O cinema está vivo! Fiquei muito feliz ao constatar isso, ontem, na sessão de Luzes na Escuridão de Aki Kaurismaki (em cartaz na Sala Oscar Niemeyer, do Belas Artes). Quem quiser saber, com profundidade, acerca da importância dos irmãos Kaurismaki para o cinema contemporâneo e para o conhecimento que o mundo passou a ter do cinema Finlandês: leia a crítica de Luiz Carlos Merten, no Estadão.
Eu, aqui, só poderei falar das minhas impressões muito pessoais em relação ao filme. ;-D
Quando o filme começou, compreendi que o protagonista e todos os outros personagens não iam falar muito e que, portanto, nós veríamos um filme paradigma de Cinema, ou seja, em que o que importa é o que podemos ver e ler na obra, a partir dos recursos que constituem propriamente essa arte: as tomadas, a luz, a fotografia, a direção e atuação dos atores, tudo isso amalgamado no que o roteiro e a montagem permitem entrever da história que se conta e que, por isso mesmo, por essa felicidade que constitui a obra cinematográfica como um todo, é que ela terá repercussão direta no nosso coração.
Quando o filme resulta de toda essa miríade de recursos bem empregados e, portanto, funcionando perfeitamente bem, não é preciso saber, tecnicamente, acerca de nada disso, mas tão somente emocionar-se com o resultado: se você é uma alma sensível à arte que ali se impõe.
Outro aspecto em Luzes na Escuridão que alegra quem viveu boa parte de sua vida na escuridão das salas de cinema e já viu nelas muita luz: esse é um filme contemporâneo, mas que remete diretamente ao cinema dos grandes diretores. Por exemplo, também percebi que o filme era, inclusive, um filme noir. Para mim isso remeteu, em muitas passagens, à atmosfera de uma espécie particular de noir: aquela que já vimos nos filmes de Fassbinder, por exemplo. Além disso, notei que havia também qualquer coisa de Cabíria naquela personagem central. Por exemplo, no modo frágil como ele se deixa arrastar pela vilã. A cara dele, parafraseando Caetano, não deixa de ser ela também um coração de Jesus...
Lembrei-me até mesmo de Win Wenders, quando ele nos sugeria que as pessoas comuns têm qualquer coisa de anjo, assim como esses têm qualquer coisa de gente comum, principalmente se essa gente é pária nesse mundo. É o caso, por exemplo, do garotinho negro que cuida do cachorro e, ao fim, até mesmo do segurança, a personagem central.
Por fim, há uma coisa ainda mais importante em Luzes na Escuridão e incomensurável em todo bom cinema: ele é um filme que fala do amor. O filme nos ensina que o amor é uma conquista lenta e que, estando nesse mundo socialmente injusto em que vivemos, ainda que possamos ser vítimas das circunstâncias as mais incontroláveis, mais intensamente o seremos, enquanto não compreendermos os nossos limites (sobretudo no campo material) e também que o nosso isolamento e a falta de amor próprio, tais circunstâncias, nos impedem de aceitar que sejamos amados por quem tão somente nos quer estender a mão.
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