terça-feira, 30 de abril de 2013

fagulha incandescente



Viver em contato com o invisível é um aprendizado.

Ao fundo, as torres
da Catedral da Sé
Hoje, entrei na agência da caixa econômica federal que fica na praça da sé, 111. Para tanto,  fui obrigado a utilizar a única entrada disponível para a agência e que fica na rua Venceslau Brás . Nessa rua, vê-se uma construção que acho lindíssima: o Palacete do Carmo.

Mas, ele está abandonado! E deteriorando-se. :-(

Segundo o que pude apurar, o imóvel pertence à arquidiocese de São Paulo e, ao que tudo indica, a igreja católica está aguardando liberação de uma verba do Ministério da Cultura para reformar o palacete.

Sempre que vou a essa agência em frente, ponho-me à janela para observá-lo. Como é lindo! Está muito velho, mas há ali qualquer coisa muito impregnada em seu corpo arquitetônico, nas paredes, janelas e telhados. Ele foi construído no início dos anos 20 do século passado e em seus andares sempre funcionaram estabelecimentos comerciais, quando conheceu sua glória e, a partir dos anos 60, sua decadência.

Talvez porque a visão do palacete, agora mausoléu, despertasse em mim nostalgias desconhecidas, quando a moça do caixa deu-me aquela quantia módica de troco, fiquei emocionado. 

Pareceu-me compreender demasiado o pagamento da soberba de ontem, mas no lugar da revolta eruptiva do orgulho, senti muito mais a necessidade contrita do devoto. Nesse ato, verifica-se imediatamente que existe na aparente decadência a sobrevivência de uma aura do que se viveu demasiado, é dela que salta a fagulha de sentido, que por magia da graça retorna incandescente.

Palacete do Carmo


blue flower


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Amar sem medo

Flower-man
(via Robert Tisserand)

Estou muito interessado em desenvolver uma pesquisa profunda em torno de mim mesmo. Da minha história. Dos meus sentimentos e emoções.
Dizer isso pode parecer um lugar comum, até um clichê de livro de autoajuda! kkk
Mas, não é bem assim. Penso que faz parte da tarefa da vida, criar-nos a ilusão que, depois de certo tempo em que habitamos nosso corpo e que estamos andando por estas paragens, deixamos de viver surpreendentemente.
Embora faça parte das aparências, isso não é verdade. Afinal, só vive mesmo como um morto-vivo quem acredita na mortalidade da alma e, mesmo assim, nem todos os que creem nisso, verdadeiramente vivem assim.

O que nos surpreendente pode surgir o tempo todo.

Mesmo pessoas conservadoras são surpreendidas. Por exemplo, para alguns, deve ser incrível que, desde o ano 2000 até agora, já tenhamos 14 países no mundo que aprovaram leis que permitem o casamento civil igualitário entre pessoas do mesmo sexo:

1. Holanda (2001)
2. Bélgica (2003)
3. Espanha (2005)
4. Canadá (2005)
5. África do Sul (2006)
6. Noruega (2009)
7. Suécia (2009)
8. Portugal (2010)
9. Islândia (2010)
10. Argentina (2010)
11. Dinamarca (2012)
12. Uruguai (2013)
13. Nova Zelândia (2013)
14. França (2013)

bonequinha de pano
by Madame Durvalina
É preciso dizer que para quem vive avant-garde desde que nasceu, o surpreendente é que tenhamos esperado alcançar o século XXI para cumprir esse tipo de justiça: deixar as pessoas amarem em paz!

No entanto, independentemente disso tudo, surpreendo-me ainda a mim, pessoalmente, sem compreender em absoluto um certo mistério que há em torno da minha própria orientação sexual. 
Portanto, a verdade é que cada um é que sabe onde lhe aperta o calo. 
No entanto, confio que buscando, muito calma e sinceramente, conhecer a mim mesmo, isso já não será uma questão assim tão misteriosa, mas simplesmente um modo de ser enquanto aprendo a amar sem medo.

terça-feira, 9 de abril de 2013

O que você representa?



Outro dia fiquei muito triste porque uma pessoa da minha família dizia no facebook: “Eu sou a favor do pastor Marco Feliciano” Sim, li isso com profundo pesar, pois considero um desrespeito a mim que uma pessoa da minha família defenda a posição do famigerado pastor.
Ele é um personagem muito conhecido atualmente por representar, antes de qualquer coisa, o escândalo do fanatismo religioso. Aliás, vamos combinar que não há nada mais lamentável nesse mundo do que a ação daqueles que pregam o contrário do que Cristo pregou. O fazem acreditando, coitados, serem defensores da moral do próprio Cristo, pois não sabem que a postura que defendem é verdadeiramente resultado de uma interpretação equivocada do que encontram na Bíblia.
Vamos acreditar que é só isso, ou seja, que se trata apenas de ignorância. Sempre será isso, de qualquer modo, pois ainda que alguém como ele fosse um personagem consciente do mal que está fazendo, ou seja, ignorando o amor incondicional, semeando ódio, discórdia e rancor, simplesmente... Isso tudo já sinalizaria de qualquer modo uma profunda ignorância.
Evidentemente, seu comportamento anacrônico evidencia mais: a urgência de renovarmos nossas atitudes de respeito aos mais diferenciados perfis humanos. Todos nós em relação a todos os outros. Nesse sentido, é possível considerar alguma beleza no que sua atitude resultou: mesmo que ela surja em meio ao pantanal do escândalo.
Quando vi qual era a pessoa da minha família que dizia apoiar o cara, pensei: Nossa! Só podia ser esta pessoa! Sempre acreditei que ela era bissexual. Não deve mesmo ser fácil ser bissexual... Por exemplo, eu acredito que o Feliciano é um bissexual, porque somente alguém com muita dificuldade com a própria orientação sexual pode se incomodar com a orientação que rege a vida das outras pessoas: e digo que ele, muito provavelmente, é um bissexual, porque entendo que ele tem uma esposa e pôde procriar com ela, parece que ele tem filhos que ajudou a gerar. Assim sendo, alguma atividade sexual de “desenho heterossexual” ele tem. Porém, somente alguém vivendo como homem e tendo desejo por outro homem, mas achando que não pode assumir esse desejo nem para si mesmo, somente alguém que vive tal conflito seria capaz de odiar e combater o desejo daqueles que não veem problema algum nisso mesmo.
Eu não sei o que irá acontecer comigo em um futuro distante, sobretudo em outra vida (como meu espírito estará atuando sexualmente em tal ocasião). Eu apenas peço a Deus que eu não precise viver um conflito dessa natureza, como o que vive o pastor, pois concebo como horrível a possibilidade de vir a não aceitar uma dubiedade ou uma filigrana de um desejo ainda em ascensão ou, quiça, já em declínio e, por conta dessa não aceitação, ainda arrastar de carona para os combates do mundo, combates sempre povoados de implicações sociais, grupos que inflamam suas divergências diante de um conflito íntimo semelhante.
 A verdade é que apenas o conflito é semelhante, ao que qualquer um poderia viver estando na mesma situação, mas como agir mediante tal conflito (pasmem!) isso ainda pertence absolutamente à esfera íntima.
Eu sei que o amor irá vencer! Ele sempre vence, graças a Deus!