domingo, 25 de abril de 2010

A lição de beleza do Mr. America

Ontem, eu tinha a tarde livre, então, pude combinar com duas amigas queridas uma experiência de liberdade sem igual: fomos à exposição Andy Warhol Mr. America, na Estação Pinacoteca. Todo mundo, bem ou mal, sabe quem foi o Warhol, de sua importância ou já viu algumas das imagens de suas obras mais divulgadas. Para mim, a importância dessa exposição está na sua completude. Trata-se de um imenso painel de sua trajetória e tudo o que ele fez, praticamente, está ali.

Aliás, foi emocionante ver o número de pessoas que tem frequentado a exposição. E todos interessados! No terceiro andar, as pessoas se aglomeravam em silêncio, lendo o imenso painel que contava da biografia, mostrando as diferentes experiências e fases da vida e do trabalho do artista.
A genialidade, inteligência e sensibilidade de Warhol, para mim, a partir dessa experiência de ver tudo o que ele fez, revelam uma qualidade ainda mais essencial do artista: ele era uma pessoa sem preconceitos. E, além disso, teve a delicadeza de desmascarar o american way of life com todo o respeito e amor,  com os quais sua condição de americano podia tratar desse grande topos que foi a América no seu trabalho. Aliás, como tão bem demonstra essa sua fala:

Eu me vejo como um artista norte-americano, eu gosto daqui, acho que é o máximo. É fantástico [...] Eu sinto que represento os EUA na minha arte, mas não sou crítico social. Eu simplesmente pinto esses objetos nas minhas pinturas porque eles são as coisas que eu conheço melhor. Eu não estou tentando criticar os EUA de forma alguma, não estou tentando mostrar qualquer tipo de feiura.

As latas da sopa Campbell estão todas lá e foi tocante saber que quando ele era pobre, na sua infância, sua mãe só podia comprar as tais sopas para alimentar o filho. Essa informação, para mim, vale mais do que tudo o que já se falou sobre essas imagens.
Os originais dos oito retratos de Marilyn Monroe, reunidos pela primeira vez na minha frente, também repercutiram na minha sensibilidade, com toda a força da representação inovadora que Warhol propõe ali, que redimenciou os cânones da arte, mas o que de fato eu senti foi um profundo respeito pela personagem e pela figura retratada: a materialização da tragicidade da beleza de uma mulher.
Aliás um amigo que já fora à exposição sugeriu uma brincadeira: Se você pudesse levar uma delas para casa, qual seria a sua? É incrível o que acontece quando você sugere a pergunta, estando com mais duas pessoas... rsrsrs A minha é essa ao lado.


Blow job (1964) está ali inteiro. O filme que fala de sexo oral, mas em que o sexo não aparece. Trata-se do implícito no explícito. O outro não está na cena, talvez porque seja do Outro que aqui se trata. Algo que somente um homossexual poderia entender com tamanha profundida, estou supondo. Alguém, aliás, que também nos diz:

O sexo é uma ilusão. O mais excitante é não fazê-lo.

E mais:

A fonte dos problemas das pessoas são suas fantasias. Se você não tivesse fantasias, você não teria problemas, porque você aceitaria qualquer coisa que estivesse na sua frente. Mas aí você não teria romance, porque romance é encontrar sua fantasia em pessoas que não são sua fantasia.

Muito pacificadora a instalação Silver Clouds (1965). São travesseiros de Mylar (Scothpack) insuflados com hélio. Eles ficam no teto e em movimento, graças a ventiladores instalados nas paredes. Ainda na parede, a frase:

Era a hora perfeita para se pensar prateado. O prateado era o futuro, era espacial, doidão... O prateado também era o passado – a tela prateada do cinema... E talvez, mais do que tudo, o prateado era o narcisismo.

Quando ele expõe pela primeira vez esse trabalho, em uma galeria de Nova York, toda a sua patota, e que fora à exposição, era refletida nessas nuvens prateadas...
E o que dizer dos autorretratos? As fotografias em polaroyd de suas imagens como drags entre outros?
A lição que aprendemos é tão somente essa:

Quando fiz meu autorretrato deixei de fora as espinhas pois é assim que sempre deve se fazer. As espinhas são um estado temporário e elas não têm nada a ver com aquilo que você realmente é. Sempre omita as falhas elas não fazem parte da bela imagem que você quer.

Com esse depoimento entendi uma coisa que tenho feito, mesmo que inconscientemente, nesse blog: eu não mostro aqui as minhas espinhas... rsrsrs Devido a toda essa lição e que aprendi durante a exposição é preciso que eu diga, com entusiasmo: Andy Warhol é uma pessoa belíssima. Salve o artista!

2 comentários:

  1. Qual é a fonte das citações do A. Wahrol, por favor. Você poderia postar aqui? Merci.

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  2. Descupe-me, não vi seu comentário antes. Mas eu copiei essas frases de Andy Warhol das paredes da exposição. Eu comentei, por alto, na postagem, mas acho que não ficou claro. Acho que no catálogo da exposição elas também devem ter sido reproduzidas. A ver.
    abs

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