Na última sexta-feira, tive uma experiência como diria um amigo meu Catalão, “comovedora” de cinema. Fui assistir ao filme José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes.
Era uma exibição especial, com a presença do diretor português e também do diretor brasileiro Fernando Meireles, que representava a O2 Filmes, a co-produtora do documentário.
O filme, embora seja um documentário que registra o cotidiano do casal José Saramago e Pilar del Rio, sua companheira, não se parece em quase nada com um documentário. Há, na verdade, a história dos últimos anos do prêmio nobel, de suas inúmeras andanças pelo mundo e do cotidiano de amor do casal, seu dia a dia em Lanzarote, onde viviam. A ilha, aliás, é incrível, muito surreal, um lugar de isolamento quase que completo. Uma paisagem árida e eu diria que até mesmo inóspita. Mas, ali eles viviam bastante bem, bem com o lugar e, sobretudo, bem um com o outro.
O diretor, muitíssimo simpático, é um jovem muito verdadeiro e simples. Ele nos falou que a sua intenção ao rodar o filme era tão somente estar perto do grande escritor, o filme foi uma desculpa para isso! Eu achei essa sua fala absolutamente sincera, ora pois.
Além disso, ele também nos falou que foram mais de 400 horas de filmagem e que transformar isso tudo em 2 horas de filme foi um trabalho tão árduo que ele não deseja o mesmo nem para o seu pior inimigo. rsrsrs
E que 2 horas preciosas ele nos legou! Nelas assistimos a um Saramago muito coerente até o fim, nas suas convicções, sobretudo em uma das principais delas que era a de ele ser ateu.
Eu fiquei um pouco penalizado, porque não sou ateu... Sinto sempre uma compaixão por quem não consegue acreditar em Deus, mas ao contrário das pessoas que professam suas religiões com ardor e fanatismo, eu não consigo julgar os ateus. Eles apenas me comovem. Deve ser tristíssimo, doloroso mesmo, viver uma vida inteira crendo que após a morte só restarão as cinzas do corpo físico e o espírito, simplesmente, deixará de existir. Era assim que Saramago pensava e no caso dele, como de tantos outros, isso é absolutamente respeitável. Afinal, Saramago é o autor que me comoveu com a sua prosa absolutamente poética e ele é quem escreveu O Evangelho segundo Jesus Cristo, um livro que, quando eu terminei de ler, me fez exclamar: Foi Jesus Cristo mesmo quem escreveu esse livro! Esse é o verdadeiro evangelho! ;-)
No filme, tudo é intenso. Os últimos anos da vida desse homem foram demaseado intensos! Um prêmio nobel é um pop star! O assédio, as viagens intermináveis e as homenagens, tudo muito desgastante, mas Saramago queria viver muito tudo isso! E viveu!
E Pilar: que mulher incrível! A melhor parte da sua atuação, ao menos para mim, é quando dando uma entrevista para um repórter português ela foi absolutamente assertiva, o que ao que parece é mesmo uma característica da brava gente de Espanha, no caso, da gente Basca!
Os homossexuais não poderem se casar em Espanha [antes disso ser permitido por lei] era um deficit democrático, meu Senhor!
É possível ver nessa história os ensaios entre José Saramago e o ator Gael García Bernal para a estreia da leitura a duas vozes das “Intermitências da morte”; o casamento de José e Pilar, que aconteceu em Castril, Espanha; o momento em que o Fernando Meireles foi mostrar a José Saramago, em Lisboa, o seu filme Ensaio Sobre a Cegueira. É ainda bastante emocionante quando o filme mostra o momento em que José Saramago adoeceu gravemente e também sua recuperação, o que possibilitou que ele pudesse concluir o livro A Viagem do Elefante, vindo depois a São Paulo, para o lançamento mundial da obra.
Miguel Mendes nos explicou que as falas de Saramago no filme e que surgem em diversas passagens, são gravações de trechos do Caderno de Lanzarote, as quais o diretor selecionou e pediu para Saramago ler e gravar. Ele nos disse que procurou selecionar trechos dessa obra que fossem os mais universais e atemporais. É exatamente por isso que elas combinam tão bem com as passagens do filme em que aparecem. E, assim sendo, o filme tornou-se uma história também ficcional da “verdadeira” vida de uma grande homem e de uma grande mulher, e, sobretudo, de um amor. Mas, sendo a questão da morte muito cara ao diretor, ele é ainda, sobretudo no meu modo de compreender esse recorte temático, uma profunda reflexão sobre a imortalidade da alma, coisa que, sabemos, Saramago não acreditava e tampouco o diretor!
Eu, de minha parte, agora, rezo todos os dias pelo espírito de José Saramago e peço também para que esse jovem diretor continue nos proporcionando, no futuro, tanta emoção nas telas. ;-)
Ah, o diretor pediu que divulguemos o filme, ele precisa desesperadamente de público, e eu espero que todos que leiam essa postagem possam ir aos cinemas e, principalmente, queiram conferir esse trabalho que o público considerou o melhor documentário nacional da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Era uma exibição especial, com a presença do diretor português e também do diretor brasileiro Fernando Meireles, que representava a O2 Filmes, a co-produtora do documentário.
O filme, embora seja um documentário que registra o cotidiano do casal José Saramago e Pilar del Rio, sua companheira, não se parece em quase nada com um documentário. Há, na verdade, a história dos últimos anos do prêmio nobel, de suas inúmeras andanças pelo mundo e do cotidiano de amor do casal, seu dia a dia em Lanzarote, onde viviam. A ilha, aliás, é incrível, muito surreal, um lugar de isolamento quase que completo. Uma paisagem árida e eu diria que até mesmo inóspita. Mas, ali eles viviam bastante bem, bem com o lugar e, sobretudo, bem um com o outro.
O diretor, muitíssimo simpático, é um jovem muito verdadeiro e simples. Ele nos falou que a sua intenção ao rodar o filme era tão somente estar perto do grande escritor, o filme foi uma desculpa para isso! Eu achei essa sua fala absolutamente sincera, ora pois.
Além disso, ele também nos falou que foram mais de 400 horas de filmagem e que transformar isso tudo em 2 horas de filme foi um trabalho tão árduo que ele não deseja o mesmo nem para o seu pior inimigo. rsrsrs
E que 2 horas preciosas ele nos legou! Nelas assistimos a um Saramago muito coerente até o fim, nas suas convicções, sobretudo em uma das principais delas que era a de ele ser ateu.
Eu fiquei um pouco penalizado, porque não sou ateu... Sinto sempre uma compaixão por quem não consegue acreditar em Deus, mas ao contrário das pessoas que professam suas religiões com ardor e fanatismo, eu não consigo julgar os ateus. Eles apenas me comovem. Deve ser tristíssimo, doloroso mesmo, viver uma vida inteira crendo que após a morte só restarão as cinzas do corpo físico e o espírito, simplesmente, deixará de existir. Era assim que Saramago pensava e no caso dele, como de tantos outros, isso é absolutamente respeitável. Afinal, Saramago é o autor que me comoveu com a sua prosa absolutamente poética e ele é quem escreveu O Evangelho segundo Jesus Cristo, um livro que, quando eu terminei de ler, me fez exclamar: Foi Jesus Cristo mesmo quem escreveu esse livro! Esse é o verdadeiro evangelho! ;-)
No filme, tudo é intenso. Os últimos anos da vida desse homem foram demaseado intensos! Um prêmio nobel é um pop star! O assédio, as viagens intermináveis e as homenagens, tudo muito desgastante, mas Saramago queria viver muito tudo isso! E viveu!
E Pilar: que mulher incrível! A melhor parte da sua atuação, ao menos para mim, é quando dando uma entrevista para um repórter português ela foi absolutamente assertiva, o que ao que parece é mesmo uma característica da brava gente de Espanha, no caso, da gente Basca!
Os homossexuais não poderem se casar em Espanha [antes disso ser permitido por lei] era um deficit democrático, meu Senhor!
É possível ver nessa história os ensaios entre José Saramago e o ator Gael García Bernal para a estreia da leitura a duas vozes das “Intermitências da morte”; o casamento de José e Pilar, que aconteceu em Castril, Espanha; o momento em que o Fernando Meireles foi mostrar a José Saramago, em Lisboa, o seu filme Ensaio Sobre a Cegueira. É ainda bastante emocionante quando o filme mostra o momento em que José Saramago adoeceu gravemente e também sua recuperação, o que possibilitou que ele pudesse concluir o livro A Viagem do Elefante, vindo depois a São Paulo, para o lançamento mundial da obra.
Miguel Mendes nos explicou que as falas de Saramago no filme e que surgem em diversas passagens, são gravações de trechos do Caderno de Lanzarote, as quais o diretor selecionou e pediu para Saramago ler e gravar. Ele nos disse que procurou selecionar trechos dessa obra que fossem os mais universais e atemporais. É exatamente por isso que elas combinam tão bem com as passagens do filme em que aparecem. E, assim sendo, o filme tornou-se uma história também ficcional da “verdadeira” vida de uma grande homem e de uma grande mulher, e, sobretudo, de um amor. Mas, sendo a questão da morte muito cara ao diretor, ele é ainda, sobretudo no meu modo de compreender esse recorte temático, uma profunda reflexão sobre a imortalidade da alma, coisa que, sabemos, Saramago não acreditava e tampouco o diretor!
Eu, de minha parte, agora, rezo todos os dias pelo espírito de José Saramago e peço também para que esse jovem diretor continue nos proporcionando, no futuro, tanta emoção nas telas. ;-)
Ah, o diretor pediu que divulguemos o filme, ele precisa desesperadamente de público, e eu espero que todos que leiam essa postagem possam ir aos cinemas e, principalmente, queiram conferir esse trabalho que o público considerou o melhor documentário nacional da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Ótimo, Josafá! Vou procurar pelo filme. Obrigado pela dica. Você conseguiu me estimular a conferir esta película...
ResponderExcluirGrande abraço
A. Facioli
Adriano,
ResponderExcluirEu acho que você vai curtir! É muito bom!;-)
lindo! <3
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