terça-feira, 16 de junho de 2009

Um livro diferente de Clarice Lispector


Quem sabe que a vida é Mistério e dos mais absolutos, quem já amou ou sofreu, quem tem compaixão pelos loucos de verdade (os de mentira não contam), porque sabe que a loucura nos ronda o tempo todo, essas pessoas amam o artista e, portanto, amam Clarice Lispector. São os seus leitores e admiradores eternos.
Com muita simplicidade quero dizer que leio e admiro Clarice.
Uma época morei em Brasília, com um amigo que trabalhava no Itamaraty. Como ele já faleceu posso expor o que ele contou-me certa feita. Ele disse-me que conhecera uma funcionária que trabalhava há anos naquela casa e que, por sua vez, convivera com Clarice quando ela frequentava o Itamaraty pois fora casada com um diplomata. A funcionária, dizia o meu amigo, falou mal de Clarice, ela a achava uma pessoa difícil de lidar, intratável mesmo. Eu ouvi essa história com desconfiança. Não conheci a mulher, assim sendo, não pude julgar de todo a procedência desse depoimento. Mas pensei com meus botões: Clarice deve ter sofrido tendo que lidar com esses burocratas de Brasília. Eu, verdade seja dita, conheci gente boníssima no lugar, mas eu não convivia diretamente com os burocratas de plantão e sim com os universitários. E tenho comigo uma convicção: um artista jamais poderá ser compreendido por um burocrata.
Estou a falar de Clarice Lispector porque leio um livro surpreendente: Clarice Lispector - Entrevistas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
Como sabemos, Clarice trabalhou no meio jornalístico. Pois bem, foi nesse período que entrevistou grandes personalidades, escritores, músicos, artistas plásticos, atores. E todas essas entrevistas estão reunidas nesse livro que é um deleite.
Apenas para que vocês saibam a delícia de conversa que se podia ter com Clarice, reproduzo aqui algumas perguntas que ela fez para Nelson Rodrigues e suas respostas:

- Nelson, qual é a coisa mais importante do mundo?
É o amor.
- Qual é a coisa mais importante para uma pessoa como indivíduo?
É a solidão.
- O que é o amor, Nelson?
Eu sou um romântico num sentido quase caricatural. Acho que todo amor é eterno e, se acaba, não era amor. Para mim o amor continua além da vida e além da morte. Digo isso e sinto que se insinua nas minhas palavras um ridículo irresistível, mas vivo a confessar que o ridículo é uma das minhas dimensões mais válidas.

Não vou resistir e vou reproduzir também um trechinho da entrevista com Zagallo:

- Qual é o santo de sua devoção?
Santo Antonio e o seu?
Nos momentos difíceis Zagallo, eu me agarro a Santo Antonio, Santa Rita de Cássia e São Judas Tadeu.


Pois eu também, como Clarice, sou devoto de São Judas Tadeu.

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