terça-feira, 30 de novembro de 2010

De Gardel a Calamaro

Eu quero terminar o mês de novembro ouvindo um tango!
E quero compartilhá-lo por aqui.
Um amigo recomendou-me que eu ouvisse esse jovem extraordinário: Andrés Calamaro

O que me parece mais engraçado é que ele é um roqueiro argentino e que já tem uma estrada considerável, canta desde de a década de 80, mas é desconhecido no Brasil. A verdade é que nós, brasileiros, não temos o hábito de acompanhar a música em língua espanhola... Infelizmente!

No vídeo, em que o conheci, ele está cantando um famoso tango argentino. O meu amigo catalão, Enric, disse-me que, si, Mano a Mano es un tango de Carlos Gardel! Eu, ignorante, não sabia...

A interpretação do jovem é intensa, verdadeira. Lá no Youtube alguém, provavelmente um argentino, postou o seguinte comentário: “Calamaro tiene voz para cantar tango... eso hay ke aceptarlo
Devemos aceitar e aplaudir!

Enjoy it!




Rechiflao en mi tristeza, te evoco y veo que has sido
de mi pobre vida paria sólo una buena mujer
tu presencia de bacana puso calor en mi nido
fuiste buena, consecuente, y yo sé que me has querido
como no quisiste a nadie, como no podrás querer.
e dio el juego de remanye cuando vos, pobre percanta,
gambeteabas la pobreza en la casa de pensión:
hoy sos toda una bacana, la vida te ríe y canta,
los morlacos del otario los tirás a la marchanta
como juega el gato maula con el misero ratón.
Hoy tenés el mate lleno de infelices ilusiones
te engrupieron los otarios, las amigas, el gavión
la milonga entre magnates con sus locas tentaciones
donde triunfan y claudican milongueras pretensiones
se te ha entrado muy adentro en el pobre corazón.
Nada debo agradecerte, mano a mano hemos quedado,
no me importa lo que has hecho, lo que hacés ni lo que harás;
los favores recibidos creo habértelos pagado
y si alguna deuda chica sin querer se había olvidado
en la cuenta del otario que tenés se la cargás.
Mientras tanto, que tus triunfos, pobres triunfos pasajeros,
sean una larga fila de riquezas y placer;
que el bacán que te acamala tenga pesos duraderos
que te abrás en las paradas con cafishios milongueros
y que digan los muchachos: “Es una buena mujer”.
Y mañana cuando seas deslocado mueble viejo
y no tengas esperanzas en el pobre corazón
si precisás una ayuda, si te hace falta un consejo
acordate de este amigo que ha de jugarse el pellejo
p’ayudarte en lo que pueda cuando llegue la ocasión.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Tem gente que bebe e está morrendo!

Outro dia, eu falei aqui sobre uma conversa que eu tive com uma mãe de um alcoólatra e penso que eu talvez tenha sido radical, no desfecho da conversa, assim como também fui um tanto judicioso, além de bastante religioso (o que conferiu ao meu texto um paradoxo: afinal religiosidade, de verdade, não combina com julgamento, embora a maioria dos religiosos não consiga entender isso...)
O que importa daquela postagem, no entanto, é que nela uma amiga fez um comentário dizendo que acreditava que não se precisaria rezar tanto como eu sugeria, mas, quem sabe, tão somente convidar o rapaz alcoólatra para uma entidade como a dos Alcoólicos Anônimos. E ela tinha toda razão, of course!
Pois bem, sexta-feira passada, eu saí com uns amigos (na verdade, um casal de amigos) e quando eles chegaram para me encontrar - tínhamos combinado beber qualquer coisa em um barzinho - o cara chegou no encontro, para lá de bêbado. E foi tudo tão desagradável! Foi, exatamente, aquela circunstância típica de quando você fica com dó-e-raiva-da-pessoa-ao-mesmo-tempo. A moça estava constrangida e eu aborrecido, porque eu não estava com paciência para aturar o amigo bêbado... Ele ficou falando bobagens e tocando o tempo todo na gente. Um horror!

Realmente, é preciso entender que há aqueles que devem evitar o primeiro gole, sempre!

Como a vida é feita de felizes coincidências, conheci, no último domingo, dois senhores que frequentam a A.A. (Alcoólicos Anônimos), há muito tempo. Um deles, com 74 anos, já frequenta o grupo há 10 anos. Ele deu um depoimento emocionante: disse que começou a beber muito cedo, lá na roça, e que chegou a beber durante 43 anos, o mesmo tempo que durava seu casamento, quanto, então, o filho, já moço e casado, sugeriu que ele entrasse para a A.A. Ele contava, emocionado, que essa atitude mudou sua vida. Na verdade, ela lhe deu uma sobrevida, porque vários órgãos do corpo já ficaram muito comprometidos, por tantos anos de bebedeira.
O outro Senhor, que também ouvi, era mais jovem, com 53 anos, e já estava há 20 anos na A.A. Mas algo que ele fez questão de enfatizar é que, na irmandade que frequentam, qualquer um, mesmo alguém com tanto tempo sem beber, é considerado tão doente quanto aquele que acaba de chegar. Todos eles se apoiam e se ajudam, para que nenhum deles possa vir a dar o primeiro gole hoje, agora. Afinal, o futuro é aberto e incerto para quem é alcoólatra (Assim como para todos nós, não é mesmo?).
Muito emocionado, ele dizia que muitas vezes a própria esposa que, em geral, motiva o marido a procurar a AA, depois que o marido para de beber, e mesmo por um curto tempo, é já a primeira a desmotivar o companheiro, quando o vê arrumado e se preparando para ir a uma reunião. Muitas vezes, enciumadas, as esposas se ressentem de vê-los saindo, ou os convidam a ficar em casa, para assistir a um capítulo da novela ou ao jogo de futebol!
A verdade é que as reuniões são importantíssimas.
Eu fiquei emocionado também, inclusive com o princípio de tudo: a irmandade dos Alcoólicos Anônimos começou nos EUA com uma dupla de amigos que perceberam que ao ficarem conversando sobre o problema do alcoolismo que vivenciavam, assim, não bebiam. E é esse o princípio que impera até hoje.
Esse senhor disse-nos que está firme na resolução tomada de nunca beber o primeiro gole, mesmo que esse ano ele tenha tido motivos sérios e fortes para querer beber um trago: ficou desempregado faltando apenas dois anos para ele se aposentar, perdeu a esposa, que faleceu em seus braços, e ainda soube que a mãe, lá no interior do Brasil, também faleceu...
Ele pedia que divulgássemos o trabalho dessa irmandade porque há, afinal, nos botecos do Brasil, muitos alcoólatras e que estão passando o seu tempo, se destruindo, destruindo suas vidas e a de suas famílias, quando, muitas vezes, tudo o que queriam, ao menos inicialmente, era uma companhia para conversar.
Bem, sabemos todos: eles correm o risco de perder qualquer companhia, com tudo o mais, quando se tornam alcoólatras...
Importante - O único requisito para tornar-se membro da A.A. é o desejo de parar de beber. Amém!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Santa Claus is coming!

Ontem, uma amiga querida, Mariana Missiaggia, que é repórter do Diário do Comércio, estava fazendo uma matéria sobre as cartas que o Papai Noel recebe todos os anos... nos Correios do Brasil. Sim, eu já sabia que as crianças fazem isso. Elas acreditam na existência do Papai Noel e, então, raciocinam: ele distribui os presentes às crianças que o pedem por meio de uma cartinha endereçada ao bom velhinho... Ele mora no Polo Norte... As cartas chegam ao destinatário via Correios... O final desse raciocínio lógico e que, então, essa empresa recebe todos os anos milhares de cartinhas, enviadas pelas crianças do Brasil, ao Papai Noel, o que mora lá no Polo Norte...
Quando eu era criança eu não me lembro de acreditar no Papai Noel. Talvez porque esse mito não foi alimentado pela minha família. Meu pai era um trabalhador, como qualquer outro, e em alguns anos eu podia receber um presente no Natal, em outros não, mas eu sempre sabia que fora o meu próprio Pai quem o comprara ou não, e o tal Papai Noel não tinha nada a ver com isso.
Contudo, não acho que a figura do Papai Noel é execrável. Aliás, muito pelo contrário. Tudo bem, sempre achei estranho que ele não troque de roupas quando vem entregar os presentes no Brasil, um país tropical e também sempre morro de dó dos velhinhos que, por serem sósias do Papai Noel, trabalham nos shoppings, no alto verão, com aquela fantasia tão desconfortável. Tadinhos!
Mas a verdade, é que Deus permitiu que as crianças fossem inocentes, para que nós pudéssemos ter profunda simpatia por elas e, então, o Papai Noel existe e ponto final!
A minha amiga que escreveu a matéria sobre as cartinhas nos Correios contou-me uma coisa de cortar o coração, por exemplo. Ela me disse que, nas cartinhas, as crianças pedem de tudo. Ab-so-lu-ta-men-te de tudo! Comumente, é claro, pedem brinquedos, mas há crianças que pedem, por exemplo, itens da ceia natalina... Ela leu uma cartinha em que uma criança pedia um frango assado. E, definitivamente, isso é de chorar.
Eu vou adotar uma das cartinhas. Leia a matéria da minha amiga aqui [Achei muito engraçado, o exemplo de uma cartinha em que a criança diz que o cachorro da casa é mansinho e que ele só corre atrás do carteiro] Faça o mesmo você também e que possamos dizer com Patrick Moberg: Santa Claus is coming!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Terrarium by Paula Hayes at MoMA

Quando eu soube dessa instalação de Paula Hayes, no saguão do MoMA, em New York, eu lembrei-me que na minha infância eu achava uma delícia essa prática de plantar plantinhas em vidros, ou seja, o chamado terrarium. Eu tinha um. É interessante essa forma de possuir um jardim porque, de fato, ali temos exposta uma paisagem em miniatura e que é cultivada. As crianças em geral adoram! Eu, por exemplo, ficava imaginando os seres liliputianos que pudessem passear por aquelas miniflorestas. rsrsrsr

Nesse vídeo bacana, que mostra os bastidores da montagem da instalação, a artista vai nos explicando qual foi sua intenção, ou seja, em que conceito se baseia seu trabalho. Além disso, é possível ver que após idealizar as formas dos contêineres é bastante trabalhoso construí-los e para isso são necessários inúmeros colaboradores até a sua conclusão final, e, portanto, para que tudo saia a contento.

Eu penso que quem tiver oportunidade de ir a New York, nessa estação, deveria conferir de perto tal instalação.
No site do MoMA, encontrei esse pequeno texto de apresentação do trabalho e que verti para o português:

Desde a década de noventa, Paula Hayes, artista e paisagista estabelecida em New York, tem produzido esculturas botânicas – vasos moldados organicamente feitos de vidro soprado, silicone, ou acrílico e recheados com uma rica variedade de plantas – que se ampliam a partir do clássico terrarium, por meio de seus contêineres imaginativos e dos universos microcósmicos que eles contém.


Hayes concebeu uma instalação para o saguão do Museu que inclui uma escultura horizontal de aproximadamente 4 metros e meio de comprimento, fixa na parede, e um estrutura livre, contendo uma forma oval e que vai do chão até o teto. De forma orgânica e contendo uma variedade de plantas vivas, os vasos adicionarão uma alegre vitalidade para o saguão, dando vida ao espaço durante o inverno.





Nocturne of the Limax maximus at MoMA
17 de Novembro de 2010 a 28 de Fevereiro de 2011
New York
Museum of Modern Art
Museum Lobby

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

We are Golden!

Ontem, pela manhã, cheguei em casa, após um sábado animadíssimo!

Primeiro, porque fui a uma festa, no sábado à tarde, e ao sair da festa encontrei uma amiga querida, de Brasília, e fomos juntos ao Planeta Terra Festival 2010. Logo depois de chegar ao PlayCenter, eu e a minha amiga nos perdemos! Um do outro, é claro!

Então, assisti ao show do Mika apenas na companhia de centenas de fâs do pop star britânico.

Fiquei feliz até não poder mais, porque descobri que eu não sou o único fã brasileiro do Mika. Até, então, eu achava que só eu, nesse país, era fã do cara. Afinal, no meio em que eu vivo, toda vez que falo do Mika ninguém o conhece, ninguém sabe de quem se trata e eu fico sem poder explicar para essas pessoas... Até começo a cantar as canções, mas não funciona porque as canções do Mika só ele mesmo é quem pode cantar e dançar animadamente.
Ou... as centenas de pessoas que cantaram e dançaram no sábado, em sua companhia, aqui em São Paulo.
Fiquei emocionado, como já era de se esperar. Um cantor, quando profissional e verdadeiro, em um show, é pura doação: ele doa o seu trabalho, aquilo que pôde produzir, as letras das canções. Ele doa energia, espontaneidade. Mas isso só acontece, sobretudo se ele tem amor para dar.
Li uma reportagem, hoje, dizendo que o show do Mika foi o melhor do Festival. E, embora eu não tenha ficado para ver as outras bandas (rsrsrs), acho que só pode ter sido mesmo. Também li, que o público do Mika era um público devoto. E foi exatamente isso o que eu senti. As pessoas todas dançavam e cantavam suas músicas.
Eu já falei aqui que eu acho que, por trás da aparente simplicidade e descontração das letras do Mika, há uma mensagem seríssima. Basta prestar atenção em Blame it on the girls, por exemplo:

Blame it on the girls who know what to do
Blame it on the boys who keep hitting on you
Blame it on your mother for the things she said
Blame it on your father but you know he's dead

Quantos de nós não desejamos apenas achar o culpado? Quando, em geral, está nas nossas mãos reverter qualquer quadro de desamor!

Penso que o pop sobrevive de pessoas que conseguem ser groovie e, ser isso, ao menos para mim, é conseguir com animação, positividade, dizer o que as pessoas mais precisam ouvir, uma vez que no nosso cotidiano apressado não podemos, muitas vezes, dizer, naturalmente, para as outras pessoas, por exemplo:

Relax! Take it easy!


You are beautiful!


I could be brown
I could be blue
I could be violet sky
I could be hurtful
I could be purple
I could be anything you like
Gotta be green
Gotta be mean
Gotta be everything more
Why don't you like me?

Say love, say love!


We are not what you think we are
We are golden, we are golden.

No domingo, pós-show, senti um certo vazio: aquele típico do dia seguinte a uma grande festa. rsrsrs Vocês acreditam que eu estava quase ficando triste!?
Então, alguém chamava no portão da minha casa e quando eu fui atender, era um jovem dizendo:
- Moço, eu preciso de ajuda. Eu estou desempregado. Eu não vou pedir dinheiro, só preciso de um pouco de feijão para alimentar meus filhos.
Eu disse:

- Claro, só um instante!

Voltei com um quilo de feijão.

- Deus lhe pague! (ele me disse sorrindo, feliz. Sim, ele ficou feliz!)
- Amém.

Depois que ele se foi, eu chorei um pouquinho, o suficiente para limpar qualquer tristesa do coração e, então, entendi que o que acontecera era um momento Golden! Eu, o rapaz necessitado, os anjos que nos aproximaram: éramos todos Golden!

Penso isso mesmo: que podemos ser para os outros aquilo que eles gostariam, sim, que fôssemos, sobretudo quando minimamente generosos: como quem ajuda a matar a fome de quem pede a sua porta; e, também, como quem faz o melhor show em um Parque de Diversões.
Ao menos para mim, isso tudo é o que deveríamos querer dizer quando dizemos: We are Golden! ou Love!


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Vão-se os anéis...

Estou experimentando algo totalmente novo para mim aos 42, quase 43 anos de idade. Perdoar no piloto automático. Como é isso? Eu explico. Acabo de descobrir, por exemplo, que me roubaram livros importantíssimos: um deles era o Dicionário de Análise do Discurso, de Patrick Charaudeau e Dominique Maingueneau. Eu o estava utilizando, com bastante frequência, durante a elaboração da minha monografia, no curso de pós-graduação lá na PUC. O livro não era da Biblioteca, mas do meu próprio acervo. Algo bacana, portanto! Menos mal!
Aliás, penso que é disso mesmo que se trata em todo esse episódio: um mal sempre em menor grau, a começar pelo que vem de mim, que só pretendo ser do bem. ;-)
Inicialmente, eu demorei a acreditar que tinham pegado os 4 livros da minha mesa de trabalho, afinal eu não trabalho em uma rodoviária ou aeroporto... Pensei: Será que os levei para casa? Não, eu não os levara, não estão em minha casa. Assim sendo, uma pobre criatura de Deus os tomou de mim. E porque essa criatura é tão divina quanto eu próprio, embora, provavelmente, um tantinho distante do seu criador (não é mesmo?), eu devo perdoá-la.
E devo fazê-lo porque quero ser alguém melhor do que eu seria se viesse a fazer muito barulho em torno do episódio! Estou fazendo um barulhinho por aqui, mas acho que talvez isso seja perdoável. A ver.
Além disso, vejam como tenho sorte: nesse e-xa-to momento não preciso mais dos livros. E também sei, graças a Deus, que poderei comprá-los novamente, no futuro.

De verdade, eu não posso maldizer uma pessoa que rouba livros! ;-)
Eu até já fui amigo de uma moça que roubava livros (embora ela os roubasse nas livrarias... rsrsrs)

Quando não perdoamos e ainda espezinhamos, maldizendo (mesmo um desconhecido, afinal, eu não sei quem é o ladrão), penso que não poderemos ter a única recompensa que desejáramos acima de todas: comungar da liberdade de um mundo sem desejos mesquinhos!
E, por fim, o episódio lembrou-me de um outro. Quando criança, ouvi pela primeira vez o velho ditado: vão-se os anéis e ficam os dedos! Eu me lembro que, na ocasião, fiquei maravilhado com o sentido dessas palavras. E continuo até hoje maravilhado com esse mesmo sentido.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Monica Rizzolli

Hoje, fiquei sabendo dessa exposição e, quando vi as imagens de alguns dos 11 quadros que estão expostos nessa individual de pintura de Monica Rizzolli, pensei que o tema me atraia por conta do líquido precioso que aqui está sendo integrado à figura humana e desse modo com o alcance de um alto poder simbólico. O nome da exposição, aliás, tem tudo a ver com essa figura mesma, posto que a exposição chama-se Queda.


Procurando informações sobre a artista, a encontrei concedendo uma entrevista deliciosa de se ouvir. Ela é uma jovem natural de São Carlos. Graduada em Artes Plásticas pela UNESP. Vive e trabalha em São Paulo.

São marcas do seu trabalho a presença da figura humana é verdade, mas também o contorno, a linha, e penso que isso ocorre, possivelmente, como representação de nossos limites.

Ver esse seu trabalho me fez pensar que o “barato” que ela diz na entrevista sentir apenas quando a obra está pronta, ou seja, quando o processo acabou, nós também, que podemos apreciar esse trabalho, o sentimos e, no entanto, sem nenhum esforço, assim mesmo como ele resulta e se nos apresenta devido a tais obras.

Também gostei do vídeo que mostra a artista pintando um dos quadros que estão na exposição.

Queda, individual de pintura de Monica Rizzolli
16 de novembro a 4 de dezembro de 2010
Central Galeria de Arte Contemporânea
Avenida Rebouças, 1.545 - Jardim América - São Paulo
Horários: terça a sexta, das 11 às 19 horas e sábados, das 11 às 18 horas
Entrada franca
http://www.centralgaleriadearte.com/












segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Você vai conhecer o homem dos seus sonhos

Acabo de chegar do Cine Belas Artes. Fui à pré-estreia de Você vai conhecer o homem dos seus sonhos, de Woody Allen. Todas as outras pessoas da cidade tiveram a mesma ideia e aproveitaram o feriado para conferir o novo filme do diretor a estreiar por essas paragens.
A sorte é que o pessoal bacana do Belas Artes mudou o filme de sala para abrigar a multidão. A sessão era única, às 17 horas.
Eu e uma amiga querida ficamos super felizes. Ver um filme de Woody Allen para quem sempre gostou do diretor é uma esperança renovada.
Uma característica extremamente difícil de se conquistar, mas na qual ele está se tornando cada vez mais um mestre é a de poder falar de coisas muito complexas de uma maneira muito simples. Por exemplo, da espiritualidade humana. Eu notei isso desde o filme anterior. Allen está se permitindo pensar que há um mundo invisível que influencia o visível. Nem sei se isso é consciente, mas é magnífico e emocionante de se ver em um homem da estatura de Woody Allen.
E ele faz isso de maneira discreta, delicada, apenas sendo o grande diretor de cinema que sempre foi.
A direção dos atores é de uma riqueza sem igual. Banderas está tão bem no filme que eu nem notei que era o Bandeiras. Ele é um dos homens dos seus sonhos, of course! Mas não é o único nesse filme não, não se engane...
Vou dizer bem resumidamente o que eu aprendi com o filme:
Que não podemos ser egoistas e tampouco orgulhosos (se assim acontecer a vida dará conta de devolver-nos os frutos desse horrível comportamento!)
Que não podemos sentir culpa, demasiadamente;
Que não podemos ser preguiçosos;
Que temos que nos permitir amar a nós mesmos e que, então, o amor aos outros vai acontecendo junto;
Que é uma grande bobagem temer a velhice e, portanto, temer a morte;
Que você pode acreditar em Espíritos, se quiser e puder;
Que você pode acreditar em reencarnação, idem;
Que mentir para os outros é muito, muito feio e que mentir para si mesmo, então, é horrível!
Que sempre há um futuro;
Que nós estamos construindo esse mesmo futuro o tempo todo: na teia das relações.
Ah, também não devemos ter nenhum tipo de preconceito (quem aprender todas essas lições, não terá preconceitos. rsrsrs)
Obrigado mestre Woody Allen pela alegria de aprender com seus filmes a ser mais gente e, portanto, a amar do modo como podemos amar, por ora. Em qualquer tempo e idade!

Vejam o trailer, sobretudo, vejam o filme!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Na estação: a queda da moça

Ontem, quando eu saia da estação de trem do meu bairro, na Zona Leste da capital, e atravessava a passarela que nos leva para o outro lado da avenida, na rampa de descida, uma jovem que caminhava na minha frente sofreu uma queda.
Desde criança, minha atitude ao ver alguém que cai, nunca foi a atitude semelhante àquela das pessoas em geral e que, normalmente, é a de rir da cena grotesca. Sim, essa é a reação comum nesses casos, e isso é quase universal. Certa vez, li em um livro de psicanálise, que a reação inconsciente de rir de quem leva um tombo, portanto, rir assim, automaticamente, ao ver a cena da queda, tem a ver com o fato de que preferimos ver o outro cair e não nós mesmos e isso porque essa queda nos lembra da “queda” final, ou seja, a do corpo para a cova.
Como eu dizia, desde menino eu nunca tive essa reação comum. Pelo contrário, eu corria para socorrer a pessoa e realmente estranhava que todos os outros "coleguinhas" estivessem rindo do ocorrido. Afortunadamente, às vezes, até a própria pessoa que caira!
No entanto, continuo, até hoje, achando muito estranho ver essa cena como algo cômico. Acho, por exemplo, aquele quadro do programa do Faustão, na Rede Globo de Televisão, quando ele passa a exibir aquelas cenas de tombos os mais exagerados para que todos riam em suas casas, as tais vídeocassetadas, eu acho aquilo de um mau gosto sem igual!
Voltando à moça caída na passarela. Eu me aproximei e notei que ela não se levantava e ainda que chorava. Eu a amparei para que se levantasse, perguntando se estava tudo bem e se ela conseguia se levantar. Ela apenas foi fazendo o que eu sugeria, chorando. Então, eu pedi para segurar a bolsa e a grande sacola que ela carregava e, enquanto ela se recuperava, a abracei pela cintura, fomos caminhando devagar, eu a amparando, enquando dizia:

- Está tudo bem? Fique calma, já passou. Foi apenas um susto. Não deve sido nada grave, você está conseguindo caminhar... Você acha que se machucou muito?

Ela, ainda soluçando baixinho (e secando com os dedos as lágrimas do rosto) disse que só doía um pouco o quadril e o braço. Então, eu disse:

- Você tem arnica em casa? Faça um chá, costuma ser bom para hematomas. Deve sido algo apenas muscular. Se continuar doendo muito, procure um pronto-socorro para fazer um exame de raio-x e ver se não atingiu algum osso ou se será preciso mobilizar. Ok?

Ela foi se acalmando, enquanto descíamos o que restava da rampa, e, quando chegamos ao final do trajeto, eu perguntei:

- Tudo bem? Você está mais calma? Consegue prosseguir sozinha?
- Sim, muito obrigada, moço!
Ao deixá-la pensei em tanta coisa! Na fragilidade da moça, que me pareceu abarcar qualquer coisa para além do ocorrido: era como se a queda tivesse despertado outros sentimentos de tristeza e de solidão... Talvez também ela fosse tão somente alguém muito sensível. Era uma moça que aparentava ter pouco mais de vinte anos, mas que, caída e durante o meu socorro, pareceu-me uma criança...
Devo confessar que também fiquei um tanto comovido com a minha presteza, afinal, fui fazendo tudo o que precisava ser feito, tão automaticamente, e apenas porque me pareceu necessário. Alguma coisa nessa minha atitude, no modo como conduzi o apoio, era também nova para mim. E, por fim, conclui que a vida devia ser assim sempre: todo aquele que está andando ao lado de outros iguais (passíveis de queda), nesse mundo, deveria ajudar aos que caem a se levantarem, para que todos, afinal, prossigam, em direção ao futuro!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Francis Ponge e a Chuva

Eu já falei deste livro por aqui, quando o ganhei. É uma verdadeira joia preciosa. E, nessa Antologia da Poesia Francesa, organizada e traduzida por Claudio Veiga, podemos encontrar este poeta: Francis Ponge (1899-1988), um poeta que participou da Resistência Francesa!
Eu considero uma das coisas mais belas da história da humanidade, na tragédia que foi a segunda guerra, a Resistência Francesa e, sempre que conheço uma nova personagem que participou dessa empreitada, eu me curvo e a saudo com louvor.

Esse poeta conheci assim: ao abrir ao acaso a magnífica antologia (o livro fica na minha cabeceira e, quando preciso de poesia para voltar a respirar, eu o abro).
Fiquei fascinado por essa delicadeza e simplicidade, de um poeta que (imaginem!) descreve a Chuva!

Quero compartilhar esse singelo poema.

Atenção! Alerto que é coisa fina e para leitores finos, portanto, com muita, muita sensibilidade! ;-)

Se você quiser conhecer outra tradução do mesmo poema , além de outros pequenos poemas que falam desse cotidiano e das coisas simples, como somente Ponge pode nos falar a respeito, visite esse link também.



PLUIE

La pluie, dans la cour où je la regarde tomber, descend à des allures très diverses. Au centre c'est un fin rideau (ou réseau) discontinu, une chute implacable mais relativement lente de gouttes problablement assez légères, une précipitation sempiternelle sans vigueur, une fraction intense du météore pur. À peu de distance des murs de droite et de gauche tombent avec plus de bruit des gouttes plus lourdes, individuées. Ici elles semblent de la grosseur d'un grain de blé, là d'un pois, ailleurs presque d'une bille. Sur des tringles, sur le accourdoirs de la fenêtre, la pluie court horizontalement tandis que sur la face inférieure des mêmes obstacles elle se suspend en berlingots convexes. Selon la surface entière d'un petit toit de zinc que le regard surplombe elle ruisselle en nappe très mince, moirée à cause de courants très variés par les imperceptibles ondulations et bosses de la courverture. De la gouttière attenante où elle coule avec la contention d'un ruisseau creux sans grande pente, elle choit tout à coup en un filet parfaitement vertical, assez grossièrement tressé, jusqu'au sol où elle se brise et rejaillit en aiguillettes brillantes.
Chacune de ses formes a une allure particulière; il y répond un bruit particulier. Le tout vit avec intensité comme un mécanisme compliqué, aussi précis que hasardeaux, comme une horlogerie dont le ressort est la pesanteur d'une masse donnée de vapeur en precipítation.

CHUVA

A chuva, no pátio onde a vejo cair, desce de maneira muito desigual. No centro é uma tênue cortina (ou rede) esgarçada, uma queda implacável, mas relativamente lenta de gotas provavelmente levíssimas, uma precipitação sempiterna sem vigor, uma fração intensa de meteoro puro. A pouca distância das paredes direita e esquerda, caem com mais ruído gotas mais pesadas, autônomas. Aqui parecem do tamanho de um grão de trigo, ali, de uma ervilha, mais adiante, quase de uma bola de gude. Nos encostos e nos peitoris da janela, corre a chuva horizontalmente, enquanto na face inferior dos mesmos obstáculos pende como caramelos convexos. Conformando-se à superfície inteira de um pequeno telhado de zinco que o olhar domina, escorre em finíssimo lençol, ondeado por causa de mui variadas correntes devidas a imperceptíveis ondulações e bossas da cobertura. Da bica adjacente, onde ela corre com a moderação de fundo regato sem declive acentuado, cai, de repente em filete perfeitamente vertical, entrelaçado bem grosseiramente, até o solo onde se despedaça e esguicha como agulhas brilhantes.
Cada uma de sua formas tem um jeito particular; responde-lhe um ruído próprio. O todo vive intensamente como complicado mecanismo, tão preciso quanto aleatório, como um relógico cuja mola é o peso de certa massa de vapor em precipitação.

Magnifique!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Alessandro Giusberti

Alessandro Giusberti é um pintor italiano, nascido na Bolonha, onde, aliás, vive e trabalha. Nas pinturas do artista bolonhês, que estarão expostas de 9 de novembro a 4 de dezembro na Galeria de Arte André, podemos perceber que o artista viaja bastante e para diferentes lugares. Ele os retrata, muitas vezes com bastante precisão, como se desejasse, como ele mesmo diz, "fazer com as mãos o que a máquina fotográfica faz".
Também percebemos um gosto por retratar as paisagens noturnas. Ele considera o Noturno um drama e essa é uma atmosfera de sua predileção.
Concordo com Sonia Prieto - que escreveu no catálogo da exposição um bonito ensaio acerca do pintor e sua obra - quando ela nos diz que certos temas urbanos de Giusberti lembram "misteriosas atmosferas de Hopper". Esse foi um dos motivos pelos quais desejei trazer algumas de suas imagens para esse blog e divulgar tal exposição.
Esse trabalho pareceu-me vibrante e terno ao mesmo tempo e que capta o efêmero também porque a pintura é ela mesma uma atividade efêmera e que, no entanto, pelas mãos do artista é capaz de captar a variada e rica expressão da vida humana nas cidades. Utilizando-se do que Prieto chamou de "armas tradicionais - telas, tintas, pincéis" o artista comprova que a pintura é fonte inesgotável de reflexão e da própria expressão do que se pode pensar acerca dessa mesma vida.
A Galeria de Arte André fica na Rua Estados Unidos, 2.280, em São Paulo. Ela é aberta de segunda a sexta-feira, das 10h às 20h e, aos Sábados, das 10h às 14h.



Serata a Sao Paolo, São Paulo, Brasil, Óleo sobre tela, 172 X 168 cm, 2009



Shakespeares Bar, Londres, Inglaterra, Óleo sobre tela, 121 X 131 cm, 2008



Sunset in New York, Nova Iorque, Estados Unidos, Óleo sobre tela, 126 X 168 cm, 2009


Rapazes em Veneza, Veneza, Itália, Óleo sobre tela, 126 X 168 cm, 2009


Santa Maria Novella, Florença, Itália, Óleo sobre tela, 96 X 126 cm, 2010



Noite no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, Óleo sobre tela, 126 X 168 cm, 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

José e Pilar

Na última sexta-feira, tive uma experiência como diria um amigo meu Catalão, “comovedora” de cinema. Fui assistir ao filme José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes.

Era uma exibição especial, com a presença do diretor português e também do diretor brasileiro Fernando Meireles, que representava a O2 Filmes, a co-produtora do documentário.
O filme, embora seja um documentário que registra o cotidiano do casal José Saramago e Pilar del Rio, sua companheira, não se parece em quase nada com um documentário. Há, na verdade, a história dos últimos anos do prêmio nobel, de suas inúmeras andanças pelo mundo e do cotidiano de amor do casal, seu dia a dia em Lanzarote, onde viviam. A ilha, aliás, é incrível, muito surreal, um lugar de isolamento quase que completo. Uma paisagem árida e eu diria que até mesmo inóspita. Mas, ali eles viviam bastante bem, bem com o lugar e, sobretudo, bem um com o outro.
O diretor, muitíssimo simpático, é um jovem muito verdadeiro e simples. Ele nos falou que a sua intenção ao rodar o filme era tão somente estar perto do grande escritor, o filme foi uma desculpa para isso! Eu achei essa sua fala absolutamente sincera, ora pois.
Além disso, ele também nos falou que foram mais de 400 horas de filmagem e que transformar isso tudo em 2 horas de filme foi um trabalho tão árduo que ele não deseja o mesmo nem para o seu pior inimigo. rsrsrs

E que 2 horas preciosas ele nos legou! Nelas assistimos a um Saramago muito coerente até o fim, nas suas convicções, sobretudo em uma das principais delas que era a de ele ser ateu.
Eu fiquei um pouco penalizado, porque não sou ateu... Sinto sempre uma compaixão por quem não consegue acreditar em Deus, mas ao contrário das pessoas que professam suas religiões com ardor e fanatismo, eu não consigo julgar os ateus. Eles apenas me comovem. Deve ser tristíssimo, doloroso mesmo, viver uma vida inteira crendo que após a morte só restarão as cinzas do corpo físico e o espírito, simplesmente, deixará de existir. Era assim que Saramago pensava e no caso dele, como de tantos outros, isso é absolutamente respeitável. Afinal, Saramago é o autor que me comoveu com a sua prosa absolutamente poética e ele é quem escreveu O Evangelho segundo Jesus Cristo, um livro que, quando eu terminei de ler, me fez exclamar: Foi Jesus Cristo mesmo quem escreveu esse livro! Esse é o verdadeiro evangelho! ;-)
No filme, tudo é intenso. Os últimos anos da vida desse homem foram demaseado intensos! Um prêmio nobel é um pop star! O assédio, as viagens intermináveis e as homenagens, tudo muito desgastante, mas Saramago queria viver muito tudo isso! E viveu!
E Pilar: que mulher incrível! A melhor parte da sua atuação, ao menos para mim, é quando dando uma entrevista para um repórter português ela foi absolutamente assertiva, o que ao que parece é mesmo uma característica da brava gente de Espanha, no caso, da gente Basca!
Os homossexuais não poderem se casar em Espanha [antes disso ser permitido por lei] era um deficit democrático, meu Senhor!
É possível ver nessa história os ensaios entre José Saramago e o ator Gael García Bernal para a estreia da leitura a duas vozes das “Intermitências da morte”; o casamento de José e Pilar, que aconteceu em Castril, Espanha; o momento em que o Fernando Meireles foi mostrar a José Saramago, em Lisboa, o seu filme Ensaio Sobre a Cegueira. É ainda bastante emocionante quando o filme mostra o momento em que José Saramago adoeceu gravemente e também sua recuperação, o que possibilitou que ele pudesse concluir o livro A Viagem do Elefante, vindo depois a São Paulo, para o lançamento mundial da obra.
Miguel Mendes nos explicou que as falas de Saramago no filme e que surgem em diversas passagens, são gravações de trechos do Caderno de Lanzarote, as quais o diretor selecionou e pediu para Saramago ler e gravar. Ele nos disse que procurou selecionar trechos dessa obra que fossem os mais universais e atemporais. É exatamente por isso que elas combinam tão bem com as passagens do filme em que aparecem. E, assim sendo, o filme tornou-se uma história também ficcional da “verdadeira” vida de uma grande homem e de uma grande mulher, e, sobretudo, de um amor. Mas, sendo a questão da morte muito cara ao diretor, ele é ainda, sobretudo no meu modo de compreender esse recorte temático, uma profunda reflexão sobre a imortalidade da alma, coisa que, sabemos, Saramago não acreditava e tampouco o diretor!

Eu, de minha parte, agora, rezo todos os dias pelo espírito de José Saramago e peço também para que esse jovem diretor continue nos proporcionando, no futuro, tanta emoção nas telas. ;-)
Ah, o diretor pediu que divulguemos o filme, ele precisa desesperadamente de público, e eu espero que todos que leiam essa postagem possam ir aos cinemas e, principalmente, queiram conferir esse trabalho que o público considerou o melhor documentário nacional da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Amamos Juliette Binoche

Ontem, recebi a programa do Cineclube do Belas Artes.
Quero abrir espaço, aqui, para que o excelente texto do release dos profissionais da Pandora Filmes seja divulgado. Não ouso tocar em uma vírgula.
Gosto desse cinema ! Penso que o fato de eles fazerem essa justa homenagem à grande atriz francesa Juliette Binoche, só nos prova essa sensibilidade sem par para o cinema de qualidade que a distribuidora e a sala de cinema mais bacanas de São Paulo comprovam, reiteradamente, ao público paulistano.


 
apresenta

Conjunto da Obra: Juliette Binoche

Esse mês, de 05 de novembro a 02 de dezembro, a programação do Cineclube apresentará um ciclo em homenagem a uma das mais queridas estrelas do cinema atual, a encantadora Juliette Binoche. Os filmes escolhidos foram Alice e Martin (1998), de André Téchiné; Caché (2005), de Michael Haneke; Os Amantes de Pont Neuf (1991), de Leos Carax; e Paris (2008), de Cédric Klapisch.
O brilho que faz de Juliette uma presença tão requisitada pelos mais renomados diretores internacionais, é algo que ela traz consigo desde o início de sua carreira. Podemos até não lembrar muito bem das histórias de alguns filmes em que ela atuou, mas a sua imagem sempre permanece. O que explica isso é a sua incrível fotogenia associada a um carisma que só ela tem. O talento, já tão reconhecido, dispensa comentários. Juliette, com toda a sua sutileza, gestos suaves e um olhar ao mesmo tempo vago e penetrante, já imortalizou um bom número de personagens, sendo que alguns deles lhe deram diversos prêmios em importantes festivais e ainda um Oscar de atriz coadjuvante, nesse caso pela sua participação em O Paciente Inglês.
E esse ano só deu ela no Festival de Cannes. Desde o cartaz oficial, que trazia a sua bela imagem, até o momento da premiação, na noite de encerramento, quando foi anunciado o nome daquela que levaria o prêmio de melhor atriz protagonista: Juliette Binoche, claro. O filme que a fez merecer mais essa honra foi Copia Fiel, do diretor iraniano Abbas Kiarostami.
O que poderemos constatar na seleção de filmes anunciada no início desse texto é que ela amadurece cada vez mais como atriz, porém sua beleza, aos 46 anos, continua intacta.
Alice e Martin é um drama romântico bastante denso, cujos personagens centrais, os que dão nome ao filme, ela uma violinista e ele um jovem modelo, vivem um relacionamento conturbado devido a um segredo que atormenta a vida do rapaz. O elenco traz um conjunto de ótimos atores, entre eles o então estreante Alexis Loret (Martin) mais os veteranos Mathieu Amalric e Carmen Maura.
A trama de Caché apresenta elementos típicos do suspense, mas não fica só nisso. O filme fala acima de tudo do poder e da banalização da imagem nos tempos atuais. Isso é colocado em cena quando um casal bem estabilizado passa a receber em casa envelopes anônimos contendo fitas de video nas quais estão gravadas imagens com referências que só alguém muito íntimo poderia saber. Assustados, marido e mulher partem para uma investigação com desfecho perturbador.
Os Amantes du Pont Neuf poderia ser descrito apenas como uma história de amor entre um vagabundo que dorme à noite sob a famosa Pont Neuf, em Paris, e uma jovem artista prestes a perder de vez a visão. Mas, como estamos falando de um filme de Leos Carax, a linguagem visual e a riqueza de referências farão toda a diferença. Carax já havia dirigido a mesma dupla de atores principais, Juliette e Denis Lavant, em Sangue Ruim, cult dos anos 80.
Paris é um filme de elenco grandioso, mas que oferece momentos especiais a todos os seus atores. Juliette faz o papel de irmã de um rapaz que se descobre doente e acredita ter pouco tempo pela frente. Esse estado de espírito, porém, fará com que ela se dê a chance de viver um novo amor, algo que há um bom tempo não acontecia. Em parte porque passava os dias apenas trabalhando e criando sozinha os filhos pequenos.
Nessas quatro semanas o Cineclube reverencia a importância da musa francesa para o cinema contemporâneo, lembrando que ela pode ser vista também no filme Aproximação, de Amos Gitai, que há meses permanece na programação normal do Belas Artes.

Cada filme será apresentado por uma semana, diariamente, em sessão única.
(os horários podem variar de filme para filme, entre 19h e 19h30)

05 a 11 de novembro
ALICE E MARTIN
(Alice et Martin)
França, 1998, cor, 124 min., 14 anos.
Direção:
André Techiné
Elenco:
Juliette Binoche, Alexis Loret e Mathieu Amalric.

Martin se muda para Paris, onde conhece Alice, uma violinista. Os dois se apaixonam, apesar dos desequilíbrios emocionais que ambos trazem - ele está deprimido e esconde algum segredo, ela tem dificuldade em lidar com suas frustrações e carências. É o início de um relacionamento intenso e complexo. Quando Alice engravida, Martin entra em crise e revela a verdade que o atormente. Mas ela não quer perdê-lo e fará de tudo para evitar isso.

12 a 18 de novembro
CACHÉ
(Caché)
França, 2005, cor 117 min., 14 anos.
Direção: Michael Haneke
Elenco: Juliette Binoche, Daniel Auteuil e Annie Girardot.

Um dia um casal recebe uma fita de vídeo com imagens de sua casa, que fora filmada por uma câmara instalada na rua. Depois disso começam a chegar desenhos sinistros. Assustados, marido e mulher tentam descobrir o autor daquelas misteriosas ameaças que perturbam a paz familiar. Logo percebem que quem os persegue conhece mais sobre o seu passado do que eles poderiam esperar. 12 a 18 de novembro

19 a 25 de novembro
OS AMANTES DE PONT NEUF
(Les Amants du Pont-Neuf)
França, 1991, cor, 120 min., 14 anos.
Direção: Leos Carax
Elenco: Juliette Binoche, Denis Lavant e Marie Trintgnant.

Pont-Neuf, a ponte mais antiga de Paris, serve de abrigo para muitos sem-teto. Uma jovem pintora de classe média, fugindo de um relacionamento que não deu certo, decidiu viver nas ruas para pintar o máximo possível antes que fique cega em função de uma doença. Alex ganha alguns trocados fazendo performances circenses, mas é viciado em álcool e sedativos. Eles se tornam amigos e amantes e dividem as duras experiências cotidianas das ruas. O relacionamento entre os dois acaba se tornando uma dependência, e o medo de um perder o outro começa a se tornar massacrante.

26 de novembro a 02 de dezembro
PARIS
(Paris)
França, 2008, cor, 129 min., 14 anos.
Direção: Cédric Klapisch
Elenco: Juliette Binoche, Romain Duris e Melanie Laurent.

A história de um rapaz parisiense que está doente e pensa que vai morrer. Sua condição faz com que ele olhe para todos à sua volta de uma maneira nova e diferente, imaginando que sua morte repentina daria um novo significado à existência das outras pessoas e à vida de toda a cidade. Vendedores de frutas e verduras, uma funcionária de uma padaria, um arquiteto, um professor, uma universitária e um imigrante ilegal de Camarões são alguns dos personagens observados por ele. 26 de novembro a 02 de dezembro


BELAS ARTES
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Cerqueira César
São Paulo - SP

Tel.: 11 3258-4092

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Who are you?

Hoje, eu acordei com uma vontade incrível de cortar o cabelo.
Pode parecer engraçado que alguém possa estar com uma "vontade incrível" de cortar o cabelo, eu sei. Mas é que o Josafá Crisóstomo, atualmente, tem os cabelos muito compridos: ele não os corta desde 2006!
Não cortei ainda. Vai ficar para amanhã.
É que eu deveria ter acordado mais cedo para que desse tempo. Não tinha tempo de passar no Jean Louis Davi, mas pude passar na Caixa Cultural e ver uma exposição que fala disso mesmo, das tranformações e modificações que podemos causar ou sofrer em nossa aparência física.
Renata Massetti estruturou esse projeto Quem é você? acompanhando as modificações sofridas por 2 rapazes durante os últimos 4 anos. Eles foram se transformando, desde 2006, e os ensaios fotográficos captaram esses registros de todas as transformações. Ela nos informa que o trabalho continua sendo realizado e a presente exposição mostra o resultado obtido até o presente momento.
No catálogo, Renata escreveu: Tempo e espaço sem referência: não é a passagem do tempo, são desejos materializados... Divirta-se.

É exatamente o que acontece durante a exposição: achamos tudo muito divertido!

Esse trabalho resultou lúdico, é verdade, mas eu achei que ele está falando de uma coisa seríssima.
Os dois rapazes aparecem de todo modo: com barba, sem barba, de cabelos curtos, compridos, de black power, de rasta, com dreads, com os cabelos alisados, carecas... São inúmeras as personas e o que mais nos faz pensar é que os desejos, de cada qual em cada momento, foram materializados, é verdade, mas que isso resultou, em relação às pessoas com as quais convivem, em diferentes reações. É inevitável pensar nisso e o vídeo em que as imagens deles vão sendo intercaladas também expõe algumas palavras, dentre elas, a palavra... preconceito.

Acredito que eles devem ter, em um momento ou outro, vivido essa questão do preconceito devido a uma ou outra aparência, mas eu imagino que são tão gente boa (tá na cara!) que nem devem ter se preocupado com isso! ;-)

Enjoy it !

De 23 de outubro a 23 de novembro
9h às 21h
Caixa Cultural São Paulo
Praça da Sé, 111
www.caixa.gov.br/caixacultural

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Supakitch & Koralie

Hoje, inicio novembro, nesse blog, falando de um casal. Não consegui saber muito about them.
Tão somente que são dois artistas suecos, que têm uma loja de brinquedos e camisetas, a MetroPlastique, e que pintam nos muros, e inclusive nas paredes de importantes museus, como esse trabalho no  Museu de Cultura Mundial de Gothenburg, na Suécia. Pois bem, essas imagens delicadas, muito arraigadas na estética do mangá (não é mesmo?) são, ao mesmo tempo, muito muito muito autorais. Você não pode dizer que já viu esses desenhos antes.


Há um apelo felino no imaginário desses dois, e eu gostei disso!
Gosto também da profusão de cores e ainda dessa retomada de aspectos da art nouveau.
As imagens são de híbridos, e esse mundo é híbrido, por favor!

Mas o que eu mais gostei é de eles serem um casal, um homem e uma mulher, juntos na arte. Ser artista já é uma coisa para agradecer aos céus, ser um casal de artistas, então, é pura paixão!

Em São Paulo, você pode encontrar seus trabalhos na Choque Cultural.





O vídeo abaixo, de autoria de Damien Vignaux, mostra o casal em ação no Museu:



SUPAKITCH & KORALIE - VÄRLDSKULTUR MUSEET GÖTEBORG from elr°y on Vimeo.