sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Dia da Consciência Negra

Hoje, no Brasil, é o Dia da Consciência Negra. Eu nasci na periferia de São Paulo e, portanto, sempre convivi com as pessoas das comunidades dos bairros mais pobres dessa cidade e, no nosso país, a maioria dos negros é pobre. Ainda assim, assisti durante toda a minha infância, e vejo até hoje, as manifestações do preconceito com os negros por parte daqueles que se consideram brancos, mesmo que todos, negros ou brancos, tivessem e tenham as mesmas condições sociais de quem mora na periferia.
Se alguém considerado branco era um pouco "melhor de vida”, como as pessoas costumavam dizer, o que podia significar ter um bom emprego ou um negócio, então, isso já era motivo para ele acirrar ainda mais o preconceito com a chamada diferença de cor. Na minha própria família, conheci pessoas racistas e sempre achei estranhíssima e extremamente lamentável e odiosa essa atitude.
A verdade é que as pessoas estão sempre procurando um motivo para se sentirem superiores umas às outras. E a verdade maior é que no Brasil o motivo, quando centrado na chamada diferença de cor da pele, é pífio, porque somos todos uma mistura sem igual no mundo. Eu sou neguinha e você é neguinha, meu bem! É da nossa miscigenação que nasce nossas maiores alegrias e, inclusive, o nosso padrão de beleza tão sui generis, em comparação com outras culturas.
Mas o racismo permanece tendo, infelizmente, sua forte presença nesse mundo e mesmo no Brasil que o escamoteia todos os dias. É uma tristesa e uma vergonha e isso fica evidente quando ele se deixa mostrar nos interstícios das relações humanas nesse país.
Ontem, li um artigo belíssimo, escrito por um amigo, no jornal Brasil de Fato, e que recomendo a leitura nessa data. Felipe Carrilho, historiador, faz uma reflexão profunda da relação do futebol, a paixão nacional, com sua dívida para com os jogadores negros todos, os verdadeiros responsáveis pelo prestígio que esse esporte à moda brasileira tem no mundo. Ele nos conta que a história da participação dos negros no futebol brasileiro não foi fácil. Uma passagem comovente é a que se relaciona ao personagem de Moacir Barbosa, o goleiro que entrou para a história como o responsável pela perda da Copa do Mundo de 1950, disputada no Brasil. Carrilho cita um autor que conta que os racistas de plantão, na época, justificaram a derrota pela presença de negros na seleção. :-o
Assim, nesse dia, acho justo que se faça um tributo ao Barbosa que faleceu em 2000, aos 79 anos. Barbosa dizia que fora condenado a uma prisão perpétua devido ao chute que não conseguiu segurar, diante de 200 mil torcedores no Maracanã. Ele foi enterrado no cemitério Morada da Planície, em Praia Grande, litoral de São Paulo.
Salve Barbosa! \o/
O texto do Felipe Carrilho é também esse tributo necessário. Não deixe de ler: é uma aula com muita verdade e que emociona:
http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/cultura/ataques-e-contra-ataques-do-racismo-na-terra-de-pele

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