Ontem, aconteceu um daqueles momentos mágicos em frente à televisão, o que é sempre tão raro. Vi um documentário magnífico chamado El último Bandoneón, um filme de Alejandro Saderman. Claro, não foi em qualquer canal de televisão, mas o Canal Brasil. Mesmo sem tê-lo visto inteiramente, o que vi emocionou-me muitíssimo. Em primeiro lugar, porque amo tango. Se a argentina não fosse importante por tudo o que nos deu: Borges, Cortazar, seu cinema (eu acho tão superior ao do Brasil, de um modo geral, Deus me perdoe!),ela já o seria só por nos ter dado o tango, ou seja, uma preciosidade impar, sem igual, pois é isso que o tango é.
Pois bem, como dizia, o que vi do documentário emocionou-me enormemente. Acompanhamos a trajetória da musicista Marina Gayotto, buscando um último modelo de bandoneon – uma espécie de acordeom que foi fundamental para a sonoridade típica do tango argentino.
Uma cena linda é quando ela está no ônibus tocando o seu bandoneon velhinho e, ao terminar, antes de passar recolhendo os trocados, ela solicita uma salva de palmas para o motorista, que permitira que ela entrasse no ônibus e tocasse. Os passageiros que estavam compenetrados, ouvindo-a tocar, atendem ao pedido. Achei tudo tão alto nível de educação, não é mesmo?
Outra cena tocante é a de quando, finalmente, ela chega para participar da audição, que um renomado Maestro e Compositor de tangos, Rodolfo Mederos, está fazendo para formar uma orquestra de tango. Há um trailer do filme disponível no Youtube, então, trouxe-o para cá. Vejam que coisa impressionante. Na cena que eu comentava, ela toca lindamente, mesmo que seu bandoneon esteja todo velhinho e não se possa mais extrair dele toda a sonoridade.
O filme é todo feito de cenas comoventes. Porque é muito simplesmente a saga dessa jovem que, em determinado momento, por exemplo, nos diz que gosta de Rock e das bandas de rock na formação que tiverem, com ou sem vocalista etc., mas... “o bandoneon é outra coisa, o bandoneon fala de mim...”
Tal instrumento, ficamos sabendo, foi fabricado até as décadas de 40 e 50, e, então, não se fabricou mais, ao menos aquele modelo que ela procura: o “Doublé A”. É um instrumento raro, difícil de se encontrar para comprar. E, ela, por exemplo, conhece pessoas da “velha guarda” que tocam o instrumento, mas que não o vendem.
Trata-se de um instrumento caro, sendo tão raro, inclusive a vemos também trabalhando como garçonete: tudo isso para o "Doublé A"...
Eu não cheguei a ver todo o filme, mas tudo o que vi me encantou. Um senhor dizendo que bandoneon é uma coisa sagrada; depoimentos como o de que o tango é uma música sui generis porque é de origem popular, mas tem uma sofisticação em seus arranjos; que o tango é algo essencialmente argentino, que eles não o devem à Europa...
Já o bandoneon é uma criação alemã e que foi levado para a Argentina e, então, incorporado à música local. Eles nos dizem que o “ar” do Bandonéon é como a alma. Enfim, que o instrumento “es estremecedor”.
Enquanto Marina busca seu bandoneon, para participar da orquestra, a orquestra com os outros componentes vai se formando, e vemos também cenas dos bailarinos do tango (meu Deus, se eu soube dançar tango, estaria a meio passo do Paraíso da expressão corporal e do amor que demarca a condição humana de ser também um casal!)
Não sei quando o documentário será reprisado ou se o será, no Canal Brasil, sei que existe em DVD. El último bandoneon é um filme “estremecedor”, como o instrumento, como as suas personagens.;-D
parece ótimo! obrigada pela dica.
ResponderExcluir*que fofa ela no ônibus pedindo palmas :))
bj, kika
Kika,
ResponderExcluirNo filme todo essa moça só tem atitudes de quem é muito muito educada, determinada, e verdadeira artista. Emocionante!
bj