quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Just about flowers and cookies

Quero compartilhar nesta postagem estas imagens que me fizeram tão bem esta tarde! 

Será que você poderá me compreender? Já lhe aconteceu de estar um tanto aborrecido(a) ou preocupado(a), enfim, nutrindo tais sentimentos que por vezes são inevitáveis, e, então, encontrar algo muito lindo e que devido a um certo sentimento de conexão, de identificação com está coisa nova, diferente, isso também lhe alça a uma mudança de humor, uma conexão com o que há de mais positivo, como se, de repente, tudo o que era amargo e cinza e triste pudesse ser alegre e colorido e doce?

Bem, foi isso mesmo o que aconteceu comigo ao ver estas imagens que encontrei no blog de Luciana Borges, o Lulu's Sweet Secrets. A moça curte pintura e fotografia e também fazer uns docinhos mimosos, charmosos. 

Nas imagens do seu blog ela está sempre mostrando flores em fotografia e na forma de delícias, enfim, é uma pessoa que tem uma atitude bastante flower power, digamos assim.

Esses biscoitos ela os pintou inspirada nestas fotos que ela mesma tirara certa manhã...

Tudo muito delicado, do jeito que eu gosto! 








segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Lullaby Project

Carnegie Hall

Hoje, ouvindo a rádio Cultura FM, soube por meio da coluna de Cláudia Toni, no programa Começando o Dia, de um projeto belíssimo promovido pelo Carnegie Hall, famosa casa norte-americana de concertos.

Trata-se do Lullaby Project [Lullaby significa “canção de ninar” ou “acalanto”], uma série de oficinas de composição que os músicos da casa promovem em hospitais da cidade de Nova York, em um presídio feminino em Rikers Island, e também em dois abrigos da cidade. Tais oficinas visam proporcionar uma experiência criativa para mulheres (e, às vezes, também para seus parceiros/familiares), que estão experimentando a gravidez e paternidade em situações estressantes.

As participantes são na maioria adolescentes grávidas, que recebem cuidados obstétricos e serviços de aconselhamento em hospital público, mães encarceradas em Rikers Island ou mulheres que estão grávidas e vivem e/ou têm seus filhos em abrigos públicos.

O projeto tem como objetivo oferecer um contexto positivo e criativo para as participantes, considerando o que representa para elas ser mãe em circunstâncias tão particulares. Por exemplo, sabemos que pré-adolescentes de 11, 12, 13 anos ao engravidarem podem rejeitar, e comumente o fazem, a experiência da gravidez e o próprio bebê.

Assim sendo, por meio de sessões de criação, as oficinas do Lullaby Project oferecem a oportunidade de tais jovens mães criarem uma canção de ninar ao seu próprio bebê, possibilitando assim que elas expressem e explorem seus sentimentos de ligação com essa criança que estão gerando.

Tal exercício de composição também permite às participantes desenvolverem uma nova memória em relação a essa experiência e mesmo uma herança positiva da mesma, isso tudo em um espaço criativo seguro, que possibilita o reconhecimento dos sentimentos, os quais são compartilhados por todo o grupo de participantes.

Lullaby Parade
No site do Carnegie Hall, aparece a temporada de oficinas programadas para 2013, a relação dos  locais e, respectivamente, dos músicos responsáveis:

Rikers Island (Rosa M. Singer Center). Músicos responsáveis: Thomas Cabaniss e Emeline Michel
Jacobi Medical Center. Músicos responsáveis: Thomas Cabaniss e Eagen Emily com Falu Shah
Siena House (DHS abrigo para sem tetos). Músicos responsáveis: Emily Eagen com Duo Rhone
Callaway Residence (DHS abrigo para sem tetos). Músicos responsáveis: Emily Eagen com Saskia Lane e Bhasin Meena
Bellevue Hospital Center, dois programas. Músicos responsáveis: Saskia Lane, Deidre Rodman Struck, e Lee Ann Westover com Camille Zamora

Achei essa iniciativa magnífica, emocionante, e seria maravilhoso se no Brasil tal exemplo fosse seguido, uma vez que esse tipo de circunstância: a gravidez de mães muito jovens, em situação de extrema penúria e suas dificuldades para lidar com tal experiência é, afinal, algo muito comum em todo lugar: é preciso agir em apoio a essa mães tão jovens e seus rebentos. 



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Thierry Cohen at Daily Pictures


Hoje, passeando pela web, encontrei um blog bem interessante chamado Daily Pictures. Ele é voltado ao universo da fotografia. E quanta novidade boa você encontra por ali! Por exemplo, em determinada postagem do blog falavam deste projeto de autoria do fotógrafo Thierry Cohen, que vive em Paris.

Sem dúvida, ele suscita nossa imaginação: como seriam as paisagens urbanas se suas luzes artificiais desaparecessem?

Em uma cidade grande, brilham as lâmpadas das ruas, os sinais dos letreiros publicitários, os faróis dos automóveis, bem como seus paredões de prédios iluminados. Assim sendo, é quase impossível ver as estrelas no céu. Quem mora em Sampa, sabe muito bem disso. O mais legal é que ele registrou inclusive o céu que teríamos em São Paulo naquela circunstância. Nesse caso, o registro foi feito tendo o minhocão como cenário.

Para trazer a sensação da volta da natureza a esses ambientes urbanos, Cohen procurou fazer uma pesquisa com embasamento científico: ele viajou para lugares livres de poluição luminosa e capturou imagens dos céus, mas exatamente aquelas que estariam em determinado eixo em que o planeta ao girar deixaria sob elas aquelas cidades retratadas. Desse modo, esse céu que estava em algum ponto invisível acima das cidades é sobreposto digitalmente nas paisagens escuras. Ao resultado ele chamou Darkened Cities.

Temos, então, o contraste entre a fria, escura e desolada paisagem urbana abaixo de um literalmente verdadeiro céu estrelado. O artista, assim, imprime a natureza esquecida de volta a esses lugares. Ficamos com a sensação de que algo assustador teria acontecido para gerar esse apagão na cidade grande, mas, ao mesmo tempo, temos o espanto diante da beleza do Cosmos magicamente retomada naquela paisagem.

De qualquer modo, seu trabalho ao menos sugere que desaceleremos o corre-corre cotidiano para apreciarmos o que é mais importante: não tomarmos, afinal, por verdadeiro o mundo artificial  que comumente nos rodeia.







sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Tesouro do Cinema Nacional


Se hoje alguém me pedisse para fazer uma lista dos dez melhores filmes brasileiros de todos os tempos eu incluiria, sem dúvida alguma, na tal lista, na ordem cronológica, os seguintes filmes:

1.       Limite (1930), de Mário Peixoto,
2.      O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte,
3.      Noite Vazia (1964), de Walter Hugo Khouri,
4.      Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) de Glauber Rocha,
5.      São Paulo S.A. (1965), de Luís Sérgio Person,
6.      Todas as Mulheres do Mundo (1967), de Domingos de Oliveira,
7.      Memória de Helena (1969), de David Neves
8.      Toda Nudez Será Castigada (1973), de Arnaldo Jabor,
9.      O Beijo da Mulher Aranha (1984), de Hector Babenco,
10.  Madame Satã (2002), de Karim Aïnouz.

Evidentemente, essa é uma lista pessoalíssima! E por isso não consta aqueles filmes que muita gente acha o máximo! rsrsrs Ah, o único pecado dessa lista é o de eu não ter incluído nenhum filme do Nelson Pereira dos Santos, mas é que ele é hors concours, gosto de todos os seus filmes! ;-)

Devo ainda confessar que, até o início dessa semana, minha lista estava incompleta: eu só achava que nove filmes, excetuando os de Nelson, eram os melhores que eu já vira no cinema nacional. É que eu não assistira, até então, ao número 7, o de David Neves, Memória de Helena.

Agora, não falta nenhum! A lista está completa. A não ser que alguém lance, a partir de 2013, um filme obra-prima e eu tenha que retirar algum dos que aí estão para, então, incluí-lo no lugar. Caso contrário, fiquemos com esses mesmos.

Helena (Rosa Maria Penna) 
Memória de Helena não veio apenas salvar minha lista. O fato é que ele me foi apresentado em uma circunstância particular: poucos entenderiam que um filme pode falar e tocar diretamente o expectador, servir inclusive de mensagem premonitória. Esse foi o caso, pois um amigo meu disse que se lembrou desse filme um pouco antes de acontecer com alguém muito próximo a ele o que acontece também com a moça do filme. Mas isso é outra história!

Deixo apenas esse registro, pois creio que essa particularidade tem a ver com o fato de Memória de Helena ser um exemplo daquela filmografia delicada e ao mesmo tempo arrebatadora, e por tais qualidades que lhe são intrínsecas cumpre um papel muito próprio a toda obra de arte que, verdadeiramente, possa assim ser chamada: o de ser uma obra redentora.

Rosa (Adriana Prieto)
Vamos ao filme. Quando o vi, fiquei pensando: não poderia imaginar que já tivemos um filme tão a la Nouvelle Vague na cinematografia nacional! É esse exatamente o caso. Assistindo-o, temos a sensação de que estamos diante de uma sensibilidade muito próxima daqueles filmes feitos pelos diretores franceses pertencentes a essa escola, e que filmavam também no mesmo período em que Neves fez esse seu Memória de Helena. Temos, aliás, informação de que o diretor apreciava muito esse movimento artístico do cinema francês.

Faz parte da história dos bastidores do filme o fato de que Neves contava com pouquíssimo dinheiro e, por isso, as cenas tinham que ser ensaiadas a exaustão para que não se desperdiçasse nenhum rolo de filme. Curiosamente, isso deve ter contribuído para que toda a mise en scène fosse tão cuidadosamente elaborada. Ele nos passa aquela boa impressão de filme construído com esmero. Em filmes assim, os atores se movimentam diante da câmera tão naturalmente, que nos perguntamos: como cada gesto e cada movimento e cada palavra, tudo absolutamente possa ser tão natural e verdadeiro e, a-o-m-e-s-m-o-t-e-m-p-o, faça pleno sentido para o que se pretende contar, seja enfim uma fabulação?

Uma outra emoção: Neves optou por filmar na sua terra natal, Diamantina, em Minas Gerais. Pois a cidade foi o cenário perfeito para uma história tão intimista. Houve lugar para um elogio discreto ao jeito mineiro de ser: logo na primeira cena, Renato (Arduíno Colasanti) questiona Rosa (Adriana Prieto), quando vai buscá-la em casa, acerca do porquê ela teria se arrumado toda se iam apenas "ver uns filminhos", sugerindo que essa atitude era mesmo muito mineira. Também o colégio em que Rosa e Helena (Rosa Maria Penna) estudam, por exemplo, ficou perfeito na tela: com seu pórtico azul, por onde passam por baixo as estudantes em seus uniformes. Até as ruínas do lago artificial que Xica da Silva teria feito – para andar de barco e matar as saudades das viagens marítimas – aparecem equilibradamente apresentadas de modo irônico, sugerindo contradições há muito arraigadas na cultura brasileira.

Renato (Arduíno Colasanti) e Rosa (Adriana Prieto)
Renato e Rosa buscam ver os filminhos que Helena tinha o hábito de fazer e pelos quais nos dá a conhecer seus gatos, as galinhas do quintal, os jardins. Também neles aparecem as velhas tias, a mãe, as empregadas, a própria amiga íntima, os namorados. 

Além disso, o casal devassa o diário da moça. Buscam, assim, compreender sua personalidade, suas atitudes. Tal busca nunca será alcançada completamente, pois Helena  não é pessoa fácil de se entender. Aliás, ninguém que seja depressivo ao extremo pode ser facilmente compreendido, vamos combinar.

Contudo, entende-se que ela é uma pessoa fascinante e seu fascínio se faz por seus silêncios, gestos, por seu modo de ser, é toda inteira e apenas não se compreende a si própria, embora pareça compreender tão bem aos outros, com quem, no entanto, não consegue estabelecer relação que seja de entrega. Ela só se entrega ao obscuro, ao desconhecido, ao seu fundo do poço.

Apesar disso tudo, o filme é um filme solar. A luz é muito cuidada, constituindo uma fotografia magnífica e que tem entre suas assinaturas, a de David Drew Zingg. Toda a equipe concordava em acordar muito cedo para rodar as cenas externas: assim sendo, a luz daquelas manhãs tomam conta da tela; a própria luz radiosa de Rosa, loira e linda; ou de Renato, outro loiro. Toda essa iluminação se contrapõe à beleza da pele morena e dos olhos e cabelos negros de Helena, dela que não se encontra bem em lugar algum: nem na luz mais artificial da capital do Rio de Janeiro, nem na luz natural que banha os quintais de Diamantina.

O figurino, então, daria toda uma análise particular. Sendo um filme de baixo orçamento, as moças devem ter usado as próprias roupas. Mas elas trocam de vestido o tempo todo e um é mais bonito do que o outro. O diretor permitiu que essa troca de roupa fosse também ela um marcador do tempo que passa ou das circunstâncias cotidianas que se repetem. Ora Rosa veste um vestido de Helena, ora Helena está com o mesmo vestido. Em uma cena, o diálogo entre a protagonista e o namorado se inicia quando ela está vestida de uma determinada cor e, quando termina, ela deixa o ambiente vestindo outra e isso não parece ser um erro de continuidade, apenas a marca da repetição de experiências fracassadas no discurso e que se dá em diferentes momentos, algo que, sem dúvida, um depressivo também sentiria com intensidade no seu cotidiano.


O filme é ainda pleno de referências aos clássicos do cinema nacional. Temos referência ao trabalho do pioneiro Humberto Mauro, por quem Neves tinha admiração e que aparece no próprio filme, já velhinho: ele é o tio Mauro (que colaborava nos filminhos P&B de Helena, sua sobrinha). Podemos ver inclusive referências ao próprio Mário Peixoto: nas cenas dos riachos, córregos e lagos, com maior nitidez. Notamos, por fim, a marca de Bressane: há uma cena típica desse diretor e que sempre gostou de filmar as copas das árvores. Ele, aliás, trabalhou como um dos produtores do filme.

Tenho que fazer uma observação relativa à beleza de Rosa: ela é encantadora! Interpretada por Adriana Prieto - atriz que morreu muito jovem, aos 25 anos, mas que passou pelo cinema nacional como um cometa radiante - tal personagem é deliciosa, pois sua atuação é bastante graciosa e faz um contraponto perfeito ao tipo psicológico de Helena, mais sombrio e contido.

O roteiro foi escrito por Paulo Emílio Salles Gomes, a partir do argumento escrito apressadamente por Neves. Paulo Emílio o desenvolve, aprofundando aqui, tornando-o mais leve ali, mas sempre inspirado nos diários de Helena Morney – pseudônimo de Alice Dayrell, diamantinense, filha de ingleses, e que viveu ali no século XIX.

Por tudo isso, eu espero que um dia o Brasil reconheça com mais vigor esse tipo de joia do cinema nacional. Afinal, esse é um filme um tanto esquecido e mesmo desconhecido por muitos de nós. Assim sendo, fiz questão de citá-lo nesse meu blog, que é um acervo da minha memória de observador e, como sempre, espero com isso motivar outras pessoas a que conheçam tal preciosidade.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

To Resolve Project

Chris Streger nos conta no seu site To Resolve Project que pensou desenvolver esse projeto quando, há alguns anos, conversando com a então namorada Amy Kirby Streger, com quem agora é casado, ambos perceberam que o destino das listas de resoluções de ano novo sempre é o fundo escuro de alguma gaveta e, assim, elas nunca mais veem a luz do dia.

Então, ele decidiu pedir para alguns designers gráficos que ele conhecia que fizessem trabalhos com esse tema e que pudessem ser utilizados como fundo de tela de um i-Phone.

Desde então, ele tem renovado o projeto a cada ano. 

Este ano, o projeto está de volta e eu achei tudo muito criativo e verdadeiro.

Streger nos pergunta: algumas dessas resoluções não atenderiam suas necessidades? Assim sendo, ele nos sugere que baixemos à vontade aquela(s) que nos sirva(m) e, sobretudo, que "sujemos as mãos", ou seja, tomemos de fato tal resolução. ;-)

Eu baixei para cá as que mais combinam comigo. A do cachorrinho não valeria no meu caso, pois eu só tenho uma gatinha, mas vamos combinar que a arte está linda e que para quem tem cachorro essa é uma excelente resolução (ops obrigação!): levar o pet para passear os 365 dias do ano.

Enjoy it!

by Camilla Coates

by Justin Mezzell

by Greta Ackerman

Find your next destination by Michael Mesker

by Aaron Eiland

by Kelsey Spencer

               by  Jason Hines

by Julieta Felix

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Hans Findling

Eu gosto do registro fotográfico de escadas, porque este é um objeto estético por excelência, além de muito ambíguo. Afinal, quem olha uma escada só pode pensar em dois movimentos possíveis: subir ou descer pela escada.

Subir, embora seja um exercício mais penoso, assegura o prêmio de poder abarcar tudo do alto, tendo uma visão mais ampla, abrangente, geral.

Quando descemos, chegamos ao nível do chão, é quando sentimos que podemos recomeçar: tudo é possível a partir disso.

Essas imagens eu descobri navegando na web.
Ela foram produzidas por um fotográfo alemão muito jovem.
Hans Findling é ainda um adolescente, tem 16 anos, e começou a fotografar há 2 anos apenas, desde 2010.

Ele é muito talentoso, não é mesmo?








terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Relendo Brontë


Eu sempre tive a dádiva de em momentos de desalento poder ler. A literatura sempre me salvou. Quando mais jovem, minhas crises eram mais constantes e essa espécie de bálsamo que eu encontro até hoje nos textos literários, então, eu tinha mais urgência em sorvê-lo.

Em geral sentimos assim quando há um prazer renovado na relação que estabelecemos com esses textos que dizem tanto de nós, não dizendo exatamente nada de concreto acerca de ninguém a não ser, quiça, de seu autor, mas apenas após a sua experiência ter sido coberta com este véu da abstração com o qual o fazer artístico cobre o que é da ordem do pessoal e indiviso.

Evidentemente, isso acontece mais amiúde - tal componente  realmente salvador que toda leitura tem - quando notamos aquele prazer que surge por ocorrer uma perfeita coincidência de gostos, sentimentos e princípios e que a obra, ou autor, ou as personagens em questão manifestam.

Estou relendo Jane Eyre, de Charlote Brontë – ganhei o livro de uma amiga querida no meu aniversário e, embora eu já o lera em inglês, acho que é sempre bom ler também uma boa tradução.  Assim sendo, vou reproduzir aqui uma passagem do romance. Nela sinto que aconteceu tudo isso que eu falava mais acima e um pouco mais.

Durante a leitura, passagens assim me comovem porque são parte de mim. No sentido de que a coincidência é plena daquele gosto a que chamo bom gosto, bem como dos bons sentimentos e mesmo princípios, sobretudo em relação ao que deve ser exaltado e louvado na minha opinião e evidentemente também na opinião da própria Brontë, autora da mensagem. ;-)

Enjoy it!

Miss Temple tinha sempre um ar de serenidade no porte,de nobreza no semblante, de refinada precisão na linguagem, que impedia o ardor excessivo. Um controlado senso de reverência que dava prazer aos que a ouviam. Era o que eu sentia naquele momento. Mas fiquei paralisada de espanto com Helen Burns.
A saborosa refeição, o fogo brilhante, a beleza e a bondade de nossa amada professora ou, talvez, mais do que essas coisas juntas, alguma virtude da sua mente única, despertou-lhe  as energias. E essas energias se agitavam. Primeiro, surgiram na brilhante cor de sua face, que até agora eu só vira pálida e exangue. Depois brilharam nos seus olhos, que adquiriram uma beleza ainda mais singular que os de Miss Temple. Uma beleza que não repousava na cor da pele, nem nos longos cílios, nem nas sobrancelhas, mas na intenção, no movimento e na vivacidade. Depois foi a alma que pousou nos lábios e as palavras fluíram, não sei dizer de qual fonte. Como pode uma menina de quatorze anos ter um coração grande e vigoroso o suficiente para manter a mais pura, vívida e fervente eloquência? Tal era a característica das palavras de Helen nessa noite, para mim, memorável. Seu espírito parecia ávido por viver, num breve espaço de tempo, mais do que muitos vivem durante uma prolongada existência.
by Paul Chin
Elas falaram de coisas que eu nunca ouvira. De povos e eras passadas. De países distantes. De segredos da natureza, conhecidos ou suspeitados. Falaram de livros, e quantos elas haviam lido! Quanto conhecimento acumulado possuíam! Pareciam tão familiarizadas com palavras e autores franceses! Mas o meu espanto chegou ao máximo quando ouvi Miss Temple perguntar se Helen às vezes dedicava um tempo a recordar o latim que o pai lhe ensinara. Pegando um livro da estante pediu-lhe que lesse um trecho de Virgílio, Helen obedeceu, e meu assombro crescia a cada linha. Mal tinha terminado quando soou o sino anunciando a hora de dormir. Ali não se admitiam atrasos. Miss Temple abraçou-nos e disse, do fundo do coração:
- Deus as abençoe, crianças.

(Charlote Brontë. Jane Eyre. trad. Doris Goettems. São Paulo: Ed. Landmark, 2010, p. 56-57)