sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Rebecca Clark


Rebecca Clark conseguiu o que ela chamou de "minha breve lufada de fama", em 1919, quando sua Sonata para viola empatou em primeiro lugar em um concurso promovido por Elizabeth Sprague Coolidge. Clarke viveu boa parte de sua vida nos EUA, embora ela tenha nascido e sido educada na Grã-Bretanha. Marcante pela sua paixão e energia, a música de Rebecca abrange uma gama de estilos próprios do século XX, incluindo aí o do impressionismo, o pós-romântico e o neo-clássico. Embora ela tenha escrito cerca de 100 obras (entre músicas apenas instrumentais, obras corais, peças de câmara e música para piano solo), apenas 20 dessas peças foram publicadas durante a vida da compositora, e quando ela faleceu em 1979, aos 93 anos, todas essas peças já estavam fora de catálogo.

Eu estava lendo tais informações no site da Rebecca Clark Society uma fundação que, desde o ano 2000, tem procurado resgatar sua memória e importância. Comecei a me interessar por essa compositora ontem, quando conheci  uma de suas obras: uma peça para viola e piano intitulada I’ll bid my heart be still.
Na verdade, quando eu acionei a frequência da rádio cultura FM de São Paulo no meu celular, a  música já estava tocando e eu a achei linda. Contudo, ao fim da música, quando a apresentadora do programa informou-nos: “Ouvimos de Rebecca Clark I’ll bid my heart be still” eu não guardei o nome da compositora e apenas ouvi: I will be my heart still. Por conta desse mal entendido, cheguei a postar no facebook:

Hoje, eu ouvia a rádio cultura fm de São Paulo e, quando uma peça para piano muito linda que tocava terminou, a locutora do programa anunciou o nome do compositor (que eu não registrei na memória) e o nome da peça (que eu registrei porque achei profundo): I will be my heart still! 
Imediatamente eu postei aqui [no facebook] apenas o título em inglês... foi uma postagem isolada e que quase não teve repercussão, lógico. Agora, no final do dia, é que entendo porque isso me tocou tão profundamente é que ainda estou muito longe de concretizar esse desejo, ou seja, de ser um dia meu coração! Mas, eu serei meu coração ainda! [I will be my heart still!] I hope!

Depois é que eu descobri que o título era I'll bid my heart be still (algo que, me parece, pode ser traduzido como “Eu vou oferecer o meu coração ainda”] e, além disso, também soube que Rebecca teria composto sua peça para viola e piano, em 1944, inspirada em uma antiga canção da fronteira escocesa cuja letra inclusive é bastante intensa, pois embora seja lírica e triste, ela é também um tanto épica.

Vejam se eu não tenho razão:

I'll bid my heart be still; and check each struggling sigh; and there's none e'er shall know my soul's cherished woe: when the first tears of sorrow are dry. [Eu vou oferecer o meu coração ainda, mas lutando quero ver cada suspiro, e não há ninguém ou qualquer um que possa vir a conhecer a aflição da minha alma querida: as primeiras lágrimas estarão secas então.]

They bid me cease to weep; for glory gilds his name; Ah, 'tis therefore I mourn, he can never return: to enjoy the bright noon of his fame. [Eles mandam-me parar de chorar, para que a glória doure o seu nome; Ah, eu lamento, mas  ele nunca retornará então para desfrutar do meio-dia brilhante de sua fama.]

My cheek has lost its hue; my eye grows faint and dim; but it is sweeter to die in grief's gloomy shade: than bloom for another than him. [Meu rosto se empalideceu, o meu olho se arregala débil e baço, mas é doce morrer na sombria dor da tristeza: desabrochar, de si mesmo, noutro.]

Uma moça chamada Jo Lopine canta a cappella lindamente essa canção no myspace


Já a peça de Rebecca Clarke é uma das mais curtas dentre as que a compositora compôs para viola e piano. Trata-se de uma composição simples, portanto, mas que requer  um controle impecável do arco por parte do violista e mudanças dinâmicas. Além disso, ela é muito transparente nas harmonias com o piano. 
Portanto, "simples" não quer dizer que não possa ser um desafio considerável, é claro, para ambos os músicos: violista e pianista.

Preciso dizer: É claro que eu também espero um dia oferecer meu coração. Mas isso é uma outra história... 

Vamos ouvir a música de Clark?



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