terça-feira, 16 de outubro de 2012

Love Love Love



Leio Hard Times, de Charles Dickens, enquanto viajo de trem, retornando para casa. Olho nas faces dos passageiros e identifico em cada uma seu próprio segredo. Não que eu sabia do que se trata, mas é que ele está ali: seja na face, seja no corpo. Nos rastros, nas cicatrizes ou nos vincos da face, ou seja, por onde vemos o conjunto da história da pessoa. 

Quantas pessoas! Cansadas, contentes, insatisfeitas, transitoriamente satisfeitas, sociáveis, tímidas, fechadas, jovens de espírito ou semidestruídas.

O dia termina como todos os dias: coberto de noite. Ele pede a todos o merecido descanso, uma vez que cada qual a cada dia se permite tudo sentir intensamente.

Poucos demonstram consideração ao companheiro de jornada. Mas, o trem, que corre rumo ao seu destino, como que aponta uma verdade inexorável: que a viagem de ida e volta pode ser retomada, todos os dias.

É assim que nas existências, o que hoje é sina almeja um fim e/ou finalidade.

Curiosamente, no livro em que se narra tantos sofrimentos, só grifo, em amarelo cintilante, passagens de doçura:

He looked at her with disappointment in his face, but with a respectful and patient conviction that she must be right in whatever she did. The expression was not lost upon her; she laid her hand lightl y on his arm a moment as if to thank him for it.
[Ele a olhou demonstrando em seu rosto decepção, embora com uma convicção respeitosa e paciente de que ela devia estar certa em tudo o que fez. Tal expressão não lhe passou despercebida, pois ela pousou levemente a mão em seu ombro como se para agradecê-lo por isso.]

She went, whit her neat figure and her sober womanly step, down the dark street, and He stood looking after her until she turned into one of the small houses. There was not a flutter of her coarse shawl, perhaps, but had its interest in this man’s eyes; not a tone of her voice but had its echo in his innermost heart.
[Ela foi descendo a rua escura, com seu porte elegante e em seu sóbrio passo feminino, e ele ficou vigiando-a até que ela virou em direção a uma das pequenas casas. Talvez não houvesse uma vibração em seu grosso xale, mas isso interessava aos olhos daquele homem; nenhum tom em sua voz, mas ela ecoava no mais profundo do seu coração.] (tradução livre by me)

Insisto em encontrar nos Tempos Dificeis a prova de que não falta amor, mesmo durante tais momentos. Apenas precisamos ser mais corajosos e perseverantes, como, aliás, o é essa personagem do livro: Stephen Blackpool. Tal personagem, embora em sofrimento, possui ideias seguras e bastante distantes da retórica falaciosa de certos líderes do seu tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário