos nos ponham em contato com esses quartos, plenos de poesia visual, e que, por conta disso, nos ponham em contato com o tempo passado e ali vivido. Assim sendo, será também um encontro com os que já passaram por ali, agora revisitados em um exercício da arte de recordar.

Pela foto acima, vejo que o trabalho não é careta. Vou conferir ainda hoje, na hora do meu almoço. Essa é definitivamente a vantagem de se morar em São Paulo e de se trabalhar no Centro. Coisas incríveis como essa são ofertadas. Em tempo: onirismo é o estado em que o espírito, em vigília, se absorve em sonhos, fantasias ou idéias quiméricas (segundo o dicionário Aurélio).

A exposição New York Hotel History fica na Caixa Cultural (Praça da Sé, 111) - Entrada franca. De terça a domingo, das 9h às 21h. De 09 de Maio a 21 de Junho de 2009.

sábado, 9 de maio de 2009

Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra


Ler esse romance de um dos mais importantes escritores africanos de hoje, o moçambicano Mia Couto, é como rezar preces de um rosário infinito. É ler com a alma de joelhos, o coração elevado. É também um reencontro com uma língua portuguesa que desconhecíamos. Língua preciosa porque sem preciosismos, pura na sua riqueza poética de uma textualidade que pode lapidar jóias como essa: A vontade é de chorar. Mas não tenho idade nem ombro onde escoar tristezas. Entro na cabina do barco e sozinho-me num canto.

É uma leitura pausada: a cada palmo de texto é preciso parar, acolher as lágrimas, então, secar os olhos e, entre suspiros, retomar a leitura em que se aprende, sobretudo, o que é da ordem da magia, como nessa passagem:


- Tio, a mulher caiu no rio!

Abstinêncio fica perturbado. Ele que nunca se alterava ergue os braços, alvoroçado. Espreita as ondas, mãos crispadas na borda da embarcação. Urge que seja dado o alarme. Vou empurrando para me chegar à sala de comando. Mas, logo, alguém me sossega:

- Não caiu ninguém, foi o vento que levantou um lenço.

Sinto, então, um puxão no ombro. É Miserinha. A própria, cabeça descoberta, cabelo branqueado às mostras. Se junta a mim, rosto no rosto, num segredo:

- Não se aflija, o lenço não tombou. Eu é que lancei nas águas.

- Atirou o lenço fora? E porquê?

- Por sua causa filho. Para lhe dar sortes.

- Por minha causa? Mas esse lenço era tão lindo!
E agora, assim desperdiçado no rio...

- E depois? Há lugar melhor para deitar belezas?

O rio estava tristonho que ela nunca vira. Lhe atirara aquela alegria. Para que as águas recordassem e fluissem divinas graças.

_ E você, meu filho, vai precisar muito de boa protecção.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Povo de Santo



Quem mora na periferia de São Paulo, como eu, sempre teve um contato maior com os diferentes grupos que ali convivem, inclusive com os grupos que seguem as diferentes religiões que congregam, cada qual, seu povo dentro de suas igrejas. Isso acontece sempre e desde muito cedo na vida do morador de São Paulo. As crianças, levadas por seus familiares, frequentam o interior das igrejas católicas, ou protestantes, ou os chamados centros espíritas ou ainda os terreiros destinados aos cultos afro-brasileiros.
Na minha experiência, só frequentei, com maior assiduidade até o fim da adolescência, o interior da Igreja Católica, daí minha fé estar ligada e ter sua representação, no que posso chamar hoje, de um cristianismo todo particular, mas de base católica. Isso não significa que fecho com o que dentro dessa instituição não concordo. Ainda bem que a fé é regida por outros ditames que não o das doutrinas fechadas de cada religião. Amém.
Uma questão, que cada vez mais orienta o meu modo de pensar sobre esse Mistério - o das religiões -, é a do necessário caminho do Ecumenismo, ou seja, poder conviver com as diferenças religiosas, respeitando-as e, se possível, em diálogo.
No entanto, ninguém está nesse mundo vasto e diverso sem sofrer do mal do hábito que, de verdade, é o que gera preconceito. Proust já dizia: Não fora o hábito, a vida deveria parecer deliciosa aos seres que estivessem ameaçados de morrer a todo instante, isto é, todos os seres humanos.
Convivi, nos ensaios de um bloco de carnaval do meu bairro, com os adeptos do Candomblé e algumas vezes percebia o quanto eu era ignorante a respeito da cultura desse povo chamado povo de santo e o tempo todo, por conta disso, eu podia cometer gafes, e ser indelicado, diante das manifestações típicas do comportamento do povo de santo. A melhor maneira de melhorar nos nossos modos de ser é ainda se informando e, de preferência, com o coração aberto. Assim sendo, procurei ler um livro sobre o assunto e de pessoa gabaritada.
Trata-se do livro Xirê! - o modo de crer e de viver no Candomblé, de Rita Amaral, doutora em Antropologia Social e pós-doutorada em Etnologia Afro-Brasileira pelo Museu de Arqueologia e Etnologia, ambos pela Universidade de São Paulo, onde organizou as coleções de peças religiosas afro-brasileiras. Ela estuda as religiões de influência africana desde 1986 e fez parte da equipe de pesquisa de Reginaldo Prandi, que estudou pela primeira vez o candomblé de São Paulo. Tem diversos artigos sobre o tema e atualmente desenvolve estudos sobre antropologia e hipermídia.
Segundo Vagner Gonçalves da Silva, professor do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo, Rita Amaral demonstra que um dos principais aspectos do candomblé – e das demais religiões de influência africana no Brasil – é o caráter festivo que impregna suas cerimônias públicas, nos quais a festa traduz em vários planos a percepção de que o contato entre o mundo dos deuses e dos homens é um momento singular e a experiência do sagrado deve ser vivida como um deleite de todos os sentidos humanos.
Nesse livro, a autora demonstra ainda que a festa revela a importância da dimensão lúdica na constituição do candomblé como religião que valoriza a alegria, o prazer, o dispêndio, a sensualidade, o corpo, a vida, gerando um estilo de vida singular e plausível de ser reconhecido pela sociedade em geral. Um dos aspectos muito importantes do livro, na minha opinião, é que sua autora apresenta o mundo do candomblé com uma riqueza enorme de detalhes cotidianos, assim, quem convive ou conviveu com o povo de santo, no cotidiano da cidade, tem esclarecido diversos aspectos da peculiaridade de seu modo de ser. Serviu-me imensamente a leitura, posso agora compreender alguns aspectos dessa manifestação religiosa que antes eu não compreendia e, portanto, tinha muito mais dificuldade para assimilá-los tão somente como traços possíveis de um modo de vida.
É preciso que admitamos, com a personagem Riobaldo, do Grande Sertão Veredas, de Guimaraes Rosa, que a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça para o total.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Belén Gache

Sugiro que conheçam o trabalho da artista e escritora argentina Belén Gache.
Um bom começo: findelmundo.com.ar/wordtoys
Inteligente, lúdico, sensível e bonito de se ver!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sessão da Tarde

Quando a TV aberta exibe comédias românticas, gosto de assisti-las na companhia de minha mãe. Em geral são aqueles filminhos despretensiosos, de fácil compreensão e com um final edificante e feliz, é claro!
Nesse último sábado, assistimos, eu e ela, a um filme exatamente desse tipo. Trata-se de Atraídos pelo Destino (It Could happen to you, 1994, direção de Andrew Bergman). O filme é estrelado por Nicolas Cage (a presença do ator seria suficiente para eu assistir ao filme), Bridget Fonda (sim, a moça é uma Fonda: neta do Henry Fonda, filha do Peter Fonda e sobrinha da Jane Fonda). Também participa do filme a atriz americana, nascida no Brooklyn e filha de pais porto-riquenhos, Rosie Perez . Uma amiga que também já assistiu ao filme, quando ele foi lançado nos cinemas, disse-me que achou péssimo uma latina fazer o papel da "bandida do filme". E ela tem toda a razão, é lógico!
No entanto, a historinha é um primor:
Um policial gente boníssima conheceu uma garçonete em uma mal dia para ela. A moça devia uma grana alta no cartão de crédito que o marido mau-caráter tinha torrado. Nem ao menos o dinheiro para o divórcio lhe restara. Já o policial jogara na loteria e, não encontrando trocados na carteira para pagar a gorjeta para a garçonete, mas apenas o bilhete da aposta, prometeu-lhe que se ganhasse dividiria o prêmio com a jovem.
O incrível aconteceu: ele ganhou na loteria e o mais incrível, simplesmente achou que devia cumprir aquela promessa. Sua esposa, ambiciosa e insuportável, apenas deixou, inicialmente, que ele o fizesse porque poderia ter talvez a vantagem de aparecer na mídia como alguém com um "coração de ouro".
Na sequência, o policial vivencia um episódio que lhe permite tornar-se um herói durante um assalto e, ferido, afasta-se do trabalho policial.
Em outra sequência, na festa promovida para os novos milionários ganhadores da loteria, Charlie Lang (Nicolas Cage) perde o navio em que a festa se dá, quando desce para ajudar Yvonne Biasi (Bridget Fonda) a pagar a corrida do táxi. Enquanto Muriel Lang (Rosie Perez) passa a festa inteira no navio - na companhia de um velhaco e nem se dá conta da falta do marido -, os protagonistas jantam e dançam e combinam encontrarem-se no dia seguinte: quando praticam boas ações - por exemplo, pagam passagens no metrô para a população - eu achei muito simpática essa ideia...
Aconteceu de tudo ser noticiado nos jornais. A mulher do policial aproveita a circunstância para pedir a separação e também contrata os melhores advogados, conseguindo ficar com tudo: o dinheiro do prêmio e, inclusive, com a parte que fora dividida com a garçonete.
Após o julgamento, absolutamente injusto, ou seja, no pior momento de suas vidas, o casal apaixonado oferece um prato de sopa a um mendigo. No entanto, não era um mendigo, mas um... jornalista disfarçado, e que, no dia seguinte, publica um comovente artigo contando aos leitores o que lhe aconteceu e sugerindo que eles ajudassem o casal enviando donativos para a lanchonete de Yvonne.
Os leitores o fizeram e o casal recuperou boa parte da grana que deixara com a ex-esposa de Lang. Essa última ficou sem nada, pois casara com aquele velhaco e que fugiu levando sua fortuna.
Vejam só que filme divertido! Na verdade, eu achei uma coisa totalmente singela (mas deve ser porque eu também tenho um lado piegas! rsrsrs) O casal é totalmente bom coração, na medida mesma do coração da minha mãe. Fico tentado a dizer: Não seria na medida mesma do coração de todos nós, ao menos quando somos ingênuos (talvez a palavra seja inocentes, a ver) e muito muito esperançosos (no sentido de que esperamos por justiça, amor, prêmios de loterias, etc etc)?

sábado, 2 de maio de 2009

Entre os Muros da Escola, o livro


Depois de ter assistido ao Filme Entre os muros da escola (vide post Entre les Murs) agora leio o livro, na tradução de Marina Ribeiro Leite, publicado pela Martins Fontes, e que deu origem ao filme. Seu autor, François Bégaudeau, é esse simpático rapaz que está no alto da capa do livro, e que também é o ator que faz o papel do professor no filme.
O livro é ainda mais denso que o filme, mas isso não tira o mérito desse último. Nesse caso de adaptação fica valendo a obviedade de que os suportes para se contar uma história, sendo diferentes, apresentam diferentes soluções para revelar o que se conta. Lendo o livro, contudo, notamos que as soluções encontradas no filme foram realmente pertinentes e perspicazes.
Uma passagem que chamou minha atenção diz respeito a uma discussão que quem já deu aula, sobretudo em escola pública, já teve oportunidade de participar, normalmente nas salas de professores, e que diz respeito ao problema da indisciplina dos alunos. Nesse tipo de situação, sempre surge a opinião, que é a do senso comum, de que tal problema se deve ao fato de que não temos mais o rigor das sanções que havia dentro da escola, por exemplo, no tempo dos nossos pais ou avós. Pois bem, essa é também uma questão tratada no livro e a colocação que o narrador nos faz é bastante simples e pontual:

[o trecho a seguir aparece depois de uma passagem em que o professor explica para os alunos o significado da palavra laxista]
laxista = permissivo
Devemos restaurar a autoridade que nossos avós conheceram na escola? Penso que devemos deixar o passado para trás e que as coisas que funcionaram bem antes talvez sejam menos eficazes agora e no futuro. Penso que cabe ao adulto se afirmar e impor suas regras segundo seus valores, e não em nome de uma moda que voltaria com força e consistiria em ser mais severo com os alunos. Ainda que a falta de assiduidade, de respeito e de muitos outros fatores que são a causa desse questionamento estejam freqüentemente presentes nos estabelecimentos, restaurar essa autoridade nos moldes dos costumes antigos seria uma boa solução? Acho que não. Os jovens de hoje não aceitariam esse tipo de autoridade. Nem sequer conseguem imaginá-la. Essa nova geração não é majoritariamente partidária de sanções, de pressão constante e intempestiva, já basta a que existe. Além do mais, em alguns países, em particular os do Terceiro Mundo, esse tipo de ensino é aplicado nas escolas, e acho que posso dizer que os alunos gostariam muito de estar no nosso lugar! Então, se é para restaurar alguma coisa por causa de nostalgia do passado, não!