Que grata surpresa
a leitura desse livro!
Afinal, Nova York sempre
estará no nosso imaginário citadino. Se você vive em uma cidade como São Paulo –
também ela uma megalópole – será inevitável fazer aproximações entre ambas.
Pois veja só: tal
aproximação é absolutamente possível independentemente do fator temporal em que a vida nessas cidades seja representada!
Sobretudo, se pensarmos no aspecto mais poético dessa possível representação. Ao menos é o que pude perceber lendo essa espécie de homenagem que o jornalista E.B. White, um dos
pilares da revista The New Yorker,
escreveu no final da década de 40 e
publicou em forma de artigo na revista Holiday e, depois ainda no formato de um
livrinho.
A tradução é de
Ruy Castro na edição brasileira publicada pelo José Olympio Editora.
Vejam se não é
possível pensar o mesmo mutatis mutandi acerca
de Sampa, mesmo que ele esteja falando da realidade de uma Nova York de setenta
anos atrás:
Nova York combina a dádiva da privacidade
com o excitamento da participação; e, mais que a maioria das comunidades
densas, logra insular o indivíduo (se ele o quiser, e quase todo mundo quer ou
precisa disso) contra tudo de enorme, violento e maravilhoso que acontece a
cada minuto.
(...) Para quem vem de fora, uma estada em
Nova York pode ser (e com frequência é) uma sucessão de pequenos embaraços,
desconfortos e desapontamentos: não entender o garçom, não saber distinguir
entre uma armadilha para otários e um lugar amistoso, tomar o metrô errado, ser
esbofeteado pelo motorista de ônibus por ter feito uma pergunta inocente e
passar noites sem dormir porque os ruídos da cidade vazam para dentro do quarto
do hotel (...) Mas não é incomum, em Nova York, encontrar os desiludidos – um jovem
casal, ostensivamente de visita, quem sabe recém-casado, para quem o sonho
colorido evaporou-se. A cidade foi demais para eles; pode-se vê-los, sentados e
desmilinguidos, almoçando em silêncio num restaurante barato.
Mas, sem dúvida, o
mais incrível foi o tom profético que essa mensagem alcançou nessa passagem (impossível
não pensar no 11 de setembro):
A mudança mais sutil em Nova York refere-se
a algo de que as pessoas não falam mas que está na cabeça de todo mundo. A
cidade, pela primeira em sua história, ficou destrutível. Uma simples revoada
de aviões pouco maiores do que gansos pode rapidamente acabar com essa ilha da
fantasia, queimar as torres, desmoronar as pontes, transformar as galerias do
metrô em câmaras letais, cremar milhões. A suspeita da mortalidade faz parte
agora de Nova York: no som dos jatos sobre nossas cabeças, nas manchetes
pretas da última edição.
E, por fim, seleciono um excerto que representa um traço de profunda delicadeza e humanidade dessa prosa:
(...) Nos cortiços há pobreza e péssima
moradia, mas também uma tranquilizante sobriedade e segurança da vida familiar.
Sigo para leste, ao longo do Rivington. Tudo é alegre, sujo e superlotado. As
lojinhas transbordam para a calçada, deixando
apenas meia largura para os transeuntes. À luz das lâmpadas nuas,
brilham melancias e peças de lingerie. As famílias fugiram dos quartos quentes
dos andares superiores e vieram para a rua. Sentam-se em caixas de laranja, fumando,
relaxadas, afins umas às outras. (...)
Não deixe de ler na íntegra. ;-)
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