sexta-feira, 9 de abril de 2010

Salve a Biblioteca!

Datas comemorativas são importantes: sugerem que olhemos com carinho para o objeto alvo da homenagem. Assim, quando ouvi que hoje é o Dia da Biblioteca, fiquei enternecido. Eu sempre gostei da atmosfera presente em toda biblioteca. Aliás, quando entrei pela primeira vez em uma biblioteca fiquei siderado. Era uma pequena biblioteca pública, muito simples, de bairro. Mas havia um número de livros bem maior que aquele que eu tinha em casa. Além disso, era um ambiente silencioso, no qual as pessoas liam livros e onde elas podiam emprestá-los para levar consigo. Minha criança achou tudo isso muito correto. Também havia ali grupos de estudantes que faziam sua pesquisas escolares, em moderada conversação. Tudo corretíssimo, não é mesmo?
Depois, na adolescência, passei a frequentar a Biblioteca Mário de Andrade. (por falar nisso, será que ela reabre mesmo, ainda esse semestre?) Ali, então, foi um deslumbramento: senti que entrava num templo do saber, do conhecimento e da beleza. No auditório da biblioteca, cheguei a frequentar as Vesperais Líricas, num tempo em que o Teatro Municipal esteve fechado para reforma e a biblioteca abrigou os cantores líricos, animados, e também os amantes do bel canto. Que saraus magníficos!
Muitas outras bibliotecas foram visitadas por mim. Em uma das bibliotecas da USP, no tempo da minha graduação, cheguei a trabalhar, como auxiliar de biblioteca. Aliás, fiquei todo comovido quando soube que tinha essa experiência em comum com Borges, que também trabalhou em biblioteca. Ele conta, em um livro do qual já falei aqui, que não foi uma experiência que deu muito certo: os colegas de trabalho não gostavam que ele fizesse o seu serviço direitinho (ele produzia mais do que os outros na catalogação de exemplares) e também não gostaram quando ele passou a trabalhar menos, como queriam: é que ele resolveu ocupar o tempo livre que passou a ter lendo os livros da biblioteca...rsrsrs Pois é, dependendo do ambiente gente boa não agrada mesmo!
Lembro-me também de quando fiquei desempregado uma época e frequentei, nesse período, a biblioteca do Centro Cultural São Paulo. Cheguei a ler um livro inteiro de Hanna Arendt no interior daquela biblioteca, que acho deliciosa. Li da autora A vida do espírito. E acho que é isso: a Biblioteca é o lugar onde melhor se cultiva essa vida. A do espírito.

2 comentários:

  1. Então, já que vc chamou assim alto, deixo anotada uma passagem clássica de Borges - minha contribuição pra essa comemoração:

    "Dentre os diversos instrumentos do homem, o livro é, sem dúvida, o mais assombroso. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões da visão; o telefone é extensão da voz; também temos o arado e a espada, como extensões dos braços. Mas o livro é outra coisa: o livro é extensão da memória e da imaginação" ("Cinco visões pessoais,"[1978] 2002: 04).

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  2. É. Quem diz coisas assim só pode estar no alto não é mesmo?

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