quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O livro como um presente dedicado


Eu ainda conheci, na minha infância e adolescência, livros com suas dedicatórias. Eram, por sua vez, mais antigos esses livros. Algum livro que pertencera aos avós ou tios e que, empoeirados nas estantes da casa, ao serem abertos revelavam aqueles manuscritos na primeira página sem mancha tipográfica.
Depois, conheci também dedicatórias em livros ainda mais antigos, nos velhos sebos do centro da cidade. Essas, então, eram extraordinariamente admiráveis pois se seus autores e destinatários já eram mortos!
Não havia muita variação no teor das dedicatórias, é verdade, mas eram sempre elegantes, gentis, afetuosas. Às vezes, ficavam reduzidas ao nome do amigo que dedicava aquele livro e o daquele outro que o merecera, e ainda uma data. Essa sim, sempre especial aos olhos desse leitor, quanto mais distante no tempo parecia estar. Ler dedicatórias tão antigas era quase um contato com o sobrenatural. Afinal, quem teria sido aquela pessoa - e agora serei redundante - que possuia tão bela caligrafia?
A verdade é que talvez as dedicatórias tenham desaparecido muito antes do que será, se assim o for, o desaparecimento do objeto livro, ao menos tal como o conhecemos. Se não desapareceram, onde estarão, se não as encontro mais nos livros?
Talvez por essa razão, reiterando minha dmiração por esse ato de nome tão pleno de sentido, escrevi, ontem, uma dedicatória em um livro, o qual presenteara a uma amiga.

Vejam como ficou singela:
Este livro eu te dei no início deste ano,
em março ou abril de 2009,
e o fiz sem nenhuma razão em especial
a não ser a de te querer bem desde que lhe conhecera,
em agosto do ano anterior.
Hoje, escrever essa dedicatória
significa tão somente reiterar esse mesmo bem querer.
Com alegria, do seu amigo,
Josafá Crisóstomo
novembro de 2009

4 comentários:

  1. Sabe, eu realmente não acredito no sumiço do objeto livro. Acho que as novas tecnologias trazem novas possibilidades, e o livro vai conviver com elas, relacionar-se com elas, possivelmente tem se moidifcado já, mas sumir... acho que não. Livro é um objeto muito querido. No Brasil, cada vez mais, agora que temos uma política para o livro e leitura (antes de 2003 não havia nada sistemático, só programas de gestões e bem poucas possibilidades de larga parceleda população querer livro - agora quer, eles têm circulado como jamais antes).

    Já as dedicatórias... Acho que, como as cartas, menos gente se sente à vontade pra dizer esses ditos, tão íntimos quanto públicos... Acho que a crise é esta: as pessoas temem (ou evitam) dizerem o que são, o que sentem...

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  2. Concordo com tudo e, sim, também acho que o livro permaneça, embora estejam sempre apregoando o seu fim...
    Agora, que é uma pena as pessoas temerem ou evitarem dizer o são ou acerca do que sentem, ah, isso é uma pena. Tô fora disso! rsrsrs

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  3. Merhaba Josafá, como va?

    Me parece muy interesante reflexionar acerca de lo dedicado, del libro objeto de fetichismo. Para quienes los amamos tanto los libros que lloramos cada vez que en un film de la 2ª guerra mundial vemos a esos malditos nazis hacer piras crematorias con ellos, con los mejores, con los más prohibidos e interesantes (¿cuantos incunables debieron quemar esos asesinos?).

    Hay dedicatorias muy hermosas y hay dedicatorias que son tristes, que nos recuerdan a aquella persona que ya no está, que dejó esas palabras escritas como una entradilla periodística describiendo todo el afecto que nos tuvo, todo el cariño y la complicidad que existe entre lectores (esos peligrosos transgresores que aprenden).

    Como fetichista declarado que soy me niego a creer que el libro de papel, con su portada y su olor de libro vaya a desaparecer. Me niego!

    Ahora, escribiendo este comentario, estoy flanqueado por un par de estanterías que llevan libros y más libros hasta el techo de mi estudio, hasta el cielo de esta casa...Miro sus lomos escritos en catalán, en español, árabe o turco, en fráncés, inglés o portugués. Miro y una sonrisa se dibuja en mi rostro al pensar que todos han pasado por mis manos y todos han sido leídos por mi.

    Recuerdo ahora la más bella dedicatoria que poseo. Descansa encerrada en un gran, grueso y hermoso tomo antológico de Fernando Pessoa. Mi padre depositó una flor roja entre sus páginas y lleva allí leyendo versos desde hace más de treinta años. Cada vez que abro ese libro miro la flor, todavía roja (eternamente roja -como yo-) e intento recordar el momento, el instante de esa dedicatoria de amor y cariño, de voluntad clara y manera sutil de mi padre para decirme "lee Enric, lee siempre".

    Desde lo más sensual o la erección que provocan ciertos capítulos (por ejemplo de Houellebecq) a la tristeza de otros como los que relatan el infierno de Imre kertesz en Auschwitz. Desde la enseñanza poética de Nazım Hikmet hasta el aprendizaje humano de Juan Goytisolo o, como no, el humor perfecto de Groucho Marx... siempre sobre el papel, siempre acumulando polvo, años y vida.

    Joyas indispensables para intentar una humanidad mejor.

    Abraço camarada !
    See you.

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  4. Enric,

    Fiquei tão feliz e emocionado com esse seu comentário. A descrição de sua querida biblioteca pessoal; a emoção da dedicatória desse pai-educador em um livro de nosso querido Fernando Pessoa (um poeta tão essencial para a Língua Portuguesa), sobretudo a definição de leitor como um perigoso transgressor que aprende e, por fim, os exemplos de autoria que admiras e que consideras joias indispensáveis para que possamos melhorar como humanidade.

    Fiquei tão emocionado!
    obrigado mesmo, de verdade, amigo!

    um grande abraço.
    See you

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