Lembrei-me disso porque certa vez ouvi uma explicação de que quando os gregos encenavam suas tragédias, um dos objetivos era o de que o público sentisse compaixão pelas personagens trágicas que tinham suas vidas ali encenadas e não piedade, como às vezes traduzem o termo grego correspondente àquele sentimento.
A verdade é que piedade é uma palavra impregnada pelo campo semântico do universo cristão, sobretudo o católico, quiça, o protestante.
Penso que a piedade pode ser tão somente um primeiro passo para o exercício do amor.
Isso porque o problema, a meu ver, é que há muitos piedosos que maculam esse sentimento com algo, que acabou por ficar implícito na própria ação de apiedar-se de alguém, a saber, a compreensão limitada de que o outro é digno de piedade porque se encontra em uma posição inferior a minha própria, e assim sendo, posso ter pena.
O mais lastimável é quando eu, pessoa piedosa, penso nunca ter vivido uma situação semelhante a daquele ou mesmo que jamais possa vir a experimentar tal circunstância, que me motiva tanta piedade.
A compaixão, nesse sentido, é mais acertada como expressão e sentimento, porque ela pode ser vivida em estado puro, ela não tem essa nuance de sentimento impuro: eu tenho compaixão quando compreendo a profunda dimensão do sofrimento vivido pelo outro, posto que eu já vivi isso ou sei que poderia também experimentar tal sofrimento. Esse pathos é humano e eu sei o que é isso, mesmo que eu já tenha superado tal experiência, ou, enfim, esteja buscando superar qualquer sofrimento... É por essa razão que posso amar a quem sofre.
Daí minha propensão a dizer: Posso ajudar?
Aproveito o tema, para apresentar-lhes a obra de um artista novaiorquino. Trata-se de Art Spellings
Visite seu site. Lá você irá conhecer outras manifestações dessa técnica única de expressar pensamentos relevantes.
Compassion (Can Help)
72”w x 72”h
Synthetic polymer/canvas
© 2006 Art Spellings
Relativity
(What We Think We Are)
75”w x 83”h
Synthetic polymer/canvas
© 2005 Art Spellings
Querido amigo Josafá:
ResponderExcluirTengo la esperanza de que la centenaria hermandad de las lenguas portuguesa y castellana haga posible que usted y sus lectores comprendan todo cuanto deseo decir a continuación.
Me pregunta usted por la expresión de la palabra "compasión" en lengua helénica. Antes de referirme al hermoso idioma de Platón y de Kavafis (a pesar del paso del tiempo, es prácticamente el mismo) quisiera comentar que, según aprendí durante los años que dediqué a estudiar las culturas budistas, "compasión" viene a significar "sufrir con", comprender el sufrimiento del prójimo, en línea horizontal y, por tanto, se acerca muy mucho a convertirse en sinónimo de la palabra "solidaridad"; mientras que "piedad", siempre bajo la mirada budista, nos remite a evitar el sufrimiento al prójimo desde un estado o posición de cierta superioridad, en línea, por tanto, ahora descendente.
Y ahora sí, querido amigo, le diré que la lengua griega (rica como ninguna) tiene más de una palabra para designar nuestra "compaixão / compasión", aunque parece ser que el término más usado es συμπόνια (pron. sibónia), que el diccionario Babiniotis de la Lengua Neogriega (seguramente, el mejor valorado por los lingüistas) viene a definir como "solidaridad emocional o sentimental hacia alguien, sentir su dolor".
Fue un auténtico placer dejar por aquí mi primer comentario, que a buen seguro no será el último.
Να είστε καλά!
¡Que le vaya muy bien!
Nikos,
ResponderExcluirQue alegria ouví-lo e mais ainda em saber que minha reflexão, nessa postagem, não estava distante dessa compreensão budista dos distintos termos, afinal, penso também que o mais importante é que tenhamos compaixão, sim, e, portanto, sejamos solidários, não é mesmo?
Interessante notar que o próprio dicionário que tu citastes também traduz o termo grego como essa solidariedade de ordem emocional com a dor alheia.
Assim sendo, penso que aquela informação a que me referi, em relação ao teatro grego, faça ainda mais sentido, uma vez que seria, somente pela compaixão, possível alcançar também a catarse que a tragédia grega provoca nas pessoas.
Preciso dizer que sua tentativa em escrever em português em um comentário que fizestes outrora foi muito coerente, você se fez entender perfeitamente. Mas fique a vontade para escrever em espanhol porque posso entender (acostumei-me ao idioma nas conversações com Enric) e, quando não, tenho um dicionário a me socorrer. Volte sempre.
Depois da sua postagem magnífica e que li hoje, lá no seu blog, também estarei sempre por lá. Acredite.
Saudações ultramarinas!
Merhaba amigo paulista...
ResponderExcluirMmmm... Você não perguntou como se chama essa compaixão em turco ! mas, eu sei que o tempo é uma pedra que quebra o vidro da janela... eu sei também...todo é minha misantropia ou doença do ser humano para o ser humano e contra ele mesmo...compaixão, "merhamet", árvore com ramas curtas e interno dor, palpitante, amarelo como febre do ouro... sempre enchido como os rancores das grandes aversões... uma puta compaixão para o moribundo, una maldita, exagerada, contranatural olhada de esguelha e lágrimas corretas... meu Deus do céu ! ...
Morrem aos montes pelos mondos e grita o silêncio... morrem e morremos com eles, gritando sem lacrimejar... há, unicamente, anúncios publicitários e propaganda para adquirir esse pouco de humanidade que alguém nos vendeu como parte fundamental disso que o animal humano de fato não é e, precisamente (olhemos um pouco toda nossa história manchada de sangue e sofrimento, de guerra e tiranias) eu vou a chamar o totem dos vocábulos: "A fé cega"... ou simplesmente, a fé.
Por certo, para sua coleção: compaixão é "شفقة" da raiz "شفى" (curar, sarar, satisfazer, matar (la sed)).
E nada mais... só silêncio sepulcral, só os gritos da compaixão....falhou meu amigo, falhou...viu, a palavra amizade é leve, leve, leve...
Saudacões desde o meu calor (algo humano).
Görüşürüz
Caro Enric,
ResponderExcluirInicialmente, interessei-me em saber a palavra compaixão em grego porque eu tinha me lembrado da questão da tragédia grega e sua relação com essa temática.
Segundo Nikos tem a ver com sintonia.
Compreendo que tudo seja difícil. Não é fácil amar e se curar e matar a sede insaciável quando se tem tanto calor.
A amizade é leve porque a sintonia é variável.
A compaixão também pode se dar em silêncio, aliás, é quando ela melhor acontece.
um grande abraço.