sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Educação na Escola e na Praça

Hoje, na minha hora do almoço, passei pela Praça do Patriarca, aqui no centro de São Paulo, e vi um moço, sentado em uma cadeira de rodas com seu violão e diante de um microfone, que cantava, com seu vozeirão potente e afinado, uma canção da Legião Urbana, aquela deliciosa: “Eduardo e Mônica”. Ele era acompanhado por uma bateria, que um outro músico tocava muito bem.
O cantor era um homem adulto e cadeirante.
Achei-o tão animado, verdadeiro, confiante. E fiquei feliz por isso.
Também foi inevitável imaginar que ele possa ter passado e ainda deve passar por muitas adversidades, sobretudo, aquelas que resultam da falta de apoio, o qual as pessoas com mobilidade reduzida precisam ter. Essa falta de apoio pode acontecer por parte das instâncias governamentais, ao não ampliarem ainda mais as políticas de inclusão desses cidadãos na escola, no mercado de trabalho, na vida social produtiva; ou por parte da família ou, ainda, dos indiferentes às suas dificuldades.
Independentemente disso tudo, esse homem é já um adulto e está confiante e fazendo sua parte: vendendo, pessoalmente, seus CDs, em praça pública, cantor que é.

Quando passei pelo homem, imediatamente, também associei essa circunstância a uma outra que conheci, ainda nesta manhã.

É que vivi uma experiência importante para a minha própria educação: fui conhecer a Escola NANE, no bairro de Moema. As donas da escola são pedagogas, educadoras e psicólogas, que há muito trabalham com a prática de uma Educação Regular Inclusiva e, isso, desde quando nem se sabia como nomear essa atitude destemida de quem pensa a educação para todos e, principalmente, arregaçando as mangas e fazendo com que ela aconteça.
E o que vi?
Um ambiente absolutamente agradável e no qual as pessoas todas - porteiro, recepcionista, auxiliares de limpeza, professores, coordenadores, fisioterapeutas, as diretoras/mantenedoras da escola - todos vivenciam a experiência de educar com prazer, com respeito e com verdade. Qual verdade? Aquela que permite a esses alunos, desenvolver suas capacidades, mesmo que dentro dos seus limites o que, infelizmente, não acontece em muitas escolas, e mesmo hoje, quando a educação inclusiva é lei e está no papel.
A verdade, é que, antes de algo como uma lei dizer o que deve ser feito, as pessoas precisam descobrir por si mesmas o que deve e precisa ser feito e, principalmente, como fazer isso mesmo.
É por isso que as crianças e jovens que estudam na Escola NANE estão felizes, cada qual a seu modo, e eu não tenho dúvida alguma de que isso se deve ao amor que conduziu aquelas pessoas a desempenharem tão bem os seus papéis.
Uma professora me contava que eles têm na escola um projeto que possibilita aos adolescentes deixarem de viver apenas limitados ao convívio familiar ou mesmo escolar, o que muito comumente ocorre na vida de tantos jovens nas mesmas condições. Assim, eles se organizam em grupos, acompanhados por um educador, e vivenciam saídas diversas, por exemplo, tão somente para sentarem-se em uma lanchonete em grupo ou quando festejam o aniversário de um amigo/amiga, e, assim, de programinha em programinha, passam a exercitar o convívio fora do ambiente escolar ou familiar, e, portanto, aquelas situações comuns e necessárias e que acontecem na vida de um adolescente, normalmente. Aliás, uma mãe, depois de permitir que sua filha vivenciasse essa experiência, disse para a educadora:
- Vocês devolveram a adolescência para a minha filha.
Não é muito bonito poder ouvir um agradecimento tão punjente de uma mãe, quando se é professor?
Isso só ocorre se a equipe de educadores de uma escola souber e tiver a certeza de que Educar é ensinar que toda pessoa tem o direito de viver a sua vida e de fazer dessa vida o que melhor puder fazer. Algumas pessoas precisam ainda mais desse ensino, ou seja, do ensino de que isso é possível e por esse mesmo motivo também merecem os cuidados que outras pessoas podem lhes propiciar para que vivenciem esse direito.
Isso também pode acontecer em plena praça pública, vejam só! No entanto, deveríamos nos perguntar:  em quantas praças mais, celebraríamos essa beleza, se nas escolas isso acontecesse com mais frequência?

Bom fim de semana. ;-D

6 comentários:

  1. Você é que é Lindo!!!! Que bom que você gostou!!!
    Bjs
    Rita

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  2. A gente só reconhece no outro o que já tem dentro da gente.
    Você parece um de nós!
    Abraço,
    Stella (Coordenadora da NANE)

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  3. Rita, querida,
    Esse trabalho de vocês é formidável!
    Stella,
    Fiquei lisonjeado de você dizer que pareço um de vocês. Quem me dera! Mas que me reconheço nesse desejo de ser parecido com vocês, ah, isso sim.
    ;-D
    beijos para toda a NANE

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  4. Mais uma de nós!!! Olha eu aqui! Josafá, seu texto é emocionante, merece estar no nosso twitter. Já foi... está lá!
    Obrigada por essa emoção!!!!
    Miriam

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  5. Lindo texto e linda pessoa!!!! Parabéns caro amigo!!!! Gosto muito de tê-lo como amigo!!! beijão

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  6. Miriam,
    Fiquei tão feliz de conhecer seu trabalho! A vida é boa quando todos nós ficamos gratos, não é mesmo?

    Terezinha,
    Eu gosto tanto de vc também! Beijão ;-D

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