terça-feira, 28 de setembro de 2010

Michelangelo Pistoletto

Ontem, quando cheguei em casa, descobri, pela web, uma galeria de Viena chamada Galerie Mezzanin. E, dentre os artistas que estão com trabalhos expostos na Galeria, descobri Michelangelo Pistoletto, cujo trabalho chamou-me especialmente a atenção. Isso se deu por que quando vi as primeiras imagens pensei que fossem quadros pintados em tela convencional, no entanto, isso ocorreu quando vira somente o primeiro, uma vez que as paredes da galeria são brancas e parecia, portanto, uma tela branca na qual se pintara as grades de uma cerca e um aviso de "Danger" no seu centro.
No entanto, notei que era possível ver que as imagens se comunicavam entre os quadros, ou seja, que dependendo do ângulo em que os quadros foram fotografados, vemos o reflexo de um quadro no outro. Então, pensei, claro são espelhos!
No texto que apresenta o artista, fiquei sabendo que ele é um dos mais influentes do século XX e que fez aquela série de trabalhos expostos ali, especialmente para a galeria, mas que ela foi inspirada nas suas pinturas em espelhos, um projeto que se originou na década de 60.
Na verdade, ele é um ícone do que se chamou, na Itália, de Arte Povera (ao pé da letra “arte pobre”). Trata-se de um movimento que preconizou, na pintura, a utilização de materiais não convencionais como areia, madeira, sacos, jornais, cordas, terra, e trapos... desejando, com isso, "empobrecer" a pintura e, assim, eliminar quaisquer barreiras entre a arte e o dia a dia das pessoas. Foi nesse período, que Pistoletto produziu seus primeiros trabalhos no espelho, ou ainda, essa Venus of the Rags, 1967, ("Venus dos Trapos"), aí ao lado.
Essa nova série de pinturas no espelho, da Galerie Mezzanin, eu achei incrível. No quadro que temos a cerca, o observador necessariamente estará do outro lado dela! Ou quando vemos o jovem atirando a pedra, somos ao mesmo tempo testemunha dessa ação e impotentes, o mesmo ocorre quando vemos a jovem socorrendo um outro que foi ferido, estaremos observando a cena, de dentro dela, mas sem poder interferir, ou mesmo quando estivermos espiando por sobre os ombros do grupo de manifestantes (que estão de costas) e sem sabermos qual é a causa que perseguem, uma vez que o cartaz que empunham também está sendo visto do verso, e nós estaremos de encontro ao grupo... Isso sem contar com o fato de a bandeira da paz ser também a do arco-íris (para além da causa gay, sempre achei que arco-íris é paz).
Há no texto de apresentação do artista no site da galeria e que li em inglês, uma passagem em que o próprio Pistoletto faz uma reflexão acerca desse trabalho:

Eu acredito que a primeira experiência figurativa real do homem é o reconhecimento de sua própria imagem no espelho: a ficção na qual ele chega mais perto da realidade. Mas isso não dura muito tempo até que o reflexo comece a reenviá-lo às mesmas incógnitas, às mesmas questões, aos mesmos problemas, como a realidade em si mesma: incógnitas e questões, pelas quais o homem é impelido a repropor-se na forma de imagens. (...) Estética e realidade talvez se idenfiquem mutuamente; mas cada uma permanece dentro de sua própria autonomia vital.

Pistoletto tem, ainda, na sua cidade natal, Biella, um projeto chamado Cittadellarte, que acontece no amplo espaço das instalações de uma antiga tecelagem e que é marcado pela interdisciplinaridade e pelo apoio a jovens artistas, à jovem arte. Por fim, também descobri que, proximamente, de novembro de 2010 a janeiro de 2011, acontecerá uma Retrospectiva do artista no Philadelphia Museum of Art.



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Vamos elevar a alma para alcançar a de André Abujamra!

Eu sou fã de André Abujamra. E, ontem, vi que estava passando, na TV Cultura, o programa Ensaio e... era com ele.
Acho sensacional ele ser um cara com aquela presença de ator shakespeareano, com cara de rei nórdico, uns olhos imensos e verdes, mas que, quando canta... é também um garoto, menino mesmo e demonstra o que ele é completamente: uma Alma boa!
Suas composições são sempre de uma verdade sem igual porque ela reside na alegria. Aliás, esse é o nome do seu último trabalho, MAFARO. Ele diz que tal palavra quer dizer alegria na língua do Zimbabwe. rsrsrs
Desde Os mulheres negras, e depois na banda Karnac, e até agora, quando está no seu terceiro álbum solo, o que podemos ouvir vindo da sua cabeça e do seu coração são essas composições que ensinam as pessoas a serem gente boa como ele próprio é gente boa. ;-)
No programa, eu gostei de ouvir ele falando tudo o que falou, of course.

Mas achei ainda mais incrível a passagem em que ele comentou que o pai (o ator Antônio Abujamra) lhe dissera que ele fazia músicas muito intelectualizadas e que ele deveria, portanto, fazer uma música que todo mundo entendesse, uma música de amor... Ele não estava namorando e pensou: como eu vou fazer uma música para quem eu não conheço? É isso... vou fazer uma música de amor para quem eu ainda não conheço. E fez a música Elevador! Aliás, ele cantou a música para sua atual esposa, depois que ele a conheceu, e ela se apaixonou! ;-)
O mais engraçado dessa história é que a música não é do tipo que a maioria das pessoas pudesse compreender como uma música de amor... rsrsrs
A verdade é que quem vive, pensa e sonha diferente é diferente. Simples assim.
Salve essa diferença da alma que não tem cor. Salve Abujamra!

Há sete meses atrás, victorsabbag postou no Youtube esse vídeo que ele próprio, provavelmente, gravou em um show do artista. Vejam se a música Elevador não é mesmo ótima!



Elevador
Composição: André Abujamra

Essa Canção é pra você
Mesmo antes de eu te conhecer

Será que a gente já se cruzou
Eu agachei você passou
Desci no 7 você subiu no 8
No mesmo elevador

Será que a gente mora perto?
Será que a gente mora longe?
Onde você está?
Por que você se esconde?

Essa pausa é natural
Coração pequeninim
Como será que se é
Eu te espero junto a mim
Eu sei que você existe
Por isso não estou triste
E posso até esperar meu amor
Que quando for eu vou saber
Quem é você

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Salve Beethoven! Salve Heliópolis!

Eu tenho verdadeira paixão por essa Sinfônica. E, agora, eles estão virando gente grande de verdade! Pela primeira vez, os jovens da Sinfônica Heliópolis, integrantes do Instituto Baccarelli (instituição que oferece formação musical para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social), vão se apresentar no tradicional Festival Beethovenfest, em Bonn, na Alemanha.
Quer saber acerca da emoção e também da importância que essa oportunidade representa para esses jovens? Então, leia a reportagem de Rita Alves, no DCultura do Diário do Comércio. A jornalista foi conversar com os jovens da orquestra e também com o maestro responsável por todo o trabalho junto à Sinfônica: Roberto Tibiriçá.
Um jovem afirmou, nessa reportagem, algo que eu também acredito, quando o assunto é música erudita: "Música erudita é assim, as pessoas vão gostando aos poucos. A melhor coisa a se fazer é levar alguém para assistir a uma orquestra e sentir a vibração. Assim ela vai gostando, aprendendo, pesquisando e quando vê, já está apaixonada". Não deixe de ler a reportagem no link acima! Sobretudo, se você for como eu, pois eu choro de emoção quando vejo gente jovem tendo oportunidade, descobrindo seu talento e alimentando sonho e esperança. Salve Heliópolis! Salve Beethoven! \o/

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Conversa com a mãe de um alcoólatra

Toda mãe sempre se preocupa com os filhos. É um fato. Graças a Deus! Eu conheço uma mãe que porque sofreu muito com o alcoolismo do falecido marido, também se preocupa demasiadamente com um de seus filhos, que parece andar pela mesma trilha do pai.
Eu, à guisa de confortá-la, disse-lhe que devemos rezar pela pessoa em questão, mas disse também a ela que mais do isso nada poderemos fazer.
Afinal, só fazemos o mal (inclusive o mal que fazemos a nós mesmos) por egoísmo e por orgulho. Beber em excesso é sempre um mal, uma vez que a pessoa fica fora de si. Se isso resulta em um suposto prazer e aquele que bebe só consegue ver nisso o tal prazer, penso que ele está sendo vítima do seu próprio egoísmo. Afinal, ele não vê que seus atos de bêbado aborrecem a todos os outros? E, nessa mesma fonte do egoísmo, vem beber o sentimento do orgulho – são ambos companheiros inseparáveis. Se não posso ver o monstro no qual o excesso de bebida pode me transformar é porque sou orgulhoso: talvez eu não queira me envergonhar perante a mim mesmo...
Nada disso adianta: sem regeneração o pobre bêbado está fadado a ser condenado pelo seu egoísmo e orgulho. Como, aliás, todo aquele que se entrega a tais sentimentos. É triste, mas é isso.
Ah, eu também, disse outra coisa para a mãe. Não devemos julgá-lo em demasia, não é mesmo? Afinal, todos nós já vivemos as consequências desses mesmos defeitos, ainda que possamos não ter canalizado seus sintomas em direção ao alcoolismo. O egoísmo e o orgulho mascaram-se de todas as formas. Assim sendo, o ideal é ter paciência com esse filho e rezar por ele, esperando que ele próprio se canse de sofrer. Portanto, temos que ter confiança. Sempre acabamos por aprender. Aliás, como eu já ouvi do meu anjo da guarda:

O mal não é uma necessidade fatal para ninguém, e não parece irresistível senão àqueles que a ele se abandonam com satisfação. Se temos vontade de fazê-lo, podemos ter também a de fazer o bem.

Por isso, mãe, é que temos que rezar e pedir a Deus para resistir a tudo que nos faça mal, não é mesmo?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Shira Sella

Eu, ontem, encontrei esses trabalhos da ilustradora Shira Sella, que também é designer e mora em Montreal, no Canadá. Ela tem um website no qual está exposto todo o seu belíssimo trabalho. Ela diz trabalhar tanto com os recursos tradicionais, como com os meios digitais, e ama usar tintas, grafite e pastel, além de softwares próprios para ilustração.
O trabalho de Shira pode ser encontrado em galerias e boutiques dos EUA, Canadá, Austrália, Reino Unido e também on-line. Você pode inclusive comprá-los. Eu queria um para mim. ;-)

Vendo essas garotas de suas ilustrações, eu lembrei-me das brincadeiras da própria infância que eu vivi. Essa coisa de calçar sapatos dos adultos, de riscar o chão ou curtir balões e afins. rsrsrs



































































segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Li um grande garoto: Nick Hornby

Na sexta feira passada, uma amiga querida emprestou-me um livro dizendo: esse autor é muuuuuuito booooooom. Ele é um jornalista inglês e que escreveu Alta fidelidade, que virou filme e tem um filme desse livro aqui também: O grande garoto (About a Boy, no original). Ela estava falando de Nick Hornby. Já, na orelha do livro, não escreveram que ele é jornalista, mas que nasceu em 1957 e que trabalhava como professor antes de tornar-se escritor em tempo integral, que escreveu Pique febril, um ensaio memorialístico sobre as torcidas de futebol, e Alta fidelidade, seu primeiro romance já publicado também pela Rocco (como esse que eu li), e que obtiveram sucesso absoluto de público e crítica. Somos informados também que o autor mora na zona norte de Londres.
No começo, eu não estava gostando de uma das personagens, o Will Freeman, um homem de 36 anos que não faz nada da vida, pois vive de rendimentos de uma famosa canção que o seu pai compusera. Mas era puro preconceito meu. Depois, você entende que ele é uma personagem muito importante para o conjunto da história e que ele tem aquela característica humana peculiar às boas personagens de romance: ele se transforma e isso porque tinha tudo dentro de si para transformar-se. Para tanto, só faltava mesmo a ele encontrar Marcus, o garoto de 12 anos que é o “grande garoto” do título. É claro que o livro nos ensina que todo mundo é “garoto”, no final das contas. O que está em questão é que somos todos kids e isso foi o mais agradável de descobrir, ao sermos auxiliados pelos comportamentos tocantes da miríade de personagens com as quais convivemos durante a leitura do livro.
Ontem, enquanto eu lia o livro no meu quarto, eu dava imensas gargalhadas, a ponto de chorar de rir. (minha mãe teve que ir até meu quarto para saber o que estava acontecendo, imaginem!). Essa é uma qualidade absolutamente difícil de se ver em um romance sério: fazer a gente rir. O humor é aquele mesmo que podemos esperar de um escritor britânico, é o humor absolutamente inglês. E que eu adoro!
Vou reproduzir aqui um dos trechos que me fizeram gargalhar. Nesse caso, é óbvio que é preciso considerar que a essa altura você tem bastante intimidade com as personagens, lá pela página 166, mas penso que leitores sensíveis poderão compreender tudo, porque o tom da prosa é por si só revelador.
Apenas para que entendam o contexto: É véspera de Natal e Will foi convidado pelo garoto, Marcus, a passar o natal na casa dele. Estão reunidos a mãe do garoto (Fiona), o ex-marido e pai do garoto (Clive), sua atual esposa (Lindsey), e a sua sogra. Chegam uma amiga da mãe do garoto (Suzie), com sua filhinha e que conhecera Will, quando ele estava fingindo ser pai solteiro para conquistar mães solteiras num grupo de apoio a pais solteiros. rsrsrs A garotinha pega um presente na árvore e o entrega ao Will, que estava constrangido com a presença de Suzie – era a primeira vez que eles se viam depois que sua mentira fora desmascarada:

- Brinca com ela – disse Suzie – Meu Deus, dá para ver quem não tem filhos aqui.
- Vamos fazer o seguinte – disse Will – Você brinca com ela – jogou o brinquedo para Suzie. – Já que eu sou tão ignorante.
- Talvez você pudesse ser menos ignorante – disse Suzie.
- Para quê?
- Eu diria que no seu campo profissional talvez fosse vantajoso saber brincar com crianças.
- Qual é o seu campo profissional? – perguntou Lindsey educadamente, como se aquilo fosse uma conversa normal entre um grupo normal de pessoas.
- Ele não faz nada – disse Marcus – O pai dele compôs uma música de Natal de sucesso e ele ganha um milhão de libras por minuto.
- Ele finge que tem um filho a fim de frequentar grupos de pais solteiros e cantar mães solteiras – disse Suzie.
- É, mas ele não é pago por isso. – disse Marcus.
Will levantou-se novamente, mas desta vez não se sentou de novo.
- Obrigado pelo almoço e tudo o mais – disse ele. – Estou indo.
- A Suzie tem o direito de expressar a raiva dela, Will – disse Fiona.
- É, e já expressou, de modo que agora eu tenho o direito de ir para casa. – Começou a abrir caminho por entre os presentes, os copos e as pessoas em direção à porta.
- Ele é meu amigo – disse Marcus subitamente. – Fui eu que convidei ele. Eu é que devia dizer a ele quando ir para casa.
- Acho que não é bem assim que funciona esse negócio de hospitalidade – disse Will.
- Mas eu não quero que ele vá ainda – disse Marcus. – Isso não é justo. Como é que a mãe da Lindsey ainda está aqui, se ninguém convidou ela, e o meu único convidado está indo embora porque todo mundo está tratando ele mal?
- Em primeiro lugar – disse Fiona – a mãe da Lindsey é minha convidada, e aqui também é a minha casa. E nós não tratamos o Will mal. A Suzie está com raiva do Will, tem todo o direito de estar, e está dizendo isso a ele.
Marcus teve a impressão de estar numa peça teatral. Ele estava de pé, Will estava de pé, e aí Fiona também pô-se de pé; mas Lindsey, a mãe e Clive estavam enfileirados no sofá assistindo de boca aberta.
- A única coisa que ele fez foi inventar um filho durante umas duas semanas. Meu Deus. Isso não é nada. E daí? Quem se importa? A garotada da escola faz muito pior do que isso todo dia.
- O problema, Marcus, é que o Will já saiu da escola há muito tempo. Já devia ter crescido e parado de inventar gente a essa altura.
- É, mas ele se comportou melhor depois, não foi?
- Eu já posso ir? – disse Will, mas ninguém lhe deu atenção.
- Por quê? O que foi que ele fez? – perguntou Suzie.
- Ele não me queria lá no apartamento todo dia. E eu continuei indo. E ele me comprou aqueles sapatos, e pelo menos escuta quando eu digo que estou com problemas na escola.Você simplesmente dizem para eu me acostumar com isso. E ele sabia quem era o Kirk O’Bane.
- Kurt Cobain – disse Will.
- E não é como se vocês todos também nunca fizessem nada de errado, é? – disse Marcus. – Quer dizer... – Precisava tomar cuidado com aquilo. Sabia que não podia falar demais, e talvez quase nada, sobre o troço do hospital. – Quer dizer, como foi que eu conheci o Will em primeiro lugar?
- Basicamente porque você jogou uma porcaria de uma baguete na cabeça de um mareco e matou ele – disse Will.
Marcus quase não acreditou que Will tivesse mencionado aquilo naquele momento. O assunto era para ser o fato de todo mundo também fazer coisas erradas, e não que ele matara o marreco. Mas aí Suzie e Fiona começaram a rir, e Marcus percebeu que Will sabia o que estava fazendo.

Eu espero que essa passagem tenha feito você rir também! ;-)
Agora quero ver o filme, com Hugh Grant. Uma pequena curiosidade: quando eu lia a descrição da personagem Will Freeman e acompanhava sua atuação no livro, eu ficava imaginando alguém exatamente como o Hugh Grant, e nem sabia que fora ele quem vivenciara a personagem no cinema. rsrsrs

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Viva o bla, bla, bla!

Ontem, eu estava no metrô de São Paulo e o condutor do trem informava: “Próxima estação Brás, acesso à linha... Ratificando... acesso às linhas de trens da CPTM.”
Eu pensei: “Ratificando?” E uma moça, que estava na companhia de uma outra, repetiu, oralmente, meu pensamento: “Ratificando?” – Foi engraçado porque ela também fez uma cara de interrogação! Sabe como é? Aquela em que você franze a testa e entorta a boca para fazer uma pergunta, indicando uma dúvida grave? rsrsrs
A colega imediatamente respondeu: “Retífica é de motor...” Ela queria, com isso, dizer que ele não poderia ter dito retificando, porque retificar só seria empregado quando quiséssemos dizer que alguém procede à retificação de motores e peças, especialmente de automóveis.
A outra se contentou com a afirmação da amiga e as portas se abriram e ambas desembarcaram na tal estação. Eu fiquei pensando: como é bonito isso de nós seres humanos utilizarmos a linguagem verbal! A língua é tão rica e acontece uma variação tão imensa nos seus usos, que sempre teremos oportunidades, nessa seara, para aprendermos mais e mais.
Talvez o fato de a circunstância ter sido corriqueira é que me deixou um tanto emocionado: a fala de um operador de trem, a interrogação da moça, a pronta resposta da outra. Tudo se deu como uma operação linguageira das mais banais, mesmo que a metalinguagem não seja uma operação linguageira assim tão banal. A verdade é que ela ocorre amiúde na vida de qualquer falante. E, desconfio, assim tem sido para que se comprove o fato de o ser humano ter vindo a esse mundo tão somente para aprender.
Aliás, os usos da linguagem é um dos aprendizados mais ricos. Por isso também é que eu acho uma bobagem imensa quando as pessoas não curtem a tal imposição da linguagem padrão (formal e que aprendemos (ou deveríamos), sobretudo nos anos de escolarização). Do mesmo modo que é uma bobagem, também imensa, a preocupação excessiva com essa aprendizagem, como quando temos as pessoas dizendo que o brasileiro não tem cuidado com a língua portuguesa, ou que o brasileiro fala errado... portanto, quando isso vira pretexto para que ocorram os tais preconceitos linguísticos. Nada disso tem importância, uma vez que tudo isso pode ser sintoma de uma obsessão, ou seja, a obsessão pelo purismo daqueles que não compreendem ou não aceitam o uso coloquial da linguagem, bem como a obsessão pelo combate à escola, ou ao status quo.
O importante é que, para cada um, chega o momento em que se quer comunicar melhor, ou seja, aquilo que contribui para que nos entendamos também melhor, quando, por exemplo, iremos querer saber se o operador do trem estava mesmo ratificando ou retificando o erro que quase cometia no seu dever de passar uma informação precisa, ou seja, de onde se encontravam os passageiros e, portanto, do que mais poderiam encontrar ali. ;-)
Por fim, devo dizer, a verdade é que o operador do trem teria sido mais preciso se ele tivesse utilizado o verbo retificar, ou seja, tornar certo, exato; corrigir, emendar – um dos sentidos para o verbo, além de ele também poder expressar o proceder à retificação de motores e peças... Mas ele utilizou o outro verbo, ratificar, que significa confirmar a autenticidade ou a validade de; autenticar, validar. Embora, é claro (!), ele também acabou por validar a segunda informação e que disse por inteiro, ao contrário da primeira, que não seria a informação precisa e que ele abandonou para... “ratificar” essa outra. rsrsrs
De minha parte, eu sou grato a ele e às moças, que fizeram eu pensar em tudo isso. E, sobretudo, ao mistério divino que nos permitiu, a nós humanos, alçarmos à linguagem articulada, à condição de falantes e, com isso, à possibilidade de aprendermos tanto, o tempo todo! Oxalá possamos utilizar as palavras para fazermos esse exercício mesmo de aprendizagem da comunicação humana e que nos mostra que é preciso aceitar as limitações, é preciso sempre retificar... Isso é mais fácil quando cada um se permite olhar o outro com o mesmo olhar com que se olha a si mesmo, o que também é um aprendizado da virtude da humildade.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

OcaMaloca

Hoje aconteceu uma coisa ótima! Na minha hora de almoço, fui até a Galeria da Caixa Cultural na Praça da Sé. Foi uma visita cheia de surpresas.
Primeiro, porque na entrada da galeria eu, distraidamente, esbarrei em uma escultura que estava tomando a entrada. Quando eu a olhei, quem era? A portadora de perfumes de Victor Brecheret. Eu tinha batido o ombro no joelho da moça. Eu quase não acreditei! Eu sou apaixonado por essa escultura em bronze patinado, que é imensa (331,5 x 100 x 87 cm) e que data de 1923. Eu nunca tinha visto a escultura, pessoalmente, apenas por fotos. Ela pertence ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes e está na exposição itinerante Coleção de Escultura da República à contemporaneidade. Hoje, só foi possível eu ver essa, que está do lado de fora da galeria, e não as demais.
É que eu tinha ido até lá para ver a OcaMaloca , de Maria Tomaselli & João Melquíades.
E, então, outra surpresa: quando entrei no interior da OcaMaloca, dois policiais militares, estavam visitando a exposição e curtindo! E eu também entendi o porquê. É que a proposta, conta-nos Maria Tomaselli, nasceu quando ela viu uma criança tentando abrir um objeto-pintura-escultura de uma outra exposição que ela fizera. Ela conta que parecia que a criança queria entrar na obra. E então ela pensou: “Como sou burra!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Era óbvio que isso tudo levava a uma tenda, cabana, Oca!!!!!!!!!”
Ela, então, passou a criar “essa ideia do quadro sem frente nem verso, do quadro universo”.
O interessante é que ela contou com a ajuda de um pedreiro que tinha grandes habilidades de carpintaria e que bolou junto com a artista a estrutura da Oca: o João Melquíades.
É simplesmente maravilhosa a proposta. Você retorna à infância estando no interior da Oca. Quem não acharia ótimo, sendo criança ou não, abrir os cerca de 40 segredos encerrados nas caixinhas, portinhas, tampas, nichos e que cobrem as paredes do interior da Oca? Vários artistas amigos colaboraram, e são os trabalhos deles que vemos "nesses interiores" do interior da Oca, como Iberê Camargo e a artesã pernambucana Dona Dalva.
Há algo muito profano e mesmo erótico ali, mas eu diria que também há qualquer coisa de sagrado, sobretudo porque é como se você estivesse em um útero, no entanto, sem deixar de estar em... uma Maloca. Ou seja, eles construíram um lugar que é mesmo simulacro do mundo, onde a vida se encontra e a experiência humana se dá, seja ela de que natureza for: pode ser a minha, a dos policiais ou a até a de uma portadora de perfumes. ;-)
OcaMaloca acontece na Caixa Cultural, da Praça da Sé, 111, até 17 de outubro - de terça a domingo, das 9h às 21h.
Visitadas mediadas para grupos. Informações (11) 3321-4400
Entrada Franca

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Um tributo

Quando, ontem, me contaram que Claude Chabrol tinha partido desse mundo, eu fiquei tomado pela notícia porque me lembrei dos filmes que dele vira e do quanto ele e todos os cineastas da Nouvelle Vague foram importantes para a minha formação. Também pensei que, nesse ano, já nos despedimos de dois deles: Eric Rohmer e, agora, Chabrol.
Falo isso, mas de seus filmes, dos 50 e tantos filmes que ele fez, eu só vi:
Um assunto de mulheres (Une Affaire dês Femmes), de 1988;
 o genial Madame Bovary, de 1991, com “a maior atriz do mundo” - segundo o próprio Chabrol - Isabelle Ruppert;
 Negócios à Parte (Rien ne Va Plus), de 1997;
 A Teia de Chocolate (Merci pour le chocolat), de 2000.
Aqui, vale um parentêse: esse filme eu ajudei a divulgar, quando do lançamento no Brasil (eu trabalhava para a Pandora Filmes), e, portanto, posso dizer que foi graças a Chabrol que eu pude conhecer e conversar com Anna Mouglalis, muito jovem na ocasião e absolutamente fascinante.
Por fim, vi também A Comédia do Poder (L'ivresse du pouvoir), de 2006.
É pouco eu sei, mas o que é pouco quando tanto se aprende acerca da condição humana, e, claro, sobre a própria comédia humana, da qual os franceses tanto têm a nos dizer?
Sinto-me grato a esse cineasta como a tantos outros.
O curioso é que Chabrol, que, dizem, tinha fama de preguiçoso, trabalhou tanto! E essa é a vantagem mesma de ser artista, o fato de seu trabalho ser imensurável e, eu acredito, quando o artista passa a existir noutro plano, está de algum modo em vantagem, visto que deixou para trás um legado. Legado esse, que cabe a nós outros descobrir.
Nesse sentido, os artistas são aqueles que “materializam” a condição humana da imortalidade da alma, porque deixam para a história da humanidade, essa que se constrói para além deles, a prova dessa mesma imortalidade e que se figura por uma obra de inteligência sem par.
Foram 80 anos bem vividos, os anos de vida de Chabrol, porque vividos com essa inteligência que reverbera e, arrisco dizer, no caso dele também porque sempre vividos em muito boa companhia, ou seja, a de seus excelentes colaboradores, e, ao menos desde a década de 70, na companhia, sem dúvida fascinante, da atriz que ele também ajudou a revelar ao mundo. Por tudo isso é que lhe somos gratos e queremos render-lhe um tributo, ou seja,  minimamente um pensamento de solidariedade e gratidão, dirigido ao seu espírito. Afinal, ao menos temos em comum com o gênio essa condição: a de sermos todos mortais.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

I like Casiotone for the Painfully Alone

Eu estou feliz, é verdade. Constato essa realidade. É que eu deixei de ser egoísta já faz algum tempo. No entanto, como o ser humano ainda precisa aprender muito muito para virar anjo, há momentos no meio dessa felicidade toda, que fico melancólico... Hoje, passei a tarde toda melancólico.
Graças a Deus que também estava trabalhando: o trabalho é um excelente antídoto para melancolia.
Então, trabalhava e quando dava uma paradinha, aguardando mais trabalho chegar, o que acontecia? Eu ficava de novo melancólico. rsrsrs

Depois, fui fazer o meu passeio pela web e permaneci melancólico porque não via nada que me encantasse, e eu sou uma pessoa que precisa se encantar com alguma coisa, ainda mais quando estou melancólico.
;-p Quando quase desistia de buscar, descobri um artista no reino musical: Owen Ashworth. Ele nasceu na década de 70 e é de San Francisco, CA, e, desde 1997,  compõe e grava álbuns sob o nome de Casiotone for the Painfully Alone.
Depois de visitar o seu site e curtir alguns trechos de suas músicas lá disponíveis, além de também curtir as capas dos seus álbuns, fui procurar alguma coisa do artista no Youtube e achei esse vídeo que uma garota chamada Verena fez. Quando postou o video por lá ela disse:  I've made a video to the song "Lesley Gore On The T.A.M.I. Show" by the wonderful, one and only CFTPA. The girl in the video is me, by the way :-) Story of my life..

Ela não é uma fofa? Definitivamente, não há motivo para melancolia quando vemos que há pessoas que fazem de suas vidas a wonderful thing. Enjoy it. Have a nice weekend. ;-)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Aço Orgânico de Cássio Lázaro

Quando cheguei na minha mesa de trabalho, hoje pela manhã, a primeira coisa que vi foi um catálogo belíssimo, reunindo imagens das esculturas em aço de Cássio Lázaro, e que uma amiga querida me deixara.
Esse artista nascido em Minas Gerais mas radicado, desde muito cedo na vida, em São Paulo, é um escultor e que tem como matéria-prima de seus trabalhos o aço corten ou o aço inox, que ele pode escovar e desenhar a fogo.



Fui informado de que o artista é autodidata e ele mesmo cria as ferramentas que utiliza durante o seu trabalho, como marreta, prensa hidráulica e máquina de jatear para conseguir as curvas e dobras presentes nas peças além de usar, com grande equilíbrio, o envelhecimento artificial e a ferrugem precipitada no aço com fogo do maçarico.

Suas esculturas, podemos observar, são um produto intenso, de muito trabalho, no qual ele alcança leveza, singularidade e beleza.
Podemos ver nessas esculturas formas que foram absolutamente sutilizadas, abstraídas a partir de uma matéria que, sabemos, não se dobra facilmente à vontade do artista.
Sim, é visível que ele travou uma luta lenta, duradoura, delicada, e o resultado emociona o observador.

Então, é isso - dizemos diante dessa beleza - é possível tornar leve e maleável e, aparentemente, frágil o que é pesado e duro e forte.
Segundo o release que recebi, ele afirmou acerca desse trabalho que procurou caminhos que pudessem passar, para o aço, toda a sensibilidade da renda, fibra e tecido.

Portanto, é preciso também ter imaginação para observar essas peças e com elas travar um diálogo. Elas foram oferecidas ao mundo pelo artista para isso mesmo. Então, renda-se às rendas, corais ou o que mais você desejar e puder ver nos objetos plásticos e pleno de sensações, nas esculturas de Cássio Lázaro.









Exposição - Aço Orgânico de Cássio Lázaro

de 14 de setembro a 2 de outubro de 2010
Galeria de Arte André
Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1.753
segunda a sexta-feira, das 10h às 20h
sábados, das 10h às 14h

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Carine Brancowitz

Carine Brancowitz é uma artista francesa e que publica seus trabalhos em revistas, ela ilustra sobretudo editoriais de moda, mas também tem uma trabalho pessoal e que a gente pode ver lá no seu site.
Ouvi dizer que ela prefere desenhar no papel e utilizando caneta. Nada de desenhar diretamente no computador, pois, segundo Carine, nele o artista se vê a beira do fracasso durante todo o processo.
Uma amiga leu essa frase de Carine na Revista Serafina, da Folha de S.Paulo.
Achei engraçada essa declaração porque eu também senti isso quando comecei a aprender a utilizar um programa de desenho vetorizado.

A verdade é que quem tem talento como ela pode fazer essas maravilhas no papel mesmo! ;-D
Eu gostei das cores que ela emprega. Além das personagens e dos cenários.
Há uma sofisticação nesse trabalho que vem também de uma certa atmosfera criada pela atitude das personagens, talvez seja esse modo blasé de ser, e que cai bem nos franceses, e tão somente neles,
 diga-se de passagem. ;-)
O trabalho dela lembrou-me o da brasileira Fernanda Guedes. Ela também desenha com caneta no papel. Eu já vi ilustrações lindíssimas lá no seu blog.





segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A moça do Bandoneon


Ontem, aconteceu um daqueles momentos mágicos em frente à televisão, o que é sempre tão raro. Vi um documentário magnífico chamado El último Bandoneón, um filme de Alejandro Saderman. Claro, não foi em qualquer canal de televisão, mas o Canal Brasil. Mesmo sem tê-lo visto inteiramente, o que vi emocionou-me muitíssimo. Em primeiro lugar, porque amo tango. Se a argentina não fosse importante por tudo o que nos deu: Borges, Cortazar, seu cinema (eu acho tão superior ao do Brasil, de um modo geral, Deus me perdoe!),ela já o seria só por nos ter dado o tango, ou seja, uma preciosidade impar, sem igual, pois é isso que o tango é.
Pois bem, como dizia, o que vi do documentário emocionou-me enormemente. Acompanhamos a trajetória da musicista Marina Gayotto, buscando um último modelo de bandoneon – uma espécie de acordeom que foi fundamental para a sonoridade típica do tango argentino.
Uma cena linda é quando ela está no ônibus tocando o seu bandoneon velhinho e, ao terminar, antes de passar recolhendo os trocados, ela solicita uma salva de palmas para o motorista, que permitira que ela entrasse no ônibus e tocasse. Os passageiros que estavam compenetrados, ouvindo-a tocar, atendem ao pedido. Achei tudo tão alto nível de educação, não é mesmo?

Outra cena tocante é a de quando, finalmente, ela chega para participar da audição, que um renomado Maestro e Compositor de tangos, Rodolfo Mederos, está fazendo para formar uma orquestra de tango. Há um trailer do filme disponível no Youtube, então, trouxe-o para cá. Vejam que coisa impressionante. Na cena que eu comentava, ela toca lindamente, mesmo que seu bandoneon esteja todo velhinho e não se possa mais extrair dele toda a sonoridade.
O filme é todo feito de cenas comoventes. Porque é muito simplesmente a saga dessa jovem que, em determinado momento, por exemplo, nos diz que gosta de Rock e das bandas de rock na formação que tiverem, com ou sem vocalista etc., mas... “o bandoneon é outra coisa, o bandoneon fala de mim...”
Tal instrumento, ficamos sabendo, foi fabricado até as décadas de 40 e 50, e, então, não se fabricou mais, ao menos aquele modelo que ela procura: o “Doublé A”. É um instrumento raro, difícil de se encontrar para comprar. E, ela, por exemplo, conhece pessoas da “velha guarda” que tocam o instrumento, mas que não o vendem.
Trata-se de um instrumento caro, sendo tão raro, inclusive a vemos também trabalhando como garçonete: tudo isso para o "Doublé A"...
Eu não cheguei a ver todo o filme, mas tudo o que vi me encantou. Um senhor dizendo que bandoneon é uma coisa sagrada; depoimentos como o de que o tango é uma música sui generis porque é de origem popular, mas tem uma sofisticação em seus arranjos; que o tango é algo essencialmente argentino, que eles não o devem à Europa...
Já o bandoneon é uma criação alemã e que foi levado para a Argentina e, então, incorporado à música local. Eles nos dizem que o “ar” do Bandonéon é como a alma. Enfim, que o instrumento “es estremecedor”.
Enquanto Marina busca seu bandoneon, para participar da orquestra, a orquestra com os outros componentes vai se formando, e vemos também cenas dos bailarinos do tango (meu Deus, se eu soube dançar tango, estaria a meio passo do Paraíso da expressão corporal e do amor que demarca a condição humana de ser também um casal!)

Não sei quando o documentário será reprisado ou se o será, no Canal Brasil, sei que existe em DVD. El último bandoneon é um filme “estremecedor”, como o instrumento, como as suas personagens.;-D

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tolstói e Björk falam de amor

Quem acompanha esse blog sabe que eu estive lendo o romance Ana Karênina de Tolstói, e que, em determinadas passagens, não me contive de alegria e emoção e compartilhei-as por aqui. Agora, cheguei à última página e fiquei absolutamente emocionado e para sempre admirador absoluto da genialidade do romancista russo.
Tolstói contou-nos essa triste história de uma mulher para nos falar de amor, somente de amor. E não se trata tão somente do amor entre homem e mulher, mas do amor cáritas, que se revela pelo bem que façamos ao próximo.
A personagem Liêvin, marido de Kitty, é a que serve ao autor para que ele nos apresente a possibidade de viver esse amor, o que se dá pelo exercício do bem.
Ele tem como que uma epifania, depois de muito sofrer, quando compreende algo que não pode ter explicação lógica ou racional e essa descoberta, ele nos prova, é antes de mais nada possível quando agimos segundo o bem.
Não é preciso explicar tal descoberta aos outros, basta agir de acordo com essa disposição moral e essencial para viver no amor.
Compartilho essa passagem do romance de Tolstói e também um vídeo de Björk que um amigo compartilhou, por sua vez, ontem, pelo facebook. Acho que tanto o texto de Tolstói como o vídeo de Björk estão falando da mesma coisa. Não estranhem, por favor, mas eu sempre estabeleço relações entre coisas que, aparentemente, não teriam nada a ver uma com a outra! ;-D

“Eu bem sei que as estrelas não caminham”, prosseguiu, notando a mudança que se operara na posição de um planeta que subia por detrás de uma bétula. “No entanto, incapaz de imaginar a rotação da Terra ao ver as estrelas mudarem de lugar, tenho razão quando digo que elas caminham. Teriam os astrônomos chegado a compreender tudo isso, teriam chegado a calcular alguma coisa, se por ventura houvessem tomado em consideração movimentos da Terra tão variados e complicados? As surpreendentes conclusões a que eles chegaram sobre a distância, o peso, o movimento e as revoluções dos corpos celestes não terão por ponto de partida os movimentos aparentes dos astros em torno da Terra imóvel, estes mesmos movimentos de que eu sou testemunha, como milhões de homens o foram e o serão durante séculos e que sempre podem vir a ser verificados? Pela mesma razão que as conclusões dos astrônomos seriam vãs e inexatas se não fossem deduzidas das observações do céu aparente, em relação a um único meridiano e a um único horizonte, também as minhas deduções metafísicas se veriam privadas de sentido se eu as não fundamentasse neste conhecimento do bem inerente ao coração de todos os homens e de que eu tive, pessoalmente, a revelação, graças ao cristianismo, e que sempre me será dado verificar na minha alma. As relações das outras crenças com Deus continuarão para mim insondáveis, e eu não tenho o direito de as perscrutar.”
- Que, pois tu ainda estás aí? – disse, de súbito, a voz de Kitty, que voltava para o salão. – Não tens nada que te preocupe? – insistiu ela, procurando ler no rosto do marido, à claridade das estrelas. Um relâmpago que atravessou o espaço entremostrou-lho sereno e feliz.

“Ela compreende-me”, pensou Liêvin, vendo-a sorrir. “E bem sabe em que eu estou pensando. Devo dizer-lho? Sim.”

No momento em que ia falar, Kitty interrompeu-o.

- Faze-me o favor, Kóstia – disse ela –, vai dar uma olhadela ao quarto do Sérgio Ivánovitch. Estará tudo em ordem? Ter-lhe-iam posto um lavatório novo? A mim custa-me ir lá.
- Está bem, vou – respondeu Liêvin, beijando-a.
“Não, é melhor calar-me”, decidiu ele, enquanto a mulher entrava no salão. “Este segredo só tem importância para mim, e palavra alguma o poderia explicar. Este novo sentimento não me modificou, não me deslumbrou, nem me tornou feliz, como eu supunha. Sucedeu a mesma coisa com o amor paternal, que não foi acompanhado de surpresa ou de deslumbramento. Devo chamar-lhe fé? Não sei. Sei apenas que me penetrou na alma através do sofrimento e nela se implantou com toda a firmeza.
Continuarei, sem dúvida, a impacientar-me com o meu cocheiro Ivan, a discutir inutilmente, a exprimir mal as minhas próprias idéias. Sentirei sempre uma barreira entre o santuário da minha alma e a alma dos outros, mesmo a da minha própria mulher. Sempre tornarei Kitty responsável dos meus terrores, arrependendo-me logo em seguida. Continuarei a rezar sem saber por que rezo. Que importa? A minha vida não estará mais à mercê dos acontecimentos, cada minuto da minha existência terá um sentido incontestável. Agora possuirá o sentido indubitável do bem que eu lhe sou capaz de infundir.”


 
It is so cut. Beautiful! Beautiful! Beautiful!
 
The Comet Song
 With our fingers we make million holes
We run and we fall into pot holes
On a mission to savor the world, oh!
We peek at the sky through tree holes


Comet! Oh, damn it!
The comet comes hurtling down
On a precious plot of earth


Like the bugs in mother's flower bed
We walk on long legs over the sea bed
On our mission to save the world, oh!
We need milk and cakes and a warm bed


Comet! Oh, damn it!
The comet comes hurtling down
On a precious plot of earth


Grey leaves are too much
For any mother to handle
A father must pull
His black hat down over the eyes

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A revolução somos nós

Hoje estou muito contente porque soube que o Sesc Pompeia vai abrigar uma importante exposição com 250 obras produzidas pelo artista alemão Joseph Beuys. 
Entre múltiplos, cartazes e vídeos, a exposição Joseph Beuys – A revolução somos nós chega ao SESC Pompeia no dia 15 de Setembro (convidados) e 16 de Setembro (público).


A primeira vez que eu ouvi falar em Beuys foi por conta da famosa escultura viva 7000 carvalhos, criada por Beuys para a Documenta 6, em Kassel.

Acho realmente revolucionária essa obra e acho comovente um artista que possa ter proferido esse tipo de discurso (em 1973):


Only on condition of a radical widening of definitions will it be possible for art and activities related to art [to] provide evidence that art is now the only evolutionary-revolutionary power. Only art is capable of dismantling the repressive effects of a senile social system that continues to totter along the deathline: to dismantle in order to build ‘A SOCIAL ORGANISM AS A WORK OF ART’… EVERY HUMAN BEING IS AN ARTIST who – from his state of freedom – the position of freedom that he experiences at first-hand – learns to determine the other positions of the TOTAL ART WORK OF THE FUTURE SOCIAL ORDER.

Gosto de tudo isso: A arte é agora o único poder revolucionário... Todo ser humano é um artista...
... aquele que experimenta uma posição de liberdade em primeira mão.

Oxalá mais pessoas possam viver esse ideal !

No release que recebi, somos também informados que:

As estratégias de comunicação usadas por Beuys para difundir suas concepções políticas dentro e fora do circuito da arte são o foco do curador Antonio d’Avossa. Os duzentos cartazes da coleção do empresário italiano Luigi Bonotto anunciam ações e mostras nos principais museus, galerias e festivais da Europa e da América, mas também as pretensões do partido Verde alemão, ao qual Beuys pertenceu; encontros para debater a revitalização da agricultura na Itália; e slogans como A revolução somos nós e Arte=Capital.


A exposição será acompanhada por uma ampla programação educativa, que inclui um Seminário Internacional sobre Joseph Beuys.
No dia 18.9, às 10h, o curador, realizadores e participantes do Seminário plantam sete quaresmeiras no SESC Pompeia: achei bacana essa alusão concreta àquela obra dos 7000 Carvalhos...
Joseph Beuys – A revolução somos nós ocupa o Galpão do SESC Pompeia até 28.11.
No dia 13.12, começa temporada no Museu de Arte Moderna da Bahia.

Imperdível!                                                                         




Continuation in New York of Beuys' 7000 oaks project.