quinta-feira, 2 de julho de 2009

Festa Literária Internacional de Paraty


Tudo indica que, ontem, a abertura da FLIP foi mesmo uma beleza. Eu estou acompanhando o evento pela internet.
No blog do evento, Bruno Zeni assina um post e conta que a Conferência de Abertura da FLIP teve como tema a poesia de Manuel Bandeira e que o professor e crítico Davi Arrigucci Jr. falou sobre a importância do alumbramento (epifania, êxtase, a "emoção diferente da poesia") na obra do autor pernambucano que morou a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro.
Zeni conta-nos ainda que foi no morro do Curvelo, em Santa Teresa, no Rio, que se deu a viravolta na vida de Bandeira, uma verdadeira guinada que fez com que sua poesia passasse a atentar para a simplicidade do cotidiano. Foi ali, no pé do morro carioca, que o autor deixou de lado o sentimento "cabotino da piedade de si mesmo", numa "superação do sentimentalismo" que vai dar na poesia humilde, atenta ao que a vida simples tem de mais sublime.
Bruno Zeni ainda escreve que, para Arrigucci, a poesia de Bandeira é marcada pela convivência e pelo diálogo entre o alto e o baixo, o interior e o espaço de fora, entre o quarto e a rua. Bandeira deixa "o ruído do mundo humilde" penetrar nos sentimentos elevados do alumbramento.

Já da minha parte, o que posso dizer é que o bom de gostar de poetas e escritores é que a gente pode matar saudades deles, simplesmente relendo-os.

Selecionei dois poemas de Bandeira que eu adoro:

Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

*****
Quando estás vestidas,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.)

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Em tempo: pelo site da flip http://www.flip.org.br/ é possível acompanhar as palestras e mesas redondas ao vivo.
Eu não posso deixar de ver e ouvir a participação de Sophie Calle (vide Cuide-se bem com Sophie Calle). Tal participação acontece no próximo sábado, às 11h45min.

4 comentários:

  1. o melhor poeta de todos, o Bandeira do porquinho da índia (existe coisa mais singela e linda?!)

    quanto à Sophie Calle, outro dia li uma matéria/entrevista com ela e o Grégoire Bouillier, o autor do e-mail que gerou a "obra" dela, e que tb está na Flip, e ele me pareceu muito mais interessante que ela. Também estou curiosa..

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  2. Valeu Kika.
    Também compartilho contigo da opinião de que o Bandeira é mesmo o nosso melhor poeta.
    Bom saber: vou prestar atenção ao Bouillier então.

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  3. sim, preste!

    e acabei de postar poesias do Bandeira, pq já tava no clima por causa da Flip! parece até que tô te imitando, né?! Pq falei do Solondz outro dia.. Mas hj não imitei não, juro! (e que bom ter boas inspirações aqui!)

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  4. Kika,
    Essas nossas interações de blogueiros todos são de uma riqueza que só nos traz contentamento, para dizer o mínimo.

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