sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tolstói e Björk falam de amor

Quem acompanha esse blog sabe que eu estive lendo o romance Ana Karênina de Tolstói, e que, em determinadas passagens, não me contive de alegria e emoção e compartilhei-as por aqui. Agora, cheguei à última página e fiquei absolutamente emocionado e para sempre admirador absoluto da genialidade do romancista russo.
Tolstói contou-nos essa triste história de uma mulher para nos falar de amor, somente de amor. E não se trata tão somente do amor entre homem e mulher, mas do amor cáritas, que se revela pelo bem que façamos ao próximo.
A personagem Liêvin, marido de Kitty, é a que serve ao autor para que ele nos apresente a possibidade de viver esse amor, o que se dá pelo exercício do bem.
Ele tem como que uma epifania, depois de muito sofrer, quando compreende algo que não pode ter explicação lógica ou racional e essa descoberta, ele nos prova, é antes de mais nada possível quando agimos segundo o bem.
Não é preciso explicar tal descoberta aos outros, basta agir de acordo com essa disposição moral e essencial para viver no amor.
Compartilho essa passagem do romance de Tolstói e também um vídeo de Björk que um amigo compartilhou, por sua vez, ontem, pelo facebook. Acho que tanto o texto de Tolstói como o vídeo de Björk estão falando da mesma coisa. Não estranhem, por favor, mas eu sempre estabeleço relações entre coisas que, aparentemente, não teriam nada a ver uma com a outra! ;-D

“Eu bem sei que as estrelas não caminham”, prosseguiu, notando a mudança que se operara na posição de um planeta que subia por detrás de uma bétula. “No entanto, incapaz de imaginar a rotação da Terra ao ver as estrelas mudarem de lugar, tenho razão quando digo que elas caminham. Teriam os astrônomos chegado a compreender tudo isso, teriam chegado a calcular alguma coisa, se por ventura houvessem tomado em consideração movimentos da Terra tão variados e complicados? As surpreendentes conclusões a que eles chegaram sobre a distância, o peso, o movimento e as revoluções dos corpos celestes não terão por ponto de partida os movimentos aparentes dos astros em torno da Terra imóvel, estes mesmos movimentos de que eu sou testemunha, como milhões de homens o foram e o serão durante séculos e que sempre podem vir a ser verificados? Pela mesma razão que as conclusões dos astrônomos seriam vãs e inexatas se não fossem deduzidas das observações do céu aparente, em relação a um único meridiano e a um único horizonte, também as minhas deduções metafísicas se veriam privadas de sentido se eu as não fundamentasse neste conhecimento do bem inerente ao coração de todos os homens e de que eu tive, pessoalmente, a revelação, graças ao cristianismo, e que sempre me será dado verificar na minha alma. As relações das outras crenças com Deus continuarão para mim insondáveis, e eu não tenho o direito de as perscrutar.”
- Que, pois tu ainda estás aí? – disse, de súbito, a voz de Kitty, que voltava para o salão. – Não tens nada que te preocupe? – insistiu ela, procurando ler no rosto do marido, à claridade das estrelas. Um relâmpago que atravessou o espaço entremostrou-lho sereno e feliz.

“Ela compreende-me”, pensou Liêvin, vendo-a sorrir. “E bem sabe em que eu estou pensando. Devo dizer-lho? Sim.”

No momento em que ia falar, Kitty interrompeu-o.

- Faze-me o favor, Kóstia – disse ela –, vai dar uma olhadela ao quarto do Sérgio Ivánovitch. Estará tudo em ordem? Ter-lhe-iam posto um lavatório novo? A mim custa-me ir lá.
- Está bem, vou – respondeu Liêvin, beijando-a.
“Não, é melhor calar-me”, decidiu ele, enquanto a mulher entrava no salão. “Este segredo só tem importância para mim, e palavra alguma o poderia explicar. Este novo sentimento não me modificou, não me deslumbrou, nem me tornou feliz, como eu supunha. Sucedeu a mesma coisa com o amor paternal, que não foi acompanhado de surpresa ou de deslumbramento. Devo chamar-lhe fé? Não sei. Sei apenas que me penetrou na alma através do sofrimento e nela se implantou com toda a firmeza.
Continuarei, sem dúvida, a impacientar-me com o meu cocheiro Ivan, a discutir inutilmente, a exprimir mal as minhas próprias idéias. Sentirei sempre uma barreira entre o santuário da minha alma e a alma dos outros, mesmo a da minha própria mulher. Sempre tornarei Kitty responsável dos meus terrores, arrependendo-me logo em seguida. Continuarei a rezar sem saber por que rezo. Que importa? A minha vida não estará mais à mercê dos acontecimentos, cada minuto da minha existência terá um sentido incontestável. Agora possuirá o sentido indubitável do bem que eu lhe sou capaz de infundir.”


 
It is so cut. Beautiful! Beautiful! Beautiful!
 
The Comet Song
 With our fingers we make million holes
We run and we fall into pot holes
On a mission to savor the world, oh!
We peek at the sky through tree holes


Comet! Oh, damn it!
The comet comes hurtling down
On a precious plot of earth


Like the bugs in mother's flower bed
We walk on long legs over the sea bed
On our mission to save the world, oh!
We need milk and cakes and a warm bed


Comet! Oh, damn it!
The comet comes hurtling down
On a precious plot of earth


Grey leaves are too much
For any mother to handle
A father must pull
His black hat down over the eyes

6 comentários:

  1. então a pobrezinha já se jogou nos trilhos, acabou-se a agonia?!
    *o video é fofo, mas não sei se vi a mesma relação q vc (até pq não li o livro). Mas melhor assim mesmo, cada um com sua viagem!
    bj, kika

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  2. Acho que o que há de inusitado em juntar isso e aquilo não vem de outro lugar senão do espanto de alguns diante do caos - essa outra ordem, digamos, em que dinâmicas randômicas dão-se a muito mais do que à mera tridimensionalidade da existência que hoje mais comumente se cultiva.

    O Amor é mesmo muito mal compreendido até que uns e outros com habilidade em dizê-lo mostrem a quantos queiram ver que está ali como acolá, no mais miúdo fragmento e no mais amplo espectro, nos vários modos de dar-se ao outro, o que não é uma abnegação magnânima nem muit menos tola (como às vezes se crê), mas é a própria pulsação da vida ligando tudo quanto existe e pulsa... cada átomo... se nos lembramos de como se dá a coesão entre os átomos (e, mais além, de suas partículas… bíons etc.), logo vemos que tudo é puro movimento de encontro e desencontro, partilha e repulsa, reencontro e... A vida.

    Vc é uma pessoa habilitadíssima nisso de dizer o Amor. Abençoado seja!

    luciana

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  3. Kika linda
    Então no que a pobrezinha se joga debaixo do trem temos que a vida continua para outros por aqui mesmo é o caso dessa outra personagem que descobre que viver é possível quando não nos jogamos para debaixo do trem (embora não possamos julgar aqueles que o fazem, mas apenas lamentar que o façam, não é mesmo?) mas que só é possível se amarmos, se fizermos o bem.
    No vídeo esses bichinhos fofos estão todos se ajudando a fugir da morte ou do sofrimento que seria morrer por conta de um cometa cair sobre nossas cabeças. ;-)
    Lu,
    a ligação que vi foi essa mesma, embora eu não seja habilitadíssimo a nada, of course... rsrsrs
    Graças a Deus, temos Tolstói, Bjork e tantos outros e nós mesmos compartilhando sempre tais experiências de compreensão dessa mesma vib. ;-D

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  4. Que bom que conseguiu encontrar uma semelhança entre os dois. O filme que tenho, Anna Karenina, é de 1996, então vou levar para você na quarta-feira. Até!

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  5. que lindo..
    acredita que não me lembro da amiga dela, a Kitty, no filme? faz mto tempo, preciso rever (rs../ enqto não leio o livro) gostei tanto dela por aqui...
    obg, bj, kika.

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  6. kika,
    È que no filme a gente só os vê na cerimonia do casamento do casal bacana e, depois, quando Karênina visita kitty que acabou de ganhar nenê. Esses personagens não são muito explorados no filme...
    bj

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