segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Jacques Prévert


Hoje, ganhei um livro precioso, trata-se de uma Antologia da Poesia Francesa, edição bilíngue, organizada por Cláudio Veiga, um Doutor em Letras e professor emérito da Universidade Federal da Bahia. Esse seu trabalho é muito apreciado e foi premiado pela Academia Francesa. Imaginem que ele reuniu poetas da cultura francesa e seus poemas desde o século IX até o século XX!
Jacques Salah, amigo do professor, diz que Veiga consagrou quase vinte anos nesse trabalho e muito simplesmente o descreve como um labor beneditino ao qual o Prof. Cláudio Veiga consagrou os seus mais legítimos instantes de lazer.
Estou apreciando tudo: a edição, seu responsável e seu trabalho de tradução e, sobretudo, o inusitado da experiência de poder conhecer poetas e poemas tão antigos, dessa cultura francesa que tanto admiro.
Ao abrir o volume, para experimentar a surpresa do que primeiro surgiria diante dos meus olhos, fiquei conhecendo um poema de alguém que eu já admirava: Jacques Prévert (1900-1977). Eu sei que ele foi roteirista e fez diálogos de grandes filmes franceses como os realizados por Jean Renoir e Marcel Carné e também que ele é o compositor da linda canção Les Feuilles Mortes, que foi muito famosa na voz de Ives Montand e que, além disso, pode ser ouvida na voz da magnífica Piaf. Soube ainda, por um amigo, que Serge Gainsbourg compôs uma música chamada La chanson de Prevért que faz referência àquela canção, mas essa eu ainda não conheci. ;-(

Vejam que poema delicadíssimo de Prévert, o primeiro que li nessa coletânea:

LE CHAT ET L'OISEAU
Un village écoute désolé
Le chant d'un oiseau blessé
C'est le seul oiseau du village
Et c'est le seul chat du village
Qui l'a à moitié dévoré
Et l'oiseau cesse de chanter
Le chat cesse de ronronner
Et de se lécher le museau
Et le village fait à l'ouseau
De merveilleuses funérailles
Et le chat qui est invité
Marche derrière le petit cercueil de paille
Où l'oiseau mort est allongé
Porté par une petite fille
Qui n'arrête pas de pleurer
Si j'avais su que cela te fasse tant de peine
Lui fit le chat
Je l'aurais mangé tout entier
Et puis je t'aurais raconté
Que je l'avais vu s'envoler
S'envoler jusqu'au au bout du monde
Là-bas où c'est tellement loin
Que jamis on n'en revient
Tu aurais eu moins de chagrin
Simplement de la tristesse
Et des regrets
Il ne faut jamais faire
Le choses à moitié

O GATO E O PASSARINHO
Um povoado entristecido
Escuta um pássaro ferido
Só havia aquele passarinho
E no povoado aquele gato
Que o devorou pela metade
E o passarinho não canta mais
O gato deixa de rosnar
E de lamber o seu focinho
E tem da aldeia o passarinho
Maravilhoso funeral
E o gato que foi convidado
Segue atrás do caixãozinho de palha
Em que se estende o morto passarinho
Que uma garota carrega
Chorando sem parar
Se eu soubesse que isto te causaria tanta dor
Lhe diz o gato
Tê-lo-ia comido todo
E em seguida te contaria
Que o vi fugir voando
Voando para o fim do mundo
Lá longe e tão distante
Que de lá ninguem voltou
Terias bem menor desgosto
Alguma tristeza somente
E um pouco de saudade
Não se deve fazer
Nada pela metade.

Não é uma delicada fábula avec un peau de perversité? ;-D

4 comentários:

  1. Merhaba querido Josafá !

    Ah! você tem tão boa pontaria comigo...

    Agora nomeou a Gainsbourg, um mito para mim (e para meia França também !!).
    Mais anteriormente apareceu o nome de Ives Montand ¡mon Dieu! Les Feuilles Mortes de Prévert !!! Gainsbourg e Montand e Prevert e La France e depois... depois melancolia por três bijoux da cultura francesa que eu amo ainda de forma tão intensa.

    O SÁTRAPA, e os satrapas ! Sim... leio a um (Prévert) enquanto escuto a profondidade e brutalidade sentimental de Montand, "Ne me quitte pas":

    "Ne me quitte pas
    Je ne vais plus pleurer
    Je ne vais plus parler
    Je me cacherai là
    A te regarder
    Danser et sourire
    Et à t'écouter
    Chanter et puis rire
    Laisse-moi devenir
    L'ombre de ton ombre
    L'ombre de ta main
    L'ombre de ton chien
    Ne me quitte pas"


    L'ombre de ton chien... ¡A sombra do seu cão! mais.. Mais é enormemente importante Gainbourg "le canaille" la presença perene e inescusável em minha lar: "La Javanaise", impressionante "Le poinçonneur des Lilas" ou a histórica, mítica que e sempre um belo jogo de palavras cheio de mal-entendidos "Je t'aime... moi non plus" (Te amo, eu também não). E, ponto final para hoje, La chanson de Préver de Gainbourg... :

    "Oh je voudrais tant que tu te souviennes
    Cette chanson était la tienne
    C'était ta préféré je crois
    Qu'elle est de Prévert et Kosma
    Et chaque fois "Les feuilles mortes"
    Te rappelle à mon souvenir
    Jour après jour les amours mortes
    N'en finissent pas de mourir".

    Dizer Gainsbourg é dizer muito...


    Abraço e gratidão camarada !
    Abraço e muita gratidão.

    See you my friend.

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  2. Entendo sua melancolia por encontrar aqui citados esses seres tão especiais da cultura francesa.

    A poesia desses monumentos dessa cultura que admiramos em especial, sim!, alimenta o espírito, alegra a alma, mas também entristece pelo tema de que tratam.
    Além disso, no seu caso, deve contribuir para, eu espero, uma suave melancolia, porque você viveu muito próximo da atmosfera em que cantam e da qual nos falam, quando de suas andanças por Paris, não é mesmo?
    O nome disso em português é saudade. Saudade de um tempo que não volta mais e, também, pasque jour après jour les amours morte n'en finissent pas de mourir.

    Eu é que agradeço por tudo: pela sintonia que temos, pela sua pronta resposta a essa mesma sintonia. ;-D

    um abraço!
    see you!

    Bom fim de semana!

    Para mim, tomorrow já será o fim de semana, porque amanhã será feriado aqui no Brasil: Celebramos o Dia da Consciência Negra, que acontece no dia 20 de novembro, porque foi o dia em que morreu, em 1695, o líder negro Zumbi dos Palmares.

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  3. Obrigado senhores por partilharem esta interessante conversa e mostra de poesia.

    Sugiro, Chanson des Escargots qui vont à l'enterrement/Canção dos caracóis que vão ao enterro:


    A l'enterrement d'une feuille morte
    Deux escargots s'en vont
    Ils ont la coquille noire
    Du crêpe autour des cornes
    Ils s'en vont dans le soir
    Un très beau soir d'automne
    Hélas quand ils arrivent
    C'est déjà le printemps
    Les feuilles qui étaient mortes
    Sont toutes réssucitées
    Et les deux escargots
    Sont très désappointés
    Mais voila le soleil
    Le soleil qui leur dit
    Prenez prenez la peine
    La peine de vous asseoir
    Prenez un verre de bière
    Si le coeur vous en dit
    Prenez si ça vous plaît
    L'autocar pour Paris
    Il partira ce soir
    Vous verrez du pays
    Mais ne prenez pas le deuil
    C'est moi qui vous le dit
    Ça noircit le blanc de l'oeil
    Et puis ça enlaidit
    Les histoires de cercueils
    C'est triste et pas joli
    Reprenez vous couleurs
    Les couleurs de la vie
    Alors toutes les bêtes
    Les arbres et les plantes
    Se mettent a chanter
    A chanter a tue-tête
    La vrai chanson vivante
    La chanson de l'été
    Et tout le monde de boire
    Tout le monde de trinquer
    C'est un très joli soir
    Un joli soir d'été
    Et les deux escargots
    S'en retournent chez eux
    Ils s'en vont très émus
    Ils s'en vont très heureux
    Comme ils ont beaucoup bu
    Ils titubent un petit peu
    Mais la haut dans le ciel
    La lune veille sur eux.

    Lá vão dois caracóis
    Ao enterro de uma folha morta
    Levam a concha preta
    E fumo nos cornos
    Vão pela sombra
    Numa bela tarde de Outono
    Mas quando chegam
    É já Primavera
    As folhas que já estavam mortas
    Já ressuscitaram
    E os dois caracóis
    Estão muito desapontados
    Mas ai vem o sol
    E o sol diz-lhes
    Tomem um lugar
    E sentem-se
    Tomem uma cerveja
    Se vos apetecer
    E se quiserem
    Tomem o Autocarro para Paris
    Que parte esta tarde
    Verão muitas terras
    Mas não tomem luto
    É o que vos digo
    Escurece obranco do olho
    E não favorece
    As histórias de caixões
    São tristes e nada bonitas
    Retomem as vossas cores
    As cores da vida
    Então os animais
    As árvores e as plantas
    Desataram a cantar
    A cantar a plenos pulmões
    A verdadeira canção da vida
    A canção do Verão
    E os dois caracóis
    Regressam a casa
    Vão muito comovidos
    E muito felizes
    Como beberam bastante
    Cambaleiam pouco
    Mas no alto do céu
    A lua olha por eles.

    Palavras de Jacques Prévert traduzidas para
    português por Manuela Torres.

    Os melhores cumprimentos


    Pedro Pontes

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  4. Asso,
    Muito lindo esse poema! Obrigado e desculpe-me por não ter agradecido antes. Só hoje vi seu comentário. Espero que você volte sempre por aqui. ;-)

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