quarta-feira, 27 de abril de 2011

Mel Kadel

Faz tempo que não divulgo trabalhos de ilustração por aqui. Mas hoje não vou resistir e vou apresentar-lhes esse trabalho que me parece bastante original.
Mel Kadel é uma artista que vive em Los Angeles, CA, e que tem procurado utilizar como suporte para seus trabalhos, livros velhos ou papel antigo. Como nem sempre encontra tais papéis de bom tamanho para fazer seus trabalhos, então, ela faz uma colagem dos pedaços de tamanhos variados desses papéis ou, para conseguir o efeito de envelhecimento, ela usa papel manchado de café.
Os desenhos são muito coloridos (o que me agrada bastante). Eles também são simbolizações evidentes de uma elaboração, como aquela que nos diz Michèle Petit, em relação aos artistas, em geral, os quais realizam por meio de metáforas poéticas um trabalho de transfiguração de seus próprios questionamentos e dos vários conflitos que estão no cerne da vida psicológica e social.
Além disso, são bastante femininos (o que também me agrada bastante). ;-D
Ela, inclusive, faz livros artesanais com tiragem limitada e os vende. Lá no seu site você poderá entrar em contato com a artista.
Trouxe algumas imagens desse seu sítio, mas você encontrará por lá muito mais drawings!
Se você quiser conhecer um pouco a artista, bem como o seu companheiro, ele também um artista, leia uma entrevista do casal aqui.












terça-feira, 26 de abril de 2011

Sharon Jones and The Dap-Kings

Fico sempre muito impressionado com meu desconhecimento do mundo da música. Mas a verdade é que também não sou uma pessoa fechada e que ouve apenas determinado estilo musical, por exemplo. Considero-me quase sem personalidade, no que diz respeito ao meu gosto musical. rsrsrs
Posso ouvir música clássica, com muita desenvoltura e prazer. Eduquei-me na adolescência nesse sentido. Posso também ouvir com muito prazer todas as outras manifestações musicais, como MPB, samba, bossa-nova, música caipira, folclórica, religiosa, do pop, rock, rap, soul/funk/indie music, world music, music, music, music...
Contudo, não sou muito bom para guardar nomes de bandas ou intérpretes, conjuntos etc.
Mas sou capaz de chorar ao ouvir música e muitas vezes choro mesmo!
Penso que a arte, em todas as suas manifestações, é o que desenvolve nossa sensibilidade, gosto, personalidade, nos faz mais humanos, aproxima-nos do divino, sempre presente em cada um de nós, latente.
Ontem, visitava um amigo e que tem o dom para curtir música. Ele sempre nos apresenta as melhores coisas que podemos ouvir no planeta!
Falou-me em Sharon Jones.
Você também não a conhece? Então, creio que possa estar perdendo a oportunidade de ser mais feliz.
Porque é isso o que nos traz o contato com sua música: a certeza de que é possível sim sermos mais felizes, posto que emocionados, encantados, enlevados.
Você pode ler a seu respeito em vários jornais, ou sites, eu acho que uma boa matéria about her está aqui.
Eu só quero nesse postagem fazer um registro desse talento, ter a sua passagem marcada nesse blog e, sobretudo, reforçar uma informação importante: ela vai estar entre nós, no primeiro BMW Jazz Festival, que vai acontecer no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, entre os dias 10 e 12 de junho. Eu vou. [ainda não foram confirmados, o dia exato, o horário e os preços dos ingressos. Que medo!]
Eu também já aprendi que a emoção de ouvir, ao vivo, grandes intérpretes é única e que, portanto, devemos nos dar esse tipo de presente: um alento para a vivência nesse planeta, no qual é tão necessário elaborar cada vez mais e sempre, todos os dissabores e em qualquer esfera da nossa experiência.
Também colaboram nessa tarefa comum Sharon Jones, juntamente com o grupo The Dap-Kings, um dos grupos indies mais celebrados dos EUA, com o qual ela canta.
Vejam esse hit. Enjoy it!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Miracle


Há coisas que nos acontecem e que nos deixam em estado de graça!
Como quando uma injustiça é anunciada e para com você. Inicialmente, você aceita esse estado de coisas, afinal, aparentemente, não há o que possa ser feito.
E, então, o momento para que a tal injustiça seja concretizada se prefigura, quando você até mesmo já tinha se conformado em ser o seu alvo.
No entanto, acontece o milagre: os novos agentes em ação desconfiguram o quadro das relações, e o que se anuncia é exatamente o oposto da injustiça, portanto, a própria justiça em todo o seu esplendor!
Fica muito evidente que a justiça, o que é justo, embora aconteça entre os homens, pertence à ordem do Divino.
Assim sendo, haverá mistério aí.
No contexto religioso, chamamos de ação do anjo da guarda, simples assim: um amigo que ajuda sempre e que interfere a nosso favor. A verdade, e que é evidente ao menos para aquele que assim confia: um movimento invisível aconteceu em paralelo.
São como delicadas provas de que há o divino, há o amor e há a certeza da vitória para o justo. Sim, exatamente como os textos sagrados e de todas as culturas diziam, cada qual a sua maneira, em relação à justiça e em todos os tempos: tudo isso é verdade. É tudo verdade. Ao menos a verdade relativa e que diz respeito a esse milagre!
Sem dúvida, é preciso que haja também, nesse contexto da nossa relação com a justiça, aquela necessária harmonia das nossas atitudes para com essa mesma justiça. Afinal, os milagres se cumprem dentro daquilo que podemos chamar merecimento. Não é necessário acharmos que é preciso fazer muito para merecê-los, mas apenas buscar aquela expressão do amor verdadeiro, o mesmo em todos os tempos e que poderá se desdobrar, na forma de um milagre, em favor daqueles que também o exercitam.

It is never too late to mend things!

sábado, 23 de abril de 2011

Detalhes tão pequenos


Ontem descobri, via Cris Mura, no Facebook, que no The Metropolitan Museum of Art aconteceu o Get Closer, um concurso de fotografia livre, promovido pelo Museu, entre seus frequentadores.

Ou seja o Museu convidou seus frequentadores a enviarem uma foto de um detalhe de uma única obra de arte da coleção permanente do Met, e que captasse a imaginação desse observador.
A pessoa deveria enviar uma foto do detalhe, juntamente com uma foto da respectiva obra de arte e ainda um breve texto descrevendo por que ela achava esse detalhe atraente.
O concurso aconteceu entre fevereiro e abril de 2011. O Museu selecionou cinco vencedores, mas lá no site do concurso estão disponíveis as fotos e os textos enviados por vários participantes. É uma experiência bem interessante ver tais imagens e ler o que as pessoas postaram.
Assim, você pode conhecer boa parte do acervo permanente do museu e, além disso, ainda analisar esse registro dos visitantes anônimos, suas observações. Eu achei ótimo.

Trouxe para cá as imagens dos detalhes e obras que o museu disponibilizara no site do concurso, como exemplos. São lindos os exemplos. A começar por esse Klimt que eu nem conhecia... ;-D









segunda-feira, 18 de abril de 2011

É preciso saber ler!

Eu estou lendo um livro tão especial que o faço bem devagar. Ele é aquele tipo de livro que você desejaria não acabar nunca... E não é um livro de ficção, não é o Mil e uma noites... rsrsrs
Trata-se do livro A arte de ler ou como resistir à adversidade, no qual a antropóloga francesa Michèle Petit comenta as experiências de mediadores de leitura em situações de adversidade. Ela visitou diversos projetos de mediação de leitura nos países da América Latina, inclusive no Brasil e o livro resultou dessa investigação das diferentes maneiras pelas quais a forma narrativa pode atuar como educadora da sensibilidade e como um poderosíssimo instrumento de resistência ao caos interior e à exclusão social.

Em diversas passagens eu me identifiquei. Quando, por exemplo, ela conta que a leitura é um lenitivo para qualquer contexto de adversidade e de dor, incluindo aí a dor moral. Lembro-me que, em uma época (graças a Deus, já distante) da minha vida, fiquei um tempo desempregado. Como é horrível você ficar nessa situação. Eu refugiava-me na biblioteca do Centro Cultural São Paulo, na Vergueiro, e foi ali que li, por exemplo, A vida do Espírito, de Hanna Arendt, e como essa leitura me fortaleceu!

A autora nos conta que essa experiência, que eu já vivi na pele, também aconteceu nos anos 30 do século passado, nos EUA, quando a crise “levou milhares de norte-americanos para as bibliotecas." Nessa passagem, ela cita Martine Poulain:

Às vezes os desempregados buscavam na leitura uma oportunidade de se distanciar do real e de sua própria situação, esperando que ela lhes levasse para ‘fora do mundo’. Às vezes, esperavam o contrário, que lhes mantivesse ‘dentro do mundo’. A leitura dos jornais e periódicos era então a mais apreciada, seja porque a leitura de ‘notícias’ sancionava essa necessidade de se sentir parte de uma comunidade, seja porque a consulta das ofertas de emprego assinalava mais diretamente uma busca de reintegração.

E, assim, em várias momentos de tempos difíceis revela-se o poder da leitura. Segundo a autora, seja em contextos de guerra ou de repetidas violências, de deslocamentos de populações mais ou menos forçados, ou de vertiginosas recessões econômicas, crianças, adolescentes e adultos podem redescobrir o papel de reconstrução de si mesmos e a contribuição única da literatura e da arte para a atividade psíquica.

Esse livro é rico porque coteja a experiência prática, dos mediadores de leitura junto às populações necessitadas de apoio - para esse trabalho de reconstrução de suas próprias identidades, por meio da leitura e da literatura - com a bagagem da própria autora, seu repertório, a riqueza das citações de escritores e estudiosos de várias vertentes e que corroboram a riqueza dessa Arte de ler e que nos permite resistir às adversidades, e que são tantas, sobretudo para populações em situação de pobreza ou  sem escolaridade!

De todas as inúmeras e relevantes citações presentes no livro, eu destacaria aqui, para essa singela postagem, e com a sutil intenção de conclamá-los à leitura dessa preciosidade, essa aqui:

A ação de ler tem a virtude paradoxal de imprimir vigor a essa mesma vida da qual ela nos separa. (José Luis Polanco)

Ou ainda essa outra:

Ler tem a ver com a liberdade de ir e vir, com a possibilidade de entrar à vontade em um outro mundo e dele sair. (Thomas Pavel)

Boa leitura!

sábado, 16 de abril de 2011

Acalmar o coração


Todos sabemos que há invejosos. Mas, quando vivemos apartados desse tipo de sentimento, podemos até mesmo não perceber, imediatamente, que somos alvo da inveja de alguém.

Eu gostaria de algo mais do que isso, no entanto. Ou seja, ser generoso, benevolente e jamais fazer pacto com a  maledicência. Pois só assim não deitaria sombra sobre o meu próprio pensamento.
Esse é o comportamento próprio do sábio.
É preciso agradecer aos céus quando ele é exercido sem qualquer esforço, pois é comum disso resultar uma sensação quase permanente de felicidade e que se desdobra na propensão para manifestar pura alegria.

Isso por si só poderia suscitar ainda mais inveja, of course. A ponto de o ser invejoso querer envenenar essa convicção da pessoa invejada. Então, tal ser pode utilizar como recurso nefasto, por exemplo, o de enumerar-lhe suas imperfeições e ainda lhe presentear com uma lupa. rsrsrs

Em tais circunstâncias será muito importante que a pessoa reafirme uma outra convicção: a de que a vida é feita de muitas circunstâncias que se mostram como imprevistos (embora tão previsíveis) e, assim sendo, somente quem tem intimidade com o invisível não se deixa enganar com lentes de aumento alheias.

Mais importante ainda é buscar compreender, com a profundidade minimamente necessária, que não é senão à força de concessões e sacrifícios mútuos que podemos manter a harmonia entre elementos tão diversos como são os elementos deste mundo.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Nosso céu tem uma estrela

Muitas vezes ouço diferentes pessoas, de variadas idades e em inúmeras circunstâncias (em geral em circunstâncias difíceis, é verdade) falarem que o ser humano não tem mais jeito! Que esse mundo está perdido! Ou ainda que isso e aquilo!

Eu nunca acreditei nesses desabafos das pessoas, mesmo que se tratasse de pessoa proba ou circunstância que ensejasse o desalento!

Que bobagem! Por que tanto pessimismo? Por que tanta tristeza reunida e divulgada aos quatros ventos?

Embora, existam de fato pessoas malconduzidas, se não as compreendermos corremos sempre o risco de parecermos, a nosso turno, malcontentadiços! rsrsrs

Eu procuro ser do tipo que me contento e muito! Fico mesmo muitíssimo feliz, tão somente por saber que estou no mesmo mundo em que estão pessoas como Dona Ivone Lara.

Que pessoa! Hoje ela completa 90 anos de idade. Que glória viver tanto e tão lucidamente. Ela serviu aos seres humanos como enfermeira, inclusive trabalhando em manicômios, isso até a década de 70, quando então se aposentou. Imagino com que bondade ela não desenvolveu sua tarefa até ali...

E depois? Depois, dedicou-se a essa carreira de delicadeza e encantamento, compondo e cantando Samba: seu desejo maior e também o maior motivo de sua felicidade, tão evidente.

Não sei se é verdade, mas uma vez alguém me disse que o poeta Haroldo de Campos teria dito que para ele a maior poeta da língua portuguesa era Dona Ivone Lara por ter escrito esse verso: No meu céu a estrela guia se perdeu.

Eu concordo com o poeta e saúdo a grande poeta! Salve Dona Ivone Lara!



Sonho meu, sonho meu

Vai buscar quem mora longe, sonho meu
Sonho meu, sonho meu
Vai buscar quem mora longe, sonho meu

Vai mostrar esta saudade, sonho meu
Com a sua liberdade, sonho meu
No meu céu a estrela guia se perdeu
A madrugada fria só me traz melancolia, sonho meu

Sinto o canto da noite na boca do vento
Fazer a dança das flores no meu pensamento
Traz a pureza de um samba
Sentido, marcado de mágoas de amor
Um samba que mexe o corpo da gente
O vento vadio embalando a flor, sonho meu

Sonho meu, sonho meu
Vai buscar quem mora longe, sonho meu
Sonho meu, sonho meu
Vai buscar quem mora longe, sonho meu

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Historinha romântica (ou Truques da paquera)

[Advertência: No relato abaixo, as circunstâncias e personagens são fictícias, qualquer semelhança com circunstâncias ou personagens reais será uma mera coincidência.]


Flertar é tão bom! Um flerte doce e suave e discreto,
ou seja, na medida certa: quando o que se diz é puro olhar.
Isso acontece quando se sabe que não é boa a paquera vulgar:
quando qualquer um dos dois se oferece como objeto e isso em primeiro lugar!

É bonito quando as pessoas se acham bonitas e
mesmo que nenhuma das duas seja diva ou galã ou...
É muito importante fazer uma abordagem ingênua,
quando o que se diz, ainda que com malícia, pareça dito por criança.

É importante, ainda, que quem ouve o dito fugaz pareça não ter compreendido nada e fique até mesmo com aquela carinha de não-estou-entendendo-nada-do-que-você-diz-mas-é-uma-delícia-te-ouvir.

São necessários sorriso e brilho nos olhos de ambos, durante.

Será muito bom que um dos pombinhos se despeça dizendo que precisa ir, e, então, lembrando-se que não pegou o telefone ou e-mail, um meio de contato qualquer, volte...
Pode-se, então, fingir que achava que o outro é que disse que estava de saída na ocasião da despedida, há poucos minutos.
Pode-se dizer isso! Quando, então, se ouvirá como resposta:

- Mas era você que ia partir...

E, assim, podem retomar o fio de uma conversa que é pura atração.
Acharão, durante essa conversa que nem acontece, a ocasião para se anotar o e-mail, endereço do blog, perfil do facebook.
Por fim, se despendem com um abraço e ocorre a surpresa de um beijo inesperado, mas apenas para um dos dois, e não para aquele que tomou, apropriadamente, essa iniciativa. ♥

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A chuva de pétalas


Chuva de pétalas de rosa sobre Mila,
da série elaborada pela amorosa mãe finlandesa: Adele Enersen.
Eu não vejo muito noticiário televisivo por que não tenho estômago, em geral. Mas, hoje, cheguei no refeitório da empresa onde trabalho, no qual há uma TV enorme, e ali víamos uma cena emocionante: um helicóptero da polícia civil sobrevoava, derramando pétalas de flores, sobre o cemitério, no Rio de Janeiro, onde estavam ocorrendo os funerais de ao menos três das crianças vítimas da chacina na escola pública, que se deu ontem, e que foi amplamente noticiada.
Tanto se falou a respeito! Inúmeras as declarações indignadas, repleta a comoção do país inteiro. Eu, diante de notícias do gênero, só consigo ficar perplexo, como todo mundo, mas também guardo um silêncio respeitoso. É sempre tão horrível que alguém possa de fato enlouquecer! É sempre tão triste a morte de inocentes! Mas, isso tudo acontece em mundo que não é o Paraíso. A verdade é que estamos todos ainda far from heaven.
A que abismos obscuros da alma esse pobre assassino se entregou para que pudesse vir um dia agir tão distante da razão?
O que justificaria que tenham morrido aquelas pobres crianças e não outras, sendo alvos aleatórios que eram, ao menos inicialmente, e de uma insanidade!?
Eu acredito que somente no colo do mistério de Deus podemos deitar tais questões e suas respostas. Quero ainda acreditar que os espíritos das crianças estão bem, embora assustados, e que o do rapaz embora não possa estar assim, agora, virá a também estar bem naquele futuro indeterminado e que acolhe sempre a todos nós, sejamos culpados ou inocentes, mais ou menos pesarosos e, sobretudo, mais ou menos próximos do amor sem limites.
Acredito que todos estamos mais ou menos próximos desse amor: esse tipo de episódio apenas nos desperta para a necessidade de que devemos continuar firmes e fortes na missão de transformar o mundo e a escola em espaço de vida e não de morte orquestrada.
Penso que esse é o desafio lançado no fundo do coração de cada indivíduo, depois disso!
As pétalas das flores são apenas uma lembrança da delicadeza de sentimentos e de pensamentos e de atitudes, os quais uma tragédia como essa também exige que tenhamos.
Penso ainda que há uma vantagem no luto, ainda pouco compreendida, é que ele desperta nossa propensão ao exercício de meditação e união com o mistério divino.
É por isso que todo luto deve ser bem feito. Do contrário, nos distanciamos desse exercício e, assim sendo, seremos ainda vítimas do egoísmo, o grande rival do amor.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

About Silence and Angels

Anjo Esquecido - Paul Klee (1939)
Hoje, quando acordei, achei que eu estava novamente com os olhos afetados pelo surto de conjuntivite que acometeu a cidade de São Paulo já faz uns dois meses.

Corri para o mesmo hospital especializado no qual fora atendido anteriormente.

Lá chegando, vi uma multidão na sala de espera. Isso mesmo: inúmeras pessoas. Peguei a senha para o atendimento e abri meu Bliss, de Katherine Mansfield. As atendentes a toda hora chamavam grupos de pacientes que levavam para outras alas do hospital, a fim de, com isso, agilizarem um pouco mais o atendimento, necessariamente moroso com tanta gente!

Fui conduzido com um desses grupos para outro andar, e, depois de passar pela triagem, retornei ao primeiro andar, aguardei um tanto mais e, depois, uma senhora apareceu dizendo que iria chamar umas trinta pessoas, as quais seriam conduzidas novamente para um outro andar para serem, finalmente, chamadas, cada qual, por um dos médicos.

Ao chamar o nome de uma senhora, o qual verdadeiramente era “Salvadora”, ela chamou-lhe Salvador. A senhora a corrigiu e, imediatamente, ela se desculpou. Depois, ao chamar meu próprio nome, ela não o pronunciou da forma devida (as pessoas sempre se confundem em relação à pronúncia do meu nome, elas não o pronunciam como uma palavra oxítona, que é o usual e também correto, ao menos em português, mas o fazem como se fosse palavra paroxítona e fica estranho. rsrsrs).

Eu também a corrigi, mas apenas para me certificar de que era meu mesmo o nome chamado.

Ao nos conduzir para o andar, ela pediu-nos desculpas mais uma vez:

- Vocês me desculpem não falar o nome com correção, mas como podem ver o hospital está superlotado e estamos procurando providenciar o melhor atendimento... O problema é que nosso pronto-socorro atende em média 350 pacientes por dia, e, devido ao surto de conjuntivite na cidade, estamos atendendo mais de 1.500 pacientes por dia. Nossa sorte é que todos os médicos estão colaborando muito.

Essa fala me desabou. Fiquei a ponto de chorar.
Em primeiro lugar, por que ser bem tratado me emociona! Ser mal tratado não me leva às lágrimas não! No passado, inclusive, eu também tratava mal aquela pessoa que me tratasse com desconsideração. rsrsrs Hoje, não faço mais isso: parei de utilizar a ultrapassada lei do “olho por olho, dente por dente”. No máximo, procuro olhar para a tal pessoa como o olhar de quem está vendo alguém que precisa de ajuda e até me proponho a ajudá-la e desde que ela aceite, of course.

Agora, quando me tratam tão bem, fico emocionado! Por que a fala corretíssima dessa senhora nos leva a pensar em tanta coisa! Por exemplo, se apenas um surto de conjuntivite já mobilizava ali tanta gente, e exigia tanto, em um hospital bacana como aquele, o que não será a realidade de um surto de doença mais grave e em condições bem menos favoráveis!

Sim, como pode ser emocionante o trabalho dos profissionais de saúde!
Afinal, somos todos tão frágeis!
Eu tenho para mim, que um hospital é um lugar privilegiado para se contar o número de anjos que temos no presente e também onde é possível já imaginar o número daqueles anjos que ainda teremos no futuro! Penso que um hospital é um lugar de silêncio, também, por que é no silêncio que nascem os anjos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Consolação


Consolation (study) by Alex Milsom via Solander Gallery
Ontem, eu estive na Av. Paulista, em uma Livraria que fica por ali, para comprar um presente para um amigo. Fui de Metrô. Mas, na volta, como já era hora de eu ir para o trabalho, achei que seria mais prático pegar um ônibus que descesse a Rua da Consolação, em direção ao Viaduto do Chá.

Quase não ando de ônibus em São Paulo, uma vez que utilizo mais os trens.

Quando estávamos chegando na Rua Xavier de Toledo, perto do Teatro Municipal, o cobrador começou a protestar contra as atitudes de um passageiro:

- O Senhor não vai roubar essa senhora! Nós já sabemos que o senhor está habituado a afanar as bolsas dos passageiros distraídos. Desça imediatamente!

Quando vi a pessoa a quem ele se dirigia, fiquei horrorizado: era um idoso, um senhor de cabelos brancos! Já esse protestava que, não, ele não estava fazendo nada...
Mas, então, o cobrador levantou-se da cadeira (e só, então, percebi que ele era um anão) e foi até lá na frente, onde o ladrão de carteiras se encontrava e exigiu que ele descesse, sem violência, ele apenas foi assertivo.
Ao voltar para o seu lugar, ainda aborrecido, mas já com um pouco mais de bom humor, ele explicou aos passageiros do seu entorno:

- Ele está usando essa linha de ônibus para fazer esses roubos. Ele já está acostumado. E o pior é que não podemos fazer nada, por que é um idoso e ninguém sequer admite que um idoso possa fazer isso! Outro dia, chamamos a polícia, e eles não puderam fazer nada, porque ninguém se dispôs a ir até à Delegacia testemunhar contra esse senhor...

Olhei pela janela, e lá ia o idoso ladrão, bem apessoado e com ar de gente respeitabilíssima. rsrsrs

O que pensar do episódio?

Que vivemos em um mundo imperfeito: pois se mesmo tendo chegado à velhice, nesse mundo, alguém pode continuar retirando a carteira de um outro, como se isso não lhe parecesse ser um erro!

No entanto, mesmo diante dessa imperfeição do idoso equivocado, encontramos, nesse mesmo mundo, por exemplo, boas atitudes como a do cobrador: defendendo os seus passageiros, e que mostrou, a despeito da aparente fragilidade de sua estatura, que podia, sim, agir de modo grandioso, impedindo o erro e fazendo a normalidade voltar a funcionar. Ao menos aquela normalidade possível, mas que é também a que estabelece que temos o direito de ir e vir, sem sermos afanados por jovens ou idosos, por favor!
A verdade é que nesse mundo não falta ocasião para que sejamos úteis aos demais. O cobrador encontrou a sua. Que eu possa encontrar a minha também, meu Deus!
Ao menos tenho consciência de que, por viver nesse mundo, não há de me faltar oportunidade. Essa é a consolação. ;-)

Have a nice weekend!