sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ser compassivo

Eu conheço alguém que por algum motivo muito obscuro para mim, provavelmente, me odeia. Diria mesmo que muito provavelmente, porque tal pessoa procura, mesmo na mais ínfima oportunidade que lhe seja propícia, reiterar o sentimento de profundo desgosto em conviver comigo.

Eu, por minha vez, gosto muito de mim mesmo. E, inclusive, também não tenho nada de concreto contra tal pessoa. A não ser o fato de que, eu, gostando de mim, não vejo nenhum motivo para que alguém me odeie, portanto, tão somente esse sentimento contrário ao daquele e que resulta nessa minha incompreensão absoluta de que alguém me odeie. Aliás, sempre que perscruto meu coração, concluo que não tenho lhe dado motivos para alimentar tamanho ódio. No entanto, seu ódio é até mesmo mais forte do que o bom senso e que, posso notar, esse ser também possui noutras circunstâncias.
Observando essa personagem de agora, lembro-me de todos os que também me odiaram, em maior ou menor grau, nessa minha vida, que já vai no alto de seus 42 anos. Não foram muitas pessoas, é verdade, e cada qual parecia ter sempre motivos muito obscuros para odiar a mim. Como podem notar o meu amor próprio é inegável. Por outro lado, como não consigo, deliberadamente, odiar a ninguém, acabo por perceber que fico sempre no escuro, quando sou eu o alvo de tal desamor.
O que é possível fazer? Em tal circunstância, penso que o silêncio, primeiramente, é sempre a melhor atitude diante dos surtos odientos daquele ser, por exemplo. Quando então, ele exala seus miasmas, e, portanto, quando sua vibração negativa será muito próxima do insuportável. Também penso que não se deve chorar, por mais penalizados que fiquemos diante de tal expressão. Mas, sobretudo, não devemos nos contaminar com o ódio, afinal seria horrível odiar alguém tão somente porque esse alguém nos odeia.
E mais, há segredo aí. Quero acreditar que, no infinito do obscuro, o que nos pode salvar de um quadro ainda mais lamentável é nos mantermos o máximo possível à margem, mas elevando um clamor aos céus para que esse ser seja feliz! Tão feliz a ponto de, quiça, nos esquecer e também a esse ódio que, tão veementemente, nutre por esse pobre odiado e, sobretudo, que esse último considere a possibilidade de lhe ser útil, caso ele venha a precisar - pela graça das circunstâncias insopitáveis - de nossa ajuda. Mas, sobretudo que consigamos ter, então, uma atitude de respeito tão grande no momento desse socorro que nem a mais leve lembrança do ódio daquele seja sentida por quelqu’un.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Marie Hippenmeyer


Sinto-me privilegiado por trabalhar no Pátio do Colégio, ao lado da Praça da Sé, e poder frequentar, na hora do almoço, a Caixa Cultural que fica ali.

Ontem, fui ver o ensaio fotográfico de Marie Hippenmeyer, suiça de nascimento, mas que vive há muito tempo no Brasil.  O título original do ensaio é Noir Blanc, no qual  temos uma série de imagens P&B e que ela captou através de uma câmara fotográfica Diana 6x6, presente de Pierre Devin, curador da exposição. (Eu não conhecia a câmara , mas descobri uma informação importante about it aqui.)


Aliás, muito bom o texto do curador no catálogo da exposição, ali, ele nos diz, por exemplo, que o uso de uma tecnologia pobre só é interessante formalmente através de um olhar rico.
Marie Hippenmeyer pôde escapar, segundo Devin, dos obstáculos que a tecnologia digital trouxe com seu aparecimento maciço. Segundo ele, atualmente, Hippenmeyer:

procura comunicar seu questionamento sobre a insuportável leveza do ser. O olhar não é somente testemunha. Pode também ser o lugar do prazer, da nostalgia dos jogos sobre as formas e seu imaginário. Algumas cenas nos tocam sem que saibamos por quê: tocam nosso inconsciente individual ou coletivo. Temos vontade de fotografá-las, nem que seja apenas para melhor compreendê-las com o passar do tempo.

Achei singela e verdadeira essa descrição do que acontece na arte da fotografia. Sejamos, então, tocados pelas imagens de Marie Hippenmeyer.

























terça-feira, 27 de abril de 2010

Um fotógrafo que também curte grafite




Eu gosto de street art, gosto de grafite. E isso já é paixão antiga. Desde a minha adolescência eu ficava siderado quando vinha ao centro da cidade, ou na região da Paulista, e via os grafites do artista plástico Alex Vallauri e, tempos depois, do Maurício Villaça.











Além de mim, Graças!, tem muito mais gente que gosta desse tipo de manifestação. Um exemplo de aficionado por grafite, e que acabo de descobrir, é o  carioca que vive em NY, o jovem fotógrafo Gabriel Mendes, idealizador do projeto Urban Puns. Ele produz uma série de imagens sui generis, nos cenários da street art,em várias cidades. Sua ideia foi a de fotografar desconhecidos, transeuntes, mas cujo resultado revela uma simbiose entre as pessoas e os murais de grafite clicados.

Trouxe para cá as imagens que mais apreciei, mas lá no seu site tem muito mais.




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Mais Teatro para o Brasil!

Participar da blogosfera pode ser uma experiência bem mais interessante do que tão somente ter um blog pessoal e, com o risco de tudo o que é pessoal , promover e cultivar a satisfação do próprio ego, ou seja, ser tão egoísta no mundo virtual quanto possamos ser no mundo não virtual.

Um exemplo oposto a esse, é o do que acontece hoje: a blogagem coletiva a favor da, em apoio à Campanha Mais Teatro Brasil! Agradeço ao Alessandro do Livro & Afins por nos chamar a todos para participar.

Vejamos o que acontece. Muitos de nós, por exemplo, que moramos em São Paulo, um dos polos mais desenvolvidos economicamente, podemos participar, estando aqui, do que também acontece no universo da cultura em geral, ou seja, acompanhamos nele esse mesmo gigantesco desenvolvimento, inclusive no número de peças de teatro em cartaz.
Eu contei, em um dos guias de espetáculos e eventos de um jornal da cidade, e ali estão enumerados, só para essa semana, cerca de 80 espetáculos de teatro em cartaz. Isso sem contar os trabalhos de grupos alternativos ou que não dispõem de espaço para a divulgação de suas montagens teatrais em jornais.
Um outro exemplo: no sábado, fui à exposição de Andy Warhol na Estação Pinacoteca e, depois de visitar a exposição, enquanto me encaminhava para o Belas Artes para ver o filme Alice no País das Maravilhas, pude ver o que acontecia na parede do Conjunto Nacional, na Av. Paulista, ou seja, a exposição das fotos de Marcel Gautherot, feitas durante a construção de Brasília, projetadas nas paredes externas do edifício. Portanto, na cidade de São Paulo, a população pode respirar nas ruas, além do ar poluído, as variadas manifestações do universo da cultura.
Em São Paulo, entre as peças em cartaz, há aquelas que, devido ao valor do ingresso, a grande maioria das pessoas não pode comparecer. São os tais musicais a la Broadway, cujos ingressos podem chegar a 200 reais, ou as peças com os atores globais, que também costumam ter seus ingressos caros: acima de 50 reais.
Mas, a maioria das peças, tem o seu preço médio entre 15 e 30 reais. Se a pessoa for estudante, pagará meia-entrada. Além disso, eu também contei, no tal guia cultural foram divulgados dez espetáculos com entrada franca, ou seja, só não vai ao teatro quem não quer. Simples assim.
No entanto, saindo do eixo São Paulo-Rio de Janeiro, esse cenário muda de figura.
Por exemplo, segundo o pessoal que organiza essa campanha, em todo o Estado do Tocantins, cuja população estimada é de 1,250 milhão de habitantes, há apenas uma sala de teatro! E em todo o Estado de Rondônia, cuja população estimada é de 1,5 milhão de habitantes, há apenas três salas de teatro...
E mais: 95% de toda população brasileira nunca esteve em um teatro!
Apenas 16% dos municípios brasileiros têm salas de espetáculos!

Assim sendo, penso que todos devemos apoiar essa campanha sensata.

No site oficial da campanha, você vai encontrar este texto do qual reproduzo aqui o pequeno trecho abaixo, mas mais do que isso você encontrará onde assinar e marcar o seu apoio. Faça isso, por favor!
A Campanha é um grande manifesto nacional que tem como missão fundamental a inclusão sociocultural, educacional e digital, incentivando e disseminando arte, cultura e entretenimento de Norte a Sul do Brasil, tendo como base fundamental o Teatro!
Objetivo da Campanha:
Colher o maior número de assinaturas possível para dar entrada, junto ao Congresso Nacional, num Projeto de Lei de Iniciativa Popular, para que seja obrigatória a construção de um "Centro Integrado de Cultura" em cada município, cuja população seja superior a 25 mil habitantes.
A ideia central é permitir que populações inteiras, que nunca tiveram contato com espetáculos de qualidade, ou mesmo espaços destinados à arte e à cultura – em sua imensa maioria restritas ao eixo Rio - São Paulo –, passem a ter acesso as mais diversas formas de expressão artístico-culturais, fomentando e desenvolvendo entre estas populações, um hábito tão fundamental para a formação do caráter de um povo, como é a cultura!
Para que um país seja justo socialmente, o desenvolvimento humano e social de sua população tem que acompanhar o desenvolvimento econômico do país.

domingo, 25 de abril de 2010

A lição de beleza do Mr. America

Ontem, eu tinha a tarde livre, então, pude combinar com duas amigas queridas uma experiência de liberdade sem igual: fomos à exposição Andy Warhol Mr. America, na Estação Pinacoteca. Todo mundo, bem ou mal, sabe quem foi o Warhol, de sua importância ou já viu algumas das imagens de suas obras mais divulgadas. Para mim, a importância dessa exposição está na sua completude. Trata-se de um imenso painel de sua trajetória e tudo o que ele fez, praticamente, está ali.

Aliás, foi emocionante ver o número de pessoas que tem frequentado a exposição. E todos interessados! No terceiro andar, as pessoas se aglomeravam em silêncio, lendo o imenso painel que contava da biografia, mostrando as diferentes experiências e fases da vida e do trabalho do artista.
A genialidade, inteligência e sensibilidade de Warhol, para mim, a partir dessa experiência de ver tudo o que ele fez, revelam uma qualidade ainda mais essencial do artista: ele era uma pessoa sem preconceitos. E, além disso, teve a delicadeza de desmascarar o american way of life com todo o respeito e amor,  com os quais sua condição de americano podia tratar desse grande topos que foi a América no seu trabalho. Aliás, como tão bem demonstra essa sua fala:

Eu me vejo como um artista norte-americano, eu gosto daqui, acho que é o máximo. É fantástico [...] Eu sinto que represento os EUA na minha arte, mas não sou crítico social. Eu simplesmente pinto esses objetos nas minhas pinturas porque eles são as coisas que eu conheço melhor. Eu não estou tentando criticar os EUA de forma alguma, não estou tentando mostrar qualquer tipo de feiura.

As latas da sopa Campbell estão todas lá e foi tocante saber que quando ele era pobre, na sua infância, sua mãe só podia comprar as tais sopas para alimentar o filho. Essa informação, para mim, vale mais do que tudo o que já se falou sobre essas imagens.
Os originais dos oito retratos de Marilyn Monroe, reunidos pela primeira vez na minha frente, também repercutiram na minha sensibilidade, com toda a força da representação inovadora que Warhol propõe ali, que redimenciou os cânones da arte, mas o que de fato eu senti foi um profundo respeito pela personagem e pela figura retratada: a materialização da tragicidade da beleza de uma mulher.
Aliás um amigo que já fora à exposição sugeriu uma brincadeira: Se você pudesse levar uma delas para casa, qual seria a sua? É incrível o que acontece quando você sugere a pergunta, estando com mais duas pessoas... rsrsrs A minha é essa ao lado.


Blow job (1964) está ali inteiro. O filme que fala de sexo oral, mas em que o sexo não aparece. Trata-se do implícito no explícito. O outro não está na cena, talvez porque seja do Outro que aqui se trata. Algo que somente um homossexual poderia entender com tamanha profundida, estou supondo. Alguém, aliás, que também nos diz:

O sexo é uma ilusão. O mais excitante é não fazê-lo.

E mais:

A fonte dos problemas das pessoas são suas fantasias. Se você não tivesse fantasias, você não teria problemas, porque você aceitaria qualquer coisa que estivesse na sua frente. Mas aí você não teria romance, porque romance é encontrar sua fantasia em pessoas que não são sua fantasia.

Muito pacificadora a instalação Silver Clouds (1965). São travesseiros de Mylar (Scothpack) insuflados com hélio. Eles ficam no teto e em movimento, graças a ventiladores instalados nas paredes. Ainda na parede, a frase:

Era a hora perfeita para se pensar prateado. O prateado era o futuro, era espacial, doidão... O prateado também era o passado – a tela prateada do cinema... E talvez, mais do que tudo, o prateado era o narcisismo.

Quando ele expõe pela primeira vez esse trabalho, em uma galeria de Nova York, toda a sua patota, e que fora à exposição, era refletida nessas nuvens prateadas...
E o que dizer dos autorretratos? As fotografias em polaroyd de suas imagens como drags entre outros?
A lição que aprendemos é tão somente essa:

Quando fiz meu autorretrato deixei de fora as espinhas pois é assim que sempre deve se fazer. As espinhas são um estado temporário e elas não têm nada a ver com aquilo que você realmente é. Sempre omita as falhas elas não fazem parte da bela imagem que você quer.

Com esse depoimento entendi uma coisa que tenho feito, mesmo que inconscientemente, nesse blog: eu não mostro aqui as minhas espinhas... rsrsrs Devido a toda essa lição e que aprendi durante a exposição é preciso que eu diga, com entusiasmo: Andy Warhol é uma pessoa belíssima. Salve o artista!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Porque amamos os livros desde sempre

Quando eu era criança tínhamos em casa uma coleção de livros de contos de fadas. Mesmo antes de aprender a ler, eu os folheava e achava o máximo aquelas ilustrações. A criança que eu era tinha muita imaginação e, então, eu ficava criando as histórias inspirado nas ilustrações: as histórias que eu ainda não podia ler. Uma prima querida, que era um pouco mais velha, lia para mim tais histórias, quando vinha nos visitar, uma vez que os adultos de plantão já estavam um pouco aborrecidos daquelas mesmas histórias que a criança queria ouvir sempre, só mais uma vez.

Aliás, como é difícil para os adultos considerar que a noção de tempo e mesmo a de repetição, para as crianças, não são as mesmas que se tornam para quem alcançou a idade da razão... Desconfio, no entanto, que talvez eu já soubesse o que mais tarde se confirmou: que um livro encerra em uma única história narrada, mil outras que reconstruímos pela imaginação, nos diferentes momentos de leitura, de releitura.
Assim, não adianta dizer para uma criança: essa história nós já lemos. Aliás, nunca é a mesma história, aquela que lemos. Sim, que também o adulto saiba disso, afinal é sempre uma nova história, mesmo que seja sempre a mesma e infinita história, todas as histórias contadas em todos os livros.
Desde Homero, sabemos disso.
Afinal, o que nos contam os livros? As aventuras, os enganos e desenganos humanos, as lutas, as dores, as lágrimas, o suor, o dispêndio de sangue nas batalhas de sempre, o amor inconteste, as ambições, o desespero e os desvarios da paixão, os êxtases místicos. É tudo sempre o mesmo, contudo, nas variações de todos os narradores dessa grande e infinita história que se conta pela literatura.
Trata-se, vivamente, da palavra selada e guardada no livro, a palavra das almas que viveram e narraram cada qual a seu modo e sempre único. Esse é o segredo de ser sempre inaugural essa eterna repetição de histórias.
A verdade é que nossos escritores narraram e narram, o tempo todo, a alegria e a dor de ser gente.
É simples assim, o que encontramos em um livro: nós mesmos, somos os livros vivos de Fahrenheit 451.
E porquanto não o queimem ele será esse sempre companheiro para quem descobriu sua magia.
Pois bem, hoje é o seu dia. O dia do livro.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Amor de mãe no cinema

Hoje eu recebi um e-mail do pessoal do Cine Belas Artes, divulgando os filmes que estarão no seu Cineclube. São todos excelentes reprises. Eu assisti a todos e recomendo vivamente. Achei hilária a ironia do título dessa programação, afinal todas as mães desses filmes são louquíssimas, sem exceção. Mas mãe é mãe e, nesse caso, também está valendo a máxima: toda forma de amar vale a pena. Não é mesmo? rsrsrs

Esse é o excelente texto que recebi por e-mail:

Coletânea: Amor de Mãe

No período de 23 de abril a 20 de maio, para celebrar o mês das mães, o Cineclube preparou uma coletânea com quatro obras que destacam a figura materna.
Essas mães, cheias de encantos e defeitos, estarão nos filmes Belíssima (1951), de Luchino Visconti; Os Imorais (1990), de Stephen Frears; Um Dia Para Não Esquecer (1991), de Jean-Louis Bertuccelli; e Betty Fisher e Outras Histórias (2001), de Claude Miller.

Se os filmes são ótimos, boa parte dos seus méritos se deve às performances das atrizes Anna Magnani, Angelica Huston, Giulietta Masina, Nicole Garcia, Sandrine Kiberlain e Mathilde Segnier, todas maravilhosas.
Em Belíssima, o clássico desta coletânea, Anna Magnani, que anos mais tarde encarnou a Mamma Roma, de Pasolini, está magnífica. A história, atualíssima, é sobre uma mulher que acredita que a sua pequena filha, vista por ela como a criança mais bela da Itália, seja a candidata perfeita para ocupar uma vaga no elenco de um filme que está sendo produzido na Cinecittà. O fato é que a garota, infelizmente, não agrada nem um pouco aos olhos dos responsáveis pela seleção, e logo será motivo de piadas nos bastidores. Mas, é claro que a tempestuosa Maddalena, a personagem de Magnani, não deixará isso por menos.
A atração seguinte, Os Imorais, é um filme que retrata as relações familiares de uma maneira bem torta. O trio protagonista é composto por mãe, filho e a namorada deste. Todos bandidos. São golpistas de luxo que se amam e se odeiam sem se preocuparem com limites ou escrúpulos. Numa determinada cena o contato físico entre Angelica Huston e John Cusack deixa claro que o sentimento da mãe pelo filho, pelo menos naquele momento, vai muito além do que se pode chamar de afeto maternal.
Para os saudosos de Giulietta Masina, Um Dia Para Não Esquecer é programa imperdível. Trata-se do último trabalho dela, que faleceu em 1994, seis meses depois de seu marido, Federico Fellini. Neste filme Masina interpreta uma matriarca que resolve vender a casa da família, mas antes oferece um almoço de despedida para os filhos, noras e netos. No entanto, o filho que ela mais aguarda, desaparecido há 15 anos, ninguém sabe se está vivo ou morto.
A trama de Betty Fisher, na realidade apresenta três mães. Inicialmente são uma mãe e uma avó. A mais velha é Nicole Garcia e a mais jovem Sandrine Kiberlain. Esta última dá vida a uma escritora que acabou de perder tragicamente o único filho. Mas a sua mãe logo aparece para lhe reconfortar e não tarda em arranjar uma maneira de amenizar a dor. Ela rapta um garoto da mesma idade daquele que morreu e o leva para a casa da filha. Não deixemos de avisar que o menino roubado também tem uma mãe biológica. É quando entra em cena Mathilde Segnier representando uma figura barra pesada, capaz de colocar Paris de cabeça para baixo até descobrir o paradeiro da sua cria.

Cada filme será apresentado por uma semana, diariamente, em sessão única.
(os horários podem variar de filme para filme, entre 19h e 19h30)

23 a 29 de abril

BELÍSSIMA (Bellissima)
Itália, 1951, p/b, 108 min., 12 anos.
Direção: Luchino Visconti
Elenco: Anna Magnani, Walter Chiari e Tina Apicella.

Um diretor de cinema está realizando testes com atrizes mirins, pois precisará de uma menina para o filme que rodará na Cinecittà, em Roma. Atendendo a um anúncio, uma mãe cinéfila leva sua pequena filha para disputar o papel. Porém os produtores acham a garota feia e fazem piadas sobre isso, despertando a ira da mãe.

30 de abril a 06 de maio


OS IMORAIS (The Grifters)
EUA, 1990, cor, 119 min., 14 anos.
Direção: Stephen Frears
Elenco: Angelica Huston, John Cusack e Annette Benning.

A relação de um homem e duas mulheres, uma delas é sua mãe e a outra sua namorada. Eles são três golpistas que se amam, se odeiam, nutrem sentimentos incestuosos e não medem escrúpulos quando o assunto é dinheiro.

07 de 13 de maio

UM DIA PARA NÃO ESQUECER (Aujourd'Hui Peut-Être)
França, 1991, cor, 90 min., 12 anos.
Direção: Jean-Louis Bertuccelli
Elenco: Giulietta Masina, Eva Darlan e Jean-Paul Muel.

Neste último filme da atriz Giulietta Masina, ela interpreta uma matriarca que resolve vender a casa onde sempre viveu, mas antes reúne a família para um almoço de despedida. Entre conversas e doces recordações ela espera ansiosamente pela chegada de seu filho favorito, que há 15 anos não aparece.



14 a 20 de maio

BETTY FISHER E OUTRAS HISTÓRIAS (Betty Fisher et Autres Histories)
França, 2001, cor, 101 min., 14 anos.
Direção: Claude Miller
Elenco: Sandrine Keberlain, Nicole Garcia e Mathilde Seigner.

Duas mulheres, dois mundos. Betty Fisher é uma jovem escritora de talento que descobre o prazer do amor maternal com seu filho de quatro anos. Ao mesmo tempo uma garçonete, cuja vida não é um mar de rosas, também tem um filho a quem trata grosseiramente. Uma terceira mulher, a mãe de Betty, irá juntar essas diferentes realidades de maneira inesperada.

terça-feira, 20 de abril de 2010

O vulcão da Islândia

A semana passada os aviões, na Europa, não puderam voar. Temiam a nuvem negra do vulcão. Hoje, ouço no noticiário que o vulcão da Islândia, de nome impronunciável em nosso idioma, voltou a expelir seus gases mortíferos. Também ouvi dizer que ele ainda pode vir a expelir seus rios de lava mortal e toda a população que corria risco de morte foi retirada da redondeza. Ainda soube que o próprio país da Islândia só existe porque há milhares de anos uma gigantesca erupção vulcânica criou o território que hoje conhecemos como a terra natal de Björk.


Isso me fez lembrar desse verdadeiro vulcão que também é a artista. Uma pessoa que conheço, dançarina do ventre e mãe de uma amiga minha, esteve na Islândia há um tempo atrás. Na ocasião, ela assistiu um show da cantora no seu país de origem. Ela contou-nos que quando isso acontece, o país comparece todo ele ao show de Björk. A população em peso!

Sua filha adolescente, ao ouvir o relato da mãe, comentou na ocasião:

Nossa! Se alguém faltar ao show, deve pegar super mal para essa pessoa...

Eu também acho que sim, deve pegar super mal! ;-D

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Odiléa Toscano by Sara Goldchimit

Hoje quero deixar, aqui, uma dica muito boa de blog. Trata-se do Designdiario de Sara Goldchimit .Essa arquiteta terminou o seu curso de arquitetura na FAU-USP, no início dessa década, depois fundou e atuou no Imageria Estúdio, tendo projetos gráficos premiados.

Há 2 anos, ela terminou o mestrado em design pela mesma faculdade de arquitetura da USP e sua dissertação chama-se Odiléa Setti Toscano: do desenho ao design. Foi também esse o título do post que eu li, lá no seu blog. Muito instrutivo e com imagens dos trabalhos da Odiléa. Trouxe para cá apenas algumas dessas imagens. Odiléa Toscano foi uma ilustradora que muitos de nós conhecemos na década de 70, sobretudo em alguns livros didáticos de Língua Portuguesa. Eu lembro-me perfeitamente do traço!

Achei tudo isso comovente, uma vez que também foi uma recordação do tempo da minha criança. E, claro,  trata-se do resgate de uma grande artista e só por isso já valeria a divulgação.
Hoje, a Sara trabalha como designer gráfica independente e mantém esse blog bacana. Não deixe de visitar.




















sexta-feira, 16 de abril de 2010

May you always do for others and let others do for you

Hoje, sexta-feira, graças a Deus!

Na minha hora do almoço, sai em direção à Mercearia Godinho queria comer algo muito gostoso e, depois de comer, subi em direção à Praça do Patriarca. O sol estava brilhante, o céu azul, cruzei os mortais todos: animados com a sexta-feira.

Ao chegar à Praça, parei em frente à vitrine da Livraria Martins Fontes. Quantos livros sensacionais!

Mas o que mais me chamou a atenção foi o de Bob Dylan. Belíssima capa. Eu o queria tanto! Mas nem perguntei o preço: era um livro imenso (depois descobri que não é tão caro assim, como eu pensara... rsrsrs).
Agora, lembrei-me do livro, e encontrei esse delicado vídeo no Youtube about it.
Se eu não ganhar o livro, penso em comprá-lo para dar de presente a alguém muito querido. Sou assim mesmo: gosto de compartilhar. Daí esse blog e etc. e tal.




May God bless and keep you always
May your wishes all come true
May you always do for others
And let others do for you
May you build a ladder to the stars
And climb on every rung
May you stay forever young
Forever young, forever young
May you stay forever young.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O piano vivaz de Dezsö Ránki

Ontem, estive nesse templo da música de qualidade indiscutível que é a Sala São Paulo. Foi a abertura da Temporada 2010 da Sociedade de Cultura Artística. Um grande amante da música erudita que conheço não pôde ir e fez a gentileza de ceder a mim o ingresso o que me deixou bastante grato e até mesmo comovido.
Inicialmente, o concerto seria de Vadim Repin no violino e Itamar Golan no piano, mas o violinista cancelou sua vinda ao Brasil por motivos de saúde. Deus ajude! Assim sendo, tivemos uma substituição de altíssimo nível: o pianista húngaro, Dezsö Ránki.

O programa da noite incluia uma Sonata para Piano, em Mi bemol maior, Hob.XVI/52, de Franz Josef Haydn, a Fantasia em Dó maior, opus 17 de Robert Schumann e a Sonata para Piano, em Si menor, S.178 de Franz Liszt. Para mim, que há muito não ia a concertos, ele foi um programa perfeito porque a primeira Sonata de Haydn era de curta duração nos seus movimentos: um Allegro e um Adagio, com um Finale: presto. Como esse compositor é do período do Classicismo a composição era muito equilibrada como um todo, somente acenando, ao final, para um espírito mais alerta, como diz J. Jota de Moraes, no comentário do programa impresso. Achei importante esse início porque pude ir me ambientando e acalmando as fortes emoções que me tomavam, a saber: estar diante de um pianista talentoso e que se apresenta nos palcos mais conceituados do mundo, portanto, de alguém que estudou todos os anos de sua vida para tornar-se o virtuose que demonstrava ser. Além disso, por ter a oportunidade de ouvir os compositores que outrora viviam em cortes e cultivavam uma música refinada e elaborada até o limite do gênio humano e, por fim, por estar na Sala São Paulo, pela primeira vez (confissão vergonhosa, eu sei, mas aqui vale o "antes tarde do que nunca") e isso por si só já seria uma sensação sui generis.

E, então, a peça terminou e, após os aplausos ainda comedidos, Ránki iniciou a Fantasia de Schumann.  Eu logo apreciei, porque o espirito romântico tomou o ar nas vibrações sonoras do piano tocado com muita naturalidade, precisão e vivacidade. Acho que Schumann ficaria feliz se pudesse ver aquela execução dos movimentos que criou nessa peça: Com fantasia e paixão - Em tom lendário; Moderado. Com energia - Um pouco mais lento - Bem agitado; Lento. Sempre suave - Mais agitado. A descrição desses movimentos são apropriadíssimas para a Fantasia que ouvimos graças ao talentoso pianista húngaro e, sobretudo, no que diz respeito ao que ela concretiza, segundo aquele comentarista: os dois estados anímicos que dominavam a alma do artista (Schumann) bipolar  e em constante oscilação - a depressão e a euforia; ou, como se dizia, então, a melancolia e a felicidade.

Após o intervalo, foi a vez de ouvirmos a Sonata de Franz Liszt em seus generosos movimentos. Foi então, que tivemos a prova da virtuosidade absoluta do pianista. Próximo ao final, quando terminado o movimento Prestissimo, após ter sido tocado vigorosamente, notou-se que seu empenho foi tão intenso, com demonstração de tamanhas força e velocidade que, ao final, ao levantar os braços, suas mãos ficaram no alto, mas o piano ainda soava as notas de cada uma das teclas, que lentamente se acomodaram até se instaurar o silêncio que antecipou o retorno das mãos às teclas para o início delicado e lento do Andante sostenuto.

Não há, na linguagem verbal, palavras que possam verbalizar o sentimento dos corações ao alto a que se assistiu em toda a imensa e bela Sala São Paulo.
Quem ainda puder ir, hoje, às 21h, para a Série Azul, saiba que terão mais uma apresentação desse artista que, ao final, quando aplaudido com entusiasmo (nós pobres mortais só podemos aplaudir), generosamente, retorna ao palco para um bis.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Da Cidade de Deus aos Campos de Lavanda do Sul da França

Sábado, na nossa aula na PUC, discutíamos a importância da avaliação na escola, sobretudo no magistério do ensino superior . Em um texto que líamos, o autor lembrava as expectativas das famílias: elas querem que a escola assegure aos filhos condições dignas de sobrevivência. Alguém dizia que, no entanto, muitas famílias nem se preocupam com a qualidade de ensino, mas com a obtenção de um certificado tão somente. Mesmo que esse documento possa, quando muito, assegurar uma vaga de gari para o cara, ou seja, ainda que ele não avance para além dessa conquista.
Uma amiga nos lembrou uma cena do filme Cidade de Deus, se eu não me engano, em que um garoto da favela retratada no filme dizia, em determinada altura, que ele não iria para a escola porque não iria ser "mais um otário de marmita", o que significava, no caso, que ele preferia se associar ao tráfico de drogas.
Fico pensando se não se trata sobretudo de escolhas e até mesmo misteriosas, na força do desejo que impulsiona cada qual a estar ou não na escola e vivenciar ou não os desdobramentos possíveis dessa experiência.
Penso que todas as escolhas são justas, no sentido lato da palavra justiça, ou seja, posso preferir ser o "otário de marmita" (afinal, preferindo trabalhar ao menos para ter o que colocar nessa marmita); ou obter o certificado que me assegura conquistar, por uma prova em concurso público, a vaga de gari, com a qual o cidadão também assegura a sua sobrevivência e a de muitos da família. Isso não é mesmo admirável?
Ou não, desejar muito mais, materialmente, e pular a experiência do aprendizado escolar, em busca do que o crime possa prometer, arriscando com isso a obter aquilo que ele mais rapidamente assegura: a morte prematura de jovens.
Há também histórias belíssimas de conquista, como a que faz, por exemplo, com que uma pessoa de origem pobre se torne doutor e diga, diante da banca de doutoramento, como um amigo também relatou: Meus pais, minha avó, meus familiares... não entendem porque eu estudo tanto e não poderiam conversar comigo a respeito dessa tese que eu estou aqui defendendo...
Eu, muito humildemente, de minha parte, como Cartola,  acho que tudo no mundo acontece e, como aconteceu de o meu coração ficar triste, ao pensar nessas questões todas, muito enigmaticamente terminarei essa crônica dizendo que o mais delicioso de tudo deve ser plantar lavanda, no sul da França... Será?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Salve a Biblioteca!

Datas comemorativas são importantes: sugerem que olhemos com carinho para o objeto alvo da homenagem. Assim, quando ouvi que hoje é o Dia da Biblioteca, fiquei enternecido. Eu sempre gostei da atmosfera presente em toda biblioteca. Aliás, quando entrei pela primeira vez em uma biblioteca fiquei siderado. Era uma pequena biblioteca pública, muito simples, de bairro. Mas havia um número de livros bem maior que aquele que eu tinha em casa. Além disso, era um ambiente silencioso, no qual as pessoas liam livros e onde elas podiam emprestá-los para levar consigo. Minha criança achou tudo isso muito correto. Também havia ali grupos de estudantes que faziam sua pesquisas escolares, em moderada conversação. Tudo corretíssimo, não é mesmo?
Depois, na adolescência, passei a frequentar a Biblioteca Mário de Andrade. (por falar nisso, será que ela reabre mesmo, ainda esse semestre?) Ali, então, foi um deslumbramento: senti que entrava num templo do saber, do conhecimento e da beleza. No auditório da biblioteca, cheguei a frequentar as Vesperais Líricas, num tempo em que o Teatro Municipal esteve fechado para reforma e a biblioteca abrigou os cantores líricos, animados, e também os amantes do bel canto. Que saraus magníficos!
Muitas outras bibliotecas foram visitadas por mim. Em uma das bibliotecas da USP, no tempo da minha graduação, cheguei a trabalhar, como auxiliar de biblioteca. Aliás, fiquei todo comovido quando soube que tinha essa experiência em comum com Borges, que também trabalhou em biblioteca. Ele conta, em um livro do qual já falei aqui, que não foi uma experiência que deu muito certo: os colegas de trabalho não gostavam que ele fizesse o seu serviço direitinho (ele produzia mais do que os outros na catalogação de exemplares) e também não gostaram quando ele passou a trabalhar menos, como queriam: é que ele resolveu ocupar o tempo livre que passou a ter lendo os livros da biblioteca...rsrsrs Pois é, dependendo do ambiente gente boa não agrada mesmo!
Lembro-me também de quando fiquei desempregado uma época e frequentei, nesse período, a biblioteca do Centro Cultural São Paulo. Cheguei a ler um livro inteiro de Hanna Arendt no interior daquela biblioteca, que acho deliciosa. Li da autora A vida do espírito. E acho que é isso: a Biblioteca é o lugar onde melhor se cultiva essa vida. A do espírito.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O magnífico Ossário de Alexandre Orion

Vejam vocês como o preconceito é mesmo uma coisa terrível!
Desde o mês passado, eu soube de uma exposição no CCBB, aqui no centro de São Paulo. Mas não quis descer ao subsolo porque a exposição se chamava Ossário e tudo o que via no cartaz era o desenho de umas caveiras, achei melhor não... Graças a Deus, tenho bons amigos e, hoje, uma amiga voltou da exposição e me disse: Josafá, você precisa ir lá ver! Quando eu disse que eu tinha evitado, ela me disse: Não, é uma outra coisa...
Quando entrei no subsolo do Centro Cultural,lá estavam as caveiras tomando a parede. Quando entrei na sala escura, um vídeo mostrava um rapaz, o Alexandre Orion, trabalhando no túnel da Av. Europa e Cidade Jardim. Ele, usando máscara e com um pano na mão, ia limpando toda a fuligem de imensos painéis que cobriam o túnel e com isso desenhava nossas caveiras. Então, aparecem em cena policiais dispostos a questionar sua atitude. Depois de um tempo, também parou um carro da própria CET - Companhia de Engenharia de Tráfefo da cidade. O filme também mostra a decisão da prefeitura para acabar com a intervenção do artista. Um carro pipa aciona a mangueira e limpa todo o painel, lavando a fuligem e, com ela, mandando as caveiras para o ralo.
O mais triste é que limparam apenas onde ele desenhara. Isso tem um nome: censura! Quando, provocativo, ele continuou seu trabalho em 120 metros de túnel, a prefeitura decidiu que limparia todos os túneis da cidade. Orion diz no seu site: Em menos de 4 meses tudo estará sujo de novo. Melhor do que limpar seria pararmos de poluir.
Eu chorei de emoção por tudo, pela atitude do artista, pelo horror da poluição na cidade e, portanto, verdade mortífera a que as caveiras aludem e, claro, pela truculência dos órgãos do poder. Louvo a atitude do CCBB em trazer para o seu subsolo a atmosfera vivida pelo artista no túnel, e pela consagração dessa intervenção que nos desmascara, bem como aos tolos desmandos de quem não tem a consciência tão limpa assim...
A exposição acontece de terça a domingo
no subsolo do CCBB
Rua Álvares Penteado, 112 - Centro
Até 9 de maio
entrada franca \o/

terça-feira, 6 de abril de 2010

Manhã outonal

Uma manhã outonal faz pensar. Talvez o outono seja mesmo um tempo para o recolhimento do ser. O tempo de voltar ao casulo. Esse recolhimento pode acontecer na medida mesma em que eu me permita reflexões de toda ordem. Por exemplo, estou decidido a viver o exercício dificílimo de só pensar o que me propicie viver melhor a vida imediata. Isso, desconfio, irá dar lá na vida futura: essa minha desconhecida.

Como fazer esse plus? Sim, é um salto do que se trata aqui. Posso começar perguntando: Quanto devo economizar, se quero comprar algo de que preciso? Quanto devo guardar? Na verdade, a questão é: quanto posso guardar a ponto de não faltar hoje, e de modo que ainda possa sobrar para amanhã?

Quando o orçamento fica em "parafuso", isso pode ocorrer porque desejei mais do que podia, ou devia e, com isso, gastei além. Afinal, quando isso ocorre, não é preciso que assim seja tão somente porque ganho pouco... O mais importante seria eu me perguntar: Por que é necessário que eu ganhe mais? Essa é a questão que não irá calar, até... que eu passe a ganhar mais. rsrsrs E, enquanto isso não ocorre, uma outra questão para fechar o rol de questões em torno desse tema: Afinal, será que posso também ser generoso, comigo ou com qualquer um, em qualquer tempo e condição? A resposta pode e deve ser Sim!

Por outro lado, que tipo de pensamentos devo nutrir para estar bem agora e melhor ainda no futuro?

Estou descobrindo, muito lentamente, que se penso mal e, com isso, penso o mal dos outros, faço um grande mal a mim mesmo. E quando penso o mal em relação aos outros? Muitas vezes gratuitamente: uma antipatia desnecessária por um transeunte desconhecido...e alimento maldosamente essa antipatia com pensamentos. Ou mesmo um tolo ódio por um conhecido com o qual também não me simpatizo e penso também maldosamente acerca dessa pessoa. Enfim, tenho notado que tudo isso ocorre sempre com um desgaste de energia, absolutamente desnecessário. Desconfio até que isso só pode resultar em doença. Cruz credo!

A verdade é que estou descobrindo que só posso amar a mim mesmo na medida mesma em que eu não odiar a ninguém. Não estamos todos reunidos por aqui e tendo enfim que conviver? Que tal convívio seja para o nosso bem, afinal, o inverno apenas se aproxima: será necessário muito calor humano.

sábado, 3 de abril de 2010

Rita Botto

Meu amigo Enric deu-me um regalo! Já falei dele aqui. Serei sempre grato a ele por mais esse novo conhecimento: ele apresentou-me Rita Botto.

Rita Botto nasceu em Catena, cidade de Etna, região da Sicília, Itália.

Segundo o site Italia Folk Music trata-se de uma cantora versátil e autodidata, com uma capacidade vocal espantosa, ela instruiu-se no canto pela escola de Ferrare de “Música Moderna” e também no “Baule dei Suoni” da escola de teatro da Bolonha, onde vive atualmente.

Impressionada com as canções da magnífica artista Rosa Balistreri, Rita Botto tem sempre tentado promover, como aquela, os tesouros da música popular da Sicilia. Ela, aliás, dedicou a Rosa Balistreri seu álbum independente Ethnea. O nome é um jogo de palavras entre étnico e Etna, para simbolizar o renascimento da música siciliana.

Seu álbum Stranizza d'Amuri, veio a público em 2004, quando Rita Botto ficou conhecida para o grande público, recebendo aprovação unânime da crítica, tanto italiana quanto estrangeira.

Ela também tem colaborado com importantes artista como Alfio Antico, Antonio Marangolo, I Lautari, Roy Paci and Carmen Consoli.

Suas apresentações no palco impressionam seja pela sua técnica vocal que é muito particular, bem como pelo fato de que usa um vaso como caixa de som.

Seu novo disco, Donna Rita, foi recém-lançado em mais de 10 países. Foi desse disco que ouvi a canção Rosa.

Oh, que gran cosa!

Aqui, trago este clip que encontrei no Youtube para compartilhar. Achei tão singela a história narrada nessa canção e tão bem desenvolvida pelas imagens.

Eu não falei ainda, mas ela canta na língua siciliana!




Bravissima Rita, e bella canzone. Viva la Sicilia!!!

Stranizza D'Amuri

(Uma canção do grande Franco Battiato)

'Ndo vadduni da Scammacca
i carritteri ogni tantu
lassaunu i loru bisogni
e i muscuni ciabbulaunu supra
jeumu a caccia di lucettuli...
'a litturina da ciccum-etnea
i saggi ginnici 'u Nabuccu
'a scola sta finennu.
Man manu ca passunu i jonna
sta frevi mi trasi 'nda lI'ossa
'ccu tuttu ca fora c'è 'a guerra
mi sentu stranizza d'amuri... I'amuri
e quannu t'ancontru 'nda strata
mi veni 'na scossa 'ndo cori
'ccu tuttu ca fora si mori
na' mori stranizza d'amuri... I'amuri.



Extrañeza de amor
Estranhamento de amor
"En el valle de Scammacca
No vale de Scammacca
los carreteros de vez en cuando
carros de boi de vez em quando
dejaban sus excrementos
deixavam seus escrementos
y los moscones los sobrevolaban
e os mosquitos os sobrevoavam
Íbamos a la caza de lagartijas...
Íamos à caça de lagartixas
el vagón de la circum-etnea
o vagão de circum-etnea
las sesiones de gimnasia con el Nabucco
as sessões do ginásio com o Nabucco
la escuela está terminando.
a escola está terminando.
A medida que pasan los días
à medida em que passam os dias
esta fiebre me entra en los huesos
esta febre me entra nos ossos
Aunque fuera hay guerra
Ainda que lá fora haja guerra
siento una extrañeza de amor...el amor
sinto um estranhamento de amor... o amor
Y cuando te encuentro por la calle
E quando te encontro pela rua
me viene una sacudida al corazón
me vem uma sacudida ao coração
Aunque fuera se muere
Ainda que lá fora se morra
no muere esta extrañeza de amor...el amor
não morre este estranhamento de amor... o amor
 
(Aceito sugestões para a versão em português que fiz a partir da versão em espanhol, que Enric me mandou e que também disponibilizou em Bosphorus.)