sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Consolação


Consolation (study) by Alex Milsom via Solander Gallery
Ontem, eu estive na Av. Paulista, em uma Livraria que fica por ali, para comprar um presente para um amigo. Fui de Metrô. Mas, na volta, como já era hora de eu ir para o trabalho, achei que seria mais prático pegar um ônibus que descesse a Rua da Consolação, em direção ao Viaduto do Chá.

Quase não ando de ônibus em São Paulo, uma vez que utilizo mais os trens.

Quando estávamos chegando na Rua Xavier de Toledo, perto do Teatro Municipal, o cobrador começou a protestar contra as atitudes de um passageiro:

- O Senhor não vai roubar essa senhora! Nós já sabemos que o senhor está habituado a afanar as bolsas dos passageiros distraídos. Desça imediatamente!

Quando vi a pessoa a quem ele se dirigia, fiquei horrorizado: era um idoso, um senhor de cabelos brancos! Já esse protestava que, não, ele não estava fazendo nada...
Mas, então, o cobrador levantou-se da cadeira (e só, então, percebi que ele era um anão) e foi até lá na frente, onde o ladrão de carteiras se encontrava e exigiu que ele descesse, sem violência, ele apenas foi assertivo.
Ao voltar para o seu lugar, ainda aborrecido, mas já com um pouco mais de bom humor, ele explicou aos passageiros do seu entorno:

- Ele está usando essa linha de ônibus para fazer esses roubos. Ele já está acostumado. E o pior é que não podemos fazer nada, por que é um idoso e ninguém sequer admite que um idoso possa fazer isso! Outro dia, chamamos a polícia, e eles não puderam fazer nada, porque ninguém se dispôs a ir até à Delegacia testemunhar contra esse senhor...

Olhei pela janela, e lá ia o idoso ladrão, bem apessoado e com ar de gente respeitabilíssima. rsrsrs

O que pensar do episódio?

Que vivemos em um mundo imperfeito: pois se mesmo tendo chegado à velhice, nesse mundo, alguém pode continuar retirando a carteira de um outro, como se isso não lhe parecesse ser um erro!

No entanto, mesmo diante dessa imperfeição do idoso equivocado, encontramos, nesse mesmo mundo, por exemplo, boas atitudes como a do cobrador: defendendo os seus passageiros, e que mostrou, a despeito da aparente fragilidade de sua estatura, que podia, sim, agir de modo grandioso, impedindo o erro e fazendo a normalidade voltar a funcionar. Ao menos aquela normalidade possível, mas que é também a que estabelece que temos o direito de ir e vir, sem sermos afanados por jovens ou idosos, por favor!
A verdade é que nesse mundo não falta ocasião para que sejamos úteis aos demais. O cobrador encontrou a sua. Que eu possa encontrar a minha também, meu Deus!
Ao menos tenho consciência de que, por viver nesse mundo, não há de me faltar oportunidade. Essa é a consolação. ;-)

Have a nice weekend!

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