Quando eu era criança adorava muito muito o Natal. Criança nascida em uma família católica era natural que tal festa cristã tivesse sua importância na minha educação. O Papai-Noel nunca me seduziu muito, é verdade. Desde criança, eu sabia que aquela representação não tinha muito a ver com o meu país tropical: afinal, por que aquele velhinho simpático estava tão agasalhado em pleno verão? Creio mesmo que cheguei a elaborar essa pergunta e que deve ter sido respondida, com constrangimento, por parte de algum adulto de plantão, na ocasião...
Depois fui crescendo, e os natais se repetiam em todo 25 de dezembro, em todos os tempos da minha existência. A cada ano, o natal ganhava novo significado. Houve um tempo em que até cheguei a detestar um ou outro natal, provavelmente isso se deu quando eu estava morando distante da minha família. Quando morei em Brasília, por exemplo. É que quando não estamos acalentados pelos nossos entes queridos, tendemos a ver os defeitos da festa. No caso do natal, o defeito mais gritante é o excesso de consumismo que toma as pessoas: a farra dos presentes, procurados avidamente em todas as lojas por milhões de pessoas, e com isso, a transparência do poder econômico de cada um, em suas gritantes diferenças, sobretudo em nosso país.
Esse ano, até mesmo esse aspecto eu tive oportunidade de ver com outros olhos. Aqui em São Paulo, temos a Rua 25 de Março que é o local de maior concentração do comércio popular. Em uma cidade com milhões de habitantes, ao menos um milhão de pessoas passam por dia nessa rua, nesse período de festas. Na televisão, vários telejornais mostravam esse movimento incrível de gente e de vendedores na tal rua. Pois bem, esse ano, achei tudo comovente. Aquelas pobres pessoas estavam ali buscando presentes, na maioria para as crianças (os brinquedos eram os itens mais procurados, dizia a repórter). Não é bonito que os adultos queiram agradar as crianças em uma data em que se celebra o nascimento também de uma criança considerada especial, divina?
A verdade é que a humanidade é comovente na sua loucura, ainda que na loucura expressa em algo tão impuro quanto o consumismo desenfreado. Nesse sentido, a loucura de crer é tão legítima quanto a loucura de ser. De ser seja o que for: um consumidor da 25 de março, um Papai-Noel, um menino Deus.
Eu, mesmo depois de tanto tempo, prefiro crer no menino em sua pureza: dentro de Deus, dentro do Papai-Noel e, pourquoi pas?, dentro de cada consumidor.
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