quarta-feira, 20 de maio de 2009

Livro Armadilha


Ser um leitor voraz pode ser também uma armadilha. Explico. Li um livro cujo tema interessa-me desde a queda das torres gêmeas, naquele fatídico 11 de setembro. Sim, eu preciso, como creio que todo mundo precisa, entender a bad trip dos terroristas. Então, comecei a leitura do livro Sobre o Islã - A afinidade entre Muçulmanos, Judeus e Cristãos e as origens do Terrorismo, de Ali Kamel. Iniciei a leitura do livro sem saber quem era o autor. Também inicialmente, descobri que era um jornalista brasileiro (e sociólogo), filho e neto de sírios e muçulmanos e com avó brasileira e cristã.
É importante que se diga: trata-se de um livro muito bem escrito, com uma pesquisa rica e rigorosa e um argumento, de início, absolutamente sedutor, ao menos para leitores que, como eu, procuram em um texto aprender sobre o diferente e, preferencialmente, procurando a conciliação com esse diferente. Essa é a proposta primeira do texto. Ele procurou falar do Islã pelo prisma de aproximar a cultura muçulmana, essa religião, das suas religiões irmãs, ou seja, o judaismo e o cristianismo.
Em síntese, posso dizer que concordo plenamente com esse autor, quando ele defende que os terroristas não são dignos de serem chamados de fundamentalistas ou literalistas ou, sequer, de fanáticos. Nada disso serve, segundo Kamel, porque Bin Laden e sua turma são mesmo é um bando de totalitários e por essa razão são tão perigosos quanto Hitler o foi. Eles são os totalitários do Islã. Depois daquela demonstração chocante do 11 de setembro, ninguém pode mesmo discordar disso. O que não podemos fazer é achar que todos os muçulmanos são isso (é uma delícia acompanhar, no livro, toda a construção de raciocínio conciliador e de embasamento histórico que nos leva a essa conclusão). Estamos, assim, de pleno acordo.
Aliás, não esqueçamos que nós também temos os nossos católicos e protestantes fanáticos, fundamentalistas. Ainda não tivemos demonstração de totalitários nessa seara (espero que eles não cresçam e apareçam! :-p)
Mas, então, qual é o problema do livro de Kamel? Na minha modesta opinião, foi o fato de ele obrigar-me, com toda a sua verve sedutora, a ler o livro inteiro para, no final, ouvir a defesa da Guerra do Iraque (vejam só!) e, por consequência, do malfazejo Bush. A Parte V do livro, "Algumas perguntas sobre a Guerra do Iraque" é uma leitura totalmente dispensável, embora não invalide todo o percurso argumentativo que se construiu até ali. A impressão que nos fica é a de que tudo de bom que o livro foi até ali (o que antecedeu a essa parte) era tão somente para justificá-la! Mas afinal, quem é esse jornalista? O Google pode nos informar: Ele trabalha há anos para as Organizações Globo - jornal e televisão, e ele também escreveu um livro polêmico em que defende que não há racismo no Brasil (ou nunca houve) e que as cotas para negros nas universidades podem, então, segundo ele, acirrar uma tal questão racial que nunca houve. Penso que isso é tão discutível quando a defesa da Guerra do Iraque, ou seja, a ausência de racismo no Brasil e o papel que as cotas possam ter nessa questão. De qualquer modo, esse livro eu não li! :D

3 comentários:

  1. Bem, eu realmente não acho que Bin Lden é diferente de Bush, e a mesma "turma": há muitas muitas muitas evidências de que o terrorismo fundamentalista ali naquele 11 de setembro - que está ligado a tantas outras ações e guerras (algums permanentes, diga-se) - é obra dos EUA, de um certo poder corporativo que ali tem raízes, da indústria bélica que sustenta a economia da famigerada megapotência e que, diante da crise iminente, tomou lá suas providências. Não forma os muçulmanos que explodiram as torres, mas os estadunidenses mesmo. Isso é muito sério. Se continuarmos acreditando nisso, nunca vai acabar o horror de Guatánamo, que é mil vezes pior do que o que rolou nas torres gêmeas. Nossa! Pòe pior nisso!

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  2. Então, eu gostaria de ler um autor que pudesse nos contar esse lado da história. As minúcias.
    A morte infligida às vítimas das torres foi um horror e a tortura que se impõe àqueles prisioneiros é um horror. Tudo é pavorosamente horroroso!

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