sexta-feira, 3 de julho de 2009
Aldous Huxley
Estou lendo um livro de Aldous Huxley. Curiosamente comecei a leitura da obra desse autor por um livro que não é o mais conhecido ou famoso. Em geral, quando ouvímos falar em Huxley os títulos que nos sugerem são O admirável mundo novo ou As portas da percepção, seus clássicos, sobretudo em popularidade.
Eu estou lendo A eminência Parda e estou impressionado. Trata-se de um Estudo sobre Religião e Política. Sim é um livro difícil e, sobretudo, porque a figura central desse romance/ensaio histórico é um frade, François Leclerc du Tremblay, o Padré José de Paris, a própria Eminência Parda. Huxley o escolhe como figura central porque ele foi colaborador do Cardeal Richelieu durante a Guerra dos Trinta Anos.
Devo fazer um parênteses e dizer que o período histórico está agradando esse leitor também porque as personagens todas, bem ou mal, já são nossas velhas conhecidas, Maria de Médicis, o Luís XIII, o próprio Cardeal Richelieu, católicos de um lado, protestantes de outro, enfim, fico lendo o livro e as imagens das personagens que me vêm à cabeça aparecem nas figuras dos atores do filme A Rainha Margot (aquele do diretor Patrice Chéreau, com a belíssima Isabele Adjani). Isso é meio estranho, mas paciência. Creio que bem ou mal, tal interferência não prejudica em demasia as inferências que tenho de fazer. Sim, Husley não está defendendo sua tese assim tão assertivamente, ele, muito elegantemente, deixa por conta do leitor a maior parte do trabalho de análise, uma vez que suas pistas e afirmações, embora contundentes, são como uma aula e procuram sobretudo guiar o leitor em meio ao problema ali colocado, compõem um guia para a longa estrada da história.
Vejam só o que ele diz, logo no começo do livro, sobre a personagem que dá nome ao romance:
A sua vida - duplamente instrutiva por abranger os campos da religião e da política - é do maior interesse por constituir o mais estranho dos enigmas psicológicos - o enigma de um homem apaixonadamente ligado ao conhecimento de Deus, familiarizado com as mais altas formas da gnose cristã, que experimentou pelo menos os estágios preliminares da união mística mas que, ao mesmo tempo, viu-se envolvido nas intrigas da corte e da diplomacia internacional, ocupou-se com propaganda política e que de todo coração se dedicou a um esquema cujos resultados em mortes, miséria e degeneração moral podem ser vistos amplamente por toda a Europa do século dezessete, e cujas posteriores conseqüências o mundo sofreu até hoje.
É importante lembrar que ele está escrevendo em 1941, em plena II Guerra. Ele diz que a estrada que os pés calosos e desnudos do Frei palmilharam e que conduzia à Roma de Urbano VII, no século XVII, era a mesma que serviu aos acontecimentos de agosto de 1914 e de setembro de 1939.
Um livro fortíssimo e, como todo clássico, também atual, sobretudo se pensarmos que a religião e a política continuam irmanadas nesse século XXI, como continuarão sempre, e nessa aliança, tantas vezes fatal, continuam ambas a urdir os mesmos tristes horrores de sempre.
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