segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Por que não sou infeliz?



Ler é uma experiência que sempre nos proporciona um deleite completamente sui generis: o de sentir a alma elevada. É sempre um aprendizado e eu estou desconfiado que tal experiência poderá nos levar a fazer a  mesma pergunta do poeta Hans Magnus Enzensberger: Por que não sou infeliz?

Eu, particularmente, não estou infeliz hoje, porque li esse soneto
da minha poeta preferida.
Querida Florbela Espanca! \o/

RÚSTICA


Ser a moça mais linda do povoado,
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A benção do Senhor em cada filho.

Um vestido de chita bem lavado,
Cheirando a alfazema e a tomilho...
Com o luar matar a sede ao gado,
Dar às pombas o sol num grão de milho...

Ser pura como a água da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna
Quando descer à «terra da verdade»...

Meu Deus, dai-me esta calma, esta pobreza!
Dou por elas meu trono de Princesa,
E todos os meus Reinos de Ansiedade.

FLORBELA ESPANCA
Charneca em Flor
(1930)

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