quarta-feira, 31 de março de 2010

Sob o mesmo teto

O ambiente de trabalho é como se fosse um depositário da condição humana. Há o convívio diário, sob o mesmo teto, de pessoas que não necessariamente escolheram estar juntas sob esse mesmo teto.

Essa condição é muito parecida com a do casamento. Eu lembro-me quando morei com um amigo em um apartamento. Mesmo que não estivéssemos casados, era como se fôssemos, uma vez que vivíamos  sob o mesmo teto. E o horror do que esse teto pode proporcionar a essas vidas é assustador. Só quem viveu a experiência pode entender as agruras dessa convivência cotidiana de duas almas distintas no mesmo ambiente, dia após dia...
(É claro que não estou considerando os casamentos felizes, a raridade na face da terra)
Pois bem, o mesmo acontece no ambiente de trabalho, quando, então, não são apenas duas pessoas. Dependendo do local, em tal ambiente o número de pessoas pode ser bem maior.
No entanto, a condição da necessidade de ganhar o pão diário assim estabelece, ou seja, que elas estejam ali, juntas, diariamente.
Creio que o princípio da solidariedade humana, bem como o da boa vontade é fundamental nessa circunstância.
Não é possível que o interesse meramente pessoal se sobreponha ao interesse da finalidade a que se submetem todos aqueles que trabalham em qualquer lugar que seja.
No entanto, as pessoas, mutáveis como são, podem variar o temperamento a cada dia.
Uma amiga contou-me que, lá onde ela trabalha, um colega de trabalho foi promovido e se esqueceu das agruras da sua condição anterior, ao ponto de tratar seus subalternos do mesmo modo que ele não gostava de ser tratado quando era subalterno. Importante: Ela estava preocupada porque se destemperou com essa pessoa, agora seu chefe.
Na minha opinião, ela devia, primeiramente, fazer uma prece por ele e procurar ver esse convívio, em sua nova configuração, de um modo completamente diferente.
Eu lhe diria o seguinte, quando ele, por exemplo, me cobrasse com urgência uma resolução impossível :
- Claro, não se preocupe. Estou providenciando. Farei rapidinho.
(Essa fala só funciona se você estiver dizendo isso de verdade e sorrindo. Importante: o sorriso também tem de ser verdadeiro)
Talvez a pessoa em questão não esteja preocupada com aquela finalidade e etc. mas tão somente com o exercício do seu poder conquistado. Damos a ela essa coisa pequena e ficamos em paz. Sem destemperos, sem aflição. Amém.
Caso contrário tudo ficara igual, sem maiores mudanças, sob o mesmo teto. Ou pior, talvez se tenha que mudar de emprego o que, hoje em dia, vamos combinar, nem sempre é fácil.

Esse Liniers não é demais?!

3 comentários:

  1. Pior que local de trabalho é condomínio, amigo, a última fronteira da desumanização....
    Gostou de Liniers, então? :)

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  2. Vou tomar a liberdde de citar mais uma vez neste blog um trechinho da banda Karnak:

    "a gente não ama quem a gente não ama,
    a gente não ama quem a gente não odeia
    a gente não odeia quem a gente não ama"...

    A boa conviência não pode depender do "gostar".

    Não fossem os casamentos, os ambientes de trabalho, os condomínios, seriam outras as circunstâncias a reunir as pessoas - porque é junto que fazemos o mundo. Não se trata de nos gostarmos todos, mas de respeitarmo-nos, respeitando essa condição humana gregária. Como vemos na tirinha que vc nos ofereceu, um encontro com o outro pode mudar tudo, pode fazer florescer muita coisa. Sinceramente, acho que, sendo inescapáveis as reuniões de condomínio ou os ambientes de trabalho, vc tem razão: nossas atitudes é que têm de mudar, nossas acões e reações é que não podem ser simplesmente automatizadas, reproduzindo o de sempre, o de sempre o de sempre... Se nos movemos um pouco, provocamos um rearranjo à volta, não é isso?

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  3. Lilian,
    Obrigado por apresentar-me o Liniers. Ele é maravilhoso!
    bj ;-)

    Luciana,

    É isso mesmo, os meninos do Karnak têm razão: a gente não odeia quem a gente não ama.

    A Lilian lembrou-nos do condomínio: eu acho que até por ser um lugar fechado, ali é onde o coração deve estar ainda mais aberto! rsrsrs

    Embora não possamos e nem precisemos ter ternura pelos inimigos, isso não quer dizer que tenhamos que odiá-los.

    bj

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