sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Na estação: a queda da moça

Ontem, quando eu saia da estação de trem do meu bairro, na Zona Leste da capital, e atravessava a passarela que nos leva para o outro lado da avenida, na rampa de descida, uma jovem que caminhava na minha frente sofreu uma queda.
Desde criança, minha atitude ao ver alguém que cai, nunca foi a atitude semelhante àquela das pessoas em geral e que, normalmente, é a de rir da cena grotesca. Sim, essa é a reação comum nesses casos, e isso é quase universal. Certa vez, li em um livro de psicanálise, que a reação inconsciente de rir de quem leva um tombo, portanto, rir assim, automaticamente, ao ver a cena da queda, tem a ver com o fato de que preferimos ver o outro cair e não nós mesmos e isso porque essa queda nos lembra da “queda” final, ou seja, a do corpo para a cova.
Como eu dizia, desde menino eu nunca tive essa reação comum. Pelo contrário, eu corria para socorrer a pessoa e realmente estranhava que todos os outros "coleguinhas" estivessem rindo do ocorrido. Afortunadamente, às vezes, até a própria pessoa que caira!
No entanto, continuo, até hoje, achando muito estranho ver essa cena como algo cômico. Acho, por exemplo, aquele quadro do programa do Faustão, na Rede Globo de Televisão, quando ele passa a exibir aquelas cenas de tombos os mais exagerados para que todos riam em suas casas, as tais vídeocassetadas, eu acho aquilo de um mau gosto sem igual!
Voltando à moça caída na passarela. Eu me aproximei e notei que ela não se levantava e ainda que chorava. Eu a amparei para que se levantasse, perguntando se estava tudo bem e se ela conseguia se levantar. Ela apenas foi fazendo o que eu sugeria, chorando. Então, eu pedi para segurar a bolsa e a grande sacola que ela carregava e, enquanto ela se recuperava, a abracei pela cintura, fomos caminhando devagar, eu a amparando, enquando dizia:

- Está tudo bem? Fique calma, já passou. Foi apenas um susto. Não deve sido nada grave, você está conseguindo caminhar... Você acha que se machucou muito?

Ela, ainda soluçando baixinho (e secando com os dedos as lágrimas do rosto) disse que só doía um pouco o quadril e o braço. Então, eu disse:

- Você tem arnica em casa? Faça um chá, costuma ser bom para hematomas. Deve sido algo apenas muscular. Se continuar doendo muito, procure um pronto-socorro para fazer um exame de raio-x e ver se não atingiu algum osso ou se será preciso mobilizar. Ok?

Ela foi se acalmando, enquanto descíamos o que restava da rampa, e, quando chegamos ao final do trajeto, eu perguntei:

- Tudo bem? Você está mais calma? Consegue prosseguir sozinha?
- Sim, muito obrigada, moço!
Ao deixá-la pensei em tanta coisa! Na fragilidade da moça, que me pareceu abarcar qualquer coisa para além do ocorrido: era como se a queda tivesse despertado outros sentimentos de tristeza e de solidão... Talvez também ela fosse tão somente alguém muito sensível. Era uma moça que aparentava ter pouco mais de vinte anos, mas que, caída e durante o meu socorro, pareceu-me uma criança...
Devo confessar que também fiquei um tanto comovido com a minha presteza, afinal, fui fazendo tudo o que precisava ser feito, tão automaticamente, e apenas porque me pareceu necessário. Alguma coisa nessa minha atitude, no modo como conduzi o apoio, era também nova para mim. E, por fim, conclui que a vida devia ser assim sempre: todo aquele que está andando ao lado de outros iguais (passíveis de queda), nesse mundo, deveria ajudar aos que caem a se levantarem, para que todos, afinal, prossigam, em direção ao futuro!

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