segunda-feira, 8 de junho de 2009

Uma comédia de Emilio Carballido


Nesse domingo, fui ao teatro.
Conheci a montagem de Orinoco, do dramaturgo mexicano Emilio Carballido (1925-2008). Trata-se de um escritor bastante reconhecido como dramaturgo, mas de quem eu nunca tinha ouvido falar.
Acho excelente que tenhamos no mundo tantos artistas e tantos por descobrir. Esse é demais! Seu texto é fortíssimo, intenso, vívido.
Fiquei sabendo, graças a São Google, que Carballido pertenceu a um grupo de escritores conhecido como Generación de los 50, juntamente com outros nomes, Sergio Magaña, Luisa Josefina Hernández, Rosário Castellanos, Jaime Sabines e Sergio Galindo.
Sua primeira peça foi Rosalba y los llaveros, que estreou em 1950. Depois vieram: Un pequeño día de ira (1961), Las cartas de Mozart (1974). Seu maior sucesso foi Rosa de dos aromas (1986). Algumas peças do autor foram adaptadas para o cinema: Rosalba y los llaveros (1954), Felicidad (1956), La danza que sueña la tortuga (1975), El Censo (1977), Orinoco (1984), e Rosa de dos aromas (1989). Além de peças e roteiros para o cinema, Carballido escreveu ainda dois volumes de contos e nove novelas e foi diretor de teatro. Em 1972, recebeu dois prêmios Ariel para o roteiro do filme El Águila Descalza, de Alfonso Arau. Em maio de 2002, recebeu o Ariel de Ouro pelo conjunto de sua obra, que inclui mais de cinquenta filmes. Também é reconhecido o seu trabalho como colaborador no filme Nazarín, de Luis Buñuel (1959).
A montagem a que tive oportunidade de conhecer, como já disse, foi a de Orinoco.
Penso que São Paulo vive um período riquíssimo da cena teatral. A gente de teatro de verdade, e que não está na televisão, proporciona ao seu público montagens bem cuidadas, em que o talento dos atores, da direção e de toda a companhia abre o espaço para a fruição de uma reflexão própria da e propícia na experiência de teatro.
No caso dessa montagem, tudo agrada: o texto é riquíssimo, as soluções de cenário, de rítmo, a atuação e o timing das atrizes, o desenvolvimento das cenas, tudo colabora para a emoção/comoção.
O mais interessante, trata-se de uma comédia, mas em que o patético tem um lugar preponderante. A situação em que se encontram as duas personagens da peça é to-tal-men-te patética: duas cantoras de cabaré, Fifi (Daniela Carmona) e Mina (Bete Dorgam) acordam num barco cargueiro, em pleno rio Orinoco (trata-se de um importante e grande rio que atravessa a Venezuela). Ao acordarem, elas descobrem que estão sozinhas, a tripulação desapareceu, apenas se encontra no mesmo barco um negro esfaqueado (e que nunca aparece em cena, embora seja uma personagem crucial para a trama).
No programa da peça, há um enunciado, cujas frases acompanham o curso de uma imagem de satélite do sinuoso Orinoco:
"Duas atrizes Duas mulheres Duas meninas Um palco Um barco Uma casinha de boneca Um texto Uma metáfora Uma angústia artística."
Aviso aos navegantes: Só vão gostar, de verdade, da peça aqueles que se encantam com o universo feminino, gostam de personagens loucas, "fellinianas", sabem que a vida é difícil e que pode ser desesperadora e, ao mesmo tempo, acreditam que, apesar de tudo, sempre é possível recomeçar e que, portanto, podemos dizer, após cada derrocada, juntamente com Carballido: ainda falta o mais interessante...
Orinoco está em cartaz no Teatro João Caetano (Rua Borges Lagoa, 650 - Vila Clementino – Tel: 5573-3774) Temporada: de 5 de junho a 26 de julho de 2009; sextas e sábados às 21 horas, domingos às 19 horas.
Texto - Emilio Carballido. Tradução: Isadora Ferrite. Direção: Dagoberto Feliz. Elenco: Bete Dorgam e Daniela Carmona. Cenário: Flavio Tolezani. Figurino e adereços: Bruna Lessa. Iluminação: Aline Santini. Trilha Sonora: Dagoberto Feliz. Duração: 90 minutos. Ingressos: R$ 15,00 (inteira) R$ 7,50 (meia-entrada). Classificação etária: 14 anos.

2 comentários:

  1. Sabe, há muito tempo não vou ao teatro... Passei por uma sucessão de experiências cosntrangedoras - de montagens que achei muito ruins a interações obrigatórias que não são muito minha praia. Acho que ando sem espírito para coisas do tipo "percursos em instalações que vc deve descobrir com o próprio corpo"... A vida tem sido tão animosa e desafiante o tempo todo que, do teatro, a saudade que sinto é esta: a de assistir a - com a não-passividade de "assistir a" respeitada, sem exigir moleton, tênis e gestos improvisados ante um público que não é meu...

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  2. Luciana,
    Eu acho, então, que vc iria curtir, e muito, essa peça Orinoco.

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