sábado, 7 de março de 2009

Da importância de ser útil

Essa semana tive uma experiência tocante. Eu ia para o trabalho e encontrava-me dentro de um vagão do metrô paulistano, relativamente lotado.
Senti um toque no meu braço e voltei-me. Um homem moreno, por volta dos quarenta anos, disse-me: Posso lhe fazer uma pergunta? (Aqui devo confessar que fiquei de sobressalto, em geral esse tipo de abordagem já me arma: O que será?! Tanto foi assim, que apenas assenti com a cabeça.)
Então ele falou: Eu tenho um filho de dezesseis anos que me relevou que é gay. Eu fiquei muito perdido com essa situação, não estou sabendo orientar meu filho e nem a mim mesmo. Eu não estou sabendo como reagir e queria saber se você, por um acaso, não conhece um livro que eu pudesse ler sobre o assunto, para eu me informar melhor. Desculpe, por estar colocando esse problema para você, mas é que eu percebi que você é uma pessoa mais velha, da minha idade, e imaginei que talvez pudesse me orientar a esse respeito. Desculpe mesmo.

Fiquei tão tocado, achei tudo tão civilizado e correto e sincero. Era um apelo de um pai com um filho gay, aliás, absolutamente contemporâneo: Saiu do armário aos 16 anos!
Então, eu disse:
Não se preocupe. Você está corretíssimo. Não fiquei aborrecido e penso que posso mesmo ajudá-lo: conheço um livro que é justamente indicado para esse tipo de situação. Agora não tenho os dados do livro comigo. Mas posso enviá-los por e-mail.

Trocamos os endereços. Ele ficou agradecido.
Deixo aqui as referências do livro: CASTAÑEDA, Marina. A Experiência Homossexual: explicações e conselhos para os homossexuais, suas famílias e terapeutas. São Paulo: A Girafa Editora, 2007.

O livro traz uma epígrafe belíssima e que penso resume o que, no fundo, sabíamos que sentíamos aquele pai e eu, no metrô paulistano:

Ce que nous n'avons pas eu à déchiffrer, à éclaireir par notre effort personnel ce qui était clair avant nous, n'est pas a nous. [O que não temos que decifrar, que esclarecer pelo nosso esforço pessoal, o que era claro antes de nós, não nos pertence.] Marcel Proust

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