sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

José Hierro

Manter um blog, além de favorecer a experiência de autoria, propiciando o exercício da escrita, também nos faz estar em contato com o mundo. Pessoas do mundo inteiro podem visitar esse espaço e, assim sendo, há sempre a possibilidade da troca de ideias com aqueles que estão distantes no espaço, mas próximos no espírito. Assim tem sido com um amigo catalão que conheci por aqui. Certa feita, ele sugeriu-me que trocássemos livros de poesia, pois, assim sendo, ele iria conhecendo a poesia dos brasileiros e eu a poesia de Espanha. Pedi que fosse um livro em espanhol porque o catalão poderia ser um pouco mais difícil para mim, ao menos por ora. ;-p


Recebi o primeiro livro dessa troca. E descobri um assombro de poeta.


Trata-se de José Hierro e o seu Cuaderno de Nueva York. Segundo o texto da contracapa dessa edição, esse poeta ocupa um lugar fundamental na poesia espanhola da última metade do século XX. Ele publicou seu primeiro livro em 1947, Tierras sin nosotros e ganhou o prêmio Adonáis com a obra Alegria. Já esse Cuardeno de Nueva York é de 1998.

Outros títulos como Con las piedras, con el viento; Quinta del 42; Cuanto sé de mí, Libro de las alucinaciones e Agenda marcam uma trajetória impecável, permanentemente enriquecida e renovada, e que tem sido reconhecida com numerosos prêmios como o Nacional de la Crítica em duas ocasiões, o Príncipe de Asturias, o Nacional de las Letras Españolas e o Reina Sofía de Poesía.

Eu estou achando o poeta e seu Cuaderno emocionantes. Penso que essa sua poesia tangencia algo de mítico e de místico, ao mesmo tempo, o que não é muito comum, ou melhor, é apenas comum em toda poesia verdadeira. Assim sendo, penso que a poesia de Hierro toca em elementos que não podem ser compreendidos sem essa dimensão de transcendência do espírito humano. Eu considero que ele é daqueles poetas dos quais devemos decorar seus poemas e recitá-los sempre que houver oportunidade. Ou seja, tão somente quando estamos na companhia daqueles que se deliciam com essas profundezas da alma.

Todos os prêmios que Hierro recebeu são mais do que merecidos. Meu amigo catalão também merece um prêmio. Como não sou a rainha Sofia só posso dar-lhe como prêmio o livro prometido em troca e que já está a caminho de Benicarló, cruzando o Atlântico. Tenha paciência, Enric! ;-D

Para que vocês conheçam o poeta e o "clima" desse livro magnífico, eu trago aqui um dos poemas de que mais gostei. Perdoem-me a tradução, ou melhor, como não sou tradutor e nunca estudei espanhol, eu a chamaria de "versão brasileira" by Josafá Crisóstomo. rsrsrs

ESPEJO

                                                   En outro cielo, en outro reino extraño,
                                                          mis trabajos se vieron em mi cara.
                                                   LOPE DE VEGA


Esse desconocido, esse recién llegado
que habla solo - no sabe que lo escucho -
y que pregunta, no sé a quién, ¿por qué volviste?
Mientras borra com una blanca nube
los trabajos tatuados en su cara,
los zarpazos del tiempo,
y que outra vez pregunta ¿por qué volviste?
Esse, al que veo y al que escucho
desde el lado de acá del espejo,
¿dónde, com quién estará hablando?

ESPELHO

                                                Em outro céu, em outro reino estranho,
                                                meus sofrimentos surgiram em minha face.
                                                LOPE DE VEGA

Esse desconhecido, esse recém-chegado
que fala sozinho - não sabe que o escuto -
e que pergunta, não sei a quem: por que voltastes?
Enquanto apaga com uma nuvem branca
os sofrimentos tatuados em sua face,
as patadas do tempo,
outra vez pergunta: por que voltastes?
Esse, a que vejo e escuto
desde o lado de cá do espelho,
onde, com quem estará falando?

2 comentários:

  1. Merhaba amigo !

    Ah! desde que los libros tienen alas los ángeles ven pasar bibliotecas entre las nubes y, asexuados como dicen que son, pretenden erecciones y desean poluciones... ¡todo en vano!.
    -!Qué gran desgracias ser tan buenos ! (gritó un ángel)
    Leyendo a Sade se buscó en la entrepierna y no alcanzó a palpar a Dios...
    Otro ángel, escondido tras una montaña de humo recién ascendido desde la chimenea de una fábrica de Manchester miró una mancha amarilla que se mantenía quieta frente a él. Se acerco sigiloso y tocó con la punta de sus dedos de ángel el papel suave de aquel libro alado que esperaba. Leyó en la portada el nombre del poeta y paseó el dorso de su mano por donde jamás hubo nada pero, esta vez, como un cactus, su vello hirsuto le hirió, más que la piel de ángel (tan límpida y perfumada) la mente virgen.

    Y dicen haber visto a ese ángel por los tugurios más decadentes de la periferia, en los lupanares chinos y en fumaderos de opio de Chinatown acompañado de seres que leen y que hacen el amor a todas horas, que beben y morirían sin la poesía que espera, como un orgasmo angelical, el momento de ser derramada hacia las alturas...

    Un abrazo, sin ángel, desde la poesía oscura de los perdedores,

    Selamlar Josafá !

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  2. Enric
    Adorei esse seu texto que sugere a poesia como a possibilidade de um gozo angelical. Acho que poesia é isso mesmo. ;-D
    Quero te agradecer pelas dicas que recebi by e-mail acerca da tradução. Como vês trouxe a nuvem branca de volta e corrigi o "Onde". Mantive os trabajos como sofrimentos (para não pensá-los como misérias) e zarpazos como "patadas". Será que você aprovou esse trabalho (que não foi sofrimento algum... rsrsrs) depois das minhas justificativas?
    Um abraço grande

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