quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cora Coralina - Coração do Brasil.





Ontem, o Museu da Língua Portuguesa inaugurou essa exposição que celebra os 120 anos do nascimento da poeta de Goiás. Eu quero muito ir. Eu aprendi a gostar de Cora Coralina quando eu era ainda muito jovem, e sinto que isso aconteceu porque, mesmo jovem, compreendi que ela é uma mulher inteira e verdadeira no que diz em seus poemas. Hoje, além disso, também porque penso que ela viveu de maneira tão distinta, coerente e sua vida foi tão bonita!
Ao que tudo indica, a exposição foi preparada com muito carinho, na curadoria de Júlia Peregrino e com cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara. O Museu da Língua Portuguesa já é uma referência no tratamento que dá a esse tipo de exposição, no resgate e na apresentação, que faz em painel, da vida e obra dos escritores de nossa literatura.
Estou ansioso para ver seus cadernos de poemas, dentre eles um de receitas. Cora Coralina foi também doceira e assim ganhava a vida. Aliás, o evento marca o lançamento do livro Cora Coralina - Doceira e Poeta, obra que traz suas receitas e é também uma homenagem. Eu quero muito! \o/
Muita coisa do que veremos na Estação da Luz, na qual Cora Coralina desembarcou quando veio jovem para São Paulo, são do Museu que fica nessa casa linda em que ela morou, à beira de um rio e que atravessa sua cidade tão querida e cantada em seus poemas.
Cora Coralina - Coração do Brasil. Museu da Língua Portuguesa. Estação da Luz, Pça. da Luz, s/n. Tel. (011) 3326-0775. Terça a domingo: das 10h às 17h. Última terça do mês: das 10h às 22h. Até 13/12. R$ 6,00. Livre.
Enquanto não vejo a exposição ou compro esse livro, deixo aqui um de seus poemas de que mais gosto:
Todas as Vidas
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera
das obscuras!

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