Quem tem o hábito de “flanar” por São Paulo ou qualquer megalópole, pode
perfeitamente compreender que a riqueza da arquitetura dos arranha-céus - exposta a
todo instante diante de nossos olhos - excita febrilmente a imaginação.
Se você é fotógrafo terá, necessariamente, o olhar treinado
para ver no lugar comum a sugestão de uma cena e de um instante incomuns e,
assim sendo, aproveitará ainda mais essa provocativa liberdade que o concreto
da cidade evoca por meio das estruturas de seus edifícios.
As Naves de Luis Carlos da Silva têm essa gênese: elas
surgiram na imaginação do artista, e, então, também no espaço, desde aquele inicial diante da objetiva. Esse start é que possibilitou que, por fim, a criação desse conjunto, que reúne imagens de edifícios de São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Taguatinga (satélite de Brasília), surgisse impresso no papel e pudesse agora estar exposto nas paredes do Salão da Fotografia Consigo - 2012.
Contudo, muito antes de serem uma sugestão do olhar do fotógrafo
flâneur, elas são também uma evocação do território de fruição do estudante
de Biologia, uma vez que, no seu texto de apresentação dos trabalhos, Luiz Carlos
nos diz:
Um dos
percursos que me possibilitou chegar até as Naves foram as imagens fotomicrográficas, ou seja,
uma técnica de obtenção de imagens ampliadas por meio de lentes capazes de
observar detalhes de estruturas microscópicas. Meu fascínio pelas formas
evidenciadas por essas lentes ocorre desde a infância, quando nas aulas de
biologia via a riqueza de detalhes das estruturas de amebas ou paramécios, ou
seja, compostos celulares que podiam ser extremamente complexos em sua
simplicidade primitiva. Além disso, em todas essas organizações temos a
repetição de formas que se desdobram até chegar ao ser por inteiro. Nesse
sentido, o padrão arquitetônico das cidades desde o modernismo permite que tal
paralelo seja feito, pois a estandardização dos edifícios nos lembra dessa
repetição que é também uma condição de todos os seres, e que influencia a
criação humana em todas as áreas. No meu caso, influenciou minha fotografia.
Penso que tais
Naves evocam, sim, a vida que esteve aí desde há muito, ou seja, na unidade de
seres muito complexos mesmo que nessa estrutura primitiva, mas evocam também
a complexidade que imaginamos para a vida, em um futuro próximo, quiçá fora do
planeta. De qualquer modo, elas nos falam de nossa condição de moradores; dos
espaços que construímos para isso, e, evidentemente, da beleza que sempre será desejada, em qualquer tempo e lugar, como componente fundamental de nosso
habitat.
São da Fotografia Consigo . 2012
Mostra Fotográfica
Naves
Fotografias de Luis Carlos da Silva
Rua Conselheiro Crispiniano, 105 - 1º andar - Centro - São Paulo
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