quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Os dez livros que também mudaram a minha vida










Ontem, Alessandro Martins, do blog Livros e Afins, postou o que ele chamou os 11 livros que podem mudar sua vida. Na verdade, a sua aposta é muito singela e sincera, uma vez que ele nos diz: "Estes 11 livros podem mudar o modo como você vê o mundo porque de alguma maneira mudaram como eu via alguns aspectos da vida. Verdade é que não se lê nem um Almanaque Sadol impunemente. Cada palavra que entra pelos olhos ou ouvidos nos transforma."
Ao final do post, ele lançou um convite ao seu leitor: "convido-o a compartilhar comigo e com os outros leitores os livros que mudaram sua vida, na caixa de comentários ou mesmo em seu próprio blog se for o caso."
Na lista do Alessandro constam 11 livros, vale conferir: http://www.livroseafins.com/
Devo dizer que, inicialmente, fiquei em dúvida se eu deveria fazer a minha lista. Li muita coisa nessa vida e nem posso dizer que sou um leitor com memória enciclopédica, que retenho tudo o que leio: longe disso. Daí que já me vi relendo um livro como se fosse a primeira leitura. ;-D
Mas, ao iniciar a minha lista, esses livros todos pesaram mais do que outros e são todos obras literárias:
A Divina Comédia li muito cedo. Eu devia ter uns 15 anos. Achei lindíssimo o início A meio caminho desta vida, achei-me a errar por uma selva escura, longe da boa via, então perdida. Até hoje penso que, sim, a partir dos 35 anos é isso mesmo o que ocorre, mutatis mutandi, com qualquer um. E acredito em tudo na Divina Comédia. Inclusive na chegada ao paraíso, por fim!
O Corcunda de Notre Dame também li por esse tempo. Romântico, emocionante, tomador. Lembro que chorei muito, não sei se porque era muito jovem, ou porque o poder descritivo de Victor Hugo é incrível mesmo.
De Machado eu li toda a sua obra ainda na adolescência. Mas Capitu é "A" personagem de Machado. Portanto, Dom Casmurro é inesquecível.
Eu li Os Maias também na adolescência e reli essa obra quando estava na Faculdade de Letras. Lembro-me que a professora pedia para lermos um romance de Eça, por semana. Como Os Maias é um livro imenso, sendo a saga de toda uma família como é, ninguém na classe leu e ficamos somente eu e a professora falando do livro. Eu era um aluno apaixonado pela obra de Eça.
Grande Sertão: Veredas, esse nosso clássico eu também li no curso. E lamentei não ter lido antes. Vi Diadorim como homossexual o tempo todo e quando descobri, juntamente com a personagem Riobaldo, tratar-se de uma mulher achei tudo ainda mais doloridamente humano como o livro já anunciava ser tudo, a própria vida, a cada página.
Clarice também foi leitura do curso e a Paixão segundo GH, de tudo o que ela escreveu, eu considero uma obra-prima da autora. Achei engraçado o fato de que o Alessandro recomendou Laços de Família, dessa autora, dizendo: "Chega de dizer que Clarice Lispector é literatura feminina. Ao ler Laços de família talvez você perceba que a literatura de Clarice Lispector é tão somente humana. Calhou de ela nascer mulher." Perdão Alessandro, mas discordo. É literatura feminina sim. Não "calhou" de ela ser mulher, meu caro. Homem nenhum poderia dizer o que ela diz. O que calha de acontecer é existir alguns homens (não é o caso da maioria humana dos homens) dispostos a embarcar nessa viagem "sui generis". Mas é importante que eu também diga aqui: essa discussão de gênero pode ser muito infeliz e até mesmo infrutífera mesmo e concordaremos com isso certamente, afinal, tudo pode ser mais misterioso do que imaginamos, quando estamos nessa seara.
Até aqui falei dos livros que acompanharam a minha juventude e mudaram minha vida, a partir daquele momento.
Mais recentemente, após os 35 anos, ou seja, o meio dia da minha própria vida, li os demais livros dessa lista: Mrs. Dalloway, A Montanha Mágica, A ingênua libertina e Em busca do tempo perdido.
A sofisticação das personagens femininas de Woolf nos tomam sempre. Também gosto de muitos de seus contos. Há inclusive um deles em que Mrs. Dalloway já existe (como personagem secundária), foi escrito antes do romance, suponho: o nome do conto é The new dress.
A Montanha Mágica é outro calhamaço que você poderá percorrer com tranquilidade, sobretudo se gosta de paisagens nórdicas e de personagens em grande conflito interior, intensos e comoventes.
A Ingênua Libertina é a sagacidade e genialidade na construção de uma personagem como somente Colette poderia fazer em seu tempo.
A respeito da obra-prima de Proust vou registrar tão somente que com essa leitura quebrei uma promessa que fizera ainda na juventude: de que eu só leria Proust no original. No entanto, o tempo passou e eu não aprendi francês o suficiente para ler Proust no original e, a meio do caminho dessa vida, achei que a promessa era tolice pura, pois se grandes escritores brasileiros, como Mario Quintana, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade eram os tradutores da genialidade de Proust para o português, porque eu iria deixar de conhecer as personagens mais fascinantes da literatura de todos os tempos?
Não deixe também de ler esses livros . Se irão mudar sua vida não sei, mas, sem dúvida, eles (juntamente com tantos outros que não pertencem ao universo da literatura) mudaram a minha.

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