segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Aqui está Nova York (Ali está São Paulo)


Que grata surpresa a leitura desse livro!

Afinal, Nova York sempre estará no nosso imaginário citadino. Se você vive em uma cidade como São Paulo – também ela uma megalópole – será inevitável fazer aproximações entre ambas.

Pois veja só: tal aproximação é absolutamente possível independentemente do fator temporal em que a vida nessas cidades seja representada! 
Sobretudo, se pensarmos no aspecto mais poético dessa possível representação. Ao menos é o que pude perceber lendo essa espécie de homenagem que o jornalista E.B. White, um dos pilares da revista The New Yorker, escreveu  no final da década de 40 e publicou  em forma de artigo na revista Holiday e, depois ainda no formato de um livrinho.
A tradução é de Ruy Castro na edição brasileira publicada pelo José Olympio Editora.


Vejam se não é possível pensar o mesmo mutatis mutandi acerca de Sampa, mesmo que ele esteja falando da realidade de uma Nova York de setenta anos atrás:

Nova York combina a dádiva da privacidade com o excitamento da participação; e, mais que a maioria das comunidades densas, logra insular o indivíduo (se ele o quiser, e quase todo mundo quer ou precisa disso) contra tudo de enorme, violento e maravilhoso que acontece a cada minuto.

(...) Para quem vem de fora, uma estada em Nova York pode ser (e com frequência é) uma sucessão de pequenos embaraços, desconfortos e desapontamentos: não entender o garçom, não saber distinguir entre uma armadilha para otários e um lugar amistoso, tomar o metrô errado, ser esbofeteado pelo motorista de ônibus por ter feito uma pergunta inocente e passar noites sem dormir porque os ruídos da cidade vazam para dentro do quarto do hotel (...) Mas não é incomum, em Nova York, encontrar os desiludidos – um jovem casal, ostensivamente de visita, quem sabe recém-casado, para quem o sonho colorido evaporou-se. A cidade foi demais para eles; pode-se vê-los, sentados e desmilinguidos, almoçando em silêncio num restaurante barato.

Mas, sem dúvida, o mais incrível foi o tom profético que essa mensagem alcançou nessa passagem (impossível não pensar no 11 de setembro):

A mudança mais sutil em Nova York refere-se a algo de que as pessoas não falam mas que está na cabeça de todo mundo. A cidade, pela primeira em sua história, ficou destrutível. Uma simples revoada de aviões pouco maiores do que gansos pode rapidamente acabar com essa ilha da fantasia, queimar as torres, desmoronar as pontes, transformar as galerias do metrô em câmaras letais, cremar milhões. A suspeita da mortalidade faz parte agora de Nova York: no som dos jatos sobre nossas cabeças, nas manchetes pretas da última edição.

E, por fim, seleciono um excerto que representa um traço de profunda delicadeza e humanidade dessa prosa:

(...) Nos cortiços há pobreza e péssima moradia, mas também uma tranquilizante sobriedade e segurança da vida familiar. Sigo para leste, ao longo do Rivington. Tudo é alegre, sujo e superlotado. As lojinhas transbordam para a calçada, deixando  apenas meia largura para os transeuntes. À luz das lâmpadas nuas, brilham melancias e peças de lingerie. As famílias fugiram dos quartos quentes dos andares superiores e vieram para a rua. Sentam-se em caixas de laranja, fumando, relaxadas, afins umas às outras. (...)

Não deixe de ler na íntegra. ;-)

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