quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cora Coralina - Coração do Brasil.





Ontem, o Museu da Língua Portuguesa inaugurou essa exposição que celebra os 120 anos do nascimento da poeta de Goiás. Eu quero muito ir. Eu aprendi a gostar de Cora Coralina quando eu era ainda muito jovem, e sinto que isso aconteceu porque, mesmo jovem, compreendi que ela é uma mulher inteira e verdadeira no que diz em seus poemas. Hoje, além disso, também porque penso que ela viveu de maneira tão distinta, coerente e sua vida foi tão bonita!
Ao que tudo indica, a exposição foi preparada com muito carinho, na curadoria de Júlia Peregrino e com cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara. O Museu da Língua Portuguesa já é uma referência no tratamento que dá a esse tipo de exposição, no resgate e na apresentação, que faz em painel, da vida e obra dos escritores de nossa literatura.
Estou ansioso para ver seus cadernos de poemas, dentre eles um de receitas. Cora Coralina foi também doceira e assim ganhava a vida. Aliás, o evento marca o lançamento do livro Cora Coralina - Doceira e Poeta, obra que traz suas receitas e é também uma homenagem. Eu quero muito! \o/
Muita coisa do que veremos na Estação da Luz, na qual Cora Coralina desembarcou quando veio jovem para São Paulo, são do Museu que fica nessa casa linda em que ela morou, à beira de um rio e que atravessa sua cidade tão querida e cantada em seus poemas.
Cora Coralina - Coração do Brasil. Museu da Língua Portuguesa. Estação da Luz, Pça. da Luz, s/n. Tel. (011) 3326-0775. Terça a domingo: das 10h às 17h. Última terça do mês: das 10h às 22h. Até 13/12. R$ 6,00. Livre.
Enquanto não vejo a exposição ou compro esse livro, deixo aqui um de seus poemas de que mais gosto:
Todas as Vidas
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera
das obscuras!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Susana Tavares










Eu continuo, em minha navegação pela web, deparando-me com ilustradores e suas ilustrações. Já falei aqui da minha paixão por esse tipo de trabalho. Essa ilustradora é uma portuguesa, de Lisboa. Gostei de conhecer esse trabalho porque, além de delicado, ele é fruto da labuta de uma trabalhadora: Susana Tavares não descansa, o seu site tem inúmeros, inúmeros, inúmeros trabalhos e em várias frentes: ilustrações, objetos de decoração etc. Isso pode ser um sinal de que ela está bem feliz, não é mesmo? Ninguém faria tanta coisa linda forçadamente...
Os motivos são sempre essas meninas de olhos delicados, boquinhas lindas, ou a maternidade, mocinhas, crianças, anjinhos e bichinhos de estimação. Penso que se há quem possa e queira e mesmo precise celebrar esses temas, e, assim, desse modo encantador, tanto melhor!
Tenho que dar destaque para essa Santa Bárbara! Achei sensacional. Eu gosto de Santa Bárbara. E sempre me lembro do filme O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, quando veja a imagem dessa santa. Além disso, ela é poderosíssima: no sincretismo religioso brasileiro ela corresponde a Iansã, no Candomblé, a entidade dos raios e trovões e Senhora das Almas.

Veja só como Susana falou de si e fez o merchandising do seu trabalho no seu site http://www.flickr.com/photos/atelierdosmiudos/:
Susana Tavares, artista plástica e mãe de 3 filhos com paixão por cores, crianças, criatividade. Adoro bolos de chantilly com morangos e acima de tudo tirar muito prazer de tudo o que faço!
[Se eu fosse vizinho da Susana eu iria lhe oferecer um Bolo Merengue de Morangos que é uma de minhas especialidades na cozinha. ;-D]
O atelier encontra-se na R. Agusto Gil nº1 1º Esq (à Av. João XXI) em Lisboa.
Para qualquer contacto envie-nos um e-mail para susana.t@sapo.pt ou ligue para o 936925899.
Este Atelier esta aberto as suas ideias, podendo encomendar uma peça com as suas cores e motivos preferidos.
A minha loja / my shop:
http://susanatavares.dawanda.com/
Lisboa, Portugal

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

38 Festival Internacional de Danças Folclóricas. Eu fui.


Ontem, fui ao 38º Festival Internacional de Danças Folclóricas. Uma amiga que dança em um grupo que estimula a arte da dança grega, em São Paulo, o Zorbás, iria se apresentar nesse festival. A princípio, fui para prestigiar minha amiga, ver especificamente a dança grega que eu acho linda, enfim, para conferir. E pude conferir muito mais! ;-D
O evento ocorreu no teatro da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e Assistência Social, que fica no bairro da Liberdade , bairro tradicional da colônia japonesa na nossa city.
Ao chegar, já fiquei encantado com o saguão que estava repleto de gente, muitas vestidas com os figurinos dos grupos que iriam se apresentar, havia também barraquinhas com comidas típicas de cada país: África do Sul, Itália, Grécia, Alemanha, Suiça, entre outros.
Quando o evento foi aberto, achei muito emocionante o momento em que a apresentadora pediu que todos cantássemos o Hino Nacional Brasileiro, que foi cantado sem o acompanhamento da música, portanto, a capella. Isso foi significativo porque as pessoas todas que estavam ali eram os imigrantes de todos esses países, os avós e os pais e seus filhos e netos nascidos no Brasil. Portanto, era uma celebração de cada cultura em particular, mas com essa clareza de deferência ao país que os abrigou.
É muito emocionante esse lado de São Paulo que, como já nos disse o poeta, "é como o mundo todo".
Então, iniciaram-se as apresentações: os bailarinos que representavam as Nações Africanas fizeram uma bonita apresentação com aquela força de expressão e com todo o poder da percussão e que só os ritmos africanos conseguem. O trabalho do Grupo Cultural Afro II procura aliar à tradição da dança negra, que tem sua origem na religiosidade e na magia, os novos elementos que retratam o caos urbano e as contradições da modernidade, segundo a apresentadora. E foi isso mesmo o que se viu!
Depois tivemos o Grupo Souham de Dança do Ventre e Folclórica Árabe, representando o Líbano e Nações Árabes - não é meigo que um grupo de lindas moças brasileiras, descendentes de Libaneses e Árabes, possa lindamente representar essas nações nesse tipo de festival?
Depois foi a vez da Hungria ser representada pelo Grupo de Danças Folclóricas Húngaras Pántlika. Aqui achei significativa a expressão dos pares. A origem das quadrilhas de nossas festas juninas estão nessas danças antigas, folclóricas, desses países da Europa e que se ligam a antigos rituais de fertilidade e expressam ricamente as relações humanas, sobretudo a sempre difícil relação do casal: homem e mulher.
O Brasil foi representado pelas danças gaúchas, depois tivemos a Finlândia, o Chile Lindo, a Alemanha, Nostra Itália, e o riquíssimo Ballet Folclórico Boliviano, com aquelas canções indígenas em que os instrumentos de sopro fazem toda a diferença. Na primeira dança, os dançarinos usavam um arranjo imenso na cabeça, na forma de flores, emplumadas, e que giravam de um modo magnífico. Depois tivemos a Russia que emocionou porque nesse grupo havia crianças e adolescentes, pessoas de diferentes tamanhos! Lembrou-me as Matrioskas. ;D
Por fim, o grupo Zorbás, os descendentes dos helenos que eu havia ido prestigiar. Eles abriram com um número emocionante, em que uma cantora cantava uma canção para uma dança que se chamava Detós Horós e o grupo de bailarinos, que dançavam com os braços antecruzados, segurando velas, repetia uma espécie de refrão. Eles fecharam de um modo apoteótico com a famosa quebra dos pratos (bom saber: a minha amiga disse que não se faz mais isso na Grécia, agora se atiram pétalas de flores.)
Depois tive que ir embora, não vi os demais grupos. :p
Mas como tudo o que vi emocionou-me deveras, esse blogueiro que vos fala pensa ter aprendido uma lição: a de que aquelas pessoas todas amam e cultivam suas diferenças, mas, pareceu-me, isso também alimenta o amor que elas têm pelo país que as acolheu, o que é muito bonito de se ver. Também uma certeza foi confirmada: a de que nós brasileiros amamos esse "mundo todo de gente", e, ainda mais, quando dançam e celebram a vida!


sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Lhe doía a vida, indevida em um só indivíduo


Esse ano foi o ano em que descobri a existência da obra do escritor moçambicano Mia Couto. Li Antes de nascer o mundo e Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. Eu diria que se trata de uma obra sofrida, como sofrida foi a saga do povo daquele país africano na terrível guerra civil que viveu. Mas obra finíssima, de uma prosa poética como poucas vezes encontramos na língua portuguesa. O título desse post é citação de um trecho do romance que ora leio: Terra Sonâmbula. Esse romance é delicado porque acompanhamos um par de personagens durante toda a história, mas essa última se abre em muitas outras quando o menino, que acompanha o adulto, começa a ler um caderno encontrado enquanto fogem da guerra. Sim, é uma história de refugiados. Entre as tantas histórias que acompanhamos lhes dedico, nessa sexta-feira, essa pequena narrativa, narrada pela personagem adulta ao menino, quando encontram um homem, Nhamataca, e que cava um rio. É a história do pai de Nhamataca. É de chorar de emoção!

Tuahir recorda a estoriazinha do pai do fazedor de rios. O homem vivia só, se lamentando: antes mal acompanhado! Habitava na esteira de um rio largo, tão largo que deitava a pequeno qualquer tamanho da outra margem. Lhe doía a vida, indevida em um só indivíduo. Não haveria outra humanidade neste extenso mundo? Até que um dia, do outro lado das águas, lhe pareceu chegar uma voz. Havia um cacimbo cheio, era a estação das brumas. O velho se ergueu e espreitou a lonjura. Lá estava: do outro lado, o esbatente vulto de um gentículo. Deste lado, o pai gritou também. Não entendia rabisco que o outro dizia. Mas ripostava, com ânsia, antes que a miragem, desiludida, desaparecesse. Durante dias, se repetiu a troca de berros, até o arrebatamento das vozes se converterem uma em outra, sem nenhuma palavra se ter tornado entendível. O velho todo dia suspirava pelo momento de gritar. Um dia, contudo, o outro se demorou. Um estremecimento lhe arrepiou a tristeza. Ele já sofria de afeição demasiada pelo desconhecido, fosse a saudade de um irmão ainda por nascer. Manobrou, então, um pressentimento: e se, nos anteriores dias, o outro lhe tivesse tentado avisar de qualquer tragédia que estivesse por acontecer? Ou se o outro estivesse doente, necessitando de um braço amigo?
Decidiu então improvisar uma jangada, depressou-se na sua construção. E se lançou nas vagas, transversando a corrente. Em meio da jornada reparou como havia sido grande sua ousadia. E as ondas cresceram, grandes que ele nunca vira. A barcaça não resistia, o caudal do rio a ver com quantos paus se desfaz uma canoa. A água já embarcara, aos bocejos, na almadia. O pai de Nhamataca afundava, sem remédio. Nesse intante, porém, ele viu que um outro barquito avançava em sua direção. Olhou: era o vulto da outra margem que acorria em rumo avesso, direito a o salvar. Braços fortes o puxaram e ele se anichou, encharquilhado na outra embarcação. Foi então que, desfeitas bruma e lonjura, descobriu que o personagem do outro lado era uma mulher, dona de incendiada beleza. Tudo o resto se passou em silêncio como se perto já não se escutassem. O amor que trocaram é assunto para duas vidas inteiras, abandonadas para sempre num barquito sem rumo.
- Nasci num barco, sou filho das águas, sorri Nhamataca a fechar a estória.
Também descobri que foi feito um filme, baseado no romance, com roteiro do próprio Mia Couto e da diretora do filme, estreante a essa altura, Teresa Prata. É uma co-produção de Moçambique e Portugal e foi lançado em 2000, tendo no elenco: Tânia Adelino, Candido Andrade, Valdemar António, entre outros. Será que é tão bom quanto o livro? A ver. A imagem acima é uma cena do filme.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Enric Benicarló







Essas ilustrações fazem parte do trabalho desse artista do Mediterrâneo e que só pode ser visto nos seus blogs. Como é possível perceber as pinceladas de Enric Benicarló são fortes e generosas, o que faz com que compreendamos a intensidade das personagens retratadas. Intensidade que se aloja sobretudo nos olhares. O olho, porta de entrada da alma, é sem dúvida a marca mais contundente dos seus trabalhos, isso fica ainda mais visível em outros trabalhos e que você poderá conferir pelos seus sítios.
Eu fiquei tão encantado com esse primeiro a que ele chamou "A sad casual clown boy" que cheguei a perguntar para o Enric se ele não pretendia, algum dia, vender suas ilustrações. Eu adoraria ter o original, que suponho seja em papel, emoldurado, e na minha parede! Ele respondeu-me que misturar a merda do dinheiro e arte não estava em seus planos, embora ele já tenha feito isso no passado quando, parece, vendia seus desenhos em bares e "dark caves" de Barcelona. Adorei a resposta!
Aliás os blogs de Enric, nitidamente, também revelam essa atitude bastante autoral, decidida e que, sobretudo, preza pelo bom gosto. Ali, você sempre vai encontrar sugestões de músicas, conjuntos musicais e músicos, absolutamente alternativos. Suas fontes de pesquisa, nessa seara, são as culturas em torno do Mediterrâneo, sobretudo, a da Turquia e a da Grécia. Eu achei o máximo uma postagem em que ele nos diz que está cansado das músicas turcas comerciais e de mau gosto (achei interessante saber que também por aquelas paragens o mau gosto impera nas rádios - isso não acontece só no Brasil!), mas, por fim, ele nos diz que ao sintonizar determinada rádio da Turquia o inesperado aconteceu:
una suave voz femenina anuncia el próximo tema, al próximo artista: un tal Cem Adrian. La canción comienza con esas notas repetitivas de piano que captan absolutamente mi atención. Dejo el pincel sobre la mesa. Limpio mis dedos de pintura. Bebo un trago frío de woll y siento como la voz de Adrian va penetrando en mi mente como una droga líquida y amargante, como un latiguillo un tanto doloroso pero del cual no me puedo deshacer. Subo el volumen... subo mucho el volumen "Sen sen sen giderken, ben ben ben kalirken"...Son seis minutos y medio de una música diferente, de un licor embriagante, de un pecado inconfesable... seis minutos y medio de desconcierto entre la lírica y la electrónica, entre la poesía y el arte bruto, el oscuro sonido, la crueldad de la belleza sucia que hoy buscaba, que hoy necesitaba.
Vale a pena, realmente, conferir essa sugestão de Enric. Você pode encontrar um vídeo belíssimo do cantor na postagem a que me refiro, ou pode fazer uma busca no Youtube, of course.
Aliás, se você entrar agora no Bosphorus, um de seus blogs, você irá ver, em meio a imagens do mar mediterrâneo, de redes de pesca e de pássaros marinhos, quadras de Enric, nas quais, dentre outras coisas, leremos:
Escapar cruzando tus aguas,
como un ángel en los cielos,
y soltar anclote en la playa,
fondear la muerte y respirar.
Muito bonito, tudo!
Preciso dizer, por fim, que a minha alegria nessa experiência na blogosfera está nesse tipo de encontro. Os blogueiros de verdade são todos generosos, falam das coisas que gostam e com as quais também podemos nos identificar. Além disso, quando são talentosos como o Enric, podem mostrar os produtos de seus talentos, como esses desenhos maravilhosos acima, ou esses versos, mas em que tudo vem, sempre, no bojo de uma personalidade única.
Gosto de Enric também porque ele marca na lateral de seus blogs todas as causas que defende: ele é a favor da causa Palestina, é contra o golpe das oligarquias em Honduras, a favor da Mulher Trabalhadora, assim como de toda a "Clase Obrera" e também deseja a independência da Catalunha. Abomina o nazismo e todos as formas de fascismo.
Ou seja, ele é um rapaz que se preocupa em defender o que considera como causa justa! ;-D
Ele segue esse blog, como eu estou seguindo os dele.
Esse encontro virtual, propiciado pelo universo da blogosfera, revela que quando se é sensível ao poder da arte e de tudo o que é bom e faz bem, enfim, quando isso é estar conectado, a amizade não tem fronteiras.
Conheça você também:
http://enric-bosphor.blogspot.com/
http://enric-casatomada.blogspot.com/

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Clay illustration by Irma Gruenholz











Eu acho sensacional o universo da ilustração. Estou desconfiado, depois de ter postado tantos comentários acerca de diversos ilustradores nesse blog, de que tenho por eles aquilo que a poeta brasileira Cecília Meireles chamou de "inveja verde alface", yes! lettuce green envy... ;-D
É ainda uma inveja, mas já não é mais pecado.
É tão somente por que sinto que eu também gostaria de criar imagens tão sugestivas e que ilustram as possíveis palavras, enfim, nos inspiram a compreender mais e melhor o mundo.
E... of course, quanto mais criatividade, melhor!
Esse é também o caso dessa ilustradora espanhola, Irma Gruenholz, que faz ilustrações com plastilina (Clay illustration)
Seu trabalho remeteu-me ao universo da minha própria infância. Quando eu era criança, amava uma animação que era exibida em um programa televisivo na Rede Globo de Televisão, o Globinho, e que se chamava Mio, Mau. Era uma animação feita também com massa de modelar: a minha criança sempre se divertiu com esse tipo de trabalho.
Deixo a apresentação de Irma por conta dela mesma. Vejam o que ela escreveu no seu Portfolio:
Soy ilustradora especializada en ilustración con plastilina y otros materiales que me permitan trabajar con volumen.
Me gusta explorar las posibilidades de cada proyecto trabajando con todo tipo de elementos y sus texturas. Una vez finalizada la ilustración, se fotografía y se manda al cliente en formato digital en alta resolución.
Cuando la maqueta requiere un acabado consistente utilizo arcilla polimérica.
Hago ilustraciones para libros, revistas, anuncios, marketing online, packaging, etc. También hago maquetas con arcilla polimérica para presentaciones, prototipos y ficticios.
Ela é bastante profissional, sem dúvida. ;D
Visitem o seu blog: http://iirma.blogspot.com/
Por falar em animação de massinha, vejam que coisa mais linda eu encontrei em um outro blog, quando procurava informações sobre a animação Mio, Mau:
http://pecadodagula.blogspot.com/2008/11/para-ver-e-se-encantar.html

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Paris, o filme


Sexta-feira passada, fui ao cinema, após o meu expediente no jornal. Ao chegar no HSBC Belas Artes ainda não sabia o que veria. Devido ao horário, eu tinha poucas opções... Uma delas era a de um filme chamado Paris (2008), de Cédric Klapisch.
Oui, eu não podia deixar de ver um filme chamado Paris!
O filme conta a história de um rapaz, Pierre (Romain Duris) que é um dançarino profissional e que descobre precisar fazer um transplante do coração e que pode morrer. Ele procura o apoio da irmã nesse momento delicado: Élise (Juliette Binoche). Assim, acompanhamos o que se passa com esse rapaz, que sabe que pode morrer, mas que não se desespera, pelo contrário, a partir de então, ele irá ver a vida como algo realmente precioso.
Juliette Binoche, como sempre, está uma graça, naquela sua delicadeza de traços e de expressão.
Paris, a cidade, como poucas vezes no cinema, é mostrada de um modo mais verdadeiro, ou seja, menos idealizada. Descobrimos que ela é também uma cidade da vida real, onde as pessoas trabalham, sofrem e se divertem, como em qualquer outro lugar.
Gostei de ver os tipos franceses populares, como o grupo de feirantes que aparece no filme. Eles são tão parecidos com outros tantos tipos que conhecemos também por aqui (no Brasil) ou por ali (qualquer outro lugar dessa aldeia global). Mas os do filme possuem o plus de serem comoventes.
Um amigo que também já viu o filme percebeu (como eu também percebi) que há falhas de roteiro e até mesmo um tanto graves. ;-p Afinal, algumas personagens são abandonadas ou suas histórias não se sustentam em relação ao veio principal da trama e que é a situação de Pierre. Isso, contudo, não chega a comprometer de todo o filme. É um filme bonito, em sua nítida mensagem de que a vida continua e continuará sempre para os que ainda estão vivos e, isso, apesar de tudo.
Querem saber o que é muito bom mesmo, nesse filme? Nele, como em quase todo filme francês, os diálogos são absolutamente inteligentes. Há uma cena em que Pierre e Élise decidem contar para as crianças (os pequenos filhos de Élise) o que está acontecendo com o tio. Eles simplesmente dizem: O tio de vocês está muito doente e pode vir a morrer. Uma das crianças pergunta: Por que vocês estão nos contanto isso? A resposta: Simplesmente porque é a verdade, e não é nada demais, todo mundo vai morrer um dia.
Adoro esse modo de ser, direto, dos franceses!
Também fiquei sabendo, pelo meu amigo, que esse é o filme mais caro de toda a cinematografia francesa. O que nos pareceu incrível, afinal ele é quase todo rodado em interiores: apartamentos, uma boulangerie... O que teria saído tão caro? As muitas tomadas aéreas de Paris e também uma animação de computador, ou o fato de ter no seu elenco uma estrela de grandeza incostestável, a Binoche? Mas esses atributos seriam suficientes para alçá-lo a esse status?
C'est increable, vraiment!


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Mike Stilkey









Não é uma encanto esse trabalho?
Achei delicado. Há também um ar sutil de europeus decadentes nessas personagens, além de reminiscências de um mundo de sonho, fragilidade, algo um tanto triste, mas tão somente porque é como se a coisa não tivesse mesmo muito jeito, e, então, cada um tivesse que dizer sou blasé...
No site do moço, encontrei esse tipo de informação e interpretação about his work:
Mike Stilkey nasceu em Los Angeles, em 1975, e é atraído pela pintura e desenho não apenas no papel clássico, em capas ou páginas de livros, mas nos próprios livros. Em seus desenhos ele utiliza uma mistura de tinta, lápis de cor e verniz. Busca representar personagens melancólicos e que habitam espaços ambiguos criando uma narrativa de fantasia e inspirada nos contos de fadas. Há também um sentido permanente de perda e uma distante insinuação de profundidade emocional, desenha o espectador dentro da sua servidão introspectiva com uma mistura de poesia caprichosa, humor e mistério. Seu trabalho é uma reminiscência do expressionismo alemão da era de Weimar e seu estilo tem sido descrito como algo que capta os traços de artistas que vão de Edward Gorey a Egon Schiele.
Atualmente, ele expõe em uma individual na David B. Smith Gallery, localizada no histórico LoDo District in Denver, CO.
Por essa ocasião, ele nos diz: This is my first solo show with the gallery and I am more than excited.
Conheça seus outros trabalhos: http://www.mikestilkey.com/

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Gosto dessa gente preocupada com o planeta!


Hoje recebi um e-mail muito simpático. Vejam o teor:
"Queridos amigos y amigas,
Con las negociaciones climáticas pendiendo de un hilo, la cifra masiva de 1500 eventos de Llamado de Atención Mundial y la inundación de llamadas telefónicas a los líderes llegarán justo a tiempo para la cumbre de las Naciones Unidas de la semana próxima. Será grande, no te lo pierdas. Encuentra un evento cercano: Mira el mapa.
Veja a incrível lista e mapa de mais de 1500 eventos para a Hora de Acordar global segunda-feira que vem. O Brasil tem 153 eventos, a França 95, Nova Zelândia 26 -- veja o que vai acontecer em cada país e se tem um evento na sua cidade:
http://www.avaaz.org/po/tcktcktck_map
(a maioria são eventos "relâmpago" durante a hora do almoço, tudo que você precisa é 5 minutos e um celular! -- mas há muitas outras atividades também...)
Vamos garantir que os líderes globais no encontro sobre o clima da ONU acordem terça-feira de manhã sabendo que 1559 marchas, seminários, manifestações, caminhadas, etc, inundaram seus telefones com um chamado climático irresistível...
http://www.avaaz.org/po/tcktcktck_map
Mal podemos esperar até segunda-feira,
Ricken, Milena, Paul, Veronique, Ben e toda a equipe Avaaz"
Entrando no mapa, encontrei esse evento aqui em Sampa, entre inúmeros outros:
EVENTO OFICIAL CAMPANHA TIC TAC - Unir-se a este evento
Monday, September 21 at 12:00 PM
Lugar: Av Paulista, 1.578, Sao Paulo, Brazil
Nome: Veruska Barreiros
Descrição do evento para o público
Concentração no vão livre do MASP, com som e atividades. Caminhada até o Conjunto Nacional, com inauguração de megabanner TicTac de contagem regressiva. Muito movimento e animação! Haverá também uma flashmob no Gazeta, às 12:00. Depois o pessoal da flash se junta ao pessoal do MASP.
Esse post representa meu apoio a essa mobilização e minha singela contribuição na divulgação!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Os dez livros que também mudaram a minha vida










Ontem, Alessandro Martins, do blog Livros e Afins, postou o que ele chamou os 11 livros que podem mudar sua vida. Na verdade, a sua aposta é muito singela e sincera, uma vez que ele nos diz: "Estes 11 livros podem mudar o modo como você vê o mundo porque de alguma maneira mudaram como eu via alguns aspectos da vida. Verdade é que não se lê nem um Almanaque Sadol impunemente. Cada palavra que entra pelos olhos ou ouvidos nos transforma."
Ao final do post, ele lançou um convite ao seu leitor: "convido-o a compartilhar comigo e com os outros leitores os livros que mudaram sua vida, na caixa de comentários ou mesmo em seu próprio blog se for o caso."
Na lista do Alessandro constam 11 livros, vale conferir: http://www.livroseafins.com/
Devo dizer que, inicialmente, fiquei em dúvida se eu deveria fazer a minha lista. Li muita coisa nessa vida e nem posso dizer que sou um leitor com memória enciclopédica, que retenho tudo o que leio: longe disso. Daí que já me vi relendo um livro como se fosse a primeira leitura. ;-D
Mas, ao iniciar a minha lista, esses livros todos pesaram mais do que outros e são todos obras literárias:
A Divina Comédia li muito cedo. Eu devia ter uns 15 anos. Achei lindíssimo o início A meio caminho desta vida, achei-me a errar por uma selva escura, longe da boa via, então perdida. Até hoje penso que, sim, a partir dos 35 anos é isso mesmo o que ocorre, mutatis mutandi, com qualquer um. E acredito em tudo na Divina Comédia. Inclusive na chegada ao paraíso, por fim!
O Corcunda de Notre Dame também li por esse tempo. Romântico, emocionante, tomador. Lembro que chorei muito, não sei se porque era muito jovem, ou porque o poder descritivo de Victor Hugo é incrível mesmo.
De Machado eu li toda a sua obra ainda na adolescência. Mas Capitu é "A" personagem de Machado. Portanto, Dom Casmurro é inesquecível.
Eu li Os Maias também na adolescência e reli essa obra quando estava na Faculdade de Letras. Lembro-me que a professora pedia para lermos um romance de Eça, por semana. Como Os Maias é um livro imenso, sendo a saga de toda uma família como é, ninguém na classe leu e ficamos somente eu e a professora falando do livro. Eu era um aluno apaixonado pela obra de Eça.
Grande Sertão: Veredas, esse nosso clássico eu também li no curso. E lamentei não ter lido antes. Vi Diadorim como homossexual o tempo todo e quando descobri, juntamente com a personagem Riobaldo, tratar-se de uma mulher achei tudo ainda mais doloridamente humano como o livro já anunciava ser tudo, a própria vida, a cada página.
Clarice também foi leitura do curso e a Paixão segundo GH, de tudo o que ela escreveu, eu considero uma obra-prima da autora. Achei engraçado o fato de que o Alessandro recomendou Laços de Família, dessa autora, dizendo: "Chega de dizer que Clarice Lispector é literatura feminina. Ao ler Laços de família talvez você perceba que a literatura de Clarice Lispector é tão somente humana. Calhou de ela nascer mulher." Perdão Alessandro, mas discordo. É literatura feminina sim. Não "calhou" de ela ser mulher, meu caro. Homem nenhum poderia dizer o que ela diz. O que calha de acontecer é existir alguns homens (não é o caso da maioria humana dos homens) dispostos a embarcar nessa viagem "sui generis". Mas é importante que eu também diga aqui: essa discussão de gênero pode ser muito infeliz e até mesmo infrutífera mesmo e concordaremos com isso certamente, afinal, tudo pode ser mais misterioso do que imaginamos, quando estamos nessa seara.
Até aqui falei dos livros que acompanharam a minha juventude e mudaram minha vida, a partir daquele momento.
Mais recentemente, após os 35 anos, ou seja, o meio dia da minha própria vida, li os demais livros dessa lista: Mrs. Dalloway, A Montanha Mágica, A ingênua libertina e Em busca do tempo perdido.
A sofisticação das personagens femininas de Woolf nos tomam sempre. Também gosto de muitos de seus contos. Há inclusive um deles em que Mrs. Dalloway já existe (como personagem secundária), foi escrito antes do romance, suponho: o nome do conto é The new dress.
A Montanha Mágica é outro calhamaço que você poderá percorrer com tranquilidade, sobretudo se gosta de paisagens nórdicas e de personagens em grande conflito interior, intensos e comoventes.
A Ingênua Libertina é a sagacidade e genialidade na construção de uma personagem como somente Colette poderia fazer em seu tempo.
A respeito da obra-prima de Proust vou registrar tão somente que com essa leitura quebrei uma promessa que fizera ainda na juventude: de que eu só leria Proust no original. No entanto, o tempo passou e eu não aprendi francês o suficiente para ler Proust no original e, a meio do caminho dessa vida, achei que a promessa era tolice pura, pois se grandes escritores brasileiros, como Mario Quintana, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade eram os tradutores da genialidade de Proust para o português, porque eu iria deixar de conhecer as personagens mais fascinantes da literatura de todos os tempos?
Não deixe também de ler esses livros . Se irão mudar sua vida não sei, mas, sem dúvida, eles (juntamente com tantos outros que não pertencem ao universo da literatura) mudaram a minha.