Vejam como tenho razão em sentir-me bem, sempre bem e cada vez melhor. Esse ano, para mim, foi o ano de retomar a leitura de poesia. E desde que tomei tal atitude, só me chegam livros e presentes, que são coletâneas de poesia, obras completas de poetas. \o/ \o/
Ontem, fui visitar uma amiga e ela presenteou-me com a Obra Poética Completa, de Federico García Lorca.
Eu, ignorante que sou, nunca lera nenhum poema de Lorca.
Na apresentação de Ático Vilas-Boas da Mota, nessa edição bilíngue, lançada pela editora Martins Fontes, lemos:
Grande poeta, dramaturgo, além de desenhista e musicista, aos múltiplos talentos juntava um extraordinário poder de sedução pessoal. Excelente palestrador e conferencista de primeira ordem. Eis aqui o testemunho do seu amigo Rafael Albertis:
"Quando Garcia Loca falava, recitava, interpretava curtos ensaios dramáticos ou cantava, acompanhando-se ao piano, criava-se em torno dele uma atmosfera mágica a que nenhum auditório podia resistir."
Que delícia tudo isso!
Estou lendo seus poemas sem compromisso, a não ser o de apreciar e sorver-lhe as palavras. Estou considerando tudo bastante delicado até agora. Ele é denso sem ser cansativo, é doce sem esconder o prato de sal, é triste sem deixar de ser alegre. Gosto dessa mistura boa e penso que muitas vezes as delicias de uma pessoa, de um poeta, residem nessa seara de contradições que pode revelar-se como a paisagem de um coração.
Os primeiros poemas que li, do livro imenso e farto, traduzido por Willian Agel de Melo:
MADRIGAL
1919
YO te miré a los ojos
cuando era niño y bueno.
Tus manos me rozaron
y me diste un beso.
(Los relojes llevan la misma cadencia,
y las noches tienen las mismas estrellas.)
Y se abrió mi corazón
como una flor bajo el cielo,
los pétalos de lujuria
y los estambres de sueño.
(Los relojes llevan la misma cadencia,
y las noches tienen las mismas estrellas.)
y las noches tienen las mismas estrellas.)
En mi cuarto sollozaba
como el príncipe del cuento
por Estrellita de oro
que se fue de los torneos.
(Los relojes llevan la misma cadencia,
y las noches tienen las meismas estrellas.)
y las noches tienen las meismas estrellas.)
Yo me alejé de tu lado
queriéndote sin saberlo.
No sé cómo son tus ojos,
tus manos ni tus cabellos.
Solo me queda em la fronte
la mariposa del beso.
(Los relojes llevan la misma cadencia,
y las noches tienen las mismas estrellas.)
y las noches tienen las mismas estrellas.)
DESEO
1920
SOLO tu corazón caliente,
y nada más.
Mi paraíso un campo
sin ruiseñor
ni liras,
con um río discreto
y una fuentecilla.
Sin la espuela del viento
sobre la fronda,
ni la estrella que quiere
ser hoja.
Una enorme luz
que fuera
luciérnaga
de outra,
en un campo de
mirada rotas.
Um reposo claro
y allí nuestros besos,
lunares sonoros
del eco,
se abrirían muy lejos.
Y tu corazón caliente,
nada más.
MADRIGAL
1919
EU te mirei nos olhos
quando era menino e bom.
Tuas mãos me roçaram
e me deste um beijo.
(Os relógios têm a mesma cadência,
e as noites têm as mesmas estrelas.)
E se abriu meu coração,
como uma flor sob o céu,
as pétalas de luxúria
e os estames de sonho.
(Os relógios têm a mesma cadência,
e as noites têm as mesmas estrelas.)
e as noites têm as mesmas estrelas.)
Em meu quarto soluçava
como o príncipe do conto
por Estrelinha de ouro
que se foi dos torneios.
(Os relógios têm a mesma cadência,
e as noites têm as mesmas estrelas.)
Eu me afastei de teu lado
querendo-te sem sabê-lo
Não sei como são teus olhos,
tuas mãos nem teus cabelos
Só me resta na fronte
a mariposa do beijo.
(Os relógios têm a mesma cadência,
e as noites têm as mesmas estrelas.)
DESEJO
1920
SÓ o teu coração quente,
e nada mais.
Meu paraíso um campo
sem rouxinol
nem liras,
com um rio discreto
e uma fontezinha.
Sem a espora do vento
sobre a fronde,
nem a estrela que quer
ser folha.
Uma enorme luz
que fosse
pirilampo
de outra,
num campo de
olhadas partidas.
Um repouxo claro
e ali nossos beijos,
lunares sonoros
do eco,
se abririam muito longe.
E teu coração quente,
nada mais.
Quando Federico Garcia Lorca foi preso pelos nacionalistas durante a Guerra Civil Espanhola, o deputado católico que o mandou prender usou o seguinte argumento ( que se tornou célebre): "Ele é mais perigoso com a caneta do que os outros com um revólver". Lorca morreu fuzilado pelas costas em alusão à sua homosexualidade.
ResponderExcluirQue importante vc lembrar esse episódio.
ResponderExcluirEu assisti a um filme que contava todo esse sofrimento do poeta. Essa admiração por ele eu já tinha. Mas como são lindos mesmo seus poemas!
Muito obrigado pelo seu comentário querida.