O diário de Cecília, de Sylvia Manzano, é um livro dirigido ao público infantil, mas àquele que teria a idade da personagem que dá nome ao livro, ou seja, meninas e meninos entre 12 e 14 anos (um pouco mais ou um pouco menos).
Cecília está às vésperas do seu aniversário de 13 anos e conta nesse diário o seu dia a dia, entre a convivência com a mãe (ela é órfã de pai), com suas tias, com as(os) colegas na escola, bem como com os garotos com os quais ela "fica" e, assim, vai naturalmente descobrindo a experiência de querer bem ao mundo e de se compreender como alguém que é única e diferente de todo mundo, ou seja, exatamente como se sente todo pré-adolescente.
O prazer suplementar dessa narrativa - que permite que qualquer pessoa leia o livro com prazer - é que ela tem a força da sinceridade de quem escreve num diário trancado a chave. Embora a mãe pareça ter livre acesso ao caderno. Tudo começou como um exercício escolar: uma professora descolada foi quem sugeriu a atividade. E Cecília embarcou de cabeça nessa circunstância encantadora que é a de se escrever para o "Meu querido Diário"!
Não faltam referências culturais nessa empreitada, pois Cecília é daquelas garotas que prestam atenção a sua volta. Também não faltará aquele temperamento adolescente que pode por vezes achar a mãe e os adultos pessoas chatas. Há ainda muito riso (gargalhadas) e lágrimas: Cecília demonstra sem vergonha todas as suas emoções, que são intensas e verdadeiras.
Enquanto eu lia o livro, fiquei pensando no talento dessa autora em colocar-se no lugar dessa garotinha! Deve haver ali muito da garota que vive dentro dela, é claro, mas há sobretudo essa generosidade própria dos artistas de se colocar no lugar do outro, imaginar-se uma garota do nosso tempo e ainda ofertar esse perfil eloquente ao mundo, ou seja, permitir que tantas outras garotas possam compartilhar desse segredo feminino e humano e que se revela, afinal, como o segredo de ser feliz naquele momento em que se perde uma certa inocência, mas se ganha a inquietação acerca de tudo o que ainda está por vir. Quando pela primeira vez perguntamos seriamente: O que será que vai acontecer?
Uma pergunta que, claro, continua pela vida afora.
Ah, também fiquei muito contente em ver esse livro publicado pela Paulinas, prova de que ali há um diretiva editorial bastante antenada com seu próprio tempo. Penso que o livro de Sylvia deve ser considerado arrojado, pois fala de tudo o que é importante que seja dito para a infância do nosso tempo, na linguagem e com a atitude que são comuns às nossas crianças.
Recomendo com fervor!
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