segunda-feira, 30 de março de 2009

Quando o prestígio é também uma lição


Algumas entrevistas nos ensinam muito sobre a pessoa entrevistada (eventualmente também sobre o entrevistador) e, dependendo de quem é o entrevistado, falam ainda do nosso próprio tempo: ensinam a que tenhamos um olhar modificado sobre o que está acontecendo no nosso mundo e, então, é quando sentimos que aprendemos com aquele depoimento e quase que desejamos ser discípulos daquela personalidade, sobretudo, quando se trata de alguém com inegável prestígio.
Na semana passada, eu assistia ao programa Vitrine, na TV Cultura, e o jovem entrevistador Rodrigo Rodrigues conversava com Jonas Bloch que, além de estar completando 50 anos de carreira, lançava sua biografia, pela Coleção Aplauso da Imprensa Oficial.
Em determinado momento, Jonas Bloch elucidou acerca de uma diferença fundamental no mundo artístico, sobretudo televisivo. Ele dizia: é diferente você ter fama e você ter prestígio. Com isso, ele queria dizer que fama, qualquer pessoa que apareça na televisão brasileira pode conquistar em nossos dias. São aqueles 15 minutos de fama, propriamente, e que os participantes de um tal BBB não cansam de comprovar. Já prestigio é o que você conquista com seu trabalho e é o resultado de anos de dedicação ao ofício.
Ele, Jonas Bloch, é alguém de prestígio e Rodrigo conduziu a entrevista muito cônscio dessa condição do entrevistado. A certa altura, perguntou se Jonas Bloch já tinha tido contato com jovens do meio jornalístico e que, de repente, pudessem demonstrar não saber ao certo quem ele (Bloch) era. Ele disse que devido já estar há 50 anos no meio artístico, bem ou mal, todo mundo sabe quem ele é, porém o que ele já notou foi uma particular falta de respeito com a classe, ou com seus colegas de geração, de um modo geral.
Ele a ilustrou contando dois episódios.
No primeiro, uma revista convidara a ele e ao elenco de uma novela da qual ele participava na Record e, quando chegaram ao evento, todas as atenções eram dispensadas ao elenco da novela das 8 da Rede Globo. Ele disse até ter enviado uma carta aos tais organizadores da festa protestando em relação ao episódio. Como podia uma coisa dessas? Quando ele está em determinada emissora não lhe é dada atenção, fingem que não o conhecem. E como será quando ele for novamente fazer um trabalho na outra emissora: aí, então, voltarão a lhe dar a devida atenção?
O outro episódio, diz respeito a falta de tato com os atores no interior das próprias emissoras de televisão. Como hoje valoriza-se muito mais a forma física e a beleza dos atores, ele diz ter ouvido um diretor de elenco perguntar a respeito de determinado ator (nomes não foram citados, é claro) como ele "estava" sem camisa. Ele disse ter ficado enojado com o episódio. E eu que já o tinha como um excelente ator e profissional, agora considero Jonas Bloch uma pessoa ainda mais admirável.

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