segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Futebol é uma janela para o Brasil, segundo Felipe Carrilho

Na semana passada, aconteceu o lançamento do livro Futebol: uma janela para o Brasil, de Felipe Dias Carrilho. O autor é um apaixonado por futebol, como tantos brasileiros, não é mesmo? Além disso, ele também é bacharel em história pela USP, colabora com os jornais Brasil de Fato e Diário do Comércio e tem um blog chamado Jogo de Classe.
Embora eu não seja apaixonado assim por futebol, depois de ler o livro, eu compreendi até mesmo minha relação um tanto ambígua com o esporte. É que na infância eu não curti futebol e houve um período em que eu nem queria ouvir falar de futebol, mas graças a Deus, a gente cresce! E, então, já faz alguns anos, eu tenho olhado para o futebol com bons olhos, e com a consciência de que esse é um fenômeno que precisa ser compreendido para que faça sentido. E, afinal, eu sou uma pessoa que deseja entender o sentido das coisas. rsrsrs

Pois bem, se o futebol é um esporte que mobiliza tanta gente, todo um país, ele não pode ser algo que não faça sentido, e, tampouco ser visto, tão somente, como diversão, naquilo que essa palavra tem de descompromisso com o próprio contexto social em que vivemos.
Ele pode também ser diversão, entretenimento, mas é muito mais do que isso.
E eu, bem ou mal, já sabia disso, mesmo que eu nunca o tenha jogado, ou tenha ido a um estádio assistir a uma partida de futebol e me limite a assistir a um jogo de futebol quando é época de copa do mundo, para ver a seleção brasileira jogar.
A seleção brasileira e as copas todas são o alvo de uma análise histórica e mesmo antropológica, bastante aprofundada pelo autor de Futebol: uma janela para o Brasil.
O livro tem um apelo importante: ele nos faz entender porque o futebol é essa janela para vislumbrarmos nosso país, em suas contradições. É que o esporte passou a ser popular, propriamente, desde que saiu dos ciclos de elite a que estava circunscrito, no início de sua propagação pelo país.
Ele defende que, sim, a participação dos negros no esporte é que tornou o futebol brasileiro o futebol arte (esse quase em extinção) e essa ascensão, tanto dos negros quanto desse tipo de futebol, não ocorreu sem sofrimento:
Por exemplo, você sabia que os negros ficaram muito tempo sem ocupar a posição de goleiro na nossa seleção, depois do gol que fez o Brasil perder a última copa sediada no país, em 1950, quando o goleiro era negro?
Ou você sabia que, durante a ditadura, o Brasil perdeu uma das Copas e isso já era uma sugestão do declínio do próprio regime?
E, também, que alguns nomes importantes do futebol brasileiro, como o do jogador Dr. Sócrates, do Corinthians, apoiou, em campo, o movimento pela reabertura democrática do país durante aquela mesma ditadura?
Uma outra informação importante e atual, e que o autor nos sugere pensar, diz respeito ao fato de que há um perigo de retorno da elitização do esporte - com a desculpa de combater a violência das torcidas - limitando o acesso aos estádios, por exemplo, encarecendo os ingressos. São os caminhos de uma nova configuração do futebol: a da sua mercantilização, nos moldes dos interesses econômicos que envolvem verdadeiras fortunas.
Por tudo isso, por nos fazer conhecer e refletir em toda essa complexa teia que envolve o esporte no nosso país é que esse livro é importante e deve ser lido.
Há ainda um motivo ainda mais prazeroso e que reconheci a partir de sua leitura, é que, como em todo livro bem escrito, podemos observar que o autor consegue falar do futebol, da sua história, suas relações com o universo da política, da economia, enfim, com a própria vida brasileira nesse último século, e tudo isso soa vivo e pleno de interesse. Nada é exagerado no livro, sequer a paixão do autor pelo tema.
Tal paixão apenas contribuiu para que ele falasse do assunto com toda a segurança de quem o estuda e o pensa também com amor. Amor que está para além do esporte, posto que o que lhe interessa no futebol são os seres humanos que o fazem existir dentro de campo e também fora dele.

2 comentários:

  1. Puxa vida, Josafá,

    Que belas palavras sobre meu pequeno livro. Não mereço.

    Muito obrigado.

    Um abraço.

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  2. Felipe,
    É tão bom poder falar ao próprio autor o que sentimos a respeito de seu livro.
    Eu é que agradeço esse privilégio.
    Parabéns e que mais gente possa vivenciar essa experiência tão rica e, como disse, prazerosa de ler seu livro.
    abs

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