quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Happy New Year!

Conheça o trabalho de Lisa Rodden.

Quero encerrar o ano por aqui, desejando a todos esta capacidade de desenvolver uma paciente e delicada e atenta ação pessoal e que resulta em beleza, ou seja, tal qual nesse trabalho lindíssimo de papercutting!

Assim sendo, happy new year!








sábado, 22 de dezembro de 2012

L'ange qui rit


Os anjos são mesmo seres verdadeiros e que expressam a Verdade.

É claro que quando penso em Verdade, ao menos em relação aos seres angelicais, considero que talvez possamos entendê-la tal como ouvi uma sua possível descrição ainda nessa manhã, quando o músico e ator Arrigo Barnabé – ele tem um programa admirável na rádio Cultura FM, o Supertônica –, citando Novalis, transmitiu sua mensagem de fim de ano aos ouvintes:

A poesia é o autêntico real absoluto, quanto mais poético mais verdadeiro.

Por conta disso, mesmo que os antigos tenham criado toda uma iconografia em torno dessa personagem celestial, na qual podemos ver anjos de espada em punho, alguns mais severos e outros de semblantes mais ou menos graves ou basicamente piedosos, ainda assim, gosto de pensar na companhia amiga, por exemplo, do meu anjo da guarda, em que ele se apresenta a mim de um modo muito particular,como também desejo manter meu relacionamento com esse celestial amigo.

Assim sendo, imagino meu anjo da guarda – e se eu tivesse a capacidade mística de vê-lo tenho certeza que seria assim mesmo que eu o veria – com o semblante semelhante ao daquele que se encontra no pórtico da Catedral de Notre-Dame de Reims: um anjo que sorri!

É por isso que, parafraseando o belo axioma do poeta e filósofo alemão, eu então diria que os anjos são verdadeiros, porque são seres plenos de poesia.

E, como a tradição cristã nos diz que o anjo da guarda é aquele designado para nos acompanhar em todos os momentos da nossa existência neste planeta, é compreensível que ele seja alguém que naturalmente possa sorrir e, sendo assim, os motivos de seu riso serão os mais variados.

Rêves de couleurs (2011), de Michel Quesne e Hélène Richard da Société Skerto
projeção que ocorreu durante as festividades em torno do aniversário de 800 anos da Catedral. 
A projeção buscou restaurar por minutos, as cores vivas e alegres que a Catedral e suas estátuas 
possuíam na Idade Média e que desapareceram em consequência da ação do tempo e da poluição.
Ele poderá, por exemplo, demonstrar por esse riso a natureza benévola do amigo que compreende minha pequenez e os desajustes a que estou sujeito, encontrando-me onde ainda estou, nessa situação particular de um distanciamento exato e único, esse exatamente que demarca meu lugar em relação ao Altíssimo.

Mas, o riso do meu anjo também poderá ainda ser de alegria, pois ao me ver assim tão humílimo, por minha própria condição, ainda assim percebe que, de quando em quando, demonstro amor e carinho aos outros seres da criação.

É quando, por fim, sorri de satisfação, ao notar que vou avançando em direção a essa liberdade a que somente alçam aqueles dessa própria natureza angelical.

Seres que por possuírem asas não reclamam de distâncias e se sentem satisfeitos na sua missão de proclamarem a Verdade do amor divino, sendo expressão absoluta de poesia.




quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Abilities

by William Morris

Eu estou fortalecendo em mim o desenvolvimento, ainda que lenta e gradualmente, de algumas capacidades:

A capacidade de não se desesperar.

Embora o desespero tenha sempre sido espetacular, na vida real ele é patético e triste. Irmão gêmeo da desrazão, enfraquece qualquer desesperado, expondo-o ao torvelinho das circunstâncias demolidoras.

A capacidade de não alimentar raiva.

Embora a raiva possa acontecer com muita facilidade, sua expressão também é tola, e ainda nos coloca imediatamente frágeis diante do objeto da própria raiva, seja esse último uma porta ou uma pessoa.

A capacidade de silenciar-se em situações de conflito iminente.

Embora o combate verbal sempre conclame seus públicos, o que as pessoas querem ver é a rinha de galos e, nesse tipo de contenda, aqueles que se machucam são e-xa-ta-men-te os galos, levados para a tal rinha pela força de circunstâncias atormentadoras, em que os envolvidos todos estão cegos e emburricados.

A capacidade de fazer uma prece no lugar de alimentar o desespero, a raiva e a bulha.

Aliás, fazer isso mesmo no exato momento em que essas tristes ações seriam convocadas ou quando estariam ali latentes e, portanto, a nossa disposição, pois nesse momento é quando então se faz necessário convocar os anjos e aliados da primeira hora – o que definitivamente será mais vantajoso e benéfico do que alimentar inimizades.

by William Morris
Afinal, só temos antecipadamente uma única informação acerca de um inimigo qualquer: ele sempre irá nos solicitar aquelas mesmas provas de sentimentos espúrios das quais se nutre em relação a nós mesmos e muitas vezes em relação a todos os demais, a começar por si mesmo.

Bem, no que diz respeito a tais sentimentos, podemos simplesmente escolher no fundo do coração não senti-los em relação a ninguém.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Santa Claus is coming

Navegando pela web today, encontrei o site de um grupo liderado por Sean Ryan e Janet Burnett.
Trata-se do Studio 108 - grupo multidisciplinar de design gráfico e que está sediado nas imediações de Bath, uma cidade no cerimonioso condado de Somerset, no Sudoeste da Inglaterra, e que está situado a 97 milhas (156 km) a oeste de Londres e 13 milhas (21 km) a sudeste de Bristol.

O grupo diz ter uma vasta experiência em todas as áreas de comunicação visual, e que esta parceria tem trabalhado com uma grande variedade de empresas e organizações, desde sua formação em 1982.

O que eu mais gostei foram das ilustrações que eles fizeram com o tema natalino para um cliente norte-americano: a Minds Eye USA. Veja se eu não tenho razão em achar lindíssimo o trabalho!

Desde que eu era criança esses temas de ilustrações natalinas do hemisfério norte me encantam. ;-)














terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Quando vamos à Ópera


Hoje fui conferir à última apresentação de uma montagem operística que ficou em cartaz apenas neste final de semana no Teatro Municipal de São Paulo e que teve regência e direção musical de Jamil Maluf, direção cênica de Lívia Sabag, e direção de arte, cenários e figurinos de Fernando Anhê.

A montagem da ópera O rouxinol, de Igor Stravinsky, encerrou assim uma trilogia de inspiração fantástica concebida pelo maestro Jamil Maluf e que, portanto, já encenara outros dois títulos: João e Maria, de Engelbert Humperdinck, em 2002, e, mais recentemente, O Menino e Os Sortilégios, do compositor Maurice Ravel.

Foi encantador ver que nesta O rouxinol foi preservada a versão original em russo, com legendas, para  conservar intacta a riqueza sonora concebida por Stravinsky - segundo o que ouvi o próprio maestro dizer em uma entrevista na rádio cultura. Sabemos que foi Paulo Queiróz, tenor do Coral Lírico Municipal que domina a língua russa, o responsável pelo trabalho de pronúncia com os cantores, assessorado ainda pelos dois solistas russos convidados, a soprano Olga Trifonova e o baixo Denis Sedov, que estreiaram nos palcos brasileiros nessa montagem.

E que montagem magnífica!

Tudo era singelo e grandioso, como aliás é também o próprio conto que deu origem ao libreto. Ele é baseado no conto O rouxinol e o Imperador da China, de Hans Christian Andersen.

Apenas uma história muito profunda poderia conceber que um simples pescador fosse aquele que mais compreendesse o canto do pássaro e que também uma mulher simples - como a cozinheira do Imperador - pudesse apreciar o mesmo canto do rouxinol, um pássaro tímido, noturno e, no entanto, possuidor de um canto mavioso e que jamais se repete.

Enfim, essa mulher é quem pôde encontrar o pássaro na floresta e também é quem ajuda a levá-lo para a apreciação do Imperador.

O rouxinol, então, vive um tempo na corte do Imperador chinês, mas a abandona quando esse último recebe do Imperador do Japão um pássaro mecânico e que canta sempre a mesma cantilena.

Com o tempo, no entanto, o Imperador da China adoece profundamente. O rouxinol volta ao palácio ao saber que seu antigo amo está recebendo a visita da Morte, a qual, aliás, traz consigo um Coro de Espectros. Impressionante a cena em que tal Coro se apresenta ao Imperador como sendo suas ações passadas... a sugerir que os fantasmas - que surgem em tais momentos ao nosso redor - estão sempre ali por conta mesmo dessas ações.

A Morte, no entanto, também se apaixona pelo canto do rouxinol, e o pássaro pode, então, fazer a barganha de continuar cantando se ela devolver tudo o que tirou do Imperador, o qual - depois que a Morte abandona a cena - revigora-se com os primeiros raios de sol.

O rouxinol, por sua vez, já recusara no primeiro contato com o Imperador todos os bens materiais que lhe foram oferecidos, dizendo contentar-se com as lágrimas de emoção que via brotar nos olhos do soberano ao ouvir seu canto. Também agora, reitera essa mesma forma de pagamento: contentar-se-á com essa demonstração de emoção e promete sempre voltar para reiterá-la.

É o Espírito dos Céus o canto do pássaro. É a própria transcendência e que nos liberta da morte.

Enfim, foi uma honra e privilégio estar nessa plateia, também foi uma alegria saber que, na nossa cidade, uma montagem desse nível de elaboração artística pode acontecer e ainda com tantos talentos genuínos envolvidos. Sobretudo também, por ter sido uma rara oportunidade, pois foram apenas três dias de apresentação, totalizando quatro récitas.

Por tudo isso, eu precisava muito compartilhar por aqui essas minhas impressões, diante desse acontecimento bendito.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Da alegria de não precisar ter, pela contemplação de todos os enganos


Houve um tempo em que eu estive desempregado. Posteriormente, voltei a ser empregado de uma grande empresa. Fui admitido em agosto de determinado ano e, quando chegou dezembro, a empresa distribuiu cestas de Natal para seus funcionários, bem como um bônus alimentação, a que carinhosamente os funcionários chamavam vale-peru (o valor que o cartão do benefício continha equivalia praticamente ao valor da ave no mercado, talvez um pouco mais).

Na primeira vez em que isso se deu, lembro-me de uma alegria muito genuína que eu senti quando voltava para casa, carregando a cesta e entregando-a para minha mãe. O evento demonstrava um marco de recomeço de vida: a cesta, então, era o pão bendito, o fruto do suor do trabalho. Sim, tudo isso e um pouco mais.

Depois o tempo passou. Nos anos seguintes, tal cesta natalina virou um hábito comum dentre as rotinas de final de ano: quase que mais um expediente. Oh, vergonha dos mortais! Transformam o que é doçura no pranto em mero hábito na bonança!

Certa feita, a cesta, por algum motivo, mudou, pois a companhia optou por economizar no orçamento destinado para esse fim: os itens que vinham dentro dela tiveram sua qualidade alterada, barateada, embora ela não tenha mudado seu tamanho original. Por conta disso, vários de nós, funcionários, passamos a reclamar da mudança, portanto, já distantes daquele espírito de gratidão por estarmos empregados e recebendo os benefícios comuns a quem  vivencia essa condição.

Em tal ocasião, quando saí na rua carregando a cesta, deparei-me com um morador de rua e, imediatamente, lembrei-me da alegria que eu sentira quando ganhei aquele mimo pela primeira vez e isso também depois de algum tempo de penúria. Claro que então lamentei profundamente ter feito parte do coro dos detratores da cesta. Ao tomar o metrô, vi outros trabalhadores carregando também suas cestas: a maioria delas era ainda menor que a minha própria!

Tais cestas talvez existam para depurar na gente o caráter: você é do tipo que agradece por ter recebido um agrado (qualquer um!) ou o desmerece? Não seriam os ritos do Natal oportunidades para encetar esse tipo de reflexão? Cada gesto natalino – desde o montar a árvore, comprar o brinquedo para a criança, ter um presépio –  esses pequenos sinais solicitam da gente pensar em nosso caráter: uma avaliação da nossa capacidade de agradecer e amar, de sermos mais leves.

Certa feita, li um texto de Cecília Meireles que explicava por que São Francisco de Assis é o criador da representação tradicional do Presépio, com Maria e José cuidando do Menino na manjedoura, na companhia daqueles animaizinhos.

Trata-se de uma crônica publicada originalmente na Revista Rio, em 1946, e que integra o volume 1 da Obra em Prosa da poeta, organizada por Leodegário A. de Azevedo Filho, para a Editora Nova Fronteira. Intitulada Meditação no Presépio, reproduzo aqui tão somente o início e o final da crônica, ambos magistrais:

Quando São Francisco de Assis inventou o primeiro presépio, e falou das coisas do céu numa gruta, dizem que, ao ajoelhar-se, desceu-lhe aos braços estendidos um Menino todo de luz. O Santo Poeta colocara ali apenas umas poucas imagens: as da Sagrada Família, a do irmão jumento e a do irmão boi. O áspero cenário de pedra tinha a nudez franca da pobreza, a rispidez dos desertos do mundo, o recorte bravio dos lugares de sofrimento. Ai, o Menino de luz pode descer, porque ele vinha para ensinar caminhos difíceis, e restituir às coisas naturais da terra o sentido da sua presença na ordem universal.

(...)

E se outro São Francisco se ajoelhar na gruta rústica, o Menino virá todo em luz aos seus braços, porque só o Santo Poeta entendia dessa irmandade geral do céu e da terra, e da graça de todos os despojamentos, e da alegria de não precisar ter, pela contemplação de todos os enganos, e da leveza da vida em expressão absoluta.



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Happy end

And they lived happily ever after

Há um momento em que você modifica um tanto sua maneira de ser. 

Em geral - ao menos com a minha geração foi assim que se deu - isso só acontece lá pelo meio-dia da vida.
Após os 35 anos, quando ocorre como que uma compreensão mais atenta da própria existência e experiência. Isso permite que não haja exatamente martírio, mas algo que suscita aquela clareza de inteligência de que é possível viver qualquer penalidade sem esgares.

Afinal, já lamentamos o suficiente quando pensávamos ser apenas inocentes. Agora, no entanto, também não fazemos da culpa baluarte algum, sequer a lamentamos: buscamos muito dentro de alguma causa a sua consequência natural que é sentida e dispensada. Queremos novas aventuras.

Estou dizendo que isso tudo aconteceu comigo tardiamente, ou no meu próprio tempo de maturidade, mas saibam que conheci alguém que vive isso tudo já na infância. In-crí-vel!

Foi no último sábado, quando tive contato com um garotinho que está vivendo a vida assim mesmo, mas muito antes (ou talvez seja melhor dizer: no tempo certo para ele!)

A verdade é que o menino está sofrendo por viver sem pai nem mãe. Ou melhor, por não tê-los juntos, constituindo a sua família. Assim sendo, nosso amigo mora com o pai que, ao que me pareceu, não dá uma atenção mais detida ao próprio filho, uma vez que esse último é do tipo falante, atualizado, informado e quer expor suas reflexões acerca da própria vida o tempo todo (alguns adultos parecem não ficar à vontade, diante de uma criança com esse perfil, vamos combinar!).

O jovenzinho apenas visita a mãe, mas ela também parece estar em outra. De tudo isso resulta que temos uma criança solitária, pois vive entre duas casas e, assim, nem bem lá nem bem cá, por aí...

E foi então que, do alto de seus nove anos de idade, no último sábado, ele me disse:

- Eu acho a vida uma grande aventura, a gente nunca sabe o que vai acontecer. Parece um filme! E por isso a gente só tem uma certeza, no final, a gente vai ser feliz e vai alcançar aquilo que mais do que tudo a gente quer.

Eu que também sei das aventuras da vida e que, assim como ele, sinto que esse alcance do desejo maior é mesmo coisa muito verdadeira, emendei:

- Eu concordo com você! Acho que você tem toda razão: nós queremos e teremos isso mesmo, um happy end!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Dançar o amor

via Planet Wissen

Por vezes, costumo pensar que apenas poderiam saber acerca do sentimento presente na experiência de se dançar uma valsa tão somente os que a dançaram naquele tempo em que esse tipo de composição musical experimentou seu primeiro apogeu, fosse em Viena, fosse na Alemanha, França, Itália ou Inglaterra. 

Será mesmo que somente aqueles privilegiados poderiam compreender o tipo de enlevo aí envolvido? 

Quero tomar assim a coisa, pois esse casal, distante no tempo e espaço históricos, teria dançado a valsa quando ainda viviam compondo-as, por exemplo, os membros da família Strauss.

Segundo Ana Silvério, as composições, que lembram o que hoje é considerado a Valsa Vienense, começaram a surgir a partir da década de 70 do século XVIII, mas o marco histórico é a composição final do Segundo Ato da ópera “Una Cosa Rara”, composta por Martin y Soler em 1786, onde vários casais dançavam ao mesmo tempo. A dança não aparecia como Walzer, Waltzen ou Waltz nas partituras da ópera, mas sim como um Andante con Moto. Essa ópera, em especial essa dança, foi a grande responsável pela imensa popularidade que a Waltzen obteve nos salões de Viena nos anos 1780, espalhando-se então para o resto da Europa.

A partir daí, imagino, pode ter havido aqueles que a dançassem alheios ao movimento de absoluta cumplicidade que essa dança suscita a um casal. Deveriam, pois, existir casais que apenas a dançavam, mecanicamente, ou seja, num desperdício de tempo e de propósito.

No entanto, acredito que até hoje um casal verdadeiramente enamorado vive a dança da valsa como um momento de sublimação, embora tal traço pertença, ele também, a um jogo de sedução pelo qual se dá como que uma embriagues do sentimento. Algo completamente diferente de tudo o que possa existir fora do afeto.

Assim sendo, acredito que são eles, os afetos, que permitem a demonstração também na dança dessa eleição propriamente de sentimentos mútuos.  Seria como se por meio da valsa tais sentimentos tomassem para si uma expressão plástica que se molda, então, na atitude desses corpos de movimentarem-se com leveza e elegância sem igual. 

Evidentemente, isso acontece mesmo quando se dão aquelas voltas e rodopios arrebatadores. Aliás, por conta disso é que eles são possíveis, porque há essa condução recíproca e confiante entre os enamorados, ou seja, amor pura e simplesmente.

Burt Lancaster e Claudia Cardinale dançando uma valsa no filme ‘Il Gattopardo’,
de Luchino Visconti.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O diário de Cecília

O diário de Cecília, de Sylvia Manzano, é um livro dirigido ao público infantil, mas àquele que teria a idade da personagem que dá nome ao livro, ou seja, meninas e meninos entre 12 e 14 anos (um pouco mais ou um pouco menos).

Cecília está às vésperas do seu aniversário de 13 anos e conta nesse diário o seu dia a dia, entre a convivência com a mãe (ela é órfã de pai), com suas tias, com as(os) colegas na escola, bem como com os garotos com os quais ela "fica" e, assim, vai naturalmente descobrindo a experiência de querer bem ao mundo e de se compreender como alguém que é única e diferente de todo mundo, ou seja, exatamente como se sente todo pré-adolescente.

O prazer suplementar dessa narrativa - que permite que qualquer pessoa leia o livro com prazer - é que ela tem a força da sinceridade de quem escreve num diário trancado a chave. Embora a mãe pareça ter livre acesso ao caderno. Tudo começou como um exercício escolar: uma professora descolada foi quem sugeriu a atividade. E Cecília embarcou de cabeça nessa circunstância encantadora que é a de se escrever para o "Meu querido Diário"!

Não faltam referências culturais nessa empreitada, pois Cecília é daquelas garotas que prestam atenção a sua volta. Também não faltará aquele temperamento adolescente que pode por vezes achar a mãe e os adultos pessoas chatas. Há ainda muito riso (gargalhadas) e lágrimas: Cecília demonstra sem vergonha todas as suas emoções, que são intensas e verdadeiras.

Enquanto eu lia o livro, fiquei pensando no talento dessa autora em colocar-se no lugar dessa garotinha! Deve haver ali muito da garota que vive dentro dela, é claro, mas há sobretudo essa generosidade própria dos artistas de se colocar no lugar do outro, imaginar-se uma garota do nosso tempo e ainda ofertar esse perfil eloquente ao mundo, ou seja, permitir que tantas outras garotas possam compartilhar desse segredo feminino e humano e que se revela, afinal, como o segredo de ser feliz naquele momento em que se perde uma certa inocência, mas se ganha a inquietação acerca de tudo o que ainda está por vir. Quando pela primeira vez perguntamos seriamente: O que será que vai acontecer?

Uma pergunta que, claro, continua pela vida afora.

Ah, também fiquei muito contente em ver esse livro publicado pela Paulinas, prova de que ali há um diretiva editorial bastante antenada com seu próprio tempo. Penso que o livro de Sylvia deve ser considerado arrojado, pois fala de tudo o que é importante que seja dito para a infância do nosso tempo, na linguagem e com a atitude que são comuns às nossas crianças.

Recomendo com fervor!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Masako Kubo

Para a nossa alegria: uma ilustradora que vive entre tokyo e london e que tem uma sensibilidade deliciosa.
Quando vi seus desenhos, pensei que tinha encontrado minha cara metade.
Gosto de suas capas para livros, dos mapas, dos cartões: gosto de tudo! ;-)
Ela ilustra matérias para clientes como The Daily Telegraph / The Guardian / The Independent

Puro talento!

See more illustration work at Masako Kubo Illustration.









sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A Little Princess

Faz pouco tempo, eu descobri um outro livro de Frances Hodgson Burnett, A Little Princess. Ela é a mesma autora do livro The Secret Garden do qual eu já tive o prazer de falar a respeito aqui. Fiquei superfeliz de descobrir que eu poderia novamente adentrar nesse universo sofisticado de uma infância mágica e delicada, que a autora traz à tona, quando os bons sentimentos são exercitados com todo o frescor e vigor de uma vida quintessenciada: mais espiritualizada, portanto.

Pois bem, comprei pela internet essa versão do romance (graças a uma dica de um amigo do facebook, aliás, dois amigos sofisticados que tenho por ali conheciam a obra e fizeram coro comigo de que ela merecia ser lida!) Tal versão, na verdade, é uma adaptação assinada por Eliza Warren. Não achei, portanto, a versão originalíssima. Mas, creio que tal adaptação foi feita para aproximar essa história da linguagem das crianças de nossos dias, posto que a autora escrevia entre o final do XIX e começo do XX. A ver.

Pois saibam que eu passei um pouco de vergonha com esse livro nas mãos, durante as viagens que faço do trabalho para casa, de metrô e de trem. É que ele é tão emocionante que a gente não se furta a derramar lágrimas.

Vejam vocês se eu não tenho razão!

Trouxe abaixo um excerto de uma passagem memorável do romance. Ah, é sempre bom lembrar que a vida pode mesmo apresentar tais circunstâncias e, sim, devemos então aprender, com tais percalços, a arte de bem viver, fazendo o bem sempre! Essa é a principal lição de Mrs Burnett, of course!


As he looked across the street, he saw Sara standing on the wet pavement looking at him wistfully. He thought her eyes looked hungry because she had had nothing to eat for a long time. What Sara was really hungry for was the happy home life Guy Clarence enjoyed with his family.

However, Guy Clarence knew only that this poor girl had big eyes, a thin face and legs, and shabby clothes. So Guy put his hand in his pocket and walked right up to her.

“Here, poor little girl,” he Said. “Here is a sixpence. I would like give it to you.”

All at once Sara realized how long it had been since her father had died and Miss Minghin had banished her to the attic. She realized that she now looked exactly like the poor children she used to see in the London streets, straining for a glimpse of her, as she got into her own fancy carriage. Her face turned red and then pale. For a second she felt as if she could not accept the coin.

“Oh no!” she said. “Oh, no, thank you. I couldn’t take that.”

Her voice was so unlike that of an ordinary street child and her manner so like that of a well brought-up girl that Veronica Eustacia (whose real name was Janet) and Rosalind Gladys (who was really called Nora) leaned forward in the carriage to listen.

Guy Clarence would not take no for an aswer. Immediately, He shoved the sixpence into Sara’s hand. “Yes, you must take it,” He insisted. “You can buy a lot to eat with this. It’s a whole sixpence.”

“Thank you,” she said.  “You are very kind.”

As he scrambled happily back into his carriage, Sara went on her way, trying to smile, although she felt tears welling in her eyes. She had thought she might look Odd and disheveled, but she’s lost track of how long she’d been living up in the attic of Miss Minchin’s. Until now she hadn’t realized that she’d come to look like a beggar.

[Quando o olhar dele cruzou a rua, viu Sara em pé na calçada molhada, olhando-o melancolicamente. Ele achou que seus olhos pareciam famintos, porque ela não comia há muito. Sara, no entanto, estava realmente faminta era daquela vida feliz em um lar e que Guy Clarence desfrutava com sua família.
No entanto, Guy Clarence apenas sabia que esta pobre menina tinha olhos grandes, um rosto fino, assim como suas pernas, e roupas surradas. Então, Guy colocou a mão no bolso e caminhou até ela.

"Aqui, pobre menina," disse ele. “tenho seis tostões e quero dá-los a você.”

De repente, Sara compreendeu quão longo tempo se passara desde que seu pai tinha falecido e a senhorita Minghin a tinha banido para o sotão. Esforçando-se por vislumbrar a si, transportando-se como se vestisse uma fantasia de si mesma, ela percebeu que agora se parecia exatamente como as crianças pobres que ela costumava ver nas ruas de Londres, e que buscavam vislumbrá-la enquanto ela tomava sua própria sofisticada carruagem. Seu rosto ficou vermelho e depois pálido. Por um segundo, ela sentiu como se não pudesse aceitar a moeda.

"Oh, não!" disse. "Oh, não, obrigada. Eu não poderia aceitar."

Sua voz era tão diferente daquela comum a uma criança de rua e seu jeito tão parecido com o de uma menina bem nascida que Verônica Eustácia (cujo nome verdadeiro era Janet) e Rosalind Gladys (que na verdade era chamada de Nora) a fim de ouvi-la se inclinaram para a frente no carro.

Guy Clarence não aceitaria um não como resposta. Imediatamente, ele empurrou a moeda na mão de Sara. "Sim, você deve aceitar", insistiu. "Você pode comprar um monte de comida com isso. São seis tostões!"

“Obrigada,” disse ela. “Você é muito gentil.”

Assim como ele ao voltar para a carruagem, Sara seguiu seu caminho mexida, tentando sorrir, embora sentisse as lágrimas brotando em seus olhos. Ela achava que pudesse parecer estranha, despenteada, mas perdera a noção de quanto tempo já vivia no sótão da senhorita Minghin. Até então, não tinha percebido que pudesse ser vista como uma mendiga.]

Liesel Matthews is Sara Crewe in A Little Princess (1995)
directed by Alfonso Cuarón




segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Eu não acredito que você ainda não foi ver esta exposição!


No último feriado, dia 02 de novembro (Finados), eu fui a uma exposição belíssima!
Trata-se da mostra que acontece no Itaú Cultural, em São Paulo, e que traz um panorama completo da produção de Lygia Clark. O Itaú Cultural e a Associação Cultural "O Mundo de Lygia Clark" são as duas instituições responsáveis por esse evento.
Eu sempre soube da importância da artista brasileira, que, aliás, é muito considerada também no resto do mundo, mas eu a via de um lugar distante. Vejam só! Meu conhecimento resumia-se aos seus "bichos" e, mesmo assim, àqueles que se apresentam fixos, desde muito tempo, nos jardins do Ibirapuera ou do MAC na USP.

Pois bem, Lygia Clark: uma retrospectiva reúne uma centena de seus trabalhos, incluindo as pinturas geométricas e construtivas do início de sua carreira, e... o mais importante: passa pela fase sensorial da artista. 
Essa foi a que mais me surpreendeu e que despertou completamente minha emoção, sobretudo pelo modo como a mostra nos dá a conhecer e nos permite compreender esse estatuto de sua obra.
É que tal experiência revela um trabalho de “borderline”, envolvendo, portanto, a psicanálise e as artes plásticas. 
É essencial que você assista a um vídeo que é apresentado em uma das salas, no qual Lygia aparece falando dos objetos sensoriais que ela criava e onde podemos também assistir a uma demonstração da utilização terapêutica que ela fazia de cada um deles.

Além disso, o público tem a chance de ver, nessa retrospectiva, algumas obras inéditas e que nem sequer chegaram a ser executadas por Clark.
Mineira, de Belo Horizonte, Clark participou do movimento construtivo no Brasil, mas abandonou rótulos e escolas, quando chegou mesmo a denominar-se "não artista". Ela radicalizou conceitos e, portanto, é muito apropriado o modo como se chamava e era chamada: "propositora". 

Seu trabalho permanece importante por algo que é a essência desse trabalho e sinto que não posso denominar a isso de nenhum outro modo. A essência desse trabalho só pode ser denominada pela palavra AMOR.
Lygia Clark é puro amor.

Não deixe de ver: essa é a última semana do evento.
Exposição Lygia Clark: uma retrospectiva
Data: 01 de setembro (sábado) a 11 de novembro (domingo), sempre de quinta a domingo.
Horário: terça a sexta, de 9h às 20h. Sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h
Local: Itaú Cultural -- Avenida Paulista, 149, São Paulo, SP
Telefone: (11) 2168 1700

Visite também o Museu Virtual criado em função desse evento.







quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Amamos o poeta

Nesse dia D, remeto os leitores desse blog a um outro e que nos situa lindamente em relação ao poeta homenageado: Carlos Drummond de Andrade. ;-)
Leiam e apreciem a postagem intitulada Drummond no blog Semióticas, de José Antônio Orlando.


Poema da purificação

Carlos Drummond de Andrade

Depois de tantos combates 
o anjo bom matou o anjo mau 
e jogou seu corpo no rio.

As águas ficaram tintas 
de um sangue que não descorava 
e os peixes todos morreram.

Mas uma luz que ninguém soube 
dizer de onde tinha vindo 
apareceu para clarear o mundo, 
e outro anjo pensou a ferida 
do anjo batalhador.



sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Rebecca Clark


Rebecca Clark conseguiu o que ela chamou de "minha breve lufada de fama", em 1919, quando sua Sonata para viola empatou em primeiro lugar em um concurso promovido por Elizabeth Sprague Coolidge. Clarke viveu boa parte de sua vida nos EUA, embora ela tenha nascido e sido educada na Grã-Bretanha. Marcante pela sua paixão e energia, a música de Rebecca abrange uma gama de estilos próprios do século XX, incluindo aí o do impressionismo, o pós-romântico e o neo-clássico. Embora ela tenha escrito cerca de 100 obras (entre músicas apenas instrumentais, obras corais, peças de câmara e música para piano solo), apenas 20 dessas peças foram publicadas durante a vida da compositora, e quando ela faleceu em 1979, aos 93 anos, todas essas peças já estavam fora de catálogo.

Eu estava lendo tais informações no site da Rebecca Clark Society uma fundação que, desde o ano 2000, tem procurado resgatar sua memória e importância. Comecei a me interessar por essa compositora ontem, quando conheci  uma de suas obras: uma peça para viola e piano intitulada I’ll bid my heart be still.
Na verdade, quando eu acionei a frequência da rádio cultura FM de São Paulo no meu celular, a  música já estava tocando e eu a achei linda. Contudo, ao fim da música, quando a apresentadora do programa informou-nos: “Ouvimos de Rebecca Clark I’ll bid my heart be still” eu não guardei o nome da compositora e apenas ouvi: I will be my heart still. Por conta desse mal entendido, cheguei a postar no facebook:

Hoje, eu ouvia a rádio cultura fm de São Paulo e, quando uma peça para piano muito linda que tocava terminou, a locutora do programa anunciou o nome do compositor (que eu não registrei na memória) e o nome da peça (que eu registrei porque achei profundo): I will be my heart still! 
Imediatamente eu postei aqui [no facebook] apenas o título em inglês... foi uma postagem isolada e que quase não teve repercussão, lógico. Agora, no final do dia, é que entendo porque isso me tocou tão profundamente é que ainda estou muito longe de concretizar esse desejo, ou seja, de ser um dia meu coração! Mas, eu serei meu coração ainda! [I will be my heart still!] I hope!

Depois é que eu descobri que o título era I'll bid my heart be still (algo que, me parece, pode ser traduzido como “Eu vou oferecer o meu coração ainda”] e, além disso, também soube que Rebecca teria composto sua peça para viola e piano, em 1944, inspirada em uma antiga canção da fronteira escocesa cuja letra inclusive é bastante intensa, pois embora seja lírica e triste, ela é também um tanto épica.

Vejam se eu não tenho razão:

I'll bid my heart be still; and check each struggling sigh; and there's none e'er shall know my soul's cherished woe: when the first tears of sorrow are dry. [Eu vou oferecer o meu coração ainda, mas lutando quero ver cada suspiro, e não há ninguém ou qualquer um que possa vir a conhecer a aflição da minha alma querida: as primeiras lágrimas estarão secas então.]

They bid me cease to weep; for glory gilds his name; Ah, 'tis therefore I mourn, he can never return: to enjoy the bright noon of his fame. [Eles mandam-me parar de chorar, para que a glória doure o seu nome; Ah, eu lamento, mas  ele nunca retornará então para desfrutar do meio-dia brilhante de sua fama.]

My cheek has lost its hue; my eye grows faint and dim; but it is sweeter to die in grief's gloomy shade: than bloom for another than him. [Meu rosto se empalideceu, o meu olho se arregala débil e baço, mas é doce morrer na sombria dor da tristeza: desabrochar, de si mesmo, noutro.]

Uma moça chamada Jo Lopine canta a cappella lindamente essa canção no myspace


Já a peça de Rebecca Clarke é uma das mais curtas dentre as que a compositora compôs para viola e piano. Trata-se de uma composição simples, portanto, mas que requer  um controle impecável do arco por parte do violista e mudanças dinâmicas. Além disso, ela é muito transparente nas harmonias com o piano. 
Portanto, "simples" não quer dizer que não possa ser um desafio considerável, é claro, para ambos os músicos: violista e pianista.

Preciso dizer: É claro que eu também espero um dia oferecer meu coração. Mas isso é uma outra história... 

Vamos ouvir a música de Clark?



terça-feira, 23 de outubro de 2012

A talented artist from Croatia


O mote para vender seus lindos quadros no Etsy é este: "Illustration & hand lettering for food & life lovers."

E como são lindos os quadros de Anek!
Eu quero um na minha cozinha, você não?

Ela é uma ilustradora e designer gráfica que vive em Zagreb, na Croácia. Depois de terminar o curso de Design Gráfico, na Faculdade de Arquitetura e Escola de Design, ela nos conta que trabalhou por muitos anos nesse campo. E que, faz poucos anos, ela se voltou totalmente para o desenho. Esse, aliás, sempre foi o seu primeiro amor.

Desde então, ela está trabalhando em vários projetos de ilustração para muitos clientes em todo o mundo, os quais, em sua maioria, tratam de comida.

Anek busca fazer seus trabalhos de maneira simples, colorida, acessível. É possível observar que sua inteligência e criatividade revelam seus melhores sentimentos em relação à boa comida e ao bem-estar.

Quando ela não está criando em seu estúdio, ela diz curtir mesmo passar o máximo de tempo possível com seus filhinhos, que são dois meninos incríveis. Eles são seus melhores professores na vida, segundo ela, além de serem o motivo de inspiração para tudo o que ela faz. Good Luck Anek ♥!