terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Quando vamos à Ópera


Hoje fui conferir à última apresentação de uma montagem operística que ficou em cartaz apenas neste final de semana no Teatro Municipal de São Paulo e que teve regência e direção musical de Jamil Maluf, direção cênica de Lívia Sabag, e direção de arte, cenários e figurinos de Fernando Anhê.

A montagem da ópera O rouxinol, de Igor Stravinsky, encerrou assim uma trilogia de inspiração fantástica concebida pelo maestro Jamil Maluf e que, portanto, já encenara outros dois títulos: João e Maria, de Engelbert Humperdinck, em 2002, e, mais recentemente, O Menino e Os Sortilégios, do compositor Maurice Ravel.

Foi encantador ver que nesta O rouxinol foi preservada a versão original em russo, com legendas, para  conservar intacta a riqueza sonora concebida por Stravinsky - segundo o que ouvi o próprio maestro dizer em uma entrevista na rádio cultura. Sabemos que foi Paulo Queiróz, tenor do Coral Lírico Municipal que domina a língua russa, o responsável pelo trabalho de pronúncia com os cantores, assessorado ainda pelos dois solistas russos convidados, a soprano Olga Trifonova e o baixo Denis Sedov, que estreiaram nos palcos brasileiros nessa montagem.

E que montagem magnífica!

Tudo era singelo e grandioso, como aliás é também o próprio conto que deu origem ao libreto. Ele é baseado no conto O rouxinol e o Imperador da China, de Hans Christian Andersen.

Apenas uma história muito profunda poderia conceber que um simples pescador fosse aquele que mais compreendesse o canto do pássaro e que também uma mulher simples - como a cozinheira do Imperador - pudesse apreciar o mesmo canto do rouxinol, um pássaro tímido, noturno e, no entanto, possuidor de um canto mavioso e que jamais se repete.

Enfim, essa mulher é quem pôde encontrar o pássaro na floresta e também é quem ajuda a levá-lo para a apreciação do Imperador.

O rouxinol, então, vive um tempo na corte do Imperador chinês, mas a abandona quando esse último recebe do Imperador do Japão um pássaro mecânico e que canta sempre a mesma cantilena.

Com o tempo, no entanto, o Imperador da China adoece profundamente. O rouxinol volta ao palácio ao saber que seu antigo amo está recebendo a visita da Morte, a qual, aliás, traz consigo um Coro de Espectros. Impressionante a cena em que tal Coro se apresenta ao Imperador como sendo suas ações passadas... a sugerir que os fantasmas - que surgem em tais momentos ao nosso redor - estão sempre ali por conta mesmo dessas ações.

A Morte, no entanto, também se apaixona pelo canto do rouxinol, e o pássaro pode, então, fazer a barganha de continuar cantando se ela devolver tudo o que tirou do Imperador, o qual - depois que a Morte abandona a cena - revigora-se com os primeiros raios de sol.

O rouxinol, por sua vez, já recusara no primeiro contato com o Imperador todos os bens materiais que lhe foram oferecidos, dizendo contentar-se com as lágrimas de emoção que via brotar nos olhos do soberano ao ouvir seu canto. Também agora, reitera essa mesma forma de pagamento: contentar-se-á com essa demonstração de emoção e promete sempre voltar para reiterá-la.

É o Espírito dos Céus o canto do pássaro. É a própria transcendência e que nos liberta da morte.

Enfim, foi uma honra e privilégio estar nessa plateia, também foi uma alegria saber que, na nossa cidade, uma montagem desse nível de elaboração artística pode acontecer e ainda com tantos talentos genuínos envolvidos. Sobretudo também, por ter sido uma rara oportunidade, pois foram apenas três dias de apresentação, totalizando quatro récitas.

Por tudo isso, eu precisava muito compartilhar por aqui essas minhas impressões, diante desse acontecimento bendito.

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