segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Eu leio diálogos

Falei de tantos presentes que ganhei e não falei em um livro outro que também me presentearam. Um livro organizado e traduzido por John O'Kuinghltons. Esse homem de nome tão estrangeiro traduziu para o português os diálogos entre Jorge Luis Borges e Osvaldo Ferrari, portanto, os autores do livro Sobre a Filosofia e outros diálogos.

É tão bom ler um livro de diálogos. Sempre gostei muito desse gênero de livros. Em primeiro lugar, porque o diálogo filosófico é realmente o tipo de diálogo que as pessoas deveriam ter. E, no entanto, poucos no mundo o mantém ou têm condições de mantê-lo. Então, por isso só, já é uma honra e mesmo um privilégio poder acompanhar esse tipo de diálogo, pela leitura, o que é possível devido ao fato de o diálogo ter sido registrado na escrita.

Da página 101 em diante, da edição que eu possuo (a da editora hedra), há uma conversa entre os dois que gira em torno de Sonetos, Revelações, Viagens e Países. Nela encontramos esse trecho, que tenho o prazer de compartilhar com os leitores desse blog:


Borges: (...) escrevi um soneto que tenho que burilar - Será publicado em Montevidéu, me parece - de qualquer forma, uma versão sobre o tema de, apesar de estar um pouco envergonhado de ter cumprido 85 anos, e apesar de estar cego, me sinto, enfim, mais feliz, ou, na realidade, mais sereno do que quando era jovem... bem, do que quando tentava ser infeliz de uma forma interessante. E agora não; além disso, a infelicidade nos encontra, não é preciso procurá-la.


Ferrari: Mas é muito interessante isso que o senhor menciona quanto a sentir-se mais feliz agora do que quando era jovem. É muito paradoxal.


Borges: Bem, não, penso que os jovens são facilmente infelizes, já que as paixões são mais fortes, e entre as paixões está o desespero, não é? (ri). Por outro lado, agora eu tento, bem - não sei se tenho muitas esperanças, mas desesperado não posso estar (riem ambos). Para repetir a frase de Júlio Cesar de Shakespeare, quando diz: "César desespera", e César - o da literatura, não o da história - responde: "Quem nunca esperou não pode desesperar." Bem, então, eu continuo esperando


Ferrari: Isso é justamente a serenidade, me parece.


Borges: Sim, acredito que sim; esperar sem muita impaciência, é claro.


A mim, essa leitura foi tão necessária esses dias...

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