sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Almoçando com uma amiga

Hoje, eu conversava com uma amiga na hora do almoço e ela ficou muito desapontada comigo.

É que ela me contava uma história e no meio do seu relato desatei a rir.

Meu riso pareceu-lhe desrespeitoso, porque o que ela me contava era o caso de uma injustiça sofrida por uma outra pessoa. Então, quando minha reação jocosa se deu, pareceu à narradora que eu era indiferente propriamente a essa injustiça relatada.

Tive um certo trabalho para lhe explicar que não era do relato que eu rira, mas da forma como ela se revelava profundamente indignada, mais até do que talvez estivesse a própria vítima da injustiça.

Veja bem, não se tratava de algo irreversível ou demasiado, como, sei lá: uma pena de morte imputada a um inocente ou a vitimização própria de quem sofre assédio moral, nada disso...

Era um feito grave, mas corriqueiro até. Tratava-se de algo que, muito provavelmente, a própria pessoa iria superar, no devido tempo. Os responsáveis pelo mal feito talvez nem tivessem consciência absoluta do que fizeram. Erraram porque não sabiam o que faziam, sabe?

Portanto, foram apenas egoístas, como a maioria de nós ainda costuma ser.

Mas, então, por que eu ri, se, ainda assim, de fato tudo era da ordem do lamentável?

É que eu sou muito parecido com esta minha amiga com quem eu almoçava. Provavelmente, quando crianças, ambos sofremos preconceitos diversos e fomos aprendendo a reagir intempestivamente diante de qualquer injustiça e mais: aprendemos a defender "os frascos e os comprimidos" na nossa sede de justiça!

Tarte tatin, a sobremesa
Quando vi que ela fazia o mesmo que eu também faço, aqui e acolá, comecei a rir por que isso me pareceu um tanto ingênuo, embora absolutamente legítimo!

O incrível da nossa ingenuidade é mesmo o quão ela é legítima.

O magnífico da experiência humana é quando não somos absolutamente ingênuos e sabemos que não há culpados completamente, nem tampouco inocentes, mas que todos precisamos cada vez mais aprender um tanto do amor próprio para, então, amar perdidamente e, aliás, sem nenhuma ingenuidade a qualquer um.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Dia do professor

Crianças em uma aula de Yoga (via Humans of Amsterdam)
Faz 13 anos que eu não leciono e com isso quero dizer que não atuo como professor, em sala de aula. Eu trabalhei, anteriormente, como professor. Foram 12 anos lecionando. Na instituição escolar é mais comum observar a incorporação destes papéis: o do aluno e o do professor. Embora há pessoas que estão nas escolas, mas que não pertencem ainda a ela ou mesmo que já não pertencem mais a esse perfil de instituição.

Para mim é mais fácil, hoje, entender o mundo todo como uma escola e que frequentamos, mais amiúde e para o nosso proveito, durante esta experiência corpórea.

Neste planeta estão aprendizes e educadores.  Evidentemente, esses papéis podem ser trocados. Não sabemos, nesta escola que é o mundo, quando deixamos de aprender e de ensinar. Com o tempo, no entanto, é possível perceber que nela quem mais aprende é quem ensina.

Sempre me surpreendo, quando me vejo sendo ainda valorizado por aqueles que em momento anterior me encontraram, na condição de professor, quando eu inclusive ainda não sabia nada saber. Foi o que me aconteceu ao acordar esta manhã: uma ex-aluna deixara uma mensagem na minha time line, no facebook:

Porque foi você, o melhor professor que tive na vida, e porque olhou para mim como todo professor deveria olhar para um aluno, e porque acreditou em mim mais do que eu mesma acreditava. Com todo respeito e admiração. Feliz dia dos professores.

Fiquei emocionado. Afinal, ela está se reportando a algo que, sem dúvida, ocorreu e que ainda pode ser uma atitude possível para o professor. Ou seja, ser um profissional que acredita, respeita e admira a pessoa do aluno naquilo que de fato representa suas possibilidades, algo que está ali como riqueza latente, como promessa de futuro eterno e bom.

Que alegria ser assim reconhecido, mas, sobretudo, tendo sido assim lá atrás, nesse passado próximo - quando também a mim parece evidente que eu assim o era - sem ter precisado “estudar” muito para isso: a não ser na própria escola da(s) vida(s). 

Ah, sim, eu também considero o tanto que há de solidariedade natural da(s) existência(s), bem como o que há aí de possível reencontro. Afinal, tem gente que a gente ama muito facilmente, graças a Deus!

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Amanda McCavour

Amanda McCavour é uma artista canadense que utiliza a máquina de costura no seu trabalho.

O mais interessante é que ela cria seus desenhos e instalações usando como base um tecido que se dissolve na água. Então, ela costura com fios repetidamente sobre esse tecido até que se forme a imagem desejada, por justaposição desse entretecido de fios. Após a dissolução do tecido, resta apenas a estrutura do emaranhado de fios, o que nos dá um efeito de algo efêmero ou prestes a se dissolver, mas que na realidade já é sólido o bastante enquanto estrutura aparente.

Ela diz estar interessada justamente nessa vulnerabilidade dos fios, e em sua capacidade de desvendar o aparente, bem como na força do entretecido na costura. Portanto, nessa conexão entre processos e materiais e do modo como isso se relaciona com imagens e espaços.

Assim, traçando ações e ambientes, através de um processo de repetição, tradução e dissolução, a artista espera marcar o movimento da ausência, em um processo de retomada, de rastreamento, preservando a memória do que se foi ou do que lentamente se desintegra.